DEZEMBROS
DE
TEMPOS PASSADOS
Mal
entrava o mês de Dezembro, comemorava-se a Restauração da
Independência de Portugal, decorrida em 1 de Dezembro de 1640. Neste
primeiro dia deste mês cá na terra havia um desfile da Mocidade
Portuguesa com uma deposição de flores no monumento aos Mortos da
Grande Guerra.
O
dia 8 era dedicado à Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de
Portugal. O
rei D. João IV colocou a coroa na imagem de Nossa Senhora da
Conceição, em 25 de Março de 1646, numa cerimónia solene em Vila
Viçosa, como agradecimento por ter recuperado a independência de
Portugal em relação a Espanha. Assim, Nossa Senhora da Conceição
é rainha de Portugal e, por esta razão, mais nenhum rei ou rainha
usaram coroa na cabeça, nem podem usar.
Durante muitos anos este dia foi considerado em Portugal o Dia da
Mãe. Na Igreja Matriz realizava-se uma missa com a colaboração e
participação da Mocidade Portuguesa Feminina.
A
Escola Primária, que no meu caso foi na Escola Conde de Ferreira em
Penafiel, era com satisfação que víamos chegar as Férias do
Natal, que se iniciavam no dia 23 de Dezembro e terminavam no dia de
Reis (6 de Janeiro do ano seguinte).
Os
métodos pedagógicos de ensino utilizados por muitos professores,
eram baseados nas palmatoada, canadas e berros transformando a sala
de aula num terror. Por isso as férias eram sempre acolhidas com
muita alegria.
Nesta
quadra natalícia era costume enviar postais que o meu pai comprava e
eram pintados com a boca ou com os pés de artistas mutilados, a
desejar um Feliz Natal e Boas-Festas a amigos e parentes que moravam
longe.
Era
norma cá de casa comprar um bilhete para o sorteio do “Lar do
Comércio”, que aparecia em Penafiel com uma viatura novinha em
folha em cima de um camião e homens com braçadeiras do Lar do
Comércio no braço, vendendo rifas nesta época de Natal.
Em
Penafiel, também aparecia “O Farrapeiro” que recolhia donativos,
utensílios, roupas e alimentos para distribuir pelos pobres da
terra.
Num
canto da sala de jantar, montávamos um pequeno presépio e
ornamentávamos o pinheiro de Natal.
A
consoada (24 de Dezembro), impunha tal como hoje as batatas, o
bacalhau, os ovos, as tronchudas, os nabos e os grelos, regados com
bom azeite.
As
guloseimas eram: a aletria adornada com desenhos feitos com canela, os mexidos, as rabanadas, o bolo-rei, os
sonhos e os filhoses de forma (estas duas últimas doçuras eram
feitas pelas minhas tias).
Na
mesa da consoada era colocado a mais um prato e um talher que
simbolizava a presença dos entes queridos que já partiram, e que
nessa noite estavam ali presentes connosco.
Neste
tempo muitos grupos de miúdos andavam de porta em porta a cantar as
Boas-Festas na véspera do Natal, e no último dia do mês as
Janeiras, à espera de uma recompensa em troca.
Enquanto
a minha mãe arrumava a mesa, nós jogávamos o rapa e o quino a
pinhões.
No
dia de Natal corríamos à chaminé para ver o presente que o Menino
Jesus (hoje é o Pai Natal), nos tinha deixado no sapatinho que por
vezes se reduzia a chocolates e um par de meias. Natal é dia de
missa, e lá íamos à igreja da Misericórdia não só para vermos o
presépio, como para beijar o Menino Jesus que o Sr. Reitor dava a
beijar.
Depois
veio a Guerra Colonial que se estendeu desde 1961 – 1975, e o meu
pai gostava de ouvir as mensagens dos soldados portugueses que
combatiam em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique).
Faz
este ano precisamente 50 anos, que passei o segundo e último Natal,
em terras africanas “Onde o Sol castiga mais” como cantava Paco
Bandeira, mais precisamente em Angola, na cidade de Nova Lisboa, num
misto de saudade e camaradagem. Nesse ano o Movimento Nacional
Feminino presenteou-me com um disco LP “NATAL 71”, que
religiosamente guardo, onde se pode ouvir entre outros: Amália,
Hermínia Silva, Florbela Queiroz, Parodiantes de Lisboa e mensagens
de Eusébio, Joaquim Agostinho, etc.
O
Natal nos nossos dias já não é o que era, pois basta ver que já
não tenho a minha mãe e o meu pai natal. Mudou como o mundo, quanto
a mim para pior, onde o ódio e a malvadez, campeiam não só nas
guerras, mas em qualquer esquina de qualquer cidade, ou lugar do
planeta.
Mas
apesar de vir para aqui debitar lembranças do passado, que para muitos serão recordações mas para outros uma "seca dos diabos", neste Natal que se aproxima, não podia deixar de
desejar a todos que por aqui passam, um Feliz Natal com muita Saúde,
Paz e Amor.
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho