20 dezembro 2024

ATÉ NO VENDEDOR É PRECISO ACERTAR

 

LOTARIA NACIONAL

COM AZAR E SORTE

DO COMPRADOR




Entre o Natal e os Reis, muita gente que geralmente não joga na lotaria, tenta a sua sorte comprando uma fracção.

Assim tínhamos a lotaria do Natal, do Ano-Novo e dos Reis.




No mês de Janeiro de 1965 o jornal diário “O Comércio do Porto”, relatava um caso que havendo um indivíduo que jogando há muitos anos em certo número que pagava à casa fornecedora muitas vezes já depois de ter andado a roda e estar este bilhete em branco, na extacção a casa negou- se a entregar o bilhete que havia sido premiado com 500 contos, alegando que por não ser levantado antes da extracção, fora vendido a outra pessoa.


O jornal local de tiragem quinzenal “O Tempo”, pega neste assunto e vai relacioná-lo com um caso idêntico mas com desfecho diferente passado nesta cidade de Penafiel.




Neste o vendedor da lotaria era o Sr. José Luís Pinto de Bessa Miranda, da Loja do Povo na Casa das Sementes, situada na Avenida Sacadura Cabral, em Penafiel, que procedeu de forma diferente atestando assim a sua já conhecida honestidade.




Esse não hesitou em entregar ao seu freguês, já depois da extracção e saber que o bilhete tinha sido premiado, a lotaria que o mesmo semanalmente lhe comprava e que ás vezes pagava após a extracção.


Nestas coisas de sorte e azar, por vezes, até no vendedor é preciso acertar.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


07 dezembro 2024

À MALTA DO PAD 9789

 À MALTA DO PAD 9789

OS CINQUENTENÁRIOS




Faz precisamente neste Natal, 50 anos que passamos juntos o 2.º e último Natal em terras africanas, mais propriamente em Nova Lisboa – Angola.


Claro que foi um Natal com um misto de amizades com todos aqueles que convivíamos no dia a dia lá longe onde o Sol castiga mais e saudades dos nossos que do outro lado do mar tinham o nosso lugar vago na mesa da Ceia de Natal.


Os que estavam de serviço, lá permaneciam no posto de vigia para assegurar a segurança dos que na caserna escreviam aerogramas aos seus entes queridos (Pais, Esposas, Madrinhas de Guerra) antes do sono os tomar.




Também soube este ano através do facebook, que dois dos nossos camaradas furriéis (Valente e Pinto), que tinham vindo de féria à metrópole casar, e que de tal maneira foi dado este nó de amor que festejaram este cinquentenário no decorrer deste ano. Para eles e família os meus parabéns.




Mas no ano que vem (2025), continuamos a festejar outro cinquentenário que é o regresso da Guerra Colonial para junto dos nossos familiares e amigos, ou como se dizia na gíria popular “passamos à peluda”.




Partimos cada um para seu lado, e fomos desenhando o nosso percurso de vida como podemos e soubemos.


Éramos todos jovens e como tal tínhamos sonhos, que fomos realizando, outros não saíram da gaveta dos sonhos porque a vida assim o ditou.

 

 


Na tela da vida, ora pintada com cores de alegria e outras de muita tristeza.


Muitas vezes ficamos de rastos mas havia sempre uma mão amiga que nos levantava do chão e nos aconchegava no cais de apoio que é a família e nos davam alento para continuar.




Alguns dos camaradas da guerra nunca mais nos cruzamos nestes caminhos que percorremos durante estes 50 anos, outros já partiram para os braços do Senhor, e outros quando nos encontramos lá desarrumamos a gaveta das lembranças do passado misturando-as com sorrisos e abraços.


Como me dizia um capelão, na tropa só há duas coisas más, a farda e o resto. Mas pelo menos trouxe esta amizade que nos une e que se não fosse a tropa nunca nos teríamos conhecido.





E pronto, como o texto já vai longo, vou terminar desejando a toda a MALTA DO PAD 9789, um Santo e Feliz Natal e um Bom Ano 2025, com muita Saúde, Paz e Amor, extensivo a todos os familiares, enquadrados nestes festejos cinquentenários, pois na nossa idade, o resto vem tudo por acréscimo.


Fogo à peça rapaziada!


Um abração do OLIVEIRA


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 dezembro 2024

DEZEMBROS DE TEMPOS PASSADOS

 DEZEMBROS

DE TEMPOS PASSADOS




Mal entrava o mês de Dezembro, comemorava-se a Restauração da Independência de Portugal, decorrida em 1 de Dezembro de 1640. Neste primeiro dia deste mês cá na terra havia um desfile da Mocidade Portuguesa com uma deposição de flores no monumento aos Mortos da Grande Guerra.




O dia 8 era dedicado à Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal. O rei D. João IV colocou a coroa na imagem de Nossa Senhora da Conceição, em 25 de Março de 1646, numa cerimónia solene em Vila Viçosa, como agradecimento por ter recuperado a independência de Portugal em relação a Espanha. Assim, Nossa Senhora da Conceição é rainha de Portugal e, por esta razão, mais nenhum rei ou rainha usaram coroa na cabeça, nem podem usar. 

 


 

Durante muitos anos este dia foi considerado em Portugal o Dia da Mãe. Na Igreja Matriz realizava-se uma missa com a colaboração e participação da Mocidade Portuguesa Feminina.






A Escola Primária, que no meu caso foi na Escola Conde de Ferreira em Penafiel, era com satisfação que víamos chegar as Férias do Natal, que se iniciavam no dia 23 de Dezembro e terminavam no dia de Reis (6 de Janeiro do ano seguinte).


Os métodos pedagógicos de ensino utilizados por muitos professores, eram baseados nas palmatoada, canadas e berros transformando a sala de aula num terror. Por isso as férias eram sempre acolhidas com muita alegria.




Nesta quadra natalícia era costume enviar postais que o meu pai comprava e eram pintados com a boca ou com os pés de artistas mutilados, a desejar um Feliz Natal e Boas-Festas a amigos e parentes que moravam longe.


Era norma cá de casa comprar um bilhete para o sorteio do “Lar do Comércio”, que aparecia em Penafiel com uma viatura novinha em folha em cima de um camião e homens com braçadeiras do Lar do Comércio no braço, vendendo rifas nesta época de Natal.





Em Penafiel, também aparecia “O Farrapeiro” que recolhia donativos, utensílios, roupas e alimentos para distribuir pelos pobres da terra.


Num canto da sala de jantar, montávamos um pequeno presépio e ornamentávamos o pinheiro de Natal.





A consoada (24 de Dezembro), impunha tal como hoje as batatas, o bacalhau, os ovos, as tronchudas, os nabos e os grelos, regados com bom azeite.





As guloseimas eram: a aletria adornada com desenhos feitos com canela, os mexidos, as rabanadas, o bolo-rei, os sonhos e os filhoses de forma (estas duas últimas doçuras eram feitas pelas minhas tias).


Na mesa da consoada era colocado a mais um prato e um talher que simbolizava a presença dos entes queridos que já partiram, e que nessa noite estavam ali presentes connosco.


Neste tempo muitos grupos de miúdos andavam de porta em porta a cantar as Boas-Festas na véspera do Natal, e no último dia do mês as Janeiras, à espera de uma recompensa em troca.




Enquanto a minha mãe arrumava a mesa, nós jogávamos o rapa e o quino a pinhões.




No dia de Natal corríamos à chaminé para ver o presente que o Menino Jesus (hoje é o Pai Natal), nos tinha deixado no sapatinho que por vezes se reduzia a chocolates e um par de meias. Natal é dia de missa, e lá íamos à igreja da Misericórdia não só para vermos o presépio, como para beijar o Menino Jesus que o Sr. Reitor dava a beijar.




Depois veio a Guerra Colonial que se estendeu desde 1961 – 1975, e o meu pai gostava de ouvir as mensagens dos soldados portugueses que combatiam em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique).




Faz este ano precisamente 50 anos, que passei o segundo e último Natal, em terras africanas “Onde o Sol castiga mais” como cantava Paco Bandeira, mais precisamente em Angola, na cidade de Nova Lisboa, num misto de saudade e camaradagem. Nesse ano o Movimento Nacional Feminino presenteou-me com um disco LP “NATAL 71”, que religiosamente guardo, onde se pode ouvir entre outros: Amália, Hermínia Silva, Florbela Queiroz, Parodiantes de Lisboa e mensagens de Eusébio, Joaquim Agostinho, etc.


O Natal nos nossos dias já não é o que era, pois basta ver que já não tenho a minha mãe e o meu pai natal. Mudou como o mundo, quanto a mim para pior, onde o ódio e a malvadez, campeiam não só nas guerras, mas em qualquer esquina de qualquer cidade, ou lugar do planeta.




Mas apesar de vir para aqui debitar lembranças do passado, que para muitos serão recordações mas para outros uma "seca dos diabos", neste Natal que se aproxima, não podia deixar de desejar a todos que por aqui passam, um Feliz Natal com muita Saúde, Paz e Amor.



Fernando Oliveira – Furriel de Junho