29 março 2018

A DESOBRIGA PASCAL

A DESOBRIGA PASCAL 
NA ESCOLA INDUSTRIAL 
DE PENAFIEL



A desobriga pascal, não é nem mais nem menos, do que um conceito quaresmal, que consiste em que os católicos confessem os seus pecados, recebam a absolvição dos mesmos e façam o acto de contrição que geralmente consiste numa carrada de Pais-Nosso e Avés-Maria.


Assim, antes de partirem para as férias da Páscoa, professores, alunos e alunas, dirigiam-se ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade, situado no alto do jardim do Sameiro, para cumprir este preceito, a fim de limparem as suas almas perante o Senhor.


No final, para além da fotografia de família (escolar), na escadaria do Santuário, eram distribuídos santinhos com desenhos de autoria dos professores: Escultor Júlio Giraldes e escultor Negrão, alusivos à época quaresmal.


Comunhão Pascal realizada no dia 10 de Março de 1964

Seguem-se quatro exemplares dessas estampas, para a malta recordar como era em tempos que já lá vão, a Comunhão Pascal na Escola Industrial de Penafiel. 

Santinho 1963

Santinho 1964

Santinho 1965

Santinho 1966
 

27 março 2018

UM BISPO DESCONHECIDO

UM BISPO DESCONHECIDO


Se Milhundos foi o berço de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, e Bustelo de D. Manuel Luís Coelho da Silva, Bispo de Coimbra, também Marecos se pode gabar de ser a terra onde nasceu Frei D. António de São Dionísio, 11.º Bispo de Cabo Verde, que em virtude de ser pouco badalado, é por isso um desconhecido da maioria dos penafidelenses.

Igreja de Santo André em Marecos

Frei D. António de São Dionísio, filho de Manuel Fernandes Loureiro e de Beatriz de Sousa, nasceu em Marecos no dia 26 de Outubro de 1613, sendo baptizado na Igreja paroquial de Santo André em Marecos no dia 28 do mesmo mês e ano, sendo seus padrinhos Gonçalo Dinis e Inês Gonçalves.

Professou na Ordem de S. Francisco, recebendo com muita devoção o habito no Convento do Porto, das mãos de Frei João de S. Bernardino.

Franciscano e mestre de Teologia na Universidade de Coimbra, onde estudou e leccionou durante 18 anos as matérias Teologia e Jurisprudência, tendo sido também vigário e confessor no Mosteiro de Santa Clara de Coimbra.

Em 1668, foi eleito bispo de S. Tomé de Meliapor na Índia, mas não foi confirmado pela cúria.

Papa Clemente X

Pela Bula Hodie Ecclesiae, de 2 de Dezembro de 1675, o Papa Clemente X confirma-o na mitra de Cabo Verde, tendo chegado a Santiago no dia 24 de Junho de 1676, acompanhado de vários frades franciscanos da província do Algarve.

Antes conseguira de El Rei alguns alvarás destinados a melhorar os fracos proventos do bispado.

O seu governo foi perturbado por constantes dissensões com as autoridades civis, militares e eclesiásticas, porquanto entendeu moralizar a administração e coibir numerosos abusos.

Sé de Santiago - Cabo Verde

Visitou pessoalmente a ilha do Fogo em 1676 e excomungou o capitão-mor que não fazia caso algum da bula da Ceia e vendia armas aos gentios dos Rios de Guiné, além de ter incorrido em incesto e rapto de donzela; este oficial rebelou-se publicamente contra o bispo que nem sequer chegou a conseguir que fosse sentenciado pelos tribunais seculares.

É um dos primeiros bispos à escala insular, tendo mandado prover párocos nas ilhas do Maio, Boa Vista, S. Nicolau e Santo Antão, além de ter enviado guisamentos para as respectivas igrejas tirados das de Santiago.

Ordenou que os fiéis das ilhas do Barlavento concorressem para pagar as côngruas dos vigários e obteve resposta favorável das ilhas do Maio, Boa Vista e S. Nicolau.

Recebeu em sua casa clérigos originários dessas ilhas aos quais providenciou ensino com vista à ordenação sacerdotal. Considerava que só os padres naturais de cada ilha podiam assegurar nas mesmas a assistência espiritual, dado que não conseguiam atrair clérigos de fora, mormente de Santiago, onde o clero se concentrava.

Conforme era «estilo» na terra, o bispo esteve para ser eleito governador interino por morte do governador João Cardoso Pizarro em Agosto de 1676, que o indicara informalmente para lhe suceder. A câmara comprou os votos e saiu vencedora. O bispo recusou a interinidade por não ter ordem régia expressa nesse sentido e por considerar que o governo de Cabo Verde não era conforme à condição eclesiástica, sendo correntes as ilegalidades.

CARTA do bispo de Cabo Verde, frei D. António de São Dionísio, ao príncipe ao príncipe regente [D. Pedro] sobre considerar ilegal e uma heresia, conforme a Bula da Ceia do Senhor, a venda de cavalos que se fazia aos ingleses na ilha do Fogo, o que se observava também em todas as ilhas do Barlavento; denunciando os procedimentos do antigo capitão e sargento-mor, Cristóvão de Gouveia de Miranda, do interesse que manifestou naquele negócio enquanto exerceu naquela capitania; e acerca da venda de espingardas, alfanges e outras armas aos gentios dos rios da Guiné e o perigo que esta acção representava para as conquistas do Reino.


O bispo denunciou que o governo interino da câmara e do ouvidor Francisco Pereira era largamente conivente com o contrabando. Cerca de 1676-77 terá ocorrido uma das habituais situações de fome que o bispo considera como um castigo para os muitos «roubos e latrocínios» que ocorriam; tentou junto da câmara acudir à situação propondo-se armar à sua custa um navio para os Rios de Guiné para importar milho, mas a municipalidade ignorou o seu pedido. D. Fr. Cristóvão, como era habitual, também se tornou malquisto do cabido, acusando vários cónegos de roubarem bens e paramentos da sé e outras igrejas de Santiago, tendo submetido vários deles à justiça eclesiástica, de que resultou a prisão de um eclesiástico e o degredo de outro para fora de Santiago.

Vários cónegos, sobretudo os que estavam ausentes em Lisboa tentaram difamar o bispo na corte. 

Em 2 de Junho de 1677 reclamava ele junto de El Rei contra o anárquico governo do Ouvidor e da Câmara, citando a rapinagem de que eram objecto os haveres dos que demandavam as ilhas.

CARTA do bispo de Cabo Verde, frei D. António de São Dionísio ao rei [D. Pedro II] dando conta da difamação de que é alvo por parte do deão da sé de Santiago e do padre Estevão Freire; informando sobre o novo governador, Inácio da França Barbosa, do ouvidor geral, Luís Rodrigues Belo e levantando suspeições sobre as patacas adquiridas pelo ex- governador, Manuel da Costa Pessoa; advertindo do estado de degradação da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, na vila de [S. Filipe], ilha do Fogo; queixando-se da sua situação, do que tem feito para as ilhas e os dinheiros que tem despendido na oferta de cálices às igrejas das ilhas Maio e Boavista, furtados por um corsário inglês, e nas obras da igreja de Cacheu; informando acerca da devassa tirada ao vigário da ilha do Fogo sobre quem pede medidas punitivas; comunicando sobre o antigo capitão e sargento-mor da ilha do Fogo, Cristóvão de Gouveia [e Miranda], da sua atitude, após sindicância feita pelo ouvidor geral, Francisco Pereira; da chegada de Cacheu do mestre João Gomes e da morte das peças mandadas buscar àquela povoação; da perda geral que teve a ilha de Santiago com aquelas importações bem como o governador Inácio de França Barbosa, o antigo governador Manuel da Costa Pessoa e as pessoas envolvidas nos fretes; e sobre o regresso à Corte do prefeito das missões da Serra Leoa das ilhas de Cabo Verde, frei António de Truzillo.


Destes factos resultava a ruína e a miséria dos povos, porque os crimes e roubos constantes afastavam os navios estrangeiros que ali vinham comerciar.

Pastor cuidadoso das suas ovelhas, quis obstar e reprimir a grande desmoralização que reinava na diocese, acudir ás desordens do clero e chamar de novo ao seio da Igreja os que dela andavam há muito afastados, reformar os costumes de muitas mil almas que viviam sem amor, ou temor a Deus, nem lembrança do fim para que foram criadas.

Proveu as igrejas de alfaias, nomeou párocos para elas, encheu-as de fiéis. Visitou demoradamente a sua jurisdição, baptizando gentios, convertendo pecadores, moralizando os costumes.

Naturalmente contra ele se ergueram os clamores indignados dos que se julgavam prejudicados ou feridos pelas suas determinações. 

 
A primeira igreja portuguesa erigida na costa ocidental africana, é o Santuário de Nossa Senhora da Natividade de Cacheu, considerado a primeira Igreja da Guiné-Bissau, e foi construído pelo antigo Governador de Cacheu, Honório Barreto, em 8 de Setembro de 1590.

Em 1680 ruiu, devido a uma inundação do Rio Cacheu, sendo mandada reconstruir pouco depois pelo Bispo de Cabo Verde, D. António de São Dionísio.

Frei D. António de São Dionísio, 11.º Bispo de Cabo Verde, faleceu a 13 de Setembro de 1684.

Infelizmente não consegui uma foto deste nosso conterrâneo, mas pelo menos ficamos a saber, que Marecos, também se pode orgulhar de ter um dos seus filhos Bispo, na hierarquia da Igreja Católica.

A todos quanto por aqui passam, desejo uma Santa e Feliz Páscoa!


22 março 2018

INAUGURAÇÃO DA CANTINA ESCOLAR

INAUGURAÇÃO 
DA CANTINA ESCOLAR
Dr. FRANCISCO DA SILVA MENDES



Ainda há pouco tempo, alguém nos dizia que estávamos a viver acima das nossas possibilidades. Porém esta cantilena não é nova, pois também nos anos trinta do século passado, o Sal + azar, mandava as sobras de Portugal para Espanha a fim de alimentar as tropas de Franco, enquanto à mesa dos portugueses a miséria se sentava e era repartida por todos.

Zeferino de Oliveira

Perante tal facto, alguns penafidelenses tentaram minorar esta situação dos seus patrícios, como foi o caso de Zeferino de Oliveira, que ás suas custas instituiu a Sopa dos Pobres na Santa Casa da Misericórdia de Penafiel, assim como Manuel da Rocha Melo que contribuiu para a manutenção das cantinas das Escolas Primárias de Novelas e Bustelo. 

 
É então que Arrochela Lobo Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, coadjuvado pelo Padre Carlos Pereira Soares, que fazia parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Penafiel, vão iniciar uma verdadeira cruzada de construção de cantinas escolares, onde as crianças extremamente pobres, recebem ao meio dia uma refeição quente que lhes revigora o organismo.

Convém lembrar que nesta altura a mendicidade era proibida, e existiam dísticos espalhados pelo concelho de Penafiel com o seguinte dizer:

“O concelho de Penafiel sustenta os seus pobres. A mendicidade é proibida.”

Os presidentes que sucederam a Arrochela Lobo, na Câmara Municipal de Penafiel, vão dar continuidade à construção de cantinas escolares.

Hoje vou-me debruçar sobre a inauguração da cantina escolar de Penafiel.

Escola António Maria dos Santos

Em Penafiel haviam três escolas primárias, sendo elas, a escola António Maria dos Santos, na Av. José Júlio, frequentada pelos miúdos da parte sul da cidade, a Escola Conde de Ferreira para meninos e a António Pereira de Castro para meninas. Estas duas últimas situadas na Rua Conde Ferreira.

Escola Conde de Ferreira

Foi na escola primária António Pereira de Castro que ficou a funcionar a cantina escolar que dava apoio a estes três estabelecimentos de ensino que existiam na cidade de Penafiel, onde eram servidas refeições a alunos carenciados de ambos os sexos.

Escola António Pereira de Castro

A sua inauguração deu-se a 25 de Fevereiro de 1956.

Pelas 12 horas as crianças das escolas masculinas e femininas desta cidade, abriram alas, desde a Av. Sacadura Cabral até ao edifício da escola situado na Rua Conde Ferreira, aguardando a chegada do Sr. Dr. Francisco da Silva Mendes, Presidente da Câmara de Penafiel na altura.

Dr. Francisco da Silva Mendes

Pouco passava da hora anunciada quando o Sr. Presidente deu entrada no edifício acompanhado do Sr. José Lobato Júnior, Inspector Escolar do Distrito do Porto, Albano Morais, Delegado Escolar de Penafiel, Padre Dr. Avelino Soares, Valério Veiga, da Companhia Nacional da Educação de Adultos, vereadores da Câmara, Engenheiro Fernando Graça, Provedor da Misericórdia local, entidades oficiais e muito povo.

Grupo de professores primários com o sr. Presidente ao centro.

À entrada era aguardado pelo professorado da sede do concelho. Junto à porta de entrada da cantina o Presidente da Câmara foi saudado pela professora D. Lígia Maria Baltazar Guimarães em nome de todos os professores.

Procedeu-se então ao descerramento da lápide, pela filha do Presidente da Câmara Sr.ª D. Maria Elisa Geraldes da Silva Mendes, onde se lia:

Cantina Escolar Dr. Francisco da Silva Mendes”

O Sr. Dr. Silva Mendes, surpreendido por tal homenagem, disse protestar por estar ali o seu nome quando aquela obra pertencia afinal a todos, e afirmou que se tal soubera, não consentiria isso. Agradeceu finalmente a homenagem e foi muito saudado por todos os presentes.

Na sala da cantina já se encontravam umas dezenas de crianças pobres que o saudaram carinhosamente.

A menina Maria José Alves Moreira leu uma saudação, e ofereceu um lindo ramo de flores ao Sr. Presidente da Câmara.

Terminada a cerimónia de inauguração da cantina, logo se formou uma caravana de automóveis em direcção a Entre-os-Rios, onde iria ser servido pelas 13,30 horas um almoço oferecido pelo professorado do Concelho de Penafiel.

Cine-Teatro S. Martinho

Pelas 15,30 horas, tendo o comércio local encerrado as suas portas, fez-se a concentração dos alunos das escolas na Av. Sacadura Cabral, aguardando a chegada do Sr. Presidente da Câmara para assistir à sessão solene que em sua homenagem se ia realizar no Cine-Teatro S. Martinho. Quando o povo aguardava a chegada do Sr. Presidente da Câmara, chegava também o Sr. Governador Civil do Porto, Dr. Domingos Cândido Braga da Cruz, que com a sua presença quisera associar-se à homenagem. E por entre alas de povo, cobertos de flores lançadas pelas crianças das escolas, seguiu o homenageado, convidados, autoridades, o Chefe do Distrito, e ainda os srs. Drs. Manuel Lemos e Corte Real, da U.N., que acompanhavam aquela autoridade.

Governador Civil do Porto

A sessão solene foi presidida pelo sr. dr. Domingos Braga da Cruz, Governador Civil do Porto, tendo-se sentado à sua esquerda, os srs. Drs. Avelino Soares, Inspector Escolar José Lobato Júnior, coronel Castro Pereira, comandante do R.A.L. 5, e drs. Vito Carvalho e Rocha Reis, e à sua direita o homenageado Dr. Francisco da Silva Mendes, os drs. Manuel de Lemos e Corte Real da U. N., e o Engenheiro Fernando Graça.

Aberta a sessão, falou em primeiro lugar, em nome das professoras do concelho a professora D. Natércia Nunes, que dissertou sobre o valor das cantinas junto das escolas, seguindo-se o Delegado Escolar Prof. Albano Morais, em nome de todos os seus colegas, dizendo considerar o homenageado um verdadeiro homem de acção e sobretudo homem de coração, grande amigo das crianças e da escola primária.

O Presidente da Câmara de Penafiel vive, como os professores o problema do ensino, como grande e bom amigo da Escola Primária”

Albano Morais

Falaram ainda os srs. José Lobato Júnior, Inspector Escolar do Distrito do Porto e Dr. Avelino Soares.

Esta assistência escolar vem resolver um dos cruciais problemas da sociedade de hoje”

Inspector Escolar José Lobato Júnior

O Dr. Avelino Soares, depois de se ter referido ao problema desenvolvido pelo sr. Inspector Escolar, secundou-o nos seus diferentes pontos de vista, tendo proferido uma admirável oração:

Uma malga de caldo – é esta realmente uma obra maravilhosa, e por aí devem começar as soluções de todos os problemas”

Dr. Avelino Soares

O Sr. Presidente da Câmara, Francisco da Silva Mendes, visivelmente comovido agradeceu a todos, e prometeu continuar a obra a que lançou ombros afirmando que é ás crianças, os homens do futuro, que temos de dar conta dos nossos actos.

Enquanto nas nossas escolas houver uma criança com fome, não me falem em obras”.

Dr. Francisco da Silva Mendes

Encerrando a sessão falou o Sr. Governador Civil do Porto, Dr. Domingos Braga da Cruz, dizendo-se satisfeito por ter vindo assistir àquela homenagem, demonstrando que a acção do Dr. Francisco da Silva Mendes era verdadeiro exemplo não só para o distrito como até para todo o país.

A iniciativa da criação de cantinas, junto das escolas é um exemplo, não só para o Distrito como até para todo o país”

Dr. Domingos Braga da Cruz

No final da sessão a assistência dispensou uma vibrante saudação ao homenageado.

E aqui fica mais um naco de história, desta vez sobre o ensino primário na cidade de Penafiel.


18 março 2018

O TEMPO PASSA POR TODOS NÓS

O TEMPO PASSA POR TODOS NÓS


Nos dias 15-16-17 de Agosto de 1969, realizou-se Woodstock o maior e melhor festival de música do século XX.
O movimento hippie, ou de contra cultura instalada, está no seu auge, e este festival serviu para afirmar a cultura hippie, que pregava o amor livre e protestava contra a guerra do Vietname.

Não foi por acaso que a música que se fez ouvir durante estes três dias, tinha um cariz de contestação e apelava a mudanças sociais e políticas na América.

Cantores como Bob Dylan, Joan Baez, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Carlos Santana, Country Joe Mcdonald e tantos outros passaram pelo palco,


No terceiro dia do festival, Burk Uzele, captou na sua objectiva este casal jovem Bobbi e Nick Ercoline, envoltos num cobertor longo rosa e branco a deslizar pela lama, que viraram capa do triplo álbum editado do festival de Woodstock.


Dois anos passados após o festival casaram-se e até hoje (49 anos depois), permanecem juntos, embora o tempo passe por todos nós.

Para recordarmos Woodstock vamos ficar com a actuação de Country Joe McDonald fardado militarmente, cantando esta canção de protesto contra a guerra do Vietname.



- Bom domingo!

15 março 2018

A CABINE DE SOM

A CABINE DE SOM

Ao fundo ainda são visíveis os altifalantes junto à cabine de som


Ao mesmo tempo que o o Estádio Municipal de Penafiel ia ficando pronto, era construída em cimento armado, num recanto do mesmo pela Electrificadora Penafidelense a cabine de som.



A Electrificadora Penafidelense, era uma casa comercial situada na Av. Sacadura Cabral N.º 145, onde hoje se encontra a Electro Vinhas dedicada ao ramo eléctrico e venda de electrodomésticos.



Através dos seus altifalantes, não só transmitia música, antes ao intervalo e no final dos jogos, como anunciava a constituição das três equipas em campo.




O primeiro jogo que o Futebol Clube de Penafiel realizou no seu campo, foi no dia 21 de Outubro de 1951, contra a equipa vizinha do Atlético Clube de Vila Meã, a contar para o Campeonato Regional da 3.ª Divisão, série C, o qual venceu por cinco bolas a três, embora ao intervalo o resultado fosse desfavorável aos penafidelenses por 1-2.



Antes do início deste desafio, ao microfone da Cabine de Som foi transmitido através dos seus altifalantes o seguinte discurso:


Desportistas Penafidelenses!



Senhoras e Senhores!



Há cerca de três anos que Penafiel se deixou cair em longa e arreliadora penumbra desportiva.



Inúmeros erros, de entre os quais se devem salientar uma estúpida rivalidade, e a desmedida ambição de subir de categoria, ditaram a morte do deporto penafidelense.



Mas, senhoras e senhores, a morte purifica e, após um interregno de três longos anos, eis que ressuscitamos, cheios de vitalidade, e na firma disposição de não cairmos nos mesmos erros do passado.



Porque se o desejo de subir de categoria é legítimo, quando para a sua obtenção não são ultrapassados os limites do razoável, a conquista de títulos, porém não passa afinal, de mero acidente, porquanto o desporto, quando bem compreendido, não visa a outra coisa que não seja o desenvolvimento físico do praticante e a simultânea formação moral que a luta digna e cavalheiresca de certo modo proporciona.



E a assistência, sem abafar a voz do coração, porque reduzi-la à impotência seria quebrar a mola que acciona todos os empreendimentos, não pode contudo, deixar de apreciar o espectáculo desportivo sem o mínimo de luz intelectual, a fim de obstar a que se verifiquem cenas desagradáveis, mais próprias de selvagens do que de seres civilizados.



Se, porventura, houver alguém que sinta forças capazes de amarfanhar as suas desordenadas manifestações, como por exemplo, insultar árbitros e jogadores, impedindo, com tão baixo procedimento, que o juiz de campo possa actuar sem coação e os atletas se sintam à vontade para jogarem o que sabem, porque, sem ambiente propício, não há árbitros imparciais nem jogadores que produzam o seu melhor, então é melhor ficarem em casa.



Perca-se o mau costume de, a propósito de uma carga desleal um fora de jogo ou qualquer outro atropelo às leis regulamentadas se gritar: Sr. Árbitro! Um grito destes é feio, é deselegante, e denota falta de educação.



Siga-se com serenidade o desenrolar da partida, com a certeza de que, só assim, se contribuirá para um melhor trabalho de juiz de campo.



Quantas e quantas vezes é o desconhecimento das leis de jogo que provoca as mais disparatadas afirmações.



Proceda-se, sempre, de acordo com a boa ética desportiva, a fim de que interdições de campo e outros castigos não venham a cair sobre o nosso grupo, devido a “zelos” sem justificação.





Desportistas Penafidelenses!



Como vêem, o ressurgimento desportivo é um facto, mercê da confiança que uma boa centena de penafidelenses depositou na Comissão Organizadora do F. C. de Penafiel e dois esforços da nossa Câmara, a quem a citada comissão aproveita para, publicamente, endereçar o seu profundo reconhecimento, reconhecimento que se estende a Sua Excelência o Sr. Major Arrochela Lobo, pois só os bons ofícios da nossa Cãmara não teriam sido suficientes, mercê portanto, da cooperação de todos os factores enunciados é que foi possível chegar-se a este ponto.





Para demonstrarmos que merecemos estas benesses, criemos desde já o hábito de velar pela conservação deste formoso recinto, não consentindo que ninguém salte do peão abaixo, que qualquer rapaz se agarre aos eucaliptos, enfim, que se estrague o que tanta canseira tem dado.





E agora, simpáticos e valorosos desportistas de Vila Meã, que julgamos vos sentir honrados e satisfeitos por vos ter caído em sorte sedes os primeiros a pisar o terreno deste formoso e lindo Parque de Jogos.





Para vós, pois vão as nossas palavras de carinho e amizade, com o desejo de que as relações desportivas, agora encetadas, se desenvolvam e frutifiquem no melhor sentido.



  • Viva o Desporto!
  • Viva a nossa Câmara!
  • Viva Sua Excelência o Major Arrochela Lobo!
  • Viva Penafiel!



Hoje, é indiscutível que o desporto progrediu muito tecnologicamente e cientificamente, mas deixou de ser uma convivência salutar e passou a ter um clima de violência, mais por parte dos adeptos do que pelos jogadores, que apesar de tudo que os rodeia, ainda mantêm a chama da ética desportiva acesa.



Como foi referido no discurso, quem não se sabe comportar o que faria melhor era ficar em casa, do que vir para um recinto desportivo gritar coisas como estas: “Deixa-a morrer! Deixa-a morrer!”, quando uma atleta se lesiona e uma outra, por sinal médica da equipa contrária a vai socorrer, ou aquele grito canibalista do “Até os comemos” e aquela cantilena do “Ai quem me dera que o avião da Chapecoense fosse do Benfica”, ilustram bem o ódio que há entranhado em certos corações, onde apenas havia de existir paixão clubística, e não confundir adversários com inimigos, como se de uma guerra se tratasse entre “tribos”.



É preciso a todo o custo por termo a esta onda de violência entre adeptos que assola o desporto nacional, pois já basta de mortes ocorridas dentro e fora dos estádios, e doa a quem doer, a F.P.F. e a Liga de Clubes, algo têm que fazer.



E pronto, é este o meu pensar, que nada vale a não ser uma simples opinião sobre a violência no desporto.

10 março 2018

UM QUIOSQUE DO ANTIGAMENTE

UM QUIOSQUE 
DO ANTIGAMENTE


Este quiosque era pertença do 1.º Cabo António Alves Carneiro, do Regimento de Infantaria 6, tendo a Câmara Municipal de Penafiel concedido a licença em 27 de Outubro de 1887.



Neste mesmo local este quiosque deu lugar ao quiosque do sr Laurindo


E já muito depois apareceu o Quiosque da Felicidade.

Com o furacão Al - Berto que se fez sentir em Penafiel, varreu deste local a Felicidade e o Quiosque. 

É por estas e por outras, que eu detesto furacões.

01 março 2018

UMA SEITA MUSICAL

UMA SEITA MUSICAL

.

Nos anos vinte do século passado, nasceu em Penafiel a “Seita dos Pelintras”.

Não sei a que propósito surgiu este nome já que alguns membros que cheguei a conhecer, nada tinham de pelintras, nem pertenciam a qualquer seita de malfeitores ou religiosa.

Embora o nome seja bizarro, o que é certo e sabido é que se tratava de um conjunto musical.

Este grupo possuía uma bandeira extravagante, encimada por um bacio de quarto (vulgarmente conhecido por penico), e dele fizeram parte:

  • João Pinto Matos
  • Boaventura Bessa
  • Joaquim Pinheiro
  • Tomaz da Rocha Quintas
  • Joaquim Ferreira
  • Luís da Rocha Quintas
  • Laurindo Nunes Pereira
  • José Guedes Taveira de Morais
  • Joaquim da Cunha Ferreira
  • António Ferraz de Menezes
  • José Vieira Novo
  • José Marques Babo
  • José M. Lopes de Carvalho
  • João Tavares da Silva

Neste época ainda não havia futebol na terra e estes jovens passavam o seu tempo a aprender música em diversos instrumentos, quantas vezes à luz da candeia, dado que a electricidade constituía um luxo para quem a utilizava.

Guitarras, bandolins, violas, cavaquinhos, bombos, ferrinhos, pandeiretas e demais instrumentos apropriados não faltavam neste típico conjunto de Penafiel que deliciava o público com o seu extenso reportório nas noites de S. João e S. Pedro entre outras.

Festa ou folguedo onde actuasse a Seita dos Pelintras já se sabia que era sinónimo de enchente.

Em tempos que já lá vão, na Rua Alfredo Pereira um festejo a S. João, promovido pelo comerciante Virgílio Queiroz, e tendo sido convidada a Seita dos Pelintras para ali actuar, isso foi o bastante para as outras cascatas da cidade ficarem ás moscas, a ponto de o organizador de uma delas ter ido pedir à direcção da Seita para o conjunto ir até lá, quando não as muitas prendas que tinham no bazar acabariam por não ser leiloadas por falta de compradores.

Mas enganem-se os que pensam que esta Seita dos Pelintras, era apenas para consumo caseiro.

No dia 8 de Julho de 1923, a Seita dos Pelintras deslocou-se à Vila de Amarante (hoje cidade), tendo introduzido no seu reportório duas novas canções as quais passo a transcrever as letras das mesma: 

 
Saudação a Amarante

Oh! nobre e linda Amarante
De tão velhas tradições
Ouve o brado anti-sonante
Destes ternos corações!

Ouve, princesa do rio,
Que de prata é todo feito,
O coro dum rapazio
Que por ti tem muito respeito.

Ouve, sim, os nossos hinos
Cheios de amor e beleza
E com teus gestos divinos
Junta-nos na mesma mesa

Um laço bendito e santo
De fraternal amizade
Apregoa o nosso canto
Que não tem outra vaidade

Oh! bela e linda Amarante
Nós, os filhos de Arrifana
Neste dia delirante
Por ti bradamos; Hossana!


Ás Damas Amarantinas

Oh! ninfas amarantinas
Donzelas, cândidas, puras,
Que nas águas cristalinas
Afogais mil amarguras.

Aceitai as saudações
Desta alegre mocidade
Que vos traz nos corações
Muita e sincera amizade

Recolhei nos vossos peitos,
Quais filhos em doces lares,
Nossos carinhos só feitos
Dos vossos ternos olhares

E após a nossa partida,
Que de vós connosco vá,
Uma saudade nascida
Da nossa vinda por cá.

E nos vossos corações,
Nunca deixeis de pedir,
Que Deus dê muitos galões
De galinhas a fugir.

Que o vosso rio, ao passá-lo,
Nos não leve um só Pelintra,
E que o vosso S. Gonçalo,
Vos case em antes dos trinta.

E assim ficamos a conhecer a Seita dos Pelintras, que por cá andou antes de nós a alegrar as noites de farra com as suas músicas, e talvez muitos musicólogos cá da terra desconheçam.