01 dezembro 2024

DEZEMBROS DE TEMPOS PASSADOS

 DEZEMBROS

DE TEMPOS PASSADOS




Mal entrava o mês de Dezembro, comemorava-se a Restauração da Independência de Portugal, decorrida em 1 de Dezembro de 1640. Neste primeiro dia deste mês cá na terra havia um desfile da Mocidade Portuguesa com uma deposição de flores no monumento aos Mortos da Grande Guerra.




O dia 8 era dedicado à Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal. O rei D. João IV colocou a coroa na imagem de Nossa Senhora da Conceição, em 25 de Março de 1646, numa cerimónia solene em Vila Viçosa, como agradecimento por ter recuperado a independência de Portugal em relação a Espanha. Assim, Nossa Senhora da Conceição é rainha de Portugal e, por esta razão, mais nenhum rei ou rainha usaram coroa na cabeça, nem podem usar. 

 


 

Durante muitos anos este dia foi considerado em Portugal o Dia da Mãe. Na Igreja Matriz realizava-se uma missa com a colaboração e participação da Mocidade Portuguesa Feminina.






A Escola Primária, que no meu caso foi na Escola Conde de Ferreira em Penafiel, era com satisfação que víamos chegar as Férias do Natal, que se iniciavam no dia 23 de Dezembro e terminavam no dia de Reis (6 de Janeiro do ano seguinte).


Os métodos pedagógicos de ensino utilizados por muitos professores, eram baseados nas palmatoada, canadas e berros transformando a sala de aula num terror. Por isso as férias eram sempre acolhidas com muita alegria.




Nesta quadra natalícia era costume enviar postais que o meu pai comprava e eram pintados com a boca ou com os pés de artistas mutilados, a desejar um Feliz Natal e Boas-Festas a amigos e parentes que moravam longe.


Era norma cá de casa comprar um bilhete para o sorteio do “Lar do Comércio”, que aparecia em Penafiel com uma viatura novinha em folha em cima de um camião e homens com braçadeiras do Lar do Comércio no braço, vendendo rifas nesta época de Natal.





Em Penafiel, também aparecia “O Farrapeiro” que recolhia donativos, utensílios, roupas e alimentos para distribuir pelos pobres da terra.


Num canto da sala de jantar, montávamos um pequeno presépio e ornamentávamos o pinheiro de Natal.





A consoada (24 de Dezembro), impunha tal como hoje as batatas, o bacalhau, os ovos, as tronchudas, os nabos e os grelos, regados com bom azeite.





As guloseimas eram: a aletria adornada com desenhos feitos com canela, os mexidos, as rabanadas, o bolo-rei, os sonhos e os filhoses de forma (estas duas últimas doçuras eram feitas pelas minhas tias).


Na mesa da consoada era colocado a mais um prato e um talher que simbolizava a presença dos entes queridos que já partiram, e que nessa noite estavam ali presentes connosco.


Neste tempo muitos grupos de miúdos andavam de porta em porta a cantar as Boas-Festas na véspera do Natal, e no último dia do mês as Janeiras, à espera de uma recompensa em troca.




Enquanto a minha mãe arrumava a mesa, nós jogávamos o rapa e o quino a pinhões.




No dia de Natal corríamos à chaminé para ver o presente que o Menino Jesus (hoje é o Pai Natal), nos tinha deixado no sapatinho que por vezes se reduzia a chocolates e um par de meias. Natal é dia de missa, e lá íamos à igreja da Misericórdia não só para vermos o presépio, como para beijar o Menino Jesus que o Sr. Reitor dava a beijar.




Depois veio a Guerra Colonial que se estendeu desde 1961 – 1975, e o meu pai gostava de ouvir as mensagens dos soldados portugueses que combatiam em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique).




Faz este ano precisamente 50 anos, que passei o segundo e último Natal, em terras africanas “Onde o Sol castiga mais” como cantava Paco Bandeira, mais precisamente em Angola, na cidade de Nova Lisboa, num misto de saudade e camaradagem. Nesse ano o Movimento Nacional Feminino presenteou-me com um disco LP “NATAL 71”, que religiosamente guardo, onde se pode ouvir entre outros: Amália, Hermínia Silva, Florbela Queiroz, Parodiantes de Lisboa e mensagens de Eusébio, Joaquim Agostinho, etc.


O Natal nos nossos dias já não é o que era, pois basta ver que já não tenho a minha mãe e o meu pai natal. Mudou como o mundo, quanto a mim para pior, onde o ódio e a malvadez, campeiam não só nas guerras, mas em qualquer esquina de qualquer cidade, ou lugar do planeta.




Mas apesar de vir para aqui debitar lembranças do passado, que para muitos serão recordações mas para outros uma "seca dos diabos", neste Natal que se aproxima, não podia deixar de desejar a todos que por aqui passam, um Feliz Natal com muita Saúde, Paz e Amor.



Fernando Oliveira – Furriel de Junho