20 abril 2020

GRÂNDOLA VILA MORENA


GRÂNDOLA VILA MORENA


Sabia que:

No dia 17 de Maio de 1964, José Afonso, actuou na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, e aqui se inspirou para a criação da canção: Grândola Vila Morena


Grândola Vila Morena faz parte do álbum “Cantigas do Maio” lançado em Dezembro de 1971. Este disco foi proibido pela censura da Emissor Nacional, aquando do seu lançamento, sendo concedida uma excepção na Rádio Renascensa à canção “Grândola Vila Morena”. 




Em 10 de Maio de 1972, é cantada pela primeira vez em público, no Burgo das Nações, na cidade galega de Santiago de Compostela, numa récita juntamente com o cantor galego Benedicto Garcia.



Realizou-se a 29 de Março de 1974, no Coliseu dos Recreios de Lisboa, o I Encontro da Canção Portuguesa, que vai terminar com Grândola Vila Morena, com José Afonso e todos os cantores em palco juntamente com o público entoando a canção. Foi a partir deste espectáculo que os militares de Abril presentes no público, escolheram Grândola Vila Morena como a segunda senha do movimento libertador.



25 de Abril de 1974, Grândola Vila Morena é usada para dar o arranque à Revolução de Abril. A partir desta data, Grândola Vila Morena, transformou-se num ícone do 25 de Abril e da Liberdade.

 Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade







Fernando Oliveira - Furriel de Junho

02 abril 2020

HONRA E DEVER

HONRA E DEVER

TROPAS PARA A GUINÉ






Nos anos 60 e 70 do século passado, do quartel de Penafiel, saíram muitas companhias para combaterem no continente africano nas três províncias ultramarinas: Angola, Moçambique e Guiné. 

 


Assim os penafidelenses foram-se habituando a este frenesim que eram as chegadas e partidas de tropas. 

Se na primeira a alegria era espelhadas nos rostos, retratada em beijos e abraços de familiares e amigos, já nas partidas era a tristeza que reinava e as lágrimas escorriam e secavam nos rostos de familiares e namoradas.




Durante os dois anos que separavam a partida da chegada, trocavam-se aerogramas (cartas do Serviço Postal Militar, SPM), fornecidos gratuitamente pelo Movimento Nacional Feminino, onde as saudades amoleciam com notícias da terra e do outro lado do mar se relatavam vivências, num tempo que parecia parado.



Se as duas primeiras companhias para a Guerra Colonial, que saíram do RAL 5 de Penafiel foram para Angola, as duas últimas antes de Abril de 1974, rumaram à Guiné, não imaginando a que saiu em 1973, que iria assistir à independência dessa colónia portuguesa.



No dia 26 de Março de 1972, despediu-se de Penafiel a Companhia 3567, que rumou à Guiné.




Ás 10,30 horas na Igreja do Calvário repleta de gente, assistiu-se à missa em cujos actos religiosos se encarregou o Reverendo Capelão Alferes Rui Alves.



À homilia o sacerdote militar, exaltou os soldados para o cumprimento da missão do dever sagrado para com Deus e para com a Pátria.



Após a missa procedeu-se à Bênção do Guião da companhia que irá ser o símbolo destes bravos soldados que na Guiné irão defender a Pátria Lusa.




Seguidamente foi feita a entrega do Guião à Companhia expedicionária tendo-o recebido das mãos do Comandante do Regimento o sr. Capitão João Pereira Tavares, comandante da CART 3567, proferindo depois o agradecimento em nome daqueles que com ele iam partir para a Guiné.
 




A estas cerimónias estiveram presentes o Comandante do RAL 5, Tenente Coronel de Artilharia Sérgio Augusto Valverde Bacelar, o Segundo Comandante, Major Gaspena, o sr. Major Carlos Manuel Lopes Leal, comandante da Esquadra 12 de G. D. A. C. 1, de Paços de Ferreira, Presidente da Câmara, Dr. Manuel Alves Moreira, Presidente da Acção Nacional Popular, Director da Escola Industrial e Comercial de Penafiel, Dr. Aurélio Tavares, Comandante da GNR, Tenente Veiga Ferraz, Presidente da Secção da Liga Portuguesa dos Combatentes, Senhoras do Movimento Nacional Feminino, Médico da Unidade Dr. Francisco Brandão Rodrigues dos Santos, antigo Comandante do RAL 5, Coronel Cipriano Alfredo Fontes, oficiais, sargentos e praças do RAL 5. 

 


No vasto recinto do Campo Conde de Torres Novas, procedeu-se à formatura geral do Regimento, enquanto os convidados eram recebidos pelo Comandante do RAL 5 e visitavam a Biblioteca da Unidade.



No gabinete do Comandante foram impostos os galões a vários oficiais promovidos ao posto imediato pela partida agora registada.



O Regimento desfilou depois pelas ruas da cidade, e das varandas e sacadas, de onde prendiam vistosas colchas, eram lançadas pétalas sobre aqueles que iam partir para a Guiné, na esperança de um feliz regresso.



Seguiu-se uma confraternização entre oficiais, sargentos e praças, a culminar mais um dia na história do RAL 5 em Penafiel.



No ano seguinte, mais propriamente em 5 de Julho de 1973, despedia-se de Penafiel a Bart 6523, também rumo à Guiné.



Em representação do General Comandante da 1.ª Região Militar esteve presente o Coronel de Artilharia Amândio Augusto Trancoso, antigo Comandante do RAL 5, que presidiu a esta cerimónia de despedida, à qual se associaram autoridades civis e religiosas da cidade de Penafiel.




Na parada interior do quartel, foi celebrada missa campal pelo Reverendo Capelão-Chefe da Região Militar, Major Capitão, dando a bênção do Guião e das Flámulas da Bateria 6523.




Após esta cerimónia, no Campo Conde de Torres Novas, com as forças em parada, foi prestada continência ao representante do General Comandante da Região, e seguidamente, em tribuna levantada para o efeito, tomaram assento as seguintes individualidades: Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Dr. Manuel Alves Moreira, Presidente da ANP, Dr. Aurélio Peixoto Pais Tavares, Comandante da GNR, Tenente Veiga Ferraz, Reverendo Padre Albano Ferreira de Almeida, Vigário da Vara, Director Clínico do Hospital, Dr. Joaquim da Rocha Reis, Representante da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, Sr. Vieira de Mesquita, Médico do RAL 5, Dr. Francisco Brandão Rodrigues dos Santos, Coronel Faria d Abreu e Coronel Fontes, ambos na situação de Reserva, Senhoras do Movimento Nacional Feminino, representadas por Dona Maria Teresa de Vasconcelos. 

 


Usaram da palavra o Coronel Campos Gil, Comandante do RAL5, o Coronal Damas Vicente, Comandante da Força Expedicionária e por último, o Coronel Trancoso que entregou Guião ao comandante das Forças expedicionárias, sendo as Flámulas entregues pelo Dr. Aurélio Tavares, Coronel Fontes, sendo distribuídas lembranças a todos os soldados pelas senhoras do Movimento Nacional Feminino.




Após estas cerimónias procedeu-se ao desfile das tropas com fanfarra que depois de prestarem continência ás autoridades presentes se dirigiram em desfile para o centro da cidade. 

 

A população da cidade associou-se a mais esta despedida de tropas, que, partem cientes de que vão cumprir o dever para com a Pátria.



Quando regressaram á pátria, não foram recebido com honra como mereciam, porque o MFA andava entretido com a revolução e o povo que entoou nas rua a “Grândola Vila Morena, Terra da Fraternidade”, já tinha virado o disco para a Gaivota que voava, e lhes dizia que “Somos Livres”.

Em Abril, os papagaios do costume, não vão descer à praça por causa deste mal que entrou nas nossas vidas, e debitarem palavras da praxe que não lhes saem do coração. 

 

Muitos nossos conterrâneos tombaram nesta guerra e os seus nomes permanecem no chão da nossa praça, sem honra e sem glória do dever cumprido, dando o seu melhor à Pátria, a sua própria vida.



Triste terra que trata assim os seus filhos, mas como disse o Padre António Vieira, na Capela Real, no ano de 1669, no seu sermão da terceira quarta-feira da Quaresma:



“Se servistes a pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma”.



Desde esses tempos longínquos da monarquia, passando pela república com ditadura ou em democracia, “tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”.



Vou terminar, resumindo toda esta situação que me causa náuseas, com uma única palavra:



INGRATIDÃO

Fernando Oliveira – Furriel de Junho