01 outubro 2020

PERIPÉCIAS CINEMATOGRÁFICAS

 

PERIPÉCIAS 

CINEMATOGRÁFICAS



Quando ainda era jovem, e trabalhava na cidade do Porto, os dinheiros não abundavam, e como tal, o meu cinema era o Teatro Carlos Alberto. Esta sala de espectáculos que foi inaugurado em 1897.


A sua designação advém do rei da Sardenha que morreu exilado no Porto em 1849, e que tinha sido acolhido no Palacete do Barão do Valado, onde o teatro foi edificado por iniciativa de Manuel da Silva Neves. Era um espaço essencialmente de cariz popular, que apresentava espectáculos como o "circo dos cavalinhos", operetas, teatro ligeiro e cinema.


Acontece que aqui um bilhete dava para ver dois filmes que passavam seguidos com um intervalo entre os mesmos, enquanto eram trocadas as bobinas.



Por vezes a fita partia e aquele pessoal lá abria o dicionário dos palavrões e lá brindava o projectista como se de um árbitro de futebol se tratasse. No entanto, mal o filme continuava o mesmo levava uma estrondosa salva de palmas.


No intervalo funcionava um bar onde se vendiam pataniscas, bolinhos de bacalhau e copos de três, entre outras guloseimas.


E tudo isto se passava nos anos 60 no século passado.


Ainda eu não era nascido, e em Penafiel funcionava o Cine Clube em Penafiel.



Construído de madeira, zinco e lona, o Cine- Clube de Penafiel, era frequentado por muitos apaixonados da Sétima Arte, que iam nos dias das sessões com o fim de se divertirem e apreciarem os filmes que a respectiva empresa alugava e passava no grande ecrã.


O Cine- Clube tinha uma lotação de cerca de 400 lugares sentados. Os lugares do Geral eram bancos de madeira perto do ecrã, depois vinham os lugares de Cadeiras, separados do Geral por uma grade de madeira e por fim, o Balcão, duas filas de cadeiras situadas numa espécie de varanda por cima das Cadeiras e com acesso por uma escada de madeira donde também se via a cabine de projecção.



Como os filmes eram mudos, os intervalos eram animados com concertos de piano a cargo de Alexandre Carneiro Pinto, solicitador desta comarca e Dona Maria Henriqueta de Melo, filha do escritor penafidelense Ernesto de Melo.


Por vezes o advogado penafidelense dr. Joaquim Peixoto agarrado à sua bengala que por vezes servia de instrumento de protesto, quando a sessão começava tarde, batendo com a mesma no soalho.


O Manuel Sacristão apelido de Manuel da Rocha Nunes, que no final da sessão lá fazia as contas, para ver se a receita chegava para a despesa.


O porteiro da casa Laurindo Teixeira, mais conhecido como o Laurindo do quiosque, que a todos cumprimentava com cortesia, e finalmente o bilheteiro Luís Ribeiro tendo a alcunha de Luís Papas encafuado no seu aposento trocando bilhetes por dinheiro.


O Cine- Clube de Penafiel foi mandado construir por Jaime Valverde, do Porto, passando depois para João Ribeiro dos Santos também conhecido por Joãozinho de Pussos que tinha o hábito de lançar foguetes a anunciar o começo das sessões, de seguida passou para António de Sousa Soares e finalmente para Fernando Sá Reis que assistiu à sua destruição.


No dia 15 de Fevereiro de 1941, por volta das 19 horas, um ciclone assolou Penafiel, causando enormes prejuízos na cidade, entre eles o arrancar de inúmeras chapas que cobriam o Cine Clube.


António de Sousa Soares resolve aumentar o preço das cadeiras para cobrir os prejuízos, mas os frequentadores não estiveram pelos ajustes e fizeram uma greve de comparência, tendo o mesmo que manter os preços anteriores.

 


São estas peripécias cinematógrafas que resolvi trazer ao meu blogue, talvez com ou sem interesse para o leitor, mas são vivências que eu gosto de partilhar e como tal, apenas espero por um gosto dos que me lêem e apreciam.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho