30 outubro 2006

O FRUTO PROIBIDO

O FRUTO PROIBIDO
(Conto)

Mal despontavam os primeiros dias frios de Novembro, na rua frente à nossa casa, aparecia o homem das castanhas. Trazia um carrinho e ia dando à manivela, para o lume despertar e chegar o calorzinho ao rabo do fogareiro. As castanhas, essas estalavam e tomavam aquela cor dourada e cinza que faziam o consolo dos nossos olhos, e nos aguçavam o apetite. Os fregueses e as freguesas lá iam aparecendo e levando entre mãos um cartucho feito em papel de jornal já lido a abarrotar de castanhas.

Certo dia, ao final da tarde o avô foi mercar meia dúzia de castanhas, as quais trouxe nas suas mãos papudas e roxas da má circulação até casa.

Já em casa repartiu a compra comigo, e com a avó.

- Toma lá rapaz!... Lembra-te que todo o homem que se preze deve ter duas castanhas. E ria-se, ria-se.

Aquela quentura dada pelas castanhas às mãos, provocaram-lhe uma maior fluidez de sangue na circulação, o que lhe dava uma sensação falsa de um rejuvenescimento de vinte anos.

- Ó mulher!... Hoje vou comer o fruto proibido.

- Toma mas é juízo homem.

Por fim, ambos se recolheram nos seus aposentos, donde só sairiam na manhã do dia seguinte.

Quando cheguei à cozinha para tomar o pequeno-almoço, já o avô tinha entre mãos uma malga com café a fumegar. Foi então que lhe perguntei:

- Ó avô! Sempre comeste o fruto proibido?

- Não meu netinho. Ainda não foi desta que consegui vencer, a força da gravidade.

05 outubro 2006

O PELOURINHO

O PELOURINHO
(A Nossa Terra)

Quem passa hoje pela Praça Municipal, por vezes nem se apercebe que a um recanto junto da Igreja da Misericórdia, se encontra o pelourinho de Penafiel. O mesmo é constituído por um pequeno degrau circular com pouca altura, uma coluna cilíndrica que parte de uma pequena base quadrada e possui o diâmetro de quarenta e cinco centímetros, o fuste monolítico que se eleva até à altura de três metros e dez centímetros, e no topo alarga em anel redobrando seguido de pequena gola. O remate é constituído por elemento tronco cónico e perfil côncavo que atravessa volumosa bola. No elemento que a ultrapassa pousa uma grimpa de ferro em forma de catavento encimado por uma cruz de Cristo. Mas ao pacato cidadão, nem lhe passa pela cabeça o que aconteceu neste local no dia 14 de Dezembro no ano de 1841, e que nos é relatado no livro " Penafiel - Hontem e Hoje " do Dr. Coriolano de Freitas Beça,( pág. 116 ) .

Allude a um assassinato, em que a victima appareceu morta dentro da presa referida, conhecida então por presa dos Pelames, e que deu causa a uma execução na fôrca no largo das Chans, hoje Praça Municipal, ultima que teve lugar nesta cidade.

O dr. Antonio Luiz de Sousa Henriques Sêcco, no seu livro «Memórias do tempo passado e presente» tomo 2º , pag. 227, menciona este facto pelo seguinte modo:

« Anno de 1842 - janeiro 14.

Manoel Braga, o Champina, natural e residente na cidade de Penafiel, filho de João Braga e de Anna Rita, de 30 annos de edade, tamanqueiro.

Morte violenta de Albina, por alcunha a Caturra, vendedeira, moradora na rua Direita de Penafiel, em a noite de 16 para 17 de março de 1839. Cartorio do escrivão Albuquerque.

Condenada a pena ultima por sentença do juíz de direito da comarca de Penafiel de 25 de janeiro de 1840, confirmada por accordão da Relação do Porto de 20 de novembro de 1840, e por accordão (negativo) do Supremo Tribunal de Justiça de 30 de agosto de 1841.

Em portaria de 10 de dezembro de 1841 foi participado à presidencia da Relação do Porto, que s. m. (então D. Maria II), ouvido o conselho de ministros, não usara da sua real clemencia em favor do reu.

Enforcado no referido dia 14 pelas onze e meia da manhã.»

O dia da execução ficou em tristíssima e arrepiada recordação para esta cidade, e ainda bem que tal selvageria aqui se não repetiu mais.

Como vê, depois de ter lido este pequeno texto, já ficou a conhecer mais um pouco da estória desta cidade e como diz o nosso povo, o saber não ocupa lugar.