03 março 2023

INAUGURAÇÃO DO HOSPITAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE PENAFIEL

 

INAUGURAÇÃO DO HOSPITAL DA

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA

DE PENAFIEL

 



Teve início a sua construção no mês de Junho de 1891, sendo previamente arrematada em hasta pública a execução das obras, pelo mestre de obras, Manoel Vieira Gonçalves, que seguidamente a trespassou ao sr. José Joaquim da Cunha, conceituado empreiteiro de obras públicas.


No início estava projectada em 20 contos, mas como as fundações tiveram que ser mais profundas que o previsto, a obra ficou perto dos 30 contos, e como tal, foi preciso um orçamento suplementar.


Araújo e Silva


Por ordem dos ministérios do reino e obras públicas, foi incumbida da direcção e fiscalização das obras, a Direcção das Obras Públicas do Porto, que foi desempenhado pelo autor do projecto, pelo conselheiro António Ferreira de Araújo e Silva, engenheiro director das Obras Públicas do Distrito do Porto, coadjuvado pelos srs. João Rodrigues Pinto Brandão, engenheiro chefe de secção e José Ferreira, apontador de Obras Públicas.


Sob as ordens do respectivo empreiteiro, José Joaquim Cunha, construíram a obra de pedreiro o sr. Domingos Gonçalves Castanheira, mestre de obras, a obra de carpintaria, o mestre António Xavier, a de trolha e pintor, o mestre sr. José Moreira, e a obra de ferreiro, o sr. António Pereira da Silva, com oficina de serralheiro na Senhora da Aparecida.





Na entrada principal são visíveis as armas da Santa Casa da Misericórdia, encimadas pela estátua representando a caridade que se encontra no remate da frontaria do hospital, e foi desenhada pelo Conselheiro Araújo e Silva, e executada nas oficinas do escultor Ferreira, situado na Rua Santa Catarina, na cidade do Porto.


Laurentino da Rocha Nunes


Na inauguração do Hospital da Misericórdia de Penafiel, a 24 de Junho de 1894, obra que Araújo e Silva, projetou e dirigiu, foi descerrado o seu retrato, sendo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Laurentino da Rocha Nunes, benemérito cidadão, que foi o grande empreendedor desta gigantesca obra.






Ás 7 horas da manhã, a Banda de Nossa Senhora do Carmo percorreu a cidade, anunciando os festejos, e ás 9 horas uma extensa fila de trens partindo do Largo dos Capuchos, tomava a Av. Pedro Guedes em direcção à estação do caminho de ferro em Novelas, conduzindo a mesa da Santa Casa, representantes das diferentes corporações públicas e convidados, tais como:


Barão do Calvário


Barão das Lages, Barão do Calvário, Capitão Leal Faria Comandante da força militar, Coronel Pinto de Sousa, dr. Moreira Baptista cirurgião-mor do exército, António Joaquim de Carvalho, Administrador do Concelho, José Fortunato Freire Themudo e Vera, Juiz de Direito, Dr. Ignácio Teixeira Dias, Delegado do Procurador Régio, Dr. José Nobre de Barbosa e Veiga, Conservador da Comarca, Jacintho Pereira de Sousa Caldas, Escrivão da Fazenda, António Leal de Magalhães, recebedor da comarca, Francisco Vaz Subtil, chefe da estação telegrafo-postal, Padre João de Araújo Lima, professor do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, Simão Júlio de Almeida, comandante dos Bombeiros Voluntários, Laurentino da Rocha Nunes, provedor da Misericórdia, José Maria Pinto, escrivão e mesários, Joaquim Augusto da Silveira Camello, José Soares de Carvalho, Albano da Costa Babo, António José de Freitas Guimarães, Manoel Teixeira Mendes de Abreu, Rodrigo da Costa Babo, João de Matos Almeida, António Fortunato da Silva, Luiz António de Almeida, caspelão padre José Ferreira Dias Torres, e cartorário José Cotta, José Alberto Vieira, presidente da Associação Artística, Joaquim Pereira Sotto-Maior e Meneses e Casimiro Sequeira de Sousa Rebello, presidente e vice-presidente da câmara, dr. Aloysio José Moreira, José Maria Pinto Monteiro, Germano Pereira Guimarães, vereadores, Agostinho da Rocha Beça secretário, dr. Adriano Sequeira de Sousa Rebello, director da Casa-Hospício, Domingos José Vilela, Ernesto Melo, e os representantes da imprensa local, que iam esperar o distinto Governador Civil sr. Conselheiro Arthur Alberto de Campos Henriques, o considerado director das obras públicas deste distrito, sr. Conselheiro António Ferreira de Araújo e Silva e o eminente orador sagrado o reverendíssimo cónego Alves Mendes da cidade do Porto.

 



Mal se avistou o comboio onde vinham em carruagem salão o Governador Civil e o conselheiro Araújo e Silva, a Banda de Música da Nossa Senhora do Carmo, tocou o hino real seguido do hino Araújo e Silva composição do regente da Banda de N. S. Do Carmo entre os estalar constante de foguetes. Depois dos cumprimentos afectuosos seguiu a comitiva para a cidade pela Rua Engenheiro Matos, entrando pela Rua Formosa, Praça Municipal, Rua Serpa Pinto, Largo da Ajuda, Rua do Paço, Rua Direita, Av. Araújo e Silva que viria a ser inaugurada no ano seguinte, parando no Largo dos Capuchos. À frente do cortejo vinham formando alas todos os empregados nos serviços do novo e concluído hospital da Santa Casa. Uma força da Infantaria 18, estava postada ao lado direito, entrando, da grande porta de ferro que dá ingresso ao jardim do asilo, e do lado esquerdo a música de Valongo que á chegada do cortejo executou o hino real e em seguida algumas peças do seu repertório enquanto entravam para a sala nobre os ilustres visitantes e convidados. Em duas alas, à entrada do asilo, aguardavam a chegada dos ilustres visitantes as irmãs de caridade e as educandas, espargindo pétalas de flores sobre todos quantos entravam. O sr. Laurentino da Rocha Nunes ofereceu mesmo no asilo aos srs. Conselheiros Campos Henrique e Araújo e Silva e ao rev. dr. Cónego Alves Mendes um magnífico almoço, terminado o qual se procedeu à bênção solene do novo hospital.



A bênção foi lançada pelo reverendo cónego Dr. Alves Mendes, acompanhando-o os seguintes eclesiásticos: padre José Ferreira Dias Torres, padre Manoel Barbosa Leão, padre Luiz Augusto da Fonseca Pinto, padre António José Ferreira, padre Manoel de Sousa Freire, padre Dr. José Cerveira de Almeida, padre Ignácio de Araújo Lima e os mesários Laurentino da Rocha Nunes, José Maria Pinto, Joaquim Augusto da Silveira Camello, Rodrigo da Costa Babo, António Fortunato da Silva, Luiz António de Almeida, oaquim Augusto da Silveira Camello, José Soares de Carvalho, Albano da Costa Babo, António José de Freitas Guimarães, Manoel Teixeira Mendes de Abreu, Rodrigo da Costa Babo, João de Matos Almeida, António Fortunato da Silva, Luiz António de Almeida, Manoel Teixeira Mendes de Abreu, Albano da Costa Babo e José Soares de Carvalho. Terminada a bênção, começou o Te-Deum na igreja dos Capuchos.




A orquestra da capela do sr. João de Souza Fernandes executou a sinfonia da Muda di Portici, após a qual entraram na capela-mor os srs. governador civil e o director das obras públicas Araújo e Silva, acompanhados pela câmara, autoridades, mesários e mais cavalheiros. Foi celebrante o digníssimo abade desta freguesia dr. José Cerveira de Almeida, acolitado pelos reverendos Luiz Augusto da Fonseca Pinto e Manoel Barboza Leão.


Cantado o Tantum Ergo subiu ao púlpito o sr. Cónego Alves Mendes, o orador insigne que entusiasma a todos com a sua palavra eloquentíssima, que nos encanta com as suas lindíssimas flores de oratória, produtos de uma fantasia imensa. A sua alocução foi esplêndida de imagens e extraordinária de eloquência. A orquestra executou em seguida o Te-Deum Landamus acompanhado a vozes que muito agradou pela sua beleza e correcção com que foi dito.


Campos Henrique


Eram cerca das 15 horas quando começou a sessão solene a que presidiu o conselheiro Campos Henrique, tendo à sua direita o conselheiro Araújo e Silva e à sua esquerda o Rev. Cónego Alves Mendes.


A menina Rita Pereira Neves, internada no Asilo recitou um pequeno mas comovente discurso dito com a graça própria da sua tenra idade, dirigido ao sr. Provedor.


Ex.mo Sr. Provedor

Permiti que neste dia tão cheio de alegria, tão memorável para a história de Penafiel, e tão cheio de santas emoções para o vosso bondoso coração eu e minhas companheiras vos demos na presença desta selectíssima assembleia enobrecida e abrilhantada pela comparência de Vossas Excelências e preclaríssimas autoridades um público testemunho da nossa indelével gratidão e do nosso amor filial, filial sim, porque em vós temos encontrado um protector carinhoso, ou melhor um pai desvelado.

Nós, excelentíssimas autoridades e cavalheiros, nos mais verdes anos da nossa infância logo vimos abrir-se para nós um futuro negro e triste. Somos órfãs, umas de pai, outras de mãe e algumas de pai e mãe.

A sorte adversa roubou-nos tão cedo os mimos dos dois amores que mais nos estremecem no mundo. Por isso estávamos condenadas a um futuro de lágrimas e de miséria.

Mas a digníssima mesa desta Santa Casa exercendo a sublime virtude da caridade que tanto a enaltece por intermédio do seu preclaríssimo Provedor tomou conta de nós, internou-nos neste asilo e restituiu-nos à felicidade.

Olhai, Senhores, tínhamos perdido nossa mãe? Encontrámo-la nestas beneméritas irmãs, que todas nos dispensam carinhos direcção e afectos paternais.

Já não tínhamos pai? Encontrámo-lo nos desvelos e solicitude que a todas nos dispensa o Ex.mo Provedor.

Já vemos pois abrir-se diante de nós um futuro risonho que havemos de conseguir por meio da obediência humildade e trabalho, e estas três virtudes havemos de encimá-las sempre e sempre com a coroa da nossa inolvidável e eterna gratidão para com os nossos benfeitores e para com aquele que estremecemos como nosso pai.

Mas a caridade do nosso protector não se limita somente a cuidar da infância órfã e desvalida, vai pressurosa até junto do leito do enfermo pobre para o confortar e rodear do necessário para a sua cura e restabelecimento.

Depois de esforços inauditos e verdadeiramente heróicos, tem hoje a consolação e a dita de inaugurar este magnífico edifício do novo hospital. É justo que as filhas rejubilem com a alegria do seu bondoso pai, pois nós rejubilamos também por vermos, Ex.mo Sr. Provedor, inundada a nossa alma e o nosso coração neste o mais feliz da nossa vida da mais santa e justa alegria.

Permiti pois que nós beijando-vos cheias de reconhecimento as mãos digamos do fundo da nossa alma:

- Viva o nosso protector!

  • Viva o Ex.mo Provedor e mesa desta Santa Casa!

  • Vivam as Ex.mas autoridades e cavalheiros presentes


Depois de uma estrondosa salva de palmas, e de vários oradores tomarem a palavra, o Sr. Provedor Laurentino da Rocha Nunes, quando se preparava para agradecer, não pode prosseguir a sua intenção, porque estava de tal maneira emocionado que a sua voz ficou embargada, tendo que ser substituído pelo pároco Alves Mendes.


Seguiu-se a leitura do auto da inauguração:


Auto solemne da inauguração do novo hospital da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.


Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos noventa e quatro, aos vinte e quatro dias do mez de junho, n'esta cidade de Penafiel o edifício do novo hospital da Misericórdia de Penafiel, achando-se reunida a Ex.ma Meza Administractiva da mesma Santa Casa, e presentes os Ex.mos Senhores Conselheiro Governador Civil do Districto, conselheiro Director das Obras Públicas, Câmara Municipal, Abbade da Freguezia, Administrador do Concelho, Juiz de Direito, Delegado e Sub-delegado, Conservador e Recebedor da Comarca, Escrivão de Fazenda, Commandante da Guarnição Militar, Médico da Santa Casa, Director do Collégio de Nossa Senhora do Carmo, Barão do Calvário, representantes da imprensa, irmãos, e grande número de pessoas de todas as classes sociaes, a fim de proceder-se à inauguração do referido hospital, realisou-se esta pela fórma seguinte: - Primeiramente o Ex-mo Rev.º Senhor Cónego António Alves Mendes da Silva Ribeiro, da cidade do Porto, acompanhado de alguns sacerdotes, lançou a Bênção solemne a todos os compartimentos do novo edifício, praticando as cerimónias concernentes ao acto, segundo o ritual romano. Em seguida dirigindo-se todos à Egreja do Hospital, alli foi cantado em acção de graças um solemníssimo Te-Deum, procedido de Oração Gratulatoria recitada pelo mesmo Ex.mo Rev.mo Senhor Cónego Dr. Alves Mendes. E por último, terminando a festa religiosa que foi assistida de um enorme e imponente concurso de povo desta cidade e cercanias, celebrou-se no salão nobre do novo Hospital, uma brilhantíssima sessão presidida pelo Ex.mo Provedor da Santa Casa, Laurentino da Rocha Nunes, o qual, em nome da Ex-ma mesa administrativa agradeceu ás digníssimas auctoridades, funcionários e mais pessoas alli reunidas a honra de condecorarem com a sua presença esta sympathica e fausta solemnidade; sendo também descerrado o retrato do Ex.mo Provedor, oferecido pelos seus collegas de meza, e usando ainda da palavra o Ex.mo Cónego Alves Mendes e vários oradores, que foram muito applaudidos, E, para constar, se lavrou este auto que vae ser assignado pela Ex.ma Meza administrativa, convidados e maioria dos presentes.


Penafiel, 24 de junho de 1894


Seguem-se as assinaturas dos ex.mos srs. Arthur Alberto de Campos Henriques, Governador Civil, António Ferreira de Araújo e Silva, Director das Obras Públicas do Distrito, António Joaquim de Carvalho, Administrador do Concelho, Joaquim Pereira de Sottomaior e Menezes, Presidente da Câmara, Casimiro Sequeira de Souza Rebelo, Vice-presidente, Dr. Aloysio José Moreira, vereador, José Maria Pinto Monteiro, vereador, Germano Duarte Pereira Guimarães, vereador, e Agostinho da Rocha Beça, Secretário. A estes seguem-se as assinaturas do Provedor e dos mezários da Santa Casa.

Gaspar Ferreira Baltar


No 1.º andar por cima da porta de entrada, fica a sala de mesa e retratos entre os quais se veem os dos ex-mos conselheiros Alfredo Pereira, Araújo e Silva, sr. Gaspar Ferreira Baltar e a partir de hoje o do Provedor Laurentino da Rocha Nunes. Na base deste retrato há uma placa de prata, com a seguinte dedicatória:


AO BENEMÉRITO BENFEITOR DESTA SANTA CASA


LAURENTINO DA ROCHA NUNES


OFFERECEM OS SEUS COLLEGAS DE MEZA

José Maria Pinto

Joaquim Augusto da Silveira Camello

Rodrigo da Costa Babo

Luiz António de Almeida

António Fortunato da Silva

José Soares de Carvalho

António José de Freitas Guimarães

João de Mattos Almeida

Albano da Costa Babo

Manoel Teixeira Mendes de Abreu


24 de junho de 1894




A comitiva dirigiu-se para o Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos para ver o andamento das obras e de seguida visitaram o quartel sendo recebidos pelo comandante o sr. Capitão Leal de Faria, seguindo para o Palacete do Barão do Calvário, onde foi servido o jantar pelo Hotel Avelino desta cidade. No final ainda passaram pelo Grémio Penafidelense onde foram recebidos pelo sr. director daquela casa recreativa Jacinto Caldas.




Eram cerca das 23 horas, quando a comitiva se dirigiu a Novelas para tomar o comboio que os levaria de volta à cidade do Porto.




Hoje, o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, faz parte da Clínica Arrifana de Sousa, tomando o nome desta.

E pronto, hoje ficamos a saber que no dia de S. João do ano de 1894, o Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel foi inaugurado e a cidade esteve em festa.


Fernando Oliveira- Furriel de Junho