A PRIMEIRA PROCISSÃO

A PRIMEIRA PROCISSÃO

EM HONRA

DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE

 

Os santuários foram sempre preferencialmente erguidos nos pontos mais elevados dos montes, imbuídos duma grande carga simbólica em que a montanha era vista como intermediária entre o Céu e a Terra.

Os cristãos citam frequentemente a montanha como lugar sacralizado ligada ao culto. Local místico escolhido pelo Senhor para se manifestar no acto da criação, o Monte Sião, segundo a tradição judaico-cristã; para contactar com a humanidade, no Monte Sinai, dando a Moisés as Tábuas da Lei que continham as linhas de conduta moral traçadas para o Seu povo, ou para resgatar a humanidade, no Monte Calvário, oferecendo, para tanto, a vida do Próprio Filho. Três momentos de suprema força religiosa vividos nas montanhas, sentidas como locais de devoção e meditação pelo cristianismo 

 

Como curiosidade, a escadaria que liga o Parque Zeferino de Oliveira ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos em Penafiel, tem a forma do símbolo do infinito na vertical ou seja um oito. Se o Universo é infinito, ultrapassada a escadaria sobe-se mais um pouco e temos um encontro na casa de Deus, que é o Santuário. 

 

Com o desmantelamento das capelas do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Piedade, no ano de 1885, as duas Confrarias de Nossa Senhora da Piedade e a dos Santos Passos foram fundidas numa só em 22 de Abril de 1885, com a designação de Confraria de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos. As imagens das capelas foram religiosamente guardadas na sede da Confraria de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, situada na Rua do Sacramento N.º 4. 

 

No dia 1 de Fevereiro de 1886, no cimo do Monte S. Bartolomeu, iniciava-se a construção do santuário.

Nove anos e meio depois, Setembro de 1895, a capela-mor encontra-se terminada. A ex. ma sr.ª Dona Bertha Villela e o seu marido Domingos José Villela, ofereceram para a banqueta da capela-mor do magnífico templo em construção seis lindíssimos ramos de flores artificiais, predominando ali a cor roxa.

Em 3 de Julho de 1895, foram assentes as primeiras pedras da torre do Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos. 

 

 

Na quinta-feira de 12 de Setembro de 1895, foi derrubada a capela de S. Bartolomeu, sendo transladadas para o cemitério algumas ossadas que se encontraram nos escombros.

Os sinos das extintas capelas da Piedade e S. Bartolomeu foram colocados em postes para funcionarem durante as festas que a mesa da confraria vai organizar para assinalar a ida da imagem de Nossa Senhora da Piedade, para a capela-mor do seu santuário.

 

Assim no dia 14 de Setembro de 1895, depois de uma salva de fogo ao meio-dia, pelas três horas da tarde a comissão dos festejos, acompanhada pela banda local de Nossa Senhora do Carmo percorreu as ruas da cidade, recolhendo grande número de prendas destinadas ao bazar, avultando algumas de merecimento artístico e valor real, que foram lançadas no carro do material dos bombeiros voluntários, ornamentado para esse fim, ao mesmo tempo que vendiam rifas para sortear um bezerro, como primeiro prémio, seguido de um tinteiro de prata e o terceiro com um estojo em prata. 

 

O parque do santuário era ornamentado com mastros e bandeiras de várias cores, com barracas para a quermesse de domingo, erguem-se coretos, constrói-se uma ponte em madeira a unir os dois montes, assim como cerca de 50.000 tigelas de cera espalhadas pelo parque que rodeia o Santuário.

Á noite enquanto subiam e rebentavam no céu girândolas de foguetes, num dos coretos tocava a banda de música de Nossa Senhora do Carmo, animando o arraial nocturno. 

 

Até que chegou o dia esperado 15 de Setembro de 1895.

6 horas - Salvas de foguetes, e três bandas de música, Freamunde, Vizela e da Nossa Senhora do Carmo de Penafiel, percorreram a cidade incorporadas executando a marcha-hino “Viva Penafiel”,escrita por José de Nascimento Cardoso, com estreia absoluta neste dia de festa.

 

7 horas – Bênção da capela-mor com toda a solenidade do templo em construção de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, presidindo à cerimónia o digno abade da freguesia de Penafiel Dr. José Cerveira de Almeida. Seguiu-se-lhe a primeira missa rezada, pelo reverendo Joaquim Barbosa Leão. Depois constituiu-se uma procissão com irmãos da confraria, anjinhos, e o pálio com o Santo Lenho a ser transportado pelo padre da freguesia. três bandas de música e muito povo, dirigindo-se a mesma para a Igreja Matriz, onde foi feita a bênção da imagem de Nossa Senhora da Piedade.

 

Colocada em andor, foi transportada da Igreja Matriz até à capela-mor do seu Santuário, passando pelas ruas do Sacramento, do Bom Retiro, Calçada das Freiras, Rua Formosa, Praça Municipal, Rua Serpa Pinto, Largo da Ajuda, Rua Alfredo Pereira, Largo S. Bartolomeu, chegando à Capela-Mor, ás 11 horas. Em todo o percurso as varandas do casario estavam ornamentadas com colchas, e muitas pessoas nas mesmas assistiam à passagem da procissão.

Mal a procissão recolheu, realizou-se missa solene com música vocal e instrumental por excelente orquestra, regida pelo distinto professor de música José de Nascimento Cardoso, sendo o acto litúrgico presidido pelo abade Dr. José Cerveira de Almeida, com sermão pelo reverendo Joaquim Barbosa Leão, fazendo com eloquência a apologia da Virgem da Piedade. No final ficou o Senhor exposto, para os devotos que quisessem fazer as suas preces.

 

Três horas da tarde, início do arraial e abertura das barracas e bazares da quermesse que se realiza nesta tarde e noite, onde serão expostas para venda, foto gravuras da N.ª S.ª da Piedade, flores, bebidas, tabaco, além de muitas e valiosas prendas.

As bandas de música, cada uma instalada no seu coreto executaram durante algumas horas magnífico trechos musicais, animando o arraial. Pelas 17 horas, procedeu-se ao sorteio a que se referia o programa saindo premiados os seguintes números:

407 – Pertencente ao sr. Agostinho da Rocha Beça, com o bezerro.

363 – Pertencente ao sr. Albano de Mattos Almeida, com o tinteiro em prata.

500 – Pertencente ao sr. Manoel Ferreira de Magalhães, com um estojo de prata.

À noite foi iluminado o Monte de S. Bartolomeu e a Capela-Mor com luminárias de cera, sendo queimado fogo preso, lançados vários balões com gás aquecido, terminando com um grande número de girândolas de foguetes que por alguns minutos iluminaram o céu numa profusão de cores lindíssimas. 

 

E no meio do mês de Setembro, do ano que agora começa 2023, vai fazer 128 anos que se realizou a primeira procissão, em honra a Nossa Senhora da Piedade, em Penafiel.

Hoje, como ontem, o Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, com missa dominical ao meio-dia, continua a ser o ponte de encontro das peregrinações em Penafiel. 

 

A última peregrinação que percorreu as ruas da cidade de Penafiel, realizou-se no domingo 16 de Outubro de 2022, e foi inserida na preparação da XXXIII Jornada Mundial da Juventude. Abria a mesma um grupo de motards , e partiu da Igreja do Calvário onde foi entregue a cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora vinda do Marco de Canaveses, até ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, sendo a cruz transportada no carro triunfal habitualmente usado na Procissão do Corpo de Deus, puxado por uma parelha de bois, e o ícone de Nossa Senhora levado num carro dos Bombeiros Voluntários de Penafiel. 

 

- Será que nos tempos que correm, os homens já não se sentem com forças para carregarem mais cruzes, a não ser a da sua vida, que por vezes pesa, e não é pouco? 

Mas no fundo, a fé continua a mover multidões.

Fernando Oliveira - Furriel de Junho