10 maio 2020

UM JOGO CÉLEBRE

UM JOGO CÉLEBRE
Assina "Um Verde"



Nos anos 30 e 40 do século passado, em Penafiel, existiam dois clubes de futebol, sendo um Sport Clube de Penafiel e o outro a União Desportiva Penafidelense.




Ambos os clubes tinham a sua orquestra, que actuavam em vários locais da cidade, principalmente no tempo do cantar das Janeiras e dos Reis.

Orquestra Jazz Albardófila

A do Sport que nasceu com o nome de Orquestra Jazz Sport, com o decorrer dos anos, vai dar lugar à Orquestra Jazz Albardófila, enquanto a do União manteve o seu nome desde o seu nascimento até ao seu fim, como Orquestra Jazz União.

Orquestra Jazz União


Geralmente as letras das canções eram referentes aos acontecimentos desportivos, mostrando é claro a sua rivalidade, sendo a letra colada em cima de uma música ou fado conhecido.


Como estamos em quarentena lá fiz umas arrumações e qual não é o meu espanto ao encontrar estes papelinhos com esta letra que retrata a actuação do árbitro, cantada com a música da “Margarida vai à Fonte ou Fado Nova Avenida.


O mais engraçado é que sendo o meu pai, atleta do Sport, estes versos são do União.

I
O tal combate de Leiras
Entre os grupos de primeiras
Do Sport e União
Foi um combate valente
Foi uma luta imponente
Cheia de brilho e emoção

II
Um jogo duro e violento,
O Sport marcou um tento
Pois levou ao outro a palma
Porém em combinação
Foi superior a União
Jogou mais e com mais alma

III
O Carlinhos do apito
Apesar de tanto grito
Foi um pimpão consumado
Com empurrões e rasteiras
Tudo consentiu em Leiras
Sem temer o delegado.

IV
Isto de jogar com doze
É melhor do que catorze
Quando o outro anda de apito
Não é justo nem decente
Mas, há por aí muita gente
Que acha airoso e bonito

V
Não é esta a vez primeira
Que o Sport, de tal maneira
Consegue vencer rivais
Há muito que a história o diz
Bateu o Egas Moniz
Só pelo apito e nada mais

VI
No trinta e quatro passado
Foi o União derrotado
Por causa duma traição
O Sport que tudo puxa
Puxou para lá o “Ras” Guxa
Das fileiras do União.

VII
Entre as cenas mais chistosas
Dessas tardes gloriosas
Do jogo do pé na bola
O que mais me deu no goto
Foi aquela do maroto
Que puxou pela pistola

VIII
Confesso que até fez pena
Vê-lo, faces de açucena
No meio da multidão
Receando o bom povinho
Temendo que o capachinho
Lhe rolasse pelo chão

IX
E foi assim desta vez
Que o Sport venceu por três
Depois de muito jogar
Na União Desportiva
Continua sempre viva
A vontade de lutar

X
Ninguém ria do vizinho
Que o seu mal vem pelo caminho
Diz o antigo rifão
Valongo tirou o pio
Ao grupo que d' assobio
Derrotou o União

XI
Na sede do União
Há beiça fresca, a tostão
Quem a não poder comprar
Para menos embaraço
Gastai antes da do Paço
Não se vende é só pra dar

XII
Os verdes cheios de brio
Em constante desafio
Com a manha do rival
Mantêm-se firmes no posto
Sempre a trabalhar com gosto
Num combate triunfal.

Devido ás cores das camisolas, os adeptos do Sport eram conhecidos pelos vermelhos, e os do União eram chamados de Verdes. O autor destes versos assina-se, "Um Verde", o que se facilmente se deduz que se trata de um apoiante da União Desportiva Penafidelense.  


E pronto, se no passado, as rivalidades futeboleiras eram tocadas e cantadas para animação dos seus apoiantes que se divertiam com isso, nos dias que correm as coisas atingiram tais proporções que vão desde o insulto gratuito, a cânticos racistas e ao ajuste de contas, organizado em claques.

O futebol, que na maioria dos clubes sobrevive à base de dinheiros públicos, ou muda rapidamente de carril, ou a continuar assim, o fim da linha está próximo, pois basta fechar a torneira, para o clube encerrar portas.

Fernando Oliveira – Furriel de Junho

01 maio 2020

MOINHOS ABERTOS AO TEMPO

MOINHOS ABERTOS 
AO TEMPO






No dia 7 de Abril, celebrou-se o Dia Nacional dos Moinhos Abertos.



No rio que nasce e morre no Concelho de Penafiel, e que dá pelo nome de Cavalum, não faltam moinhos abertos durante todo o ano.




Desde a nascente à foz, muitos são os moinhos que já não têm porta nem telhado, estando por assim dizer abertos ao tempo.



Deles apenas restam as paredes, como memórias de um tempo passado, em que ali viveu uma multidão de pessoas na labuta incessante de dominar as águas, obrigando-as a rodar as mós, que por sua vez faziam mover a pedra que transformava os grãos de milho em farinha, que muita dela chegava em forma de broa ou em pão de cada dia, à mesa do rico e do pobre. 

 


Os moleiros todos empoeirados, lá vinham conduzindo à arreata os burros carregados de sacos de farinha, por íngremes caminhos que ligavam o rio ao povoado.



Para além do seu nome de baptismo, os moleiros eram conhecidos por alcunhas.




Assim vou assinalar algumas delas, tanto no Cavalum como no Rio Sousa, pois são os dois rios que atravessam a freguesia de Penafiel, depois da tal junção de freguesias, que de democrática nada teve.




Rio Cavalum:

O Príncipe - Moinhos das Lages

O Gago – Moinhos da Ponte

O Beato – Moinhos da Ponte

O Marrão – Moinhos do Cavalum

O Magalhaça – Moinhos do Cavalum

O Barão – Moinhos da Bouça




Rio Sousa

O Tambor – Moinho da Ponte das Continhas

O Bichoila ou Pichoila – Moinho do Ledo

O Sardinha – Moinho do Ledo

O Rabicho – Moinho de Monchique

O Borga – Moinho de Monchique

O Carqueijeiro – Moinho de Monchique

O Luiz de Cavalum ou o Lírio – Moinho de Monchique

O Capitão sem C... - Moinho de Monchique

O África - Moinho de Monchique

O Olho Vivo - Moinho de Monchique

O Fidalguinho - Moinho de Monchique

Ponte dos Moleiros - Rio Sousa


O Linha Fina - Moinho do Campo

O Francisco Grande - Moinho do Campo

O Fanado - Moinho do Couto

O Pisca - Moinho do Couto

O Rato - Moinho de Calvos

O Joaquim Tolo - Moinho de Azevedo

O Rapelha - Moinho de Azevedos

O Seramago - Moinho da Ponte do Caminho de Ferro.

O Travanca - Moinho da Ponte do Caminho de Ferro

O João Cochicho - Moinho de Pias

O Manuel Cochicho - Moinho de Paredes

O Joaquim Cochicho - Moinho de Paredes

O Manuel Lobo – Moinho de Novelas

O Meigo – Moinho do Sidoiro

O Mendarelha – Moinho de Macieira



O nosso povo chama por vezes ao Rio Cavalum de Cavalão, e para ele (povo), significa valente, rapagão inquieto, mas não passa de uma adaptação popular.




Pois, segundo o historiador da nossa terra Abílio Miranda, o nome Cavalum se deve encontrar em cavalo, e não em palavra de outro significado.



As inquirições do reino de D. Afonso III sempre dão o nome Cavalum ao ribeiro, assim como o mesmo se lê em outros documentos medievais, ou sejo, por exemplo, numa doação de Mendo Pelaiz, feita ao mosteiro de Bustelo de uma herdade própria, sita na aldeia de Milhundos, perto da corrente do Cavalum.



O castro de Santa Marta deveria ligar ao do Santuário, e aqui se exerceu mais desenvolvidamente de que em qualquer outro castro, a arte guerreira, atendendo ao aparecimento no local de uma divindade, de deus Marte, em bronze. Este importante núcleo populacional, de feição guerreira, não dispensaria cavalos, como não dispensaria as pastagens dos campos regados pelo Cavalum, para sustento e criação dos mesmos. 

 


Se as águas do Cavalum seguem o seu percurso de sempre até abraçarem o Rio Sousa, as vivências dos moleiros, e do trabalhar das mós dos moinhos, desapareceram, dando lugar a paredes despidas, na paisagem destes lindos vales.



Os trilhos da margem do Cavalum se fossem limpos, e os resguardos colocados na ponte das Curadeiras, dariam um bom passeio pedonal, que uniriam a cidade através da Rua de Puços, à zona do parque da cidade e do parque temático da Magikland, sem terem de atravessar qualquer via com trânsito automóvel, ou seja, com toda a segurança. 

 


Parece-me que seria uma obra benéfica, de pouca monta, embora de pouca eficácia a nível de votos eleitorais, e quem sabe, talvez seja esta a principal razão, de a mesma nunca ter sido feita.

Fernando Oliveira – Furriel de Junho