01 julho 2022

CONVÍVIO DE ANTIGOS ALUNOS DO COLÉGIO DO CARMO EM PENAFIEL

 CONVÍVIO DE ANTIGOS ALUNOS 

DO COLÉGIO DO CARMO 

EM PENAFIEL

 

 

Coisa que os portugueses são uns especialistas é no que toca a comes e bebes. Para além dos almoços comemorativos, também aparecem anualmente os dos antigos Combatentes da Guerra Colonial, os dos antigos alunos dos respectivos estabelecimentos de ensino entre muitos outros.

 

Com o Covid, todos estes eventos foram interrompidos, estando a serem recuperados lentamente.

Infelizmente nunca voltarão a ser como dantes, já que durante este interregno forçado, muitos amigos partiram e vão faltar ao nosso lado na mesa.

 

Hoje vou falar, de um almoço de antigos alunos do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, sendo o mesmo servido no recreio (de cima), deste estabelecimento de ensino na Rua do Paço (hoje Museu Municipal de Penafiel).

 

Foi no sábado, de 18 de Setembro de 1954, que se realizou este convívio. 


Pelas 11.30 horas, na Igreja da Misericórdia, ouviram missa por alma dos colegas e professores falecidos, celebrada pelo Padre Ângelo Pimentel, onde eram visíveis várias gerações de estudantes, sendo o mais idoso o farmacêutico Sr. António de Sousa Freire de Oliveira, e os mais antigos alunos o Padre Manuel da Rocha Barbosa e o Coronel José Ribeiro da Costa Júnior.

Terminada a missa, aqueles antigos estudantes do Colégio do Carmo, incluindo algumas senhoras, em franca confraternização dirigiram-se para o Colégio, passaram reverentes ante a lápide que, no átrio superior, perpetua a memória do antigo Director, Monsenhor José Vinhós, e do antigo subdirector Padre Eduardo, e foram ocupar as carteiras de uma sala de aulas. 

 


Aqui, o Sr. Dr. Antero da Silva Mendes, organizador desta reunião, tomou a palavra no lugar do professor, pronunciando algumas palavras referentes àqueles dois excelentes educadores, mas vários dos adultos e idosos que tinha na sua presença, haviam-se transformado nos irrequietos alunos que ali haviam sido, chegando a alvejar o mestre com bolas de papel.

 

No recreio grande do Colégio do Carmo, esperava esta numerosa rapaziada uma mesa em U, sobre a qual saborearam um opíparo almoço, onde os episódios alegres do Colégio de outros tempos, mantiveram os convivas em permanente boa disposição.

 

Ao espumoso o professor Dr. Antero da Silva Mendes, depois de ler numerosos telegramas de antigos alunos que não puderam comparecer, pediu ao colega Coronel Costa Júnior, antigo professor do Instituto de Odivelas para iniciar os brindes, e que ele fez, começando por enaltecer a ideia daquela reunião na cidade de múltiplos miradouros, indicando o sr. Dr. Antero Mendes, e entremeou de episódios alegres do seu tempo de estudante, de 1893-1895 como interno, e de 1902-1903 como externo, uma ligeira dissertação sobre a pedagogia doutrora em comparação com a de hoje, acabando por declarar que a palmatória do Monsenhor José Vinhós, fizera que no Colégio do Carmo aprendesse não só a estudar e a lecionar, mas também a comer de tudo prestando a mais alta homenagem à memória daquele notável Director.

 

Levantou-se depois o Dr. Luiz Alcalde que, aplaudindo as palavras do Sr. Coronel Costa Júnior, dissertou sobre as qualidades de professor e de educador, até sobre civilidade do Padre Eduardo Nogueira, conseguindo anular a errada impressão que muitos dos presentes tinham daquele professor e educador.

 


Falou a seguir o sr. Dr. Francisco Brandão que, cheio de entusiasmo, se manifestou solidário com as opiniões dos oradores que o precederam e demonstrando que a Nação muito deve ao Colégio de Nossa Senhora do Carmo, em razão da cultura que nele receberam tantos cidadãos que á Pátria prestaram grandes serviços.

 

Usaram da palavra ainda os srs. Dr. Luís Guedes, Padre Ângelo Pimentel e Justino Carvalho, este com elevado estilo literário, o que impeliu a assistência a, por aclamação, homenagear o actual Director do Colégio do Carmo, sr. Padre Agostinho, conviva do almoço e digno continuador do saudoso Monsenhor José Vinhós, e bebendo todos pelas prosperidades do mesmo Colégio. O sr. Padre Agostinho agradeceu comovido.

 


Foi tal o êxito desta confraternização, que levaram o sr. Dr. Luiz Alcalde a propor que dali saísse a eleição dos componentes dessa Comissão encarregada não só de promover mais numerosa reunião dos antigos alunos do Colégio do Carmo, em 1955, mas também de elaborar a monografia histórica do Colégio do Carmo, e logo indicou o nome do sr. Coronel Costa Júnior que foi eleito com os seguintes colegas: Padre Agostinho, presidente, dr. Luiz Alcalde, Carlos Alves, Artur Bessa, Dr. Francisco Brandão, Dr. Rocha Melo, José Cotta, D. Natércia Peixoto, D. Maria Elisa Carvalho, D. Celeste Ferraz, Manuel Babo, Padre Barbosa, Dr. Pinto Rezende, Miguel Freitas, Dr. Luiz Gonzaga Guedes, Adriano Barbosa, João Moreira de Carvalho, Jaime da Rocha Reis, Justino de Carvalho, Serafim de Sousa Machado e J. Bragança Ribeiro.

 



Depois de ler estes nomes, o sr. Coronel Costa Júnior disse que tendo ouvido ali denunciarem-no como sincero amigo de Penafiel, não podia deixar de ali declarar que fora também o Colégio de Nossa Senhora do Carmo que lhe incutira aquele amor, não só com os passeios a que o levavam, com os outros alunos, os perfeitos do Colégio, a mostrar-lhe a beleza em que Penafiel está encastoada, mas também com a primeira comunhão que lhe fez receber na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, parecendo-lhe por isso ter Jesus permanentemente dentro de si a recordar-lhe gratidão para com o Colégio do Carmo e amor a Penafiel.

 


 Após calorosa aclamação a Penafiel, começou a dispersão como novelo de alegria a desfazer-se em tantos fios de saudade, quantos os corações que na citada reunião tomaram parte.

 

 

Depois de este desfilar de recordação da vida de estudante no Colégio do Carmo, entre abraços e promessas de para o ano cá voltarem, dá-se o regresso a casa.

Estes convívios têm a particularidade de entre comes e bebes irem retomando antigas amizades, por vezes interrompidas pelos caminhos diferentes da vida

 


Hoje a juventude arranja outras formas de convivência, mas sempre com o mesmo fio condutor dos comes e bebes.

Um dos eventos que reúne a malta nova foi baptizado de Rally das Tascas. Percorrem as ruas da cidade de Penafiel, levando à frente o seu estandarte e de copo plástico, ou garrafa de cerveja na mão como se de uma vela se tratasse numa procissão, lá vão de “capela em capela”, sorrindo, cantando e bebendo, dando um colorido e transmitindo uma alegria própria da juventude à urbe.

 

Afinal de contas, comes e bebes é mesmo o nosso forte, até quanto mais não seja, para cimentar ou arranjar novas amizades.

 

Fernando Oliveira – Furriel de Junho