27 abril 2016

UMA COMUNHÃO EM CASAIS NOVOS



UMA COMUNHÃO  EM CASAIS NOVOS


Como se aproxima a data da Comunhão Solene, em Penafiel, lembrei-me de trazer ao blogue a comunhão dos filhos Júlia e Júlio do Conselheiro Joaquim de Vasconcellos de Casais Novos, que se realizou com toda a pompa e circunstância no dia 15 de Abril de 1914.

Foi Sua Ex.ª o Senhor Bispo D. António Barroso, que veio expressamente do Porto, quem administrou a Sagrada Eucaristia, aos neo-comungantes, celebrando missa na capela particular de Casais Novos.


Apesar de se ter procurado guardar o maior segredo desta viagem do venerando Prelado do Porto, visto Sua Ex.ª querer furtar-se a manifestações, a sua passagem por Penafiel fez, ainda assim, afluir a Casais Novos muitas senhoras e cavalheiros que depois da cerimónia religiosa o cumprimentaram.


Uma comitiva da Juventude Católica de Penafiel ali fora também levar a afirmação solene de seu propósito de trabalhar, cada vez com mais afinco, pela acção católica-social, cuja vanguarda está confiada aos jovens.

Sua Ex.ª a todos recebeu paternalmente, aconselhando-os e animando-os a prosseguir nessa cruzada pacífica e regeneração social e moral do nosso país, aviventando energias e fortalecendo caracteres, como tanto é necessário para rejuvenescimento de alma nacional.

A todos que se acercaram do ilustre Prelado também o sr. Conselheiro Joaquim de Vasconcellos dispensou fidalga atenção, obsequiando com um serviço ambulante de bolos, chá e chocolate inúmeras pessoas que enchiam os seus salões.

À tarde foi servido um lauto banquete a que assistiram quase exclusivamente pessoas da família e trocaram-se vários brindes, entre os quais o do Sr. Conselheiro ao Prelado do Porto, e o deste agradecendo e brindando a Sua Santidade Pio X.



Ao entardecer o bondoso Prelado, Senhor D. António Barroso, regressou em automóvel, ao Porto.

Acompanhavam-no, além do seu capelão particular, rev. Aurélio Pinheiro, o rev. Padre Guimarães Dias e Donaciano Abreu, respectivamente professor e director do Colégio Almeida Garrett.

Começaram depois a debandar os restantes convidados.



Assim terminou esta festa que a família do Sr. Conselheiro Joaquim de Vasconcellos,  de Casais Novos, por certo registou entre as mais bonitas que realizaram.

Como se nota, o poderio desta família era tal, que os seus membros não se deslocavam à igreja da paróquia para comungarem, mas os senhores da igreja deslocavam-se a sua casa para o efeito.

Coisas de outros tempos.

24 abril 2016

PEDRO BARROSO




PEDRO BARROSO


Pedro Barroso, é o nome artístico de António Pedro da Silva Chora Barroso, nasceu em Lisboa, a 28 de Novembro 1950, mas foi para Riachos, concelho de Torres Novas (Ribatejo), com dias, apenas. Por causa do trabalho de seu pai (professor) voltaria a Lisboa, mas já adulto, regressa de novo a Riachos. 

Tudo começou quando um dia ouviu a Odette Saint Maurice a anunciar que aceitava jovens para fazer teatro radiofónico e apresentou-se nos estúdios de S. Marçal, e a senhora disse-lhe logo sim senhor, espera aí que mal acabe a gravação deste senhor vais fazer um teste e depois logo se vê. Aquele senhor era nem mais nem menos o Rui de Carvalho.
 
E no que às canções diz respeito, foi em «Dezembro de 1969, no Zip-Zip (RTP) de Fialho Gouveia, Raul Solnado e Carlos Cruz. Eu andava no INEF e já fazia canções que falavam de coisas várias, entre as quais contra a guerra colonial. Fui convidado a ir ao programa e nunca mais parei. Aliás nessa primeira aparição pública, que teve grande impacto, aconteceu até uma coisa muito interessante e curiosa... Depois do ensaio, aí uns dez minutos antes do programa começar, o Zé Fialho chamou-me e disse-me com ar zangado ainda que pouco convincente: 

Oh pá, vocês são lixados, só inventam destas coisas, só escrevem contra a guerra colonial, não têm cuidado, e depois isto não passa, a censura corta e eu é que me lixo. Temos que ser mais inteligentes.
Em três ou quatro minutos mudei uns versos - como na selva a lutar - a mensagem, pensava eu, continuava lá, ainda que mitigada, mas a verdade é que transformei uma canção de protesto em canção de amor...
 
O crítico Mário Castrim, no dia seguinte, deu-me uma grande porrada e fez a previsão que eu não iria aguentar muito tempo nestas lides. Enganou-se e isso deu-me muito gozo: fiquei, levei a música a sério e transformei a minha vida a partir daquele momento.

Pedro Barroso, canta os seus grandes temas de sempre - a mulher, o amor, o mar, a natureza, a solidariedade, os tipos humanos, a portugalidade, a reflexão sobre a Vida...  

Cantou até hoje em praticamente todo o território nacional e ainda em Espanha, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha, Suiça, Suécia, Inglaterra, Canadá, Brasil, Hungria,  Macau e Estados Unidos

Discografia:



1970 - Grava o seu primeiro disco, um EP com o título Trova-dor.


1971 - Sai o seu segundo EP intitulado Breve Sumário Da História De (colectivo, com José Jorge Letria, Lídia Rita e António Macedo). 


Pedro Barroso contribui para o disco com "Vilancete de Abel", participando também nos coros de outros temas, entre os quais "Hino dos Encarcerados". Numa altura em que as prisões estavam a abarrotar de presos políticos, este tema, da autoria de José Jorge Letria sobre poema de Gil Vicente, seria o principal motivo para a proibição do disco, que se vendia à socapa no próprio TEC. «O disco foi a mais rápida apreensão da PIDE. Deram ordens ao Governo Civil que era, e ainda é, ao lado da Rádio Renascença, onde estava na cabine o saudoso Rui Pedro e foi apreendido em 10 minutos...».




1974 - 1.º de Maio/Medicina Social (single, Decca/Valentim de Carvalho).



1975 - Pastilhas Reacção/Canção Urgente (single, Decca/Valentim de Carvalho)



1976 - Sai o seu primeiro álbum chamado "Lutas Velhas, Canto Novo", que seria distinguido com o Troféu Karolinka no Festival Menschen und Meer, realizado na antiga RDA, em 1981.



1978 - Água Mole Em Pedra Dura, LP reeditado em CD com o título «Cartas de Portugal», em 2000.



1979 - Nova Canção de Lisboa (single, Sassetti)



1980 - Quem Canta Seus Males Espanta


Pedro Barroso grava neste mesmo ano o single "Canção ao Rio Almonda"/"Ferrel". Ambos os temas versam questões ambientais: o primeiro denunciando o tradicional problema de poluição do rio Almonda causado pela indústria de curtumes e o segundo contra a central nuclear que pretendiam construir em Ferrel, no concelho de Peniche. No ano seguinte, Pedro Barroso participa com a "Canção ao Rio Almonda" no Festival Menschen und Meer, em Rohrstock (RDA), e arrebata o prestigiado Troféu Karolinka, para a melhor interpretação."



1982 - Cantos à Terra Madre (LP, 1982) que mais tarde foi reeditado em CD.



Single Cantar Brejeiro/Tanta Gente.


1983 - Do Lado De Cá De Mim, LP reeditado em CD em 2003.


Single Ai Consta/Viva Quem Canta.



1984 - Camarnal/Cantarei Single, Orfeu.


1985 - Cantos Da Borda D'Água



1986 - Colectânea



1987 - É lançado o LP "Roupas de Pátria Roupas de Mulher". Recebe o prémio para a melhor canção desse ano com "Menina dos Olhos d’Água".



1990 - Foram editados os discos Longe d'Aqui e pela etiqueta Ovação uma compilação com temas dos discos Água Mole Em Pedra Dura e Quem Canta Seus Males Espanta.


1994 - Sai Cantos d'Antiga Idade


1996 - Cantos d'Oxalá


1998 - O Melhor dos Melhores (Vol. 81), sao o CD com alguns êxitos. 



1999 -  Criticamente



2001 - É editado o CD Crónicas da Violentíssima Ternura.

 
2002 - O álbum De Viva Voz, registos ao vivo entre 1997 e 2002.


2004 - É editado o CD Navegador do Futuro quando celebrava 35 anos de carreira



2005 - Antologia com os mais relevantes temas das suas várias fases criativas – revista e remasterizada a partir das matrizes originais – registando os seus mais relevantes trabalhos realizados entre 1982 e 1990, onde avultam colaborações históricas com Mário Viegas e Sophia de Mello Breyner Andresen.


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2008 - Lança o disco "Sensual Idade", para comemorar 40 anos de carreira.



2009 - Sai em formato DVD "40 Anos de Música e Palavras".



2012 - Edita Cantos da Paixão e da Memória.



2014 - Grava Palavras ao Vento, continuando a constituir-se como uma referência de sentido crítico e sensibilidade, um pouco a contra-corrente, nos seus concertos, repletos de ironia, comunicação e sensibilidade.

Embora já tenha visto a actuar Pedro Barroso, várias vezes, apenas falei com ele uma única vez, quando veio actuar no Largo da Ajuda em Penafiel.

Aproximei-me dele e disse-lhe que apreciava a sua música e o conteúdo daquilo que cantava.

Corri a casa e trouxe todos os LPs que dele tinha, e ele autografou-os um a um.

Depois disso já adquiri uma série de CDs de Pedro Barroso, que entretanto foram saindo, deste cantautor que pertence a uma geração que através da canção despertou consciências, e fez da cantiga uma arma.

Como modo de comemorar Abril, aqui ficam Lutas Velhas Canto Novo, que a resistência de um povo também se cria a cantar.




- Bom domingo! 

António Pedro da Silva Chora Barroso, mais conhecido como Pedro Barroso, morreu, esta segunda-feira dia 16 de Março de 2020 à noite, vítima de doença prolongada. O cantor tinha 69 anos.