01 fevereiro 2022

FESTA NACIONAL DA ÁRVORE

 

FESTA NACIONAL DA ÁRVORE

 


No terceiro ano da República, por iniciativa do jornal “Século Agrícola” vai-se realizar em todo o país a Festa da Árvore.

A festa consiste em palestras aos alunos sobre os benefícios das árvores, terminando com plantações de árvores desde a aldeia mais remonta até à capital do país.

 

Festa da Árvore em Lisboa

Penafiel, domingo, dia 9 de Março de 1913, pelas 11,30h, procedeu-se a sessão solene presidida pelo Presidente da Câmara, sr. Dr. Annibal Louzada, por proposta do professor Belmiro Nogueira Xavier, sendo secretariado por Manoel Oliveira Guimarães, comandante do RI 32, Adelino Miranda, administrador deste concelho, Joaquim da Cunha Thomé, Presidente da Associação Industrial e Comercial e a professora D. Maria Júlia Augusta Pereira Guedes da escola feminina de Penafiel.

Em rápidas palavras, o sr. Presidente fez questão de incutir nestas crianças o culto e o amor pelas árvores. No final as crianças das duas escolas entoaram a Portuguesa, ao som da banda do RI32.

 


 

Depois foi a vez dos alunos tomarem conta da sessão solene. A pequena Anna Martins da escola feminina e o Sebastião Ferreira Pacheco fizeram breves discursos sobra as árvores terminando com vivas à Festa da Árvore, a Portugal e à República. Recitaram poesias e leram prosa, José Ribeiro de Sousa Mendes – O estudante Alsaciano, Laura Benigno – O Conto da Avozinha, Anna Ribeiro Meirelles – O ABC, Júlio Vieira – Saber Ler, Joaquim de Araújo – A Pátria. Em seguida dois alunos fardados estabelecem um diálogo sobre o amor à Pátria. Acabado este diálogo de que maravilhosamente se desempenharam os dois meninos Braz e Joaquim Mesquita, pediu a palavra o capitão Mesquita Monteiro que com os olhos embaciados em lágrimas agradeceu ao pessoal docente o que têm feito pelos homens de amanhã, pois uma escola não se deve cingir a aprender a ler, escrever e contar. No final foi muito aplaudido, sendo entoado de seguida o Hino da Árvore. A finalizar a sessão, o Professor Belmiro Xavier, tomou a palavra e num discurso bem elaborado explicando todos os dons que as árvores nos oferecem, a fotossíntese e até uma passagem pelos nossos descobrimentos. Aqui fica alguns excertos do mesmo.

 

 

Pela primeira vez, celebra-se hoje em todo o Portugal a Festa Nacional da Árvore.

A todos, sinceramente, agradeço a boa vontade com que cooperaram nos preparativos desta festa, especialmente, o muito digno coronel do nosso regimento Sr. Oliveira Guimarães, e o digno chefe da banda do mesmo regimento sr. Baltazar Falcão. Quando superiormente nos foi comunicado que era de todo o interesse que os professores levassem a cabo esta patriótica festa, todos nós, professores das escolas desta cidade e concelho, resolvemos, com muito prazer, amor da pátria e brio pelo cumprimento do nosso dever, efectivar, cada um na sua área, e procurando dar-lhe o maior brilho possível, a essa realização.

A Festa da Árvore, Senhores, teve origem em Espanha. O cura de Villamuva de la Lierra, província de Cáceres, receando pela agricultura da terra que pastoriava e querendo pôr cobro ao corte de tantas árvores que a cobiça e a ignorância talavam todos os dias, instituiu, em 1805, la Festa del Arbol.

Pouco durou, porém, o entusiasmo que essa festa despertara. Outros países, no entanto, aproveitaram a ideia. Tem a primazia os Estados Unidos da América, país modelar, instruído e trabalhador, que a decretou oficialmente em 1872. Seguem-lhe o exemplo a Itália, a França, Suécia etc. A própria Espanha, em 1896, funda, por iniciativa de um distinto agrónomo de Barcelona D. Raphael Ping e Vales, a Associação dos Amigos da Festa da Árvore, que desde então a tem realizado e propagado a ponto de ser já considerada festa nacional.

 


 

Em Portugal é a primeira vez que esta festa toma o caracter de festa nacional. Sejamos todos patriotas e demos provas de civilizados a todos os povos que caminham na vanguarda do progresso. Todos eles amam e protegem as árvores. Sabeis porquê? Porque conhecem bem os benefícios que devem ás árvores, a essas nossas melhores amigas que nos acompanham e protegem desde que nascemos até transpormos o limiar do túmulo.

São elas por assim dizer, a base da existência do homem.

- Quem nos dá a madeira com que construímos as nossas habitações?

- Quem nos dá as flores cujo aroma nos inebria, e cuja vista nos encanta?

- Donde vêm os frutos saborosos que enchem a nossa mesa?

O próprio ar que respiramos, que é regenerador do nosso sangue e sem o qual a nossa vida seria tão fugãs como a da mais efémera mariposa, faltar-nos-ia se as árvores não actuassem, como uma espécie de balança química que equilibra o ar atmosférico, pois as suas folhas são como um filtro onde o ar que respiramos deixa o anidrido carbónico e renova o oxigénio, elemento indispensável à vida.

-E como paga o homem tudo isto?

Destruindo-as, cortando-as, quantas vezes por malvadez.

Devemos nós portugueses, mais que nenhum outro povo, amar as árvores!

 


 

- Sabeis porquê, Senhores?

Porque foram as nossas árvores que nos deram a madeira que nos construíram as caravelas que o infante D. Henrique mandou à procura de novas terras, e que levaram Velho Cabral aos Açores, Diogo Cão ao Zaire, Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, Álvares Cabral ao Brasil, Vasco da Gama à Índia e finalmente Magalhães à volta do mundo.

Todo aquele que por cobiça, ignorância ou malvadez corta ou destrói uma árvore, comete um crime de lesa-Humanidade e prepara o seu país para um desastre seguro.

E, quando, um dia, já homens, recordardes, à sombra das vossas árvores a lição moral desta festa sentireis a satisfação de poder exclamar com justificado orgulho: “Não vivi inutilmente porque deixei bem patente uma prova da minha passagem pelo mundo. Plantei uma árvore!”.

 



No final o orfeão cantou o Hino das Escolas Centrais de Penafiel, e formou-se o cortejo disposto da seguinte forma: À frente as crianças da escola central feminina, a banda do Regimento de Infantaria 32 regida por Baltazar Falcão, uns cinquenta rapazes fardados que constituíam um lindo batalhão infantil, e no meio do qual se divisava a bandeira nacional, os restantes alunos das escolas e na rectaguarda os representantes das autoridades civis e militares. Centenas de pessoas acompanharam o cortejo que percorreu várias ruas da cidade em direcção ao Monte do Santuário, onde se fez a plantação de 6 tílias belamente enfeitadas. Nessa ocasião o hábil fotógrafo desta cidade, Sr. Sebastião Borges, fotografou todas as crianças e todo o público que rodeava as árvores. Após a plantação de todas as árvores, o cortejo regressou à escola Conde de Ferreira onde o professor Belmiro agradeceu mais uma vez a todos que contribuíram para o brilhantismo da Festa da Árvore.

 


 

Um ano depois

As árvores que existiam no recreio da Escola Conde de Ferreira, em Penafiel, foram plantadas na Festa da Árvore do ano seguinte, no dia 15 de março de 1914, fornecidas pelo jornal Século Agrícola, e vieram do Choupal de Coimbra.

Ás dez horas e meia, principiou a sessão solene, que foi aberta pelo professor Belmiro Nogueira Xavier, dando a presidência ao major Manuel Pereira da Silva, que representava o comandante do Regimento de Infantaria 32, secretariado pelos srs. Tenente-médico, Dr. António Guedes Pereira e o António Abrantes Ferreira, presidente da Junta de Paróquia da freguesia de Penafiel.

Tomaram a palavra para fazer a apologia da árvore o Professor Belmiro Xavier, um aluno, Manoel Mesquita Monteiro, capitão de infantaria e por fim o sr. Major Pereira da Silva.

Enquanto o orfeão infantil, regido por Baltazar Falcão, cantava a Sementeira, a Portuguesa, o Hino da Árvore, a Palmatória e o Hino das Escolas Centrais desta cidade, as árvores iam sendo plantadas no recreio.

 


Foram estas árvores que encontrei em 1957 e serviram de cenário natural para a foto da nossa turma com a professora da 1.ª Classe.

Outras serviram até de poste de baliza nas “futeboladas” organizadas pela malta.

 


Hoje, alguém, achou que estas árvores estavam a mais e lá foram cortadas como as do Largo d’Ajuda, as da Avenida Sacadura Cabral e Egas Moniz isto para não falar na amputação que sofreu o Parque Zeferino de Oliveira.

Afinal de contas, nos tempos que correm, alguém mais inteligente que um miúdo de 10 anos, veio estragar a Festa Nacional da Árvore.

 

Fernando Oliveira – Furriel de Junho


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