COMO FOI FESTEJADO O BICENTENÁRIO DA CIDADE DE PENAFIEL

 COMO FOI FESTEJADO

O BICENTENÁRIO

DA CIDADE DE PENAFIEL

 

No dia 3 de Março de 1770, nasceu a cidade de Penafiel. Todos os anos, neste dia a autarquia festeja esta data, mas hoje vou retratar o que foi a festa do Bicentenário na urbe.

Apesar de haver pouco dinheiro, basta ver pelo cartaz que anunciava o Bicentenário, havia uma certa ligação da autarquia à população e foi possível levar a festa até 12 de Julho de 1970 com acontecimentos mensais.

Muitos leitores do meu blogue Penafiel Terra Nossa, nem sequer eram nascidos e para esses podem ver como foi festejado essa terça-feira dia 3 de Março de 1970, e aqueles que o viveram o possam recordar.

 

Montra com foto do Coronel Fontes

Os penafidelenses prepararam-se para a festa da seguinte maneira: Durante a noite de segunda-feira, fizeram passadeiras com flores e anilinas com as cores da cidade, e nas varandas colocaram colchas, carpetes, montras das lojas comerciais vistosamente ornamentadas com motivos alusivos a tão faustosa data, para receber as figuras mais representativas do Distrito do Porto.

Às 9 horas foi hasteada nos Paços do Concelho a bandeira do município, ao som do Hino Nacional, tocado pela Banda de Música de Lagares, e do ribombar de foguetes.

 

Cortejo Automóvel

Pelas 10 horas, junto à Ponte das Coutinhas, sobre o Rio Sousa que liga os concelhos de Penafiel e Paredes, umas dezenas de carros que transportavam penafidelenses, ali aguardavam a chegada o Sr. Bispo do Porto, o penafidelense D. António Ferreira Gomes, que se fez acompanhar pelo Bispo Auxiliar de Leiria, D. Domingos de Pinho Brandão, e noutro carro chegou o Governador Civil do Porto, o Major Paulo Durão.

 

D. António Ferreira Gomes - Bispo do Porto

 

Depois de receberem cumprimentos das autoridades locais, foi organizado um cortejo automóvel com dois carros dos bombeiros voluntários a abrir. Junto à entrada da Av. Egas Moniz os ilustres visitantes apearam-se e fizeram a pé o percurso até à Câmara Municipal, sempre aclamados pela população.

Na foto Padre Albano, Albano Morais, D. António Ferreira Gomes, Major Paulo Durão, Coronel Fontes, D. Domingos de Pinho Brandão e atrás deste Huet Bacelar e Dr. Brandão.

No salão nobre dos Paços do Concelho, efectuou-se uma sessão de boas vindas, sendo a mesa presidida pelo Major Paulo Durão, Governador Civil do Porto, tendo à sua direita o Major Costa Ferreira, 2.º Comandante do R.A.L.5 e representava o General Comandante da I Região Militar, Major Serra Gomes, em representação do Comandante Distrital da P.S.P., e Dr. Aurélio Peixoto Pais Tavares, Presidente da Comissão Concelhia da Acção Nacional Popular. À esquerda tomaram assento o Coronel Cipriano Alfredo Fontes, Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Major José Manuel Martins Rodrigues, representando o Comando Distrital da G.N.R. e Dr. José Ramos dos Santos, meritíssimo juiz da comarca. 

 

Em cadeirais colocados à direita da Mesa de Honra, sentaram-se D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto e Domingos de Pinho Brandão, Bispo Auxiliar de Leiria.

 

 

Usou da palavra o Presidente da Câmara Coronel Cipriano Alfredo Fontes, que saudou os ilustres visitantes, passou de seguida a palavra ao professor Albano Morais, membro da Comissão Promotora das Comemorações, e, finalmente, o Governador Civil Major Paulo Durão. 

 

Albano Morais no uso da palavra

Vou reproduzir partes do discurso de Albano Morais, em que a primeira parte é dirigida ao Governador Civil do Porto, e a segunda ao Bispo do Porto.

Começou por saudar todos os presentes, e dirigindo-se ao sr. Governador Civil, disse:

“Senhor Governador Civil

Quis Vossa Excelência dar-nos a honra de estar connosco neste dia, em que festejamos dois séculos da nossa velhinha Mãe. Bem-haja senhor Governador! Bem-haja por comungar da nossa alegria, por viver a nossa satisfação!...

Festeja-se o Bicentenário da cidade de Penafiel, velhinha na sua certidão de idade e na poeira dos seus pergaminhos, mas sempre jovem na alma dos seus filhos, que lutam e trabalham para a honrarem e tornarem cada vez maior e mais bela.”

…. …. …. Depois voltando-se para o Senhor D. António Ferreira Gomes, afirmou:

“Obrigado Senhor Bispo, obrigado, pelo que, com toda a gama dos seus valores, tem dignificado a nossa terra.

Deus foi pródigo na beleza que deu à nossa velhinha cidade deu-lhe horizontes que os nossos olhos não abarcam, fê-la num alto para que estivéssemos mais perto do céu, deu-lhe homens que neste mundo conturbado ainda se descobrem e rezam ao toque das Ave-Marias, e, como se isto não chegasse, quis que um dos seus filhos fosse o condutor das almas para a reconstrução de um mundo melhor.”  

 

Major Paulo Durão - Governador Civil do Porto

Por fim falou o Sr. Governador Civil do Porto, começando por agradecer as palavras que lhe foram dirigidas, referiu-se ao Bicentenário da cidade de Penafiel, fazendo depois algumas conjecturas sobre o elemento essencial de uma terra que disse ser o povo, terminando por acentuar que o povo é aquilo que temos de mais sagrado.

 

 Terminada a sessão, a comitiva seguiu para a Igreja Matriz, pela Av. Araújo e Silva e Rua Direita também atapetadas.

 

Presidente da Câmara e Governador Civil do Porto, assistindo ao Te Deum

Ali foi cantado pelo Coral do Porto sob a direcção do professor César Morais, um solene Te Deum a que presidiu Sua Excelência Reverendíssima D. António Ferreira Gomes e fez a Oração o Padre António dos Santos, outro penafidelense que desempenha funções de destaque na Acção Católica. 

 

Depois desta cerimónia, foi servido um almoço no Hotel das Termas de S. Vicente, onde estiveram presentes cerca de 150 pessoas.

À entrada do parque do Hotel, um grupo de alunos das Escolas de Pinheiro, aguardava a caravana e fizeram chover sobre o Bispo do Porto grande quantidade de pétalas de flores.

Ali estava também uma representação com estandarte do Rancho Folclórico e Recreativo das Termas de S. Vicente.

Um grupo de meninas entregou ao Sr. Presidente da Câmara, uma salva de prata para a Câmara Municipal com uma legenda alusiva ao Bicentenário da cidade de Penafiel, oferta dos comerciantes e industriais das Termas de S. Vicente.

Na altura própria durante o almoço, o sr. Dr. Francisco Brandão Rodrigues dos Santos fez uma interessante alocução a pedido da comissão promotora, terminando as suas palavras, dirigidas aos nossos visitantes com a seguinte saudação:

“Bem-vindos, eu vos saúdo”.

Usou depois da palavra o sr. D. António Ferreira Gomes, que afirmou ser Bispo de Penafiel, na razão directa que é o Bispo do Distrito e recordou que a 21 de Junho próximo também faz 200 anos que foi criado o efémero bispado de Penafiel.

Seguidamente o sr. Governador Civil do Porto, recordou o tempo em que viveu em Penafiel, referiu-se à valiosa folha de serviços do Coronel Fontes e lembrou a figura do grande penafidelense que foi o Padre Américo, fundador da maravilhosa obra que são as casas de Gaiato espalhadas por todo o Mundo Português.

Após o almoço voltaram à cidade de Penafiel, onde foram descerradas duas placas comemorativas do Bicentenário, uma na Igreja da Misericórdia e outra no edifício dos Paços do Concelho.

Depois foi a sessão cultural, no Cine-Teatro S. Martinho, presidida pelo Governador Civil do Porto, tomando assento no palco, D. António Ferreira Gomes e D. Domingos de Pinho Brandão.

Foram conferencistas os srs. Basílio de Sousa Dias que falou sobre a história de Penafiel e o Dr. Carlos Vale que com as suas palavras descreveu a história dos municípios e a etnografia de Penafiel.

E assim terminou o primeiro dia das Festas Comemorativas do Bicentenário da Cidade de Penafiel.

Como curiosidade:

As comemorações do Bicentenário iniciam-se com um presidente de câmara e vão terminar com outro. Quando os penafidelenses esperavam pela recondução do Coronel Fontes para mais um mandato à frente do município, eis que no mês de Maio de 1970, para o seu lugar, é nomeado o Dr. Manuel Alves Moreira, daí a razão do aparecimento de este papel reclamando o Coronel Fontes, colado no cartaz que anunciava o Bicentenário na Av. Sacadura Cabral.

 Fernando Oliveira – Furriel de Junho