21 abril 2019

TROPAS ESPECIAIS EM PENAFIEL

TROPAS ESPECIAIS
EM PENAFIEL


No ano de 1940, no quartel de Penafiel, estava instalado o Centro de Instrução de Infantaria N.º 2,inicialmente com o Curso de Sargentos Milicianos, e em data posterior, 11 de Agosto de 1941, com o Curso de Oficiais Milicianos.

Com o decorrer do tempo foi notória uma simbiose entre a cidade e as tropas aquarteladas, de tal maneira, que o Sr. Presidente da Câmara de Penafiel, Padre Carlos Pereira Soares, resolveu homenagear o Centro de Instrução de Infantaria N.º2, no dia 29 de Setembro de 1940, organizou uma manifestação, que partiu da Praça Municipal em direcção ao quartel com a sua edilidade à frente, com todas as corporações e associações, com todas as suas forças vivas da cidade e do concelho, com a sua magistratura, com o seu funcionalismo e o seu professorado, com toda a sua mocidade, com todo o seu coração e toda a sua alma, foi desta maneira sincera e franca dar as boas vindas aos militares, em nome desta cidade leal, digna e hospitaleira.



No quartel tomou a palavra o sr. Professor Cipriano da Rocha Barbosa, que debitando palavras sinceras, fez um breve resumo da história de todas as companhias que passaram pelo quartel de Penafiel, terminando o seu discurso dando as boas vindas ao Centro de Instrução N.2, com um:

- Bem-vindo seja o Comandante!
- Bem-vindo sejam os oficiais!
- Bem-vindo sejam os milicianos!

De seguida, o Presidente da Câmara de Penafiel, sr. Padre Carlos Pereira Soares ofereceu na sua residência um almoço, tendo como convidados o Comandante e os oficiais deste Centro de Instrução.

Na véspera de S. Martinho, dia 10 de Novembro de 1940, que calhou a um domingo, realizou-se o Juramento de Bandeira dos milicianos do Centro de Instrução de Infantaria N.º 2.

Proferiram alocuções alusivas ao acto, os srs. Major Aníbal Martins Gomes de Bessa, comandante do referido Centro Militar e o Alferes Albertino Correia. Assistiram ao acto o sr. General Fernando Borges, comandante da 1.ª Região Militar, e chefe do Estado Maior Adriano Rodrigues, bem como as entidades oficiais e familiares dos instruendos.


Na parte da tarde, foi promovido por uma comissão composta por alguns elementos do Centro de Instrução de Infantaria N.º 2, desta cidade, e gentilmente oferecido ás senhoras de Penafiel como despedida dos instruendos do referido Centro, um baile no salão da sede do Sindicato Nacional dos Caixeiros de Penafiel.

No domingo, 2 de Março de 1941, foi realizada a Festa da Despedida destes alunos do Centro de Instrução de Infantaria N.º 2, da cidade de Penafiel.

A comissão que organizou esta festa, era composta por vários instruendos deste Centro, que elaboraram um programa, que foi aprovado pelo Ex.mo Senhor General Fernando Borges, Comandante da 1.ª Região Militar, e mereceu todo o acolhimento do Sr. Comandante do Centro Tenente-Coronel Aníbal de Bessa, que grandemente contribuiu para que a festa dos “seus rapazes” decorresse com brilhantismo e num ambiente de alegria.



Ás 9 horas, na Igreja do Calvário, celebrou-se um solene Te Deum de graças pela felicidade de todos os componentes do Curso de Sargentos Milicianos, que foi cantado por um grupo de alunos do Centro. No Altar-Mor oito alunos, devidamente fardados faziam a guarda de honra. Em lugar de destaque sentaram-se os senhores Comandante e Oficiais do Centro, Presidente da Câmara e convidados.

À elevação um terno de corneteiros executou a marcha de continência. No final, o padre franciscano Gonçalves Lopes, proferiu uma brilhante e notável alocução, subordinada à ideia de Deus e Pátria.

Pelas 11 horas chegou a esta cidade de Penafiel, o Ex.mo Sr. General Fernando Borges.



Ás 12 horas com a assistência dos senhores Generais Fernando Borges e Peixoto e Cunha Governador Militar de Lisboa, que acidentalmente se encontrava na nossa terra, Tenente-Coronel Aníbal Bessa Comandante do Centro de Instrução, oficiais, instruendos, convidados e grande número de penafidelenses, procedeu-se à plantação, de uma árvore no início do Jardim Egas Moniz, mais propriamente nas costas do busto de Egas Moniz, quando este ainda não tinha sido arrumado pelos arrumadores da história, para um canto sem encanto da cidade, tendo as primeiras pazadas lançadas pelos senhores Generais, Fernando Borges e Peixoto e Cunha, o Comandante do Centro, Tenente-Coronel Aníbal Bessa e o Presidente da Câmara de Penafiel, Padre Carlos Pereira Soares, tendo pronunciado algumas palavras o instruendo António Teixeira.




Pelas 16 horas realizou-se um impressionante desfile militar em direcção ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra. 

 
Uma Companhia sob o comando de Capitão Filipe Gonçalves, devidamente armada, postou-se em frente ao monumento afim de prestar a guarda de honra. A outra Companhia desarmada comandada pelo sr. Tenente Santos Júnior, posicionou-se do lado direito do monumento.

Chegaram então os Srs. Generais, o Comandante do Centro de Instrução N.º 2, a quem a guarda de honra apresentou armas.

Avançou então uma delegação de alunos do Centro, composta por elementos da Comissão da Festa, mais precisamente Armando Paulouro, Adelino Pato e Manuel Sobral que prestando a continência e pediram licença ao Comandante da 1.ª Região Militar, para colocarem um ramo de flores.



Concedida, adiantou-se o primeiro daqueles alunos que depôs um ramo na base do monumento, enquanto os corneteiros executavam o toque de continência e a companhia apresentava armas. E assim foi prestada a homenagem a todos aqueles que tombaram no campo de batalha na I Grande Guerra.

Cerca das 17 horas, na parada interior do quartel foi distribuído um bodo a 100 pobres. E foi com este gesto de bondade que encerrou a Festa da Despedida.



Este punhado de rapazes que nos legaram uma árvore, que ainda hoje atesta a sua passagem por Penafiel, em troca das saudades que levaram desta terra hospitaleira.

A Câmara Municipal, a Legião Portuguesa e Associações locais, fizeram-se representar em todos actos constantes do programa.

Penafiel, pode-se orgulhar de ter sido a primeira e única cidade, onde se realizaram cursos milicianos que mereceu a lembrança de uma festa de despedida.

Por tudo que aqui foi explanado, é que considero estes militares como “Tropas Especiais em Penafiel” que foram inquilinos no nosso quartel, nos anos de 1940/41.

Fernando Oliveira – Furriel de Junho

04 abril 2019

AS FESTAS DOS CENTENÁRIOS
E O CRUZEIRO DA INDEPENDÊNCIA
DE RIO DE MOINHOS

Bandeira da Fundação



No ano de 1940, Portugal festejou os seus 8 séculos de país (desde 1140), e 3 séculos da Restauração da Independência em 1640.

Bandeira da Restauração



Estas comemorações iniciam-se simultaneamente em todo o país, no dia 2 de Junho de 1940, por um Te-Deum em todas as Sés, e por sessões solenes em todas as câmaras municipais, nas embaixadas, delegações e consulados de Portugal, unindo no mesmo sentimento de pátria a grande família portuguesa.

Castelo de Guimarães

As grandes comemorações vão-se realizar em várias cidades como: Guimarães, Braga, Arcos-de- Valdevez, Porto, Coimbra, Ourique, Lagos, Sagres e Lisboa tendo o seu ponto alto a inauguração da Exposição do Mundo Português.


Aqui em Penafiel, esta comemoração começou com uma romagem a Paço de Sousa, para homenagear Egas Moniz, e vão terminar a 2 de Dezembro de 1940, com uma sessão solene no Salão Nobre da Câmara Municipal de Penafiel, na qual usaram da palavra os Ex.mos Padre Moreira das Neves, poeta e jornalista, e o Dr. Ângelo César, deputado da Nação.

Padre Moreira das Neves

Este último fez a apologia da nossa independência e da nossa grandeza, seguindo-se-lhe o Padre Moreira das Neves que proferiu uma brilhante alocução, repassada do mais profundo sentimento patriótico. Por fim o Sr. Presidente da Câmara, Padre Carlos Pereira Soares, encerrou a sessão com palavras de louvor e agradecimento para o Sr. Dr. Oliveira Salazar e venerando Chefe de Estado Sr. General Carmona, que a assistência sublinhou com vibrantes aplausos e vivas.

A dada altura do seu discurso, Padre Moreira das Neves disse:


“Olho para o passado. Olho para o presente. E digo a mim próprio: Uma cruz basta, para dizer, na história, quem é Portugal.”

Vieram os Romanos para Portugal e plantaram marcos miliários. Vieram os Cristãos e plantaram cruzes. Se os marcos miliários ensinam os homens a medir seus passos nos caminhos da Terra, as cruzes ensinam as almas a medir seus voos na amplidão do céu.

É então que para comemorar este duplo centenário, em muitas terras se vão erguer para a posteridade os “Cruzeiros da Independência”. Desta maneira, as Festas Centenárias estenderam-se a muitos recantos de Portugal.


Rio de Moinhos, disse presente, e inaugurou o seu Cruzeiro da Independência no domingo, dia 3 de Novembro de 1940, com o seguinte programa:

8 horas – Comunhão numerosíssima e cânticos executados pelas Jacistas.

11 horas – Imponente procissão saída da Igreja Paroquial, tomando parte o Clero, juventude, mocidade escolar, acompanhando-os o seu estimado professor e todas as instituições do culto.

12 horas – Missa Campal, cantada pelas Jacistas, sob a regência de um exímio professor de música. Depois de concluída a cerimónia, seguiram para a igreja, novamente em procissão.

14 horas – Deu entrada em Rio de Moinhos, a Banda da Legião Portuguesa de Penafiel.

15 horas – Incorporaram-se no lugar da Vista Alegre, todas as Jacistas, crianças da escola, Cruzadas Eucarísticas, estudantes do Colégio de Alpendurada, e banda de música, para ali esperarem o Ex-mo Prelado.

16 horas – Com a chegada do Sr. Bispo, o cortejo dirigiu-se para a igreja, onde o mesmo agradeceu a forma como foi recebido. Em seguida ministrou o sacramento da Confirmação, fazendo também a imposição de emblemas ás meninas Jacistas. Daí dirigiu-se à residência paroquial e benzeu-a, inaugurando assim a sua construção.

18 horas – Cortejo solene ao Cruzeiro da Independência. Depois de benzido por sua Ex-ª o Sr Bispo do Porto D. António Augusto de Castro Meireles, usaram da palavra ilustres oradores, fundindo-se todos na nossa História de Portugal: Fundação e Restauração.

Foram eles os Padres Augusto Teixeira Correia, José Joaquim Pereira e o padre Marques, o sr. Belarmino Leite O. C. Araújo e um jovem da Mocidade Portuguesa. Também tomou parte desta manifestação o Sr. Padre Carlos Pereira Soares, Presidente da Câmara Municipal de Penafiel.

Na sessão de Câmara de 21 de Outubro de 1940, o Presidente da Junta de Rio de Moinhos, José Pereira Rocha, apresentou um requerimento pedindo autorização para ligar à rede pública uma instalação eléctrica para iluminar o “Cruzeiro da Independência”.

Bem sabemos que atrás de cada cruzeiro há um drama, uma tragédia ou uma epopeia, consoante a janela que cada um vê o mundo.

Para os portugueses, a cruz sempre esteve ligada à sua vida e à sua história.



Desde o nosso primeiro Rei D. Afonso Henriques, que fazia a sua assinatura com uma cruz, aos cruzeiros que eram a nossa marca da presença portuguesa em terras de África, da Índia e do Brasil.


E como se não bastasse, cada um de nós carregar a sua cruz no seu dia-a-dia, de quatro em quatro anos, muitos de nós vão votar de cruz, colocando uma cruz no boletim de voto, para elegermos um governo para a Nação, que passado pouco tempo se transforma num governo familiar, onde filhos e enteados pertencentes a essas famílias, se vão governando “à grande e à francesa”, como se o país fosse a sua quinta e eles os feitores da mesma.

Mas como não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, vamos aguardando serenamente como bom povo que somos, esperando por um milagre. 

- Até quando!?... 

- Até quando!?...

Fernando Oliveira – Furriel de Junho