01 novembro 2025

ZÉ DO TELHADO EM XISSA

 ZÉ DO TELHADO

EM XISSA – ANGOLA




José Teixeira da Silva nasceu a 22 de junho de 1818 no lugar de Telhado, Castelões – Penafiel. Aos 14 anos vai viver com um tio em Caíde de Rei, Lousada, vindo a casar aos 27 anos com a prima Ana Lentina de Campos, com quem teve 5 filhos.  

 




Em 9 de Dezembro de 1859 foi julgado no Tribunal Judicial de Marco de Canavezes (julgamento iniciado a 25 de abril de 1859) e condenado a degredo na África Ocidental Portuguesa (Angola) para toda a vida.

 





Ao chegar a Luanda, foi enviado para a cárcere da Fortaleza de São Miguel, de onde saiu algum tempo depois para o presídio de Ambriz.

No dia 28 de Setembro de 1963, foi-lhe comutada a pena aplicada na de 15 anos de degredo.


É desta passagem por Ambriz, que escreve esta carta à sua esposa Ana que ficou com os seus cinco filhos nos braços.


Anna


Tenho escrevido muitas cartas e ainda de nenhuma recebi resposta tua agora faço esta por mão própria só para vêr se ella te é entregue manda-me dizer o que é passado contigo para eu d'aqui mesmo vêr se te remedeio alguns males eu entrei no perdão do casamento do Rei fiquei em 15 annos contando o dia que sahi de Lisboa se Deos me conservar ainda tenho esperança de vêr essa terra mas talvez mais prometo que tu pensas se Deos me ajudar.

Anna eu o que estimo é que tenhas saúde em companhia dos meninos e meninas a quem muito me recomendo não posso ser mais extenso que o Vapor está a sahir e com isto adeos até à vista.

Deste teo marido que a Vida te deseja por muitos annos.


Ambriz, 21 de Dezembro de 1862

José da Silva Teixeira Telhado

Escreve-me para Ambriz


Carta esta endereçada a:

Anna Lentina de Campos

Freguesia de S. Pedro de Rei de Caíde

Logar da Sobreira pelo correio de Vila-manhã


Como todas as outras cartas esta também não chegou ao seu destino.


Mais tarde é transferido para a prisão de Benguela, e aí vai conhecer Bandy, guia natural de Malanje, que mais tarde lhe será muito útil devido a dominar os dialetos falados no Sul de Angola.

Cumprida a pena, percorreu grande parte das terras do centro de Angola, acabando por aceitar o convite do seu amigo para terminar com o ziguezaguear pela então colónia e estabelecer-se em Xissa, de onde Bandy era natural. e que o acompanhou nas lides de comerciante de borracha, carne, cera, marfim e peles.






Casou-se com uma angolana, Conceição, de quem teve três filhos. Zé do Telhado era conhecido entre os locais como o “kimuezo”, o homem de barbas grandes.





Faleceu em 1875, com 57 anos de idade vítima de varíola, sendo sepultado na aldeia de Xissa, município de Mucari.




Devido ao grande número de visitas à sepultura, o município mandou construir um pequeno mausoléu improvisado com algumas chapas de telhado e um pequeno muro envolvente, regularmente visitado, e cuidadosamente preservado pela população local.




Em 2017 foi autorizada a mudança do nome da escola primária e do posto médico da localidade de Xissa para o nome de José do Telhado.





Enquanto em Angola tenta-se preservar a estória, por cá os apagadores da história andam em sentido contrário, basta para tal, ver o novo arranjo que foi executado na Av. Zeferino de Oliveira que tapou por completo as ruínas da antiga capela de S. Bartolomeu. 

 



Fernando Oliveira – Furriel de Junho