28 julho 2017

NA ROTA DA MAÇONARIA EM PENAFIEL

NA ROTA DA MAÇONARIA






EM PENAFIEL





Em 1863, é inaugurada a filial de Penafiel da franco - maçonaria, e por tal motivo foi servido um esplêndido banquete no Solar de Cabanelas, situado na freguesia de Bustelo.




Nele tomaram parte:

Valentim Vieira Gomes – Como representante da Loja de Faria Guimarães do Porto, e grande propulsor da franco - maçonaria, onde alcançou elevado grau.

António José da Silva Teixeira – Também irmão da Loja da Faria Guimarães.

Dr. António da Cunha Vieira de Meireles – Como representante das Lojas de Coimbra.

Dr. António Augusto Soares Rodrigues Ferreira

Dr. Abílio Aires Pereira de Freitas Beça

Padre José Carlos de Sousa Leão

Augusto César de Magalhães

Agostinho da Rocha Beça

Dr. Germano Vieira de Meireles

Dr. António Joaquim de Araújo

Vitorino Barbosa da Costa Guimarães

Francisco Pereira de Faria

Francisco Pinto de Queiroz

Barão da Várzea do Douro

Dr. Rodrigo Teles de Menezes

António Leal de Lemos Reimão

José Felix de Paiva Braga

Dr. José Feliciano Vaz Pinto da Veiga

Ilídio Marinho Falcão

José Maria Crivas

Joaquim Augusto Ferraz de Menezes

Alexandre de Vasconcelos Brandão

Melo Leite Cabral

Joaquim Leite Cabral

Depois de devidamente regulamentada, a Loja Maçónica de Penafiel, funcionou em três locais na cidade.

Rua de Chelo


1.º - Na Rua de Chelo, numa casa solitária, onde morava o tenente José Maria Crivas, excelente fotógrafo amador.



Ao calcorrear a Rua de Chelo, e ao verificarmos as poucas casas nela existente, a única que apresentava bilhete de identidade para ser dessa época, era a que apresenta o portão que se vê na foto.

Antigo Palacete do Barão do Calvário


2.º - Numa parte do palacete do Barão do Calvário. 


Depois de transpormos o portão de ferro, deparamos com um átrio ajardinado 


Depois seguimos até à porta de entrada, onde se pode ler na parte superior da mesma o ano de 1929.





1929, foi o ano em que a Câmara Municipal de Penafiel adquiriu o palacete, tendo instalado nele o Tribunal, o Registo Civil, o Registo Predial e no seu rés-do-chão a cadeia.

Onde funcionou a cadeia


Hoje o palacete é todo ele ocupado pela Biblioteca Municipal de Penafiel, que foi inaugurada pelo Presidente da República Dr. Mário Soares, no dia 4 de Março de 1995.





3.º – Na Praça Municipal, no prédio onde nasceu o poeta e escritor penafidelense Joaquim de Araújo, que em 1894, foi nomeado cônsul de Portugal em Génova, Itália.

Antiga sede e última da Maçonaria em Penafiel


Actualmente está lá instalado o Institutoptico de Penafiel e o Café Bar.




O jornal “O SÉCULO XIX”, foi o primeiro jornal que se publicou em Penafiel.



Inicia a sua publicação a 2 de Março de 1864, e termina a 30 de Agosto de 1865.




Era bi-semanal, pois publicava-se às quartas-feiras e aos sábados, e estava ligado à loja maçónica de Penafiel, bastando ver o corpo redactorial do mesmo.




Eram seus redactores o Dr. Germano Vieira de Meireles, primoroso estilista e denodado atleta nas pugnas da imprensa. 



O seu irmão António Vieira de Meireles, lente de medicina na Universidade de Coimbra, autor de várias obras científicas. Foi redactor responsável do jornal, o cunhado dos primeiros, o Dr. Rodrigo Telles de Menezes, distinto advogado.



Teve o “Século XIX”, colaboradores assíduos da grandeza de Antero de Quental, João de Deus e António de Azevedo Castelo Branco, que muito brilharam nas letras Pátrias.

Rua do Bom Retiro


O administrador deste jornal, era o sr. António Leal de Lemos Reimão, sendo a casa da redacção e tipografia na Rua do Bom Retiro.



A morte obscura de António Leal de Lemos Reimão, vai precipitar o fim da Loja Maçónica em Penafiel.

António Leal de Lemos Reimão, foi encontrado morto no monte de S. Romão, na freguesia de Croca, que dista 4 Km da cidade de Penafiel.

Enquanto o jornal “O Século XIX”, justificava a morte como fuga por alucinação, o insulto apoplética, o suicídio por envenenamento, espalhando estas hipóteses aos quatro ventos, com a finalidade de contrariar ou até esconder a causa que corria de boca em boca na cidade, que era a seguinte:


D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde Malafaia, então administrador de Penafiel, era um inimigo terrível, que os maçónicos de Penafiel viam de mau grado, escalpelizando os actos da sua administração com arrogância e absoluta destimidez.

Calhou em sorte que António Leal de Lemos Reimão, teria que mandar desta para melhor D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde Malafaia, e como este não cumpriu a sua missão, pagou ele com a própria vida, sendo encontrado morto com a língua cortada no monte de S. Romão em Croca.


Igreja Matriz de Penafiel

Na sexta-feira, 26 de Agosto de 1865, na Igreja Matriz, desta cidade, teve lugar as cerimónias fúnebres do sr. António Leal de Lemos Reimão, presidida pelo padre Luiz Mesquita de Carvalho que descreveu as altas virtudes que adornavam o amigo falecido e lamentava a sua perda.


A Loja Maçónica, “abateu colunas”, como se diz no ritual da maçonaria ao seu encerramento no ano de 1865, juntamente com o seu jornal “O Século XIX”.



Desde os tempos de antanho que o povo português gosta de rotas, sendo a mais importante de todas, a do caminho marítimo para a Índia, e como de alguns anos a esta parte entraram novamente em moda as rotas nesta santa terrinha, desde a Rota do Vinho Verde à mais recente Rota do Românico, lembrei-me de lançar esta Rota da Maçonaria,  sem qualquer subsídio da U.E., Junta, Câmara ou Loja Maçónica, mas apenas com a minha Pena Fiel.





13 julho 2017

A OFERTA DO VITELO

A OFERTA DO VITELO


A festa do carneirinho, teve o seu início no ano de 1880, quando os alunos da Escola do Sr. Henrique de Carvalho, situada na Rua Cimo de Vila (hoje Rua Alfredo Pereira), resolveram oferecer um carneiro ao seu professor. 

 
Todos sabemos que só as famílias mais endinheiradas tinham posses para colocarem os seus filhos a estudarem no Colégio de Nossa Senhora do Carmo em Penafiel.

Assim, quatro anos depois, na quarta-feira, 11 de Junho de 1884, véspera do Corpo de Deus, enquanto uns ofereciam um carneiro, os alunos do Colégio do Carmo, não estiveram com meias medidas, e ofereceram aos seus professores um vitelo todo enfeitado, ao digno director daquele estabelecimento de ensino, o reverendo sr. Padre José da Silva Botelho.


Os alunos formaram na Rua Cimo de Vila (hoje Alfredo Pereira), em duas extensas alas e seguiram pelas ruas: Largo da Ajuda, Rua Nova (hoje Joaquim Cotta), Praça Municipal, Rua Formosa (hoje Av. Sacadura Cabral), Praça da Alegria (hoje rua Conde Ferreira), Rua do Bom Retiro, Sacramento, Direita e Rua do Paço, onde se achava instalado o Colégio do Carmo (hoje Museu Municipal).

Durante todo o percurso, fizeram-se acompanhar por duas bandas de musica, a de Maureles e a de Vila Boa de Quires, tocando ambas na cerimónia da oferta.


O palacete onde estava instalado o Colégio do Carmo (hoje Museu), estava elegantemente decorado pelos alunos com plantas, arbustos e galhardetes.

Chegados ali, o aluno Miguel Pinto de Queiroz, subiu a um estrado previamente levantado em frente ao Colégio do Carmo e recitou a seguinte poesia:

Renovando antiga usança
Desde há muito esquecida
Vimos hoje praticá-la
Com nossa alma agradecida

Nestes dias, nesta terra
Faz a prática mui bela
Estudantes oferecerem
A seus mestres uma vitela

Nesse tempo não havia
Em estudantes o progresso
D'outra cousas ali próprias
Se ocupavam com sucesso

Mas nós jovens também somos
Do progresso, e o queremos
Mas do bem de ensinos rectos
São ideias que nós temos

De bom grado recebei,
Senhor padre director
Nosso preito e homenagem
Que rendemos com fervor.

Eia pois oh condiscípulos!
Levantemos jubilosos
Com alegria entusiasmo
Nossos vivas calorosos

E agora, em despedida
Recebei as saudações
Director e professores
Destes jovens corações.

A esta cerimónia, assistiram os membros da comissão do Colégio alguns dos quais pronunciaram algumas palavras exaltando a ideia sugerida no ânimo dos alunos, que era uma prova de respeito e gratidão para com os seus professores.

Pelo rev. sr. José da Silva Botelho, director do Colégio do Carmo foi pronunciado um breve discurso agradecendo aos alunos aquela prova de afecto. No mesmo sentido falaram também os talentosos professores srs. Padre Germano dos Santos Rodrigues e Narciso Vicente Lopes de Souza.

À noite deste mesmo dia, pelas 21horas, realizou-se neste estabelecimento de ensino desta cidade, um excelente sarau literário musical promovido por uma comissão de alunos, para comemorar o resultado extremamente elogioso obtido nos exames de admissão aos liceus a que foram submetidos 23 dos seus alunos.

O sarau começou com a recitação de uma poesia pelo aluno Octávio de Campos Monteiro.

Depois interpoladamente foram recitadas poesias pelos seguintes alunos: 
 
Aurélio da Cunha Rola Pereira
Vasco Teixeira de Araújo Queiroz
António Adolfo Ribeiro de Aguiar
Guilherme Xavier Leão
Alberto de Araújo Cotta
Firmino Ribeiro Gomes

Também recitaram poesias os sr. António Júlio de Souza Campos e Gaspar Loureiro Paul, de Guimarães.

O ex.mo sr. Padre Germano dos Santos Rodrigues proferiu um brilhante e substancioso discurso, alusivo a esta simpática festa escolar, em que pondo em relevo o benéfico influxo que a instrução exerce sobre as sociedades, incitou ao estudo os alunos daquele estabelecimento científico- literário.

Nos intervalos uma boa orquestra composta pelos professores de música do Colégio, por alunos dos mesmos e pelo amador sr. Freitas Guimarães, executou diversas peças musicais entre elas um hino que foi composto e lhes foi oferecido pelo seu professor sr. José do Nascimento Cardoso. belíssimas peças musicais.

Ao piano estiveram as ex.mas senhoras D. Camilla Carneiro e a talentosa menina D. Rita de Araújo Cotta.

A este sarau assistiu tudo que havia de mais selecto e nobre na sociedade penafidelense, tais como: a aristocracia, a autoridade administrativa, comandante dos bombeiros, representantes da imprensa local, etc.


Cerca das duas horas da madrugada, terminou esta festa de instrução e progresso, tendo o reverendíssimo Padre Germano dos Santos Rodrigues, pronunciando um pequeno mas elegante discurso, agradecendo a todas as senhoras e cavalheiros que se encontravam presentes a honra de ali comparecerem, levantando entusiásticos vivas ao sr. Administrador do Concelho, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, e redactores de “O Commercio de Penafiel” e de “O Penafidelense”, vivas que foram correspondidos por todas as pessoas presentes.

O sr. Dr. Telles de Menezes, redactor do jornal “O Commercio de Penafiel”, agradeceu numa breve alocução, aquela prova de consideração e respeito por uma tão nobre instituição – a Imprensa.

O sr. Villaça, redactor do Penafidelense agradeceu também.

O sr. Simão Júlio de Almeida, em nome da corporação que tão dignamente comanda, dirigiu palavras de louvor por ver realizada uma festa de todo o ponto simpática, e agradeceu o viva que lhe fora dirigido, fazendo a apologia da festa, louvando os seus promotores, o professorado do Colégio, e os explendidos resultados com que via coroados os seus esforços e os beneméritos cavalheiros que formam a comissão fundadora e protectora de um estabelecimento de instrução, que tão notável se está tornando no país e que honra sobremaneira esta terra.

Assim terminou no dia em que foi oferecido um vitelo aos professores do Colégio do Carmo, este certame literário-musical, que a todos deixou as mais gratas recordações.


A moda do vitelo não pegou, pelo que na véspera do Corpo de Deus, a oferta do carneirinho continua a ser a tradição.