04 setembro 2020

O JOGO QUE GOSTEI MAIS QUANDO AINDA IA À BOLA

 O JOGO QUE GOSTEI MAIS

QUANDO AINDA IA À BOLA



Longe vai o tempo, em que gostava de ir ver um jogo de futebol. Nos anos 60 do século passado, depois do almoço de domingo, lá ia no meio daquele aglomerado de pessoas, que se deslocavam a pé, rumo ao Campo da Bola para aplaudir o F. C. de Penafiel.

 

Se hoje os ídolos do pontapé da bola são o Messi e o Cristiano Ronaldo, no antigamente a nível nacional era o Eusébio e local o grande Silva Pereira.


Por incrível que pareça, hoje já não tenho paciência para ver um jogo até final pela televisão, e assistir ao vivo muito menos. Deixei de ir ao futebol, quando me colocaram rede entre mim e o rectângulo de jogo, ficando na minha pessoa, a sensação de assistir dentro de uma “jaula” a um desafio de futebol. Aí foi o fim.

 



Mas o jogo que mais gostei de presenciar foi o da subida à Segunda Divisão do Futebol Clube de Penafiel no ano de 1965.


Essa disputa foi com o Rio Ave Futebol Clube de Vila do Conde, e a subida era disputada em duas mãos.


Na primeira mão, o Penafiel deslocou-se a Vila do Conde, onde empatou a duas bolas, tendo os golos sido marcados por Silva Pereira e Quintino. 

 



Com este resultado conseguido em Vila do Conde, os penafidelenses cada vez mais acreditavam que em sua casa a subida ia ser conseguida. A tal ponto, que as ornamentações da Festa do Corpo de Deus, que se realizou na quinta-feira de 17 de Junho de 1965, não foram retiradas para dar um ar mais festivo, colorido e luminoso à festa que se adivinhava da subida do F. C. de Penafiel à 2.ª Divisão.


Assim, no dia 27 de Junho de 1965, cerca de 12.000 pessoas encheram por completo o Estádio Municipal, tendo sido a receita de 59.481$00, a despesa de 20.316$00, tendo o saldo arrecadado de 39.165$00. Isto hoje transformado em euros é uma bacatela, mas naquela tempo era muito dinheiro.



Nas bancadas, era notório o nervosismo estampado em alguns rostos, que no decorrer do jogo se foram transformando em sorrisos e contentamento.


De entre a assistência, encontrava-se o Sr. Presidente da Câmara, Coronel Cipriano Alfredo Fontes, o Comandante do RAL 5, Coronel A. Castilho, e o Segundo Comandante Major Santiago Cardoso, o Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Futebol, Eng.º Paulo Tavares, elementos directivos da Associação Futebol do Porto, srs. Albano Morais, Cândido Almeida e Manuel Queirós, Presidente do Sindicato dos Treinadores, José Fernandes.



O Penafiel alinhou com: Feliciano à baliza, na defesa, Maioto, Viriato, e Nila, a médios, Passos (jogador treinador) e Hernâni, e na avançada, Quintino, Aparício, Silva Pereira, Nelson e Evangelista.



Da formação do Rio Ave, terra de pescadores, apenas me lembro do nome do guarda-redes, que era condizente com a terra; Sardinha.



O jogo foi arbitrado por Mário Mendonça de Setúbal, e que terminou com uma cabazada de 7-0, infringida pelos penafidelenses aos vilacondenses. Os golos foram marcados por: Silva Pereira 4 golos, Quintino, Dr. Aparício e Nelson com 1 golo cada.


No final houve a tradicional invasão de campo, num jogo com uma exibição notável, dando lugar à festa que ia durar até ás tantas.


As bandas de música de Rio Moinhos, Lagares e Paço de Sousa, vieram-se juntar à festa, percorrendo as ruas da cidade.



A direcção do clube, ofereceu aos jogadores e colaboradores do F. C. de Penafiel, um jantar na Pensão Aníbal Aires, e de cada vez que estes acenavam à varanda, as palmas e os vivas ao F. C. de Penafiel sucediam-se.



Como podemos observar, nesta equipa do F. C. de Penafiel, alinharam 4 jogadores da terra. Eram eles: O Silva Pereira, O Nila, o Maioto, o Nelson e ainda podemos somar a este quarteto o guarda-redes suplente o Victor Salvador. Hoje quando estes fenómenos acontecem dizem-se pomposamente que os mesmos são fruto da Academia do Clube, ou da Formação do mesmo, mas à época chamava-se a este fenómeno, nem mais, nem menos, que Prata da Casa.



Dá-me a impressão que nestes tempos longínquos, os penafidelenses identificavam-se mais com o F. C. de Penafiel, que nos dias que correm. E se a coisa já não estava famosa, agora com esta moda das SADs (Sociedades Anónimas Desportivas), transformando os clubes em empresas, e como tal, o lucro é o objectivo principal, descaracterizando por vezes a alma e a essência do clube, só espero que não se venha a repetir, o que aconteceu ainda à pouco, com o nosso vizinho da Vila das Aves.



O grande capitão de equipa Silva Pereira, para mim, foi o melhor jogador que passou pelo clube, e mais alegrias deu aos apoiantes e simpatizantes do F. C. de Penafiel, não só pelo número de anos que envergou o equipamento rubro negro, que ficava ensopado em suor no final de cada jogo. A isto se designava, jogar com amor à camisola.


Aqui fica o meu depoimento do jogo e do jogador que mais me marcou, no tempo em que ainda ia à bola.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho