25 abril 2021

PARABÉNS AO BLOGUE PENAFIEL TERRA NOSSA

 
FAZ PRECISAMENTE HOJE, DIA 25 DE ABRIL, 15 ANOS, QUE NASCEU O BLOGUE: PENAFIEL TERRA NOSSA.

EM PRIMEIRO LUGAR QUERO AGRADECER A TODOS OS QUE AQUI PASSAM, E ESPECIALMENTE AQUELES QUE O INCENTIVAM COM OS SEUS COMENTÁRIOS.
 
E COMO NÃO HÁ ANIVERSÁRIO SEM BOLO, AQUI FICA O CONTO: A DOCE LIBERDADE. 


 
O meu tio Humberto, era um homem do reviralho. Indo ele comigo pela mão a atravessar a Praça Municipal, no preciso momento em que, o nosso Primeiro – Ministro Marcelo de visita à nossa terra, foi depor uma coroa de flores no Monumento em Honra aos Mortos da Grande Guerra, desabafou:

- Se fosses pôr flores ao caralho!...

Uns homens agarraram nele e levaram-no. Apenas teve tempo de me mandar para casa e desta vez sem o beijo do costume. Aí chegado, contei à tia o sucedido. A tia Luísa, que já estava calejada nestas andanças, já sabia o que fazer.

No Domingo, fui com ela visitar o tio Humberto, a Caxias. Um guarda colou-se à nossa beira, escutando tudo que nós dizíamos. A horas tantas, a tia colocou em cima da mesa a cesta que levava com o lanche para nós, e que o guarda já tinha revistado. No final do lanche, a tia deu um beijo ao tio e este abraçou-nos com muita força. 
 
No fim-de-semana seguinte lá fomos de novo visitar o tio. Ao chegarmos à porta, um guarda informou-nos que ele hoje não podia receber visitas. A tia chorou, chorou muito e pediu ao guarda para lhe entregar um bolo que nós levávamos.

Na próxima visita, o tio apareceu-nos com a cara cheia de hematomas, e com os olhos que mal se viam de negros que estavam.

- Ó tio, porque estás assim tão feio?

- Andei à porrada com o guarda que me comeu o bolo.

- E quando voltas para casa?

- Quando agarrar esse comilão.

Abril nasceu e o tio regressou a casa.

Agora todos os anos a 25 deste mês, a tia faz um grande bolo que o tio Humberto baptizou de Liberdade.

Só que agora, não falta aí quem se faça convidado, e queira devorar a doce Liberdade.
 
Fernando_Oliveira - Furriel de Junho


02 abril 2021

INTERCÂMBIO CULTURAL

INTERCÂMBIO CULTURAL

ENTRE PENAFIEL E OVAR

 




Nos anos 40, os alunos e alunas do Colégio do Carmo, além dos estudos e como passatempo extra curricular, dedicavam-se à arte de representar.

 



Propositadamente para eles, o Sr. Armando Passos, escreveu a revista “Flocos de Neve”, tendo o guarda roupa sido executado por Zulmira Iglésias e os cenários e o libreto realizados por German Iglésias.

 

German Iglésias



Esta revista foi levada à cena pela primeira vez no dia 18 de Maio de 1940, no Cine Clube em Penafiel.

Sendo de agrado do público, várias vezes subiu a palco, deliciando sempre a assistência, e cujas receitas dos espectáculos revertiam a favor de instituições, sendo uma delas o Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.

Fazendo parte deste intercâmbio cultural entre Ovar e Penafiel, o Grupo de alunos de ambos os sexos do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, deslocaram-se à Vila de Ovar (hoje cidade), no dia 24 de Maio de 1941, para representar no velho teatro de Ovar, a revista fantasia, Flocos de Neve, que tanto êxito obteve em Penafiel.


Nunca imaginaram foi a forma como iriam ser recebidos com toda a pompa e circunstância, na vila hospitaleira de Ovar.

Aguardavam o grupo, representantes da Legião e da Mocidade Portuguesa, escoteiros, várias associações com as suas bandeiras e estandartes e enorme multidão, aclamando-o com entusiasmo, enquanto as notas de uma banda de música e o estralejar de incessantes foguetes electrizavam mais, se é possível os manifestantes e os recém-chegados.

Organizado um cortejo, seguiu este sempre debaixo de uma verdadeira nuvem de flores até à Câmara de Ovar, em cujo Salão Nobre foram apresentados os cumprimentos de boas-vindas pelo Reverendo Padre Torres, ilustre vice-presidente do município, que pronunciou um brilhante discurso com alusões muito elogiosas para a cidade de Penafiel, encaminhando-se depois o Grupo, sempre acompanhado de enorme multidão, para o Colégio Júlio Diniz, onde lhe foi servido um primoroso copo de água, o que deu motivo a calorosos brindes e a novas manifestações.

 


Pelo que atrás foi dito, facilmente se conclui que o Grupo de Teatro composto pelos alunos do Colégio de Nossa Senhora do Carmo de Penafiel, tiveram uma recepção calorosa, como aliás à noite, no Teatro lhes prestaram a mais sensibilizante homenagem, atingindo foros de autêntica apoteose, tal a profusão de flores e de entusiásticas e delirantes aclamações.

E foi assim que os ovarenses, receberam com simpatia os penafidelenses que se deslocaram à sua terra, para representar a arte de Talma.

Para dar continuidade a este intercâmbio Cultural, no domingo, 8 de Junho de 1941, visita Penafiel o Orfeão de Ovar, que celebrou o seu centenário no passado dia 16 de Janeiro de 2021.

 



Desde a chegada em frente ao Jardim Público, até aos Paços do Concelho de Penafiel, ao som das músicas e do estralejar de foguetes, o cortejo, atravessou em triunfo as avenidas Egas Moniz e Sacadura Cabral, até à Câmara Municipal, subindo a escadaria que os havia de levar até ao Salão Nobre, enquanto um conjunto de moças com os seus trajes minhotos, lhes lançavam do alto da escadaria pétalas de flores.

 



De seguida o vereador Pais Neto, deu-lhes as boas-vindas, saudando em nome da cidade que tinha a satisfação, honra e alegria de os ver dentro desta terra que vossa é.

 



José Júlio, poeta penafidelense saúda-os com o poema:


BEMVINDOS!


Chega hoje à nossa Terra,

Afeita aos ventos da Serra,

A brisa fresca do Mar...

Amigos, sede bemvindos!

Ovarinas de olhos lindos,

A todos: muito saudar!


Trazeis convosco Alegria?

Com alegre simpatia

Vos saudamos, ao chegar;

Mas, com verdade, vos digo

Que não pode o nosso abrigo

O vosso abrigo igualar...


Num abraço apertado,

Que fique sempre lembrado,

Mesmo depois da partida,

Abraço franco, leal,

Abraço de Portugal...

Que lembre por toda a vida.


Abraço que não esqueça

Que grande até, que pareça

Nunca mais nos apartar,

Vos pagará o carinho

Que estava ao fim do caminho,

Quando nós fomos a Ovar...


Amigos, sede bemvindos!

Ovarinas de olhos lindos,

Bendito seja esse olhar,

A sorrir, no areal,

Das praias de Portugal,

À terra, ao Céu e ao Mar!...

 


Em palavras de imerecido reconhecimento, o Padre Torres agradece a ovação que está sendo dispensada ao Orfeão de Ovar, sendo muito aplaudido, com vivas a Ovar e a Penafiel, manifestação que atingiu o auge, quando, na bandeira do Orfeão de Ovar foi colocada a medalha da cidade pendente por uma fita vermelha e branca, as cores da heráldica de Penafiel, e depois, quando os componentes do Grupo Cénico do Colégio do Carmo, entregou ao Orfeão uma linda corbélia de lindíssimas flores.

E, sob este ambiente de alegria deixaram a “Domus Municipalis” espalhando-se pela cidade.

 



À noite, no Cine Clube, decorado elegantemente, com flores e calgaduras, totalmente repleto.

Pouco depois das nove e meia da noite, abre o pano. Sob o fundo negro dos trajes orfeonistas, sobressai o friso branco das gentis orfeonistas.

O Dr. Evaristo Teixeira, ilustre advogado desta comarca, saúda os orfeonistas.


Tal como um livro cativa o leitor nas suas primeiras páginas, também o Orfeão de Ovar sob a regência de Eduardo Liz, rompe com o Hino da Cidade de Penafiel, que a assistência, comovida e reconhecida, ouve de pé, coroando a sua impecável execução com uma vibrante e prolongada salva de palmas.


Depois do espectáculo, foi servido aos nossos visitantes, no salão do Sindicato dos Empregados do Comércio de Penafiel, um ligeiro copo de água, que serviu ainda de pretexto para se trocarem alguns brindes.


Feitas as últimas despedidas, as camionetas levaram de volta o Orfeão à vila de Ovar.


Embora estes intercâmbios estejam fora de moda, fazem falta, quanto mais não seja para muitos penafidelenses que vão alinhando o seu diapasão de frases feitas como: “Sentir Penafiel”, “Eu amo Penafiel” ou Penafiel a Terra Melhor do Mundo”, aprenderem o Hino da sua terra, escrito por José Júlio, com que o Orfeão de Ovar, brindou a nossa terra e poucos penafidelenses o sabem.

 



Com o hino ou sem ele a vida continua, pelo menos ficam a saber que ele existe, que para os tempos que correm já não é mau...


Fernando Oliveira – Furriel de Junho