07 novembro 2021

NO S. MARTINHO DE OUTRORA

 

NO S. MARTINHO DE OUTRORA




No meu tempo de menino, a Feira de S. Martinho estendia-se desde o edifício do Correio ao Largo Conde de Torres Novas, vulgarmente conhecido por Campo da Feira.




Junto aos CTTs, no Largo da Misericórdia, hoje Largo Padre Américo, ficavam os barristas que vinham de Barcelos com aquela bonecada que os nossos pais compravam para ornamentar o presépio.




Pela Praça Municipal, Av. Sacadura Cabral e Egas Moniz, estendiam-se as tendas onde se vendia de tudo, incluindo samarras e capotes, já que o frio do Inverno estava aí à porta.




Nas ruas (Barão do Calvário e Combatentes da Grande Guerra), que ladeiam a Biblioteca Municipal, que naquele tempo também aí funcionava o Tribunal, o Registo Civil e o Registo Predial, vendiam-se cobertores de lã feitos na Covilhã, assim como o afamado queijo da serra.




A feira do gado realizava-se no Campo da Feira em frente ao quartel, e também ali se estendiam uma série de divertimentos como: Os carrinhos de choque, o carrossel, as cestas dependuradas por cabos de aço, os aviões que subiam e aterravam no mesmo sítio, o poço da morte e para rir a barraca do Zéquinha e da Lélé, com uma variedade de espelhos, onde a nossa imagem reflectida, ora se apresentava gorda, fininha ou torcida.




Lá ao fundo os comes e bebes, com o vinho a escorrer da pipa para a caneca que passava de mão em mão, com alguma febra ou a bela castanha assada a acompanhar.



Hoje é banal comermos no decorrer do ano, mas, no antigamente, apenas pelo S. Martinho se comiam as farturas polvilhadas com açúcar e canela, no Pavilhão do Casal das Fartura, da Família Oliveira ou do Couto das Farturas, instaladas logo à entrada do Largo Conde de Torres Novas. Outro mimo da gastronomia eram as tortas de S. Martinho, na casa do Coelho das Tortas, situada na Travessa do Bom Retiro, que não tinha mãos a medir, fazendo fila de espera os fregueses das mesmas, aguardando a vez de serem atendidos.




Enquanto o fumo saído dos fogareiros das castanhas se espalhava pela cidade, outros acontecimentos ambulantes faziam a sua actuação em vários pontos da urbe, como era o caso da barraca dos Robertos. Era a delícia da pequenada.




Também era costume aparecerem ceguinhos agarrados ao acordeão a tocarem algumas canções em voga, enquanto a sua parceira fazia o peditório a quem passava ou assistia, ao mesmo tempo que vendia uma folha com letras de canções que mais passavam nas rádios.

Em 1961, ano em que se iniciou a Guerra Colonial em Angola, apareceu uma canção escrita por Santos Braga e musicada por Duarte F. Pestana, gravada pelo Coro e Orquestra da F.N.A.T., que era um autêntico “hino heróico” e que se intitulava “Angola é Nossa”. Este hino fechava e abria as emissões de rádio, e todas as pessoas o trauteavam, e de tal maneira se popularizou que a sua letra também figurava na folha de “Discos da Moda”.




Embora a Feira de S. Martinho tenha crescido, falta-lhe a magia por exemplo do “Homem da Banha da Cobra”, que em plena Praça Municipal, vendia a pomada milagrosa que curava todos os nossos males, e se o homem não tivesse partido já para o além, quem sabe se não estaria na sua pomada, a receita para nos livrarmos de uma vez por todas, desse maldito... Covid 19.


Fotos da Foto Antony e Foto Borges

Fernando Oliveira - Furriel de Junho