AS PALESTRAS DO MESTRE ANTONY

 

AS PALESTRAS DO

MESTRE ANTONY

 

 

António Pereira Guimarães (1905-1990), cedo vai trabalhar para a cidade do Porto, numa casa de bicicletas que ficava perto da Foto-Antony. Como se interessava muito por fotografia, pouco tempo depois, passa a trabalhar na dita loja, que mais tarde sofre um incêndio e fecha portas, comprando a patente dessa casa António Guimarães.

 

Foto- Penafidelense - Publicidade pintada na parede da Igreja da Misericórdia e num jornal local

 

 

Vem-se instalar na Rua Serpa Pinto (hoje Joaquim Cotta) com o nome de Foto - Penafidelense em Penafiel, adquirindo mais tarde na Rua do Paço a Fotografia Borges, e muda-se para lá de malas e bagagens.

 

Foto Antony na Rua do Paço

 

No ano de 1956, na cidade de Penafiel, existiam quatro casas dedicadas à fotografia. Eram elas, a Foto Antony, na Rua do Paço, a foto Borges e foto Rocha, ambas na Av. Sacadura Cabral e a foto Sousa na Rua Serpa Pinto, (hoje Rua Joaquim Cotta), mais tarde na Praça Municipal.

 

 

À época, pouca gente possuía máquina fotográfica e por isso quando queríamos fotografar algum motivo, como por exemplo a malta que ia em excursões, comprávamos o rolo fotográfico que podia ser de 12, 24 ou 36 fotos, e alugávamos a máquina.  Nessa altura recebíamos algumas instruções básicas para manusear com a máquina.

Depois era o entregar da máquina ao fotógrafo que de seguida ia revelar o rolo e imprimir as fotos.

Assim a fotografia começava a despertar interesse em muitas pessoas e ainda veio a aumentar quando a mesma apareceu a cores.

 

Av. Sacadura Cabral

 

Mestre Antony resolveu transmitir alguns conhecimentos sobre esta arte, organizando com o apoio da Kodak Portuguesa L.da para o efeito, três palestras sobre fotografia, no salão do Sindicato dos Caixeiros em Penafiel, situado na Av. Sacadura Cabral.

 

 A primeira palestra realizou-se no sábado, dia 30 de Junho de 1956, iniciando com a exibição de alguns filmes coloridos obtidos pelo Sr. João Carvalho, desta cidade.

 

Fanfarra do R.A.L. 5

 

Os coloridos da fanfarra do R.A.L.5, merecem referência especial pela sua beleza e harmonioso conjunto de cores.

Foram exibidos também dois aspectos de Viana do Castelo, de admirável paisagem.

 

Quando o lago ainda estava intacto

 

Em seguida deu-se início à palestra propriamente dita, sobre o tema “Marcos Históricos da Fotografia”, sendo projectados para o efeito, 50 transparências, tendo por fundo um magnífico acompanhamento musical transmitido por aparelhagem cedida gentilmente pela Electrificadora Penafidelense, onde se podiam ver os primeiros passos da fotografia, os seus inventores, as primitivas máquinas, que devido ao seu peso e volume, tornavam-se difíceis de transportar, o que hoje se faz com uma simples máquina ou telemóvel que cabe num bolso. 

Sindicato dos Caixeiros e Electrificadora Penafidelense

Apesar de estes complicados aparelhos, já em 1858, se obtinham fotografias aéreas.

 

Santuário de N. S. da Piedade e Santos Passos

A palestra que demorou cerca de uma hora, terminou com a projeção de umas vinte transparências coloridas, com vistas da nossa cidade de Penafiel, como o Parque Zeferino de Oliveira, Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos e ainda da Praça Municipal, da autoria de Antony.

 

Parque Zeferino de Oliveira, antes de ser amputado

 

Através da passa palavra, a segunda palestra que decorreu no sábado, 7 de Julho de 1956, e registou uma enorme enchente, assim como era notado na assistência, a presença de mais senhoras.

Esta foi dedicada à firma Kodak que foi a pioneira da fotografia, que tem ramificações em todo o mundo, empregando cerca de 75.000 pessoas de todas as raças e nacionalidades.

As suas ramificações estendem-se desde os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Norte de África, Alemanha, Austrália e Nova Zelândia, pois é nestes países que a Kodak tem as suas fábricas, e tendo casas suas em todos os restantes países, para distribuir os seus produtos por todo o mundo.

Para encerrar a segunda Palestra sobre Fotografia, foi passado um filme sobre a Kodak demonstrativo de uma actividade, que todos nós ignorávamos em parte.

 

Vista Geral nocturna da cidade de Penafiel

A terceira e última Palestra decorreu no sábado, 14 de Julho de 1956, com o salão do Sindicato dos Caixeiros, totalmente cheio. Esta palestra foi baptizada por “Sol Engarrafado”, e como o próprio nome sugere, dizia respeito a fotografias nocturnas ou não, mas feitas com o precioso auxílio do flash que, indiscutivelmente se tornou em indispensável auxiliar do fotógrafo.

 

Foto nocturna do Santuário de N.S. da Piedade e Santos Passos

Durante as projecções verificou-se que o flash não só deve ser utilizado como fonte principal de luz, mas principalmente como luz modeladora. Com o auxílio de duas lâmpadas de flash, podem na verdade obter-se efeitos interessantes e até artísticos.

 

Praça Municipal à noite

 

Logo a seguir foram projectadas diversas transparências coloridas de Paris, e para terminar com chave de ouro, cerca de uma centena de transparências desta cidade, com a assinatura Antony.

No final, com toda a assistência de pé, Mestre Antony foi ovacionado com uma estrondosa salva de palmas.

 

Montra dedicada a D. António Ferreira Gomes

 

Antony não só se notabilizou na fotografia, como também na escrita colaborando com jornais como “O Comércio do Porto” onde publicou as célebres “Figuras Típicas”, “Diário de Lisboa” e República.

 

 

Montra em homenagem a Padre Américo

Por vezes a sua escrita não precisava de mencionar nomes de pessoas, ou certas situações locais ou nacionais, que nas entrelinhas todos percebíamos onde ele queria chegar.

 

Montra de protesto

Também tinha o Jornal de Montra, com escritos colocados nos vidros das mesmas, importunando por vezes o poder local. Estou-me a lembrar dos nascimentos dos filhos dos penafidelenses no Hospital de Paredes e que ficavam logo registados como paredenses à nascença, e outra quando a Rua do Paço foi encerrada ao trânsito. Ambas estas situações foram corrigidas, depois destes alertas de Antony.

 

 

Humberto Delgado colocando flores no Monumento aos Mortos da Grande Guerra

 

Politicamente era um grande apoiante de Humberto Delgado, e quanto à religião, amigo pessoal de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto e Padre Américo da Casa dos Gaiatos.

 

Belmiro Guimarães, Antony e Albano Morais

Pessoas como António Pereira Guimarães “O ANTONY”, podem não ser de muito do agrado de qualquer poder instituído, mas que fazem falta em qualquer parte do mundo… disso não tenho dúvidas.

 

Fernando Oliveira – Furriel de Junho