10 março 2010

METER ÁGUA – ONTEM E HOJE EM PENAFIEL

METER ÁGUA – ONTEM E HOJE EM PENAFIEL

Ainda este chão não se chamava Penafiel, mas era baptizado de Vila Arrifana de Sousa, os seus habitantes contestavam o modo como se estava a processar o fornecimento de água através dos três fontanários situados respectivamente no Largo da Senhora da Ajuda, na Praça Municipal, e de um outro junto à Igreja Matriz

Assim, os corregedores da comarca, tiveram que elaborar um regime de funcionamento dos chafarizes, marcando não só a quantidade de água que competiria a cada um, como o horário do seu funcionamento.

Depois, com o tsunami do progresso que varreu esta terra, apenas o que mora junto à Igreja Matriz resistiu ao tempo.

Nesses tempos, o que conferia importância ao Largo da Ajuda, era o fontanário, apesar de lá haver uma igreja.

O fontanário tratava da sede e dos asseios do corpo e a igreja se encarregava das carências do espírito. A maior parte das casas de habitação e comércio não dispunham de água canalizada, e nessas condições a água viajava de balde, de cântaro, pela mão, à cabeça de quem dela carecia.


À Igreja ia-se ou não, como hoje.

O fontanário perdeu a importância e utilidade e talvez por isso no seu lugar foi colocado um chafariz que de tão envergonhado, teima em não funcionar apenas servindo de bebedouro aos pombos que por ali esvoaçam.

Em vez dos ameixoeiros que existiam no Largo da Ajuda, existem hoje nos seus lugares carros de várias marcas e cores. Os pilares de pedra pertencentes à escadaria da igreja onde saltávamos ao eixo quando jovens, foram levados para o jardim do Sameiro, onde permanecem uns de pé e outros deitados.

Nas noites de Verão, muito boa música passa pelo Largo da Ajuda, no entanto, de uns tempos a esta parte, gente que nunca aqui brincou ou cresceu, apareceu com uma cantilena Rap apelidando o Largo de Zona Histórica, e como se auto intitulam de vanguardistas ainda lhe acrescentam por excelência.

Talvez, por estas e por outras cismas é que esta zona definha a olhos vistos, entrando no comboio de alta velocidade da desertificação, não fugindo à regra das zonas históricas criadas por este país fora.

Como presunção e água benta, cada um toma a que quer, que Deus lhes perdoe, porque eu já não tenho mais pachorra para os ouvir.

Por várias e diferentes razões, é caso para dizer: Ontem como hoje, Penafiel continua a meter água.