30 novembro 2018

A PRAÇA DE TOUROS DE PENAFIEL

A PRAÇA DE TOUROS DE PENAFIEL



A Empreza da Praça de Touros de Penafiel, Lda., foi constituída por escritura no mês de Fevereiro de 1930, no cartório do notário José da Silva de Carvalho, nesta cidade de Penafiel.

Empreza da Praça de Touros de Penafiel, Lda

Para os devidos efeitos, se torna público que, por escritura de 4 de Fevereiro do corrente ano, nas notas do cartório do notário desta comarca, José da Silva Carvalho, foi constituída entre Dona Hermínia Guedes Malheiro Figueiredo, Dona Alzira Maldonado Matos Cordeiro, José Aires Gomes e Ângelo Beça, uma sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, nos termos dos artigos seguintes:

1.º

Esta sociedade adopta a denominação de de Empreza da Praça de Touros de Penafiel, Lda, tendo a sua sede nesta cidade de Penafiel e seu escritório na Praça Municipal N.º 12 e 14 provisoriamente.

2.º

O seu objectivo é a construção e exploração de uma praça, nesta cidade, para corridas de touros e outros diversões.

3.º

A sua duração é por tempo indeterminado e, para todos os efeitos, o seu começo se contará de hoje.

4.º

O capital social é de 60.000$00 escudos, e sendo a quota de cada um dos sócios de 15.000$00, já integralmente pagos, o que, para todos os efeitos legais, expressamente declaram e poderá, o mesmo capital ser aumentado por deliberação por deliberação unânime dos sócios.

5.º

A cessão de quotas fica dependente do consentimento da sociedade, à qual se reserva, contudo, direito de preferência,

6.º

A sociedade será representada em juízo e fora dele, activa e passivamente, pelos seus quatro sócios, que todos ficam sendo gerentes, sendo necessário para a sociedade ficar obrigada que os respectivos documentos sejam assinados em nome dela, por todos os sócios.

7.º

Os balanços fechar-se-ão em 31 de Dezembro de cada ano social, digo ano.

8.º

Dos lucros líquidos apurados em cada balanço, separar-se-á primeiro a percentagem de dez por cento para fundo de reserva, e o restante será dividido pelos sócios na proporção das suas respectivas quotas.

9.º

A caixa fica a cargo do sócio Dona Hermínia Guedes Malheiro Figueiredo.

10.º

Em todo o omisso regularão as disposições da Lei de 11 de Abril de 1901, e mais legislação aplicável.

Penafiel, 10 de Fevereiro de 1930
O notário
José da Silva Carvalho

A Praça de Touros foi construída em madeira nos terrenos onde hoje se encontra o Centro Escolar de Penafiel, na Rua Abílio Miranda.

A sua planta, saiu das mãos do desenhador sr. Domingos Vilela e comportava cerca de 6.000 lugares, servindo também para espectáculos equestres, cinematográficos e combates de boxe.

Depois da papelada tratada para a sua legalização, a empresa não perde tempo para iniciar a construção da Praça de Touros e torna público no dia 11 de Fevereiro, que até ás 14 horas do dia 19 de Fevereiro de 1930, recebe propostas em carta fechada para a arrematação da empreitada da praça.

A planta e o caderno de encargos encontram-se patentes, desde o dia 16 de Fevereiro, no seu escritório à Praça Municipal, 12 e 14.

Depois de concluída a terraplanagem do terreno destinado à Praça de Touros, no dia 3 de Março de 1930, dá-se início à sua construção, a cargo do mestre de obras sr. Francisco de Sousa de Penafiel.



Dentro do cartaz das Festas do Corpo de Deus, do ano de 1930, no dia 19 de Junho com a praça completamente cheia, dá-se início à tourada inaugural com o seguinte cartel:



Cavaleiros – José Casimiro e seus filhos Manoel e José.



Bandarilheiros – Agostinho Coelho, Francisco Gonçalves, Rafael Gonçalves, António Dias, Júlio Procópio e o espanhol Jerónimo Pla Flores.

Grupo de forcados – Edmundo Oliveira de Santarém.

Os touros foram fornecidos pelo conhecido e considerado criador Moreira Neves de Santarém.



A esta primeira corrida de touros assistiram para além das autoridades civis e militares locais, também marcaram presença o Governador Civil do Porto, o Comandante da 1.ª Região Militar, os excelentíssimos ministros do Interior, António Lopes Mateus, da Justiça, Luís Maria Lopes da Fonseca, do Comércio, João Antunes Guimarães e da Agricultura, Henrique Linhares de Lima, que vieram a Penafiel inaugurar diferentes melhoramentos levados a cabo pela Câmara de Penafiel.

No Norte do país, as touradas não têm grande implantação, e estes espectáculos acarretam grandes despesas, pelo que a Empreza de Touros de Penafiel, Lda., não fugiu à sua sentença de morte, sendo a Praça de Touros vendida no dia 17 de Novembro de 1935.

A Empreza encerrou as suas portas em Julho do ano seguinte.

Empreza de Touros de Penafiel, Lda

Para os devidos efeitos se publica que, por escritura lavrada hoje nas notas do notário dr. Joaquim Peixoto, desta cidade, foi dissolvida, por mútuo acordo dos sócios, a Sociedade por quotas, que sobre aquela firma Empreza de Touros de Penafiel, Lda, girava e tinha a sua sede nesta cidade.

Penafiel, 18 de Julho de 1936

O ajudante do notário dr. Joaquim Peixoto
António de Freitas Cardoso


Aqui fica um pouco da vida efémera da Praça de Touros de Penafiel.


Ao contrário do Manuel da Praça da Canção, que agora deu-lhe para defender a Praça de Touros, a única “Tourada” de que eu gosto, é aquela cantada por Fernando Tordo e escrita por José Carlos Ary dos Santos, e que venceu o Festival da Canção de 1973, tendo feito uma “chicuelina” à censura.

Afinal de contas, ontem como hoje, “toureamos ombro a ombro as feras”, como dizia a canção.


16 novembro 2018

FOTO COM HISTÓRIA

VIOLEIRO NO S. MARTINHO
FOTO COM HISTÓRIA



Esta foto foi tirada à tenda do violeiro Domingos Machado, na Feira de S. Martinho de 1962, em frente à Assembleia Penafidelense.

Domingos Machado nasceu em Aveleda, concelho de Braga, a 7 de Abril de 1936.




O artesão Domingos Martins Machado aprendeu na oficina de seu pai (Domingos Manuel Machado) a arte de fabricar instrumentos. Na época do seu pai o forte dos instrumentos fabricados eram cavaquinhos e as violas braguesas. A obra efectuada era vendida nas feiras. As guitarras e os bandolins era raro fazerem-se , mas as casas comerciais preferiam estes instrumentos. Naquela altura, havia muita concorrência, os Machado tinham por isso que fazer mais obra para a vender a um preço mais acessível. Um cavaquinho custava cerca de dezoito escudos.

Foi considerado o melhor artesão aqui no Norte a executar violas campaniças, beiroas, toeiras, braguesa, Amarantinas com os dois corações, cavaquinhos e muitos outros instrumentos.

Os seus trabalhos ganharam fama e tornaram-se conhecido a nível nacional e internacional.



Muitas dos seus instrumentos são adquiridos por diversos coleccionadores nacionais e internacionais; para músicos profissionais como Júlio Pereira, Janita Salomé , Ana Faria, José Mário Branco, Pedro Barroso, vários grupos de musica popular procuram-no , como, por exemplo : Cantares do Minho, Maio Moço, Terra Brava (Santarém), Erva Doce (Loulé), etc.
Tunas académicas, salientando as de Braga, Aveiro, Vila Nova de Famalicão , Viana do Castelo, Vila Real e Faro.
Tem também inúmeras encomendas para orquestras típicas, nomeadamente, " o cancioneiro de Águeda", (escalabitana), de Santarém, a de Águeda, de Alcanena, de Rio Maior, Castelo Branco (Albicastrense), de Mira D'Aire e de Vila Nova de Ourém.



George Harrison, um dos ex-Beatles, adquiriu uma viola feita por Mestre Machado.


Pela oficina passaram personalidades nacionais e internacionais reconhecidas no mundo da música, como Amália Rodrigues, Oliver Serrano, Donovan, António Chainho e Rão Kyao.

Cedeu a Oliver Serrano, primeiro produtor dos Beatles, alguns instrumentos da sua colecção (em 20-10-1990). Como agradecimento , o seu nome sai em dois Cds, com a seguinte dedicatória: "Very special thanks to Domingos Martins Machado".




O Museu de Cordofones Domingos Machado, fica situado na Av. António Gomes Pereira, nº. 13 Tebosa – Braga, e foi inaugurado em Setembro de 1995.


É um museu privado, fruto do trabalho e dedicação do seu proprietário, Domingos Martins Machado, reputado artesão violeiro que, a expensas próprias e sem qualquer ajuda, quer oficial quer particular, o edificou e recheou com a mais completa colecção de cordofones portugueses, que ele próprio construiu.


Se um dia o pensar visitar aqui ficam algumas informações que lhe são úteis:

Horário:
De 2ª a Sábado das 09h00 às 12h00 / das 14h00 às 19h00

Preço:
Entrada Gratuita
Marcação prévia para grupos



Contacto: - 253 673 855





Esta foto aparece publicada no livro Instrumentos Musicais Portugueses do Etnólogo, Doutor Ernesto Veiga de Oliveira e num pequeno livrete extraído desse mesmo livro que acompanha o LP Cavaquinho de Júlio Pereira.

Para mim esta foto não é mais uma de S. Martinhos passados, mas trata-se de uma fotografia que faz parte da vida de Domingos Machado, um Homem que edificou e recheou com o seu trabalho o seu próprio museu, coisa rara se não única neste país.

10 novembro 2018

CONCERTAÇÃO SOCIAL LOCAL

CONCERTAÇÃO SOCIAL LOCAL

NO ANO DE 1939



Muito se tem falado e escrito sobre o dia de S. Martinho ser o feriado concelhio de Penafiel.



Devido à grande feira anual de S. Martinho que se realiza na cidade de Penafiel de 10 a 20 de Novembro, todos os estabelecimentos abrem as suas portas, ficando assim os trabalhadores dos mesmos impossibilitados de terem direito ao descanso neste dia de feriado.


Mas só a partir de 9 de Outubro de 1969, é que foi instituído o dia 11 de Novembro como feriado Municipal do Concelho de Penafiel.



Embora anteriormente a esta data não fosse feriado o dia de S. Martinho, havia geralmente entre os dias 10 e 20 de Novembro dois domingos que os trabalhadores teriam que ser compensados. 

 


Por causa disso nada mais natural, que a Secção de Penafiel do Sindicato dos Empregados do Comércio, se sentasse à mesa das negociações com a Associação Comercial e Industrial de Penafiel, para acertarem as devidas compensações aos empregados do comércio local que trabalhassem nesses dias de domingo.





O que eu vou relatar sobre as ditas negociações, passou-se no ano de 1939, pelo que, apenas estavam em causa as compensações respeitantes aos domingos dos dias 12 e 19 de Novembro, em que os empregados tinham que trabalhar, já que o dia 11 ainda não era considerado feriado.





COMUNICADO



O Sindicato Nacional dos Empregados no Comércio do Distrito do Porto (Secção de Penafiel), leva ao conhecimento de todos os excelentíssimos Associados que, por acordo entre a Associação Comercial e Industrial de Penafiel, e este Sindicato Nacional, com a superior autorização do Instituto Nacional do Trabalho, foi resolvido que nos próximos dias 25 de Dezembro do ano corrente (Dia de Natal), e 1 de Janeiro do próximo ano (Dia de Ano Novo), seja rigorosamente observado o encerramento de todos os estabelecimentos comerciais e industriais desta cidade de Penafiel, em compensação dos dias 12 e 19 do mês em decurso, dias em que se encontram abertos por motivos da feira anual de S. Martinho.



Mais se faz saber que a referida alteração foi proposta pela Direcção deste Sindicato e tem como objectivo o desejo de não lesar os interesses dos excelentíssimos comerciantes, com o encerramento dos estabelecimentos em dias inconvenientes.



Penafiel, 8 de Novembro de 1939



Quero lembrar que em 1939, já o Dia de Natal e Ano Novo faziam parte da lista dos feriados nacionais.



Não sei se houve negociação ou imposição, mas de certeza que foi tudo acertado... “A Bem do Patrão”.

01 novembro 2018

.LICEU MUNICIPAL DE PENAFIEL

LICEU MUNICIPAL DE PENAFIEL



Em 1932, o Estado Novo, publica no Diário do Governo n.º 234/1932, de 6 de Outubro de 1932, o Decreto n.º 21:706, publicando as normas para a criação de liceus municipais, e respectivos procedentes pedido e justificação bastante por parte da câmara municipal directamente interessada.



As forças vivas da cidade de Penafiel, a começarem pelo Presidente da Câmara, Arrochela Lobo se comportaram mais como forças mortas, deixando fugir esta oportunidade, já que a mesma seria benéfica não só para o concelho de Penafiel, como para os concelhos vizinhos de Lousada e Paredes e até de outros mais distantes como Marco de Canaveses, Amarante, Felgueiras e Paços de Ferreira.




Penafiel dada a sua categoria de cidade e população escolar, bem necessidade tinha de um estabelecimento de ensino secundário desta natureza, onde as classes populares pudessem instruir-se e educar o espírito.

Infelizmente os interesses corporativos falaram mais alto, e saíram a terreiro Cipriano Barbosa e o dr. Avelino Soares, ambos professores em defesa do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, onde leccionavam. 
 



Acontece que este excelente estabelecimento de ensino, não estava ao alcance da maior parte das bolsas dos penafidelenses, e para termos a noção disso, basta ver o anúncio onde se pode ler quanto custava nos anos 30 frequentar o Colégio de Nossa Senhora do Carmo.


Dr. Avelino Soares


Avelino Soares justificava desta forma que se segue, a não abertura de um Liceu Municipal em Penafiel:



1.º – É lamentável que os articulistas da campanha “pró-liceu” (levada a cabo em todos os jornais locais, O Clarim; O Tempo; O Penafidelense e o Povo de Penafiel), ao terem de votar ao sacrifício o velho Colégio de Nossa Senhora do Carmo.



2.º – Que não viriam muitos mais alunos de fora estudar para Penafiel.



3.º – Que o liceu vem beneficiar as famílias pobres tornando mais acessível à educação é outro erro.



4.º – Com efeito ses se trata de crianças sem jeito nem vocação, para os estudos, metê-las num liceu, é arruinar-lhes o futuro, transformando a matéria-prima de um excelente artista, fácil de colocar, num semi-letrado, que às portas das repartições públicas de gravata impecável, com mangas de alpaca e porventura monóculo ao dependuro à espera indefinidamente a côdea de um emprego limpo que nunca chega.



5.º – Ao contrário se se trata de crianças pobres, mas aptas para os estudos, essas crianças, que nem tantas são, têm já, e de há muito, ensino inteiramente gratuito, pois a Câmara paga bolsas de estudo. (Inteiramente grátis uma ova, já que a Câmara apenas pagava metade do valor da propina).



6.º – Que o Colégio de Nossa Senhora do Carmo tinha sido reformado, tendo a sua direcção gasto tanto dinheiro.




E foi com este “Sentir Penafiel” de antigamente em que apenas os ricos tinham direito ao ensino, enquanto os filhos dos operários deviam continuar a sê-lo, que se perdeu esta oportunidade de Penafiel ter um Liceu Municipal no ano de 1932.




Apenas no ano lectivo de 1972 / 73, nasceu o Liceu Nacional de Penafiel, deixando de ser uma Secção Liceal do Liceu Nacional Alexandre Herculano do Porto.



Infelizmente, o Liceu Nacional de Penafiel teve vida curta, já que foi extinto através do Decreto-Lei n.º 80/78, de 27 de Abril, com efeitos a 1 de Outubro de 1978.




O que podia ter sido uma realidade em 1932, devido a certas mentalidades da época, apenas apareceu 40 anos depois, ou seja no ano de 1972, funcionando no edifício do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, actualmente adaptado a Museu Municipal de Penafiel.