01 dezembro 2023

COISAS DO NATAL

OU TALVEZ NÃO




Como estamos em Dezembro lembrei-me de trazer ao meu blogue “Penafiel Terra Nossa, coisas mais ou menos ligadas ao Natal ou talvez não, do século passado.

Vou começar por falar de uma espécie de peditório que aparecia na cidade de Penafiel nos anos 50 para auxiliar os mais pobres.


O Farrapeiro





Mais ou menos a meio do mês de Dezembro, as Conferência Vicentina desta cidade de Penafiel, em colaboração com a Comissão Municipal de Assistência promoviam o cortejo do Farrapeiro de S. Vicente de Paulo.


No ano de 1954, esse cortejo teve lugar no dia 17 de Dezembro. Pelas nove horas e meia, apareceu no alto da cidade uma furgoneta com instalação sonora montada pela firma Electo Bazar Penafidelense de Fernando Baptista, logo seguido de uma camioneta cedida pela firma Albano & Miguel rodeada de vicentinos com suas braçadeiras. Quero deixar aqui bem claro que tanto a instalação sonora como a camioneta eram cedidas gratuitamente.


E lá percorriam as ruas da cidade na recolha de bens e donativos para distribuírem pelos mais desfavorecidos.


O Presépio




O que dantes era feito pelo meu Pai-Natal, hoje cabe-me a mim ir buscar a caixa de papelão com as figuras de barro para colocar no presépio. Para além da Sagrada Família, lá estão os músicos, as casinhas, os três Reis Magos, o anjo. o pastor com as suas ovelhas, o moinho, etc.


Nesse tempo. a Igreja da Misericórdia era a que tinha o melhor presépio.


Padre Augusto Cardoso de Barros "O Sr. Reitor"


Na missa das onze rezada pelo Sr. Reitor sempre repleta de crentes, que no final iam beijar o Menino Jesus que o padre Augusto Cardoso de Barros segurava nas mãos e o ia dando a beijar a todos.

Enquanto isso, o grupo coral ia entoando:


Vinde, vinde já ó almas

adorar o Deus Menino

Despido de amor profano

E cheio de amor divino.


Vinde, vereis na lapinha

Sobre palhas encostado

Aquele Deus nas alturas

Por nosso amor humanado.


Vinde já, vinde com pressa

Há lapinha de Belém

P’ra ver como Deus Menino

Nasceu para nosso bem.


Oh! Quem se não admira

De ver tão grande humildade

Vir unir-se ao nosso barro

A Divina majestade.


Lançai-me meu Deus Menino

A vossa bênção sagrada

E peço-vos que a minh’alma

Seja só vossa morada.


Entre cada quadra entoávamos o refrão:


Corramos depressa

Nós míseros mortais

Cantar ao Menino

Bendito sejais.




O Bolo-Rei




Este bolo tão típico do Natal, que naquele tempo apenas aparecia nesta quadra, hoje em qualquer confeitaria ou padaria o fabrica durante todo o ano, talvez para fazer jus aos versos de Ary dos Santos que dizem que:

Natal é em Dezembro

mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

é quando um homem quiser


Por isso foi um bolo que deixou de ter aquele encanto natalício. Nos longínquos anos 50 ninguém concebia tal iguaria na cidade de Penafiel, e apenas duas marcas de bolo-rei se podiam adquirir na urbe. Uma era o Bolo-Rei da confeitaria Costa Moreira, vindo do Porto e era vendido na mercearia Pedro e o outro vindo de Valongo da casa Paupério que se comercializava no Café Capri.


Este bolo continha no seu interior um brinde que a quem saísse a fatia com o mesmo ficava contente e uma fava que a quem tivesse o azar de a ter, era penalizado com o pagamento do próximo Bolo-Rei, que neste caso seria para a passagem do ano.


Só por curiosidade, a quando da implantação da República, a Paupério baptizou por alguns anos o Bolo-Rei de Bolo Presidente, com medo que os republicanos não gostassem do nome do produto e não o comprassem.




Talvez muitos penafidelenses não saibam que em 1933, na Av. Sacadura Cabral existia a Padaria Lino que fabricava todas as qualidades de pão, bolachas, biscoitos, tostas e sêmea, sendo seu proprietário Lino de Sousa Paupério, que encerra as suas portas em 1934 e ruma até Valongo (onde hoje o seu nome faz parte da toponímia), para se juntar ao projecto familiar Paupério.


Devido à sua simpatia, honestidade, qualidades de carácter e coração, granjeou um leque de amigos penafidelenses, que resolveram-no presentear com um jantar de despedida no sábado, 28 de Julho de 1934, na Pensão Morais.


Iniciou os brindes o sr. José Ferreira Viana Júnior, seguindo-se-lhe o sr. Belmiro Nogueira Xavier, Rodrigo Veiga, Carlos Alves, Domingos Vilela, Albano Borges, Gaspar Moreira Dias e Alves Monteiro. Por fim em nome da Comissão organizadora desta festa que era constituída pelos srs. Armando Barbosa, Serafim Machado e Miguel Campos que falou em nome da organização deste jantar, pondo em destaque as qualidades do homenageado, esposa e filhos, agradecendo a comparência de todos os presentes (cerca de 60 pessoas). Por último, profundamente comovido agradeceu Lino Paupério, que a todos envolveu em um grande abraço de despedida.


Adeus até ao meu regresso




Nos anos 60, com o começo da Guerra Colonial, em que quase todas as famílias portuguesas tiveram filhos a combater em África. A RTP, única emissora de televisão existente em Portugal, enviava os seus reportares para Angola, Moçambique e Guiné, registando no final de cada ano as Mensagens de Natal dos militares portugueses para os seus familiares e amigos, expressando os emocionados desejos de um Feliz Natal e um Bom Ano Novo.


Assim as famílias dos combatentes na metrópole coladas â televisão (coisa que ainda não existia nas Províncias Ultramarinas), esperavam ansiosamente que aparecesse alguém conhecido ou o próprio familiar no pequeno ecrã.


Estas mensagens terminavam com a célebre frase: “Adeus até ao meu regresso” desejo esse por vezes incumprido dum regresso à Metrópole vivo e salvo.


Foram tempos de guerra que felizmente já terminaram e não deixam saudades a ninguém.


Depois destas lembranças natalícias do século passado, não podia terminar este meu texto, sem desejar a todos quantos por aqui passam...




Fernando Oliveira – Furriel de Junho