UM BISPO DESCONHECIDO
UM
BISPO DESCONHECIDO
Se
Milhundos foi o berço de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto,
e Bustelo de D. Manuel Luís Coelho da Silva, Bispo de Coimbra,
também Marecos se pode gabar de ser a terra onde nasceu Frei D.
António de São Dionísio, 11.º Bispo de Cabo Verde, que em virtude
de ser pouco badalado, é por isso um desconhecido da maioria dos
penafidelenses.
Igreja de Santo André em Marecos |
Frei
D. António de São Dionísio, filho de Manuel Fernandes Loureiro e
de Beatriz de Sousa, nasceu em Marecos no dia 26 de Outubro de 1613,
sendo baptizado na Igreja paroquial de Santo André em Marecos no dia
28 do mesmo mês e ano, sendo seus padrinhos Gonçalo Dinis e Inês
Gonçalves.
Professou
na Ordem de S. Francisco, recebendo com muita devoção o habito no
Convento do Porto, das mãos de Frei João de S. Bernardino.
Franciscano
e mestre de Teologia na Universidade de Coimbra, onde estudou e
leccionou durante 18 anos as matérias Teologia e Jurisprudência,
tendo sido também vigário e confessor no Mosteiro de Santa Clara de
Coimbra.
Em
1668, foi eleito bispo de S. Tomé de Meliapor na Índia, mas não
foi confirmado pela cúria.
Papa Clemente X |
Pela
Bula Hodie Ecclesiae, de 2 de Dezembro de 1675, o Papa Clemente X
confirma-o na mitra de Cabo Verde, tendo chegado a Santiago no dia 24
de Junho de 1676, acompanhado de vários frades franciscanos da
província do Algarve.
Antes
conseguira de El Rei alguns alvarás destinados a melhorar os fracos
proventos do bispado.
O
seu governo foi perturbado por constantes dissensões com as
autoridades civis, militares e eclesiásticas, porquanto entendeu
moralizar a administração e coibir numerosos abusos.
Sé de Santiago - Cabo Verde |
Visitou
pessoalmente a ilha do Fogo em 1676 e excomungou o capitão-mor que
não fazia caso algum da bula da Ceia e vendia armas aos gentios dos
Rios de Guiné, além de ter incorrido em incesto e rapto de donzela;
este oficial rebelou-se publicamente contra o bispo que nem sequer
chegou a conseguir que fosse sentenciado pelos tribunais seculares.
É um dos
primeiros bispos à escala insular, tendo mandado prover párocos nas
ilhas do Maio, Boa Vista, S. Nicolau e Santo Antão, além de ter
enviado guisamentos para as respectivas igrejas tirados das de
Santiago.
Ordenou que os
fiéis das ilhas do Barlavento concorressem para pagar as côngruas
dos vigários e obteve resposta favorável das ilhas do Maio, Boa
Vista e S. Nicolau.
Recebeu em sua
casa clérigos originários dessas ilhas aos quais providenciou
ensino com vista à ordenação sacerdotal. Considerava que só os
padres naturais de cada ilha podiam assegurar nas mesmas a
assistência espiritual, dado que não conseguiam atrair clérigos de
fora, mormente de Santiago, onde o clero se concentrava.
Conforme era
«estilo» na terra, o bispo esteve para ser eleito governador
interino por morte do governador João Cardoso Pizarro em Agosto de
1676, que o indicara informalmente para lhe suceder. A câmara
comprou os votos e saiu vencedora. O bispo recusou a interinidade por
não ter ordem régia expressa nesse sentido e por considerar que o
governo de Cabo Verde não era conforme à condição eclesiástica,
sendo correntes as ilegalidades.
CARTA do bispo de Cabo Verde, frei D. António de São Dionísio, ao príncipe ao príncipe regente [D. Pedro] sobre considerar ilegal e uma heresia, conforme a Bula da Ceia do Senhor, a venda de cavalos que se fazia aos ingleses na ilha do Fogo, o que se observava também em todas as ilhas do Barlavento; denunciando os procedimentos do antigo capitão e sargento-mor, Cristóvão de Gouveia de Miranda, do interesse que manifestou naquele negócio enquanto exerceu naquela capitania; e acerca da venda de espingardas, alfanges e outras armas aos gentios dos rios da Guiné e o perigo que esta acção representava para as conquistas do Reino.
O bispo
denunciou que o governo interino da câmara e do ouvidor Francisco
Pereira era largamente conivente com o contrabando. Cerca de 1676-77
terá ocorrido uma das habituais situações de fome que o bispo
considera como um castigo para os muitos «roubos e latrocínios»
que ocorriam; tentou junto da câmara acudir à situação
propondo-se armar à sua custa um navio para os Rios de Guiné para
importar milho, mas a municipalidade ignorou o seu pedido. D. Fr.
Cristóvão, como era habitual, também se tornou malquisto do
cabido, acusando vários cónegos de roubarem bens e paramentos da sé
e outras igrejas de Santiago, tendo submetido vários deles à
justiça eclesiástica, de que resultou a prisão de um eclesiástico
e o degredo de outro para fora de Santiago.
Vários
cónegos, sobretudo os que estavam ausentes em Lisboa tentaram
difamar o bispo na corte.
Em
2 de Junho de 1677 reclamava ele junto de El Rei contra o anárquico
governo do Ouvidor e da Câmara, citando a rapinagem de que eram
objecto os haveres dos que demandavam as ilhas.
CARTA do bispo de Cabo Verde, frei D. António de São Dionísio ao rei [D. Pedro II] dando conta da difamação de que é alvo por parte do deão da sé de Santiago e do padre Estevão Freire; informando sobre o novo governador, Inácio da França Barbosa, do ouvidor geral, Luís Rodrigues Belo e levantando suspeições sobre as patacas adquiridas pelo ex- governador, Manuel da Costa Pessoa; advertindo do estado de degradação da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, na vila de [S. Filipe], ilha do Fogo; queixando-se da sua situação, do que tem feito para as ilhas e os dinheiros que tem despendido na oferta de cálices às igrejas das ilhas Maio e Boavista, furtados por um corsário inglês, e nas obras da igreja de Cacheu; informando acerca da devassa tirada ao vigário da ilha do Fogo sobre quem pede medidas punitivas; comunicando sobre o antigo capitão e sargento-mor da ilha do Fogo, Cristóvão de Gouveia [e Miranda], da sua atitude, após sindicância feita pelo ouvidor geral, Francisco Pereira; da chegada de Cacheu do mestre João Gomes e da morte das peças mandadas buscar àquela povoação; da perda geral que teve a ilha de Santiago com aquelas importações bem como o governador Inácio de França Barbosa, o antigo governador Manuel da Costa Pessoa e as pessoas envolvidas nos fretes; e sobre o regresso à Corte do prefeito das missões da Serra Leoa das ilhas de Cabo Verde, frei António de Truzillo.
Destes
factos resultava a ruína e a miséria dos povos, porque os crimes e
roubos constantes afastavam os navios estrangeiros que ali vinham
comerciar.
Pastor
cuidadoso das suas ovelhas, quis obstar e reprimir a grande
desmoralização que reinava na diocese, acudir ás desordens do
clero e chamar de novo ao seio da Igreja os que dela andavam há
muito afastados, reformar os costumes de muitas mil almas que viviam
sem amor, ou temor a Deus, nem lembrança do fim para que foram
criadas.
Proveu
as igrejas de alfaias, nomeou párocos para elas, encheu-as de fiéis.
Visitou demoradamente a sua jurisdição, baptizando gentios,
convertendo pecadores, moralizando os costumes.
Naturalmente
contra ele se ergueram os clamores indignados dos que se julgavam
prejudicados ou feridos pelas suas determinações.
A primeira
igreja portuguesa erigida na costa ocidental africana, é o Santuário
de Nossa Senhora da Natividade de Cacheu, considerado a primeira
Igreja da Guiné-Bissau, e foi construído pelo antigo Governador de
Cacheu, Honório Barreto, em 8 de Setembro de 1590.
Em 1680 ruiu,
devido a uma inundação do Rio Cacheu, sendo mandada reconstruir
pouco depois pelo Bispo de Cabo Verde, D. António de São Dionísio.
Frei D. António
de São Dionísio, 11.º Bispo de Cabo Verde, faleceu a 13 de
Setembro de 1684.
Infelizmente
não consegui uma foto deste nosso conterrâneo, mas pelo menos
ficamos a saber, que Marecos, também se pode orgulhar de ter um dos seus filhos
Bispo, na hierarquia da Igreja Católica.
A todos quanto
por aqui passam, desejo uma Santa e Feliz Páscoa!
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