UMA SEITA MUSICAL
UMA
SEITA MUSICAL
.
Nos
anos vinte do século passado, nasceu em Penafiel a “Seita dos
Pelintras”.
Não
sei a que propósito surgiu este nome já que alguns membros que
cheguei a conhecer, nada tinham de pelintras, nem pertenciam a
qualquer seita de malfeitores ou religiosa.
Embora
o nome seja bizarro, o que é certo e sabido é que se tratava de um
conjunto musical.
Este
grupo possuía uma bandeira extravagante, encimada por um bacio de
quarto (vulgarmente conhecido por penico), e dele fizeram parte:
- João Pinto Matos
- Boaventura Bessa
- Joaquim Pinheiro
- Tomaz da Rocha Quintas
- Joaquim Ferreira
- Luís da Rocha Quintas
- Laurindo Nunes Pereira
- José Guedes Taveira de Morais
- Joaquim da Cunha Ferreira
- António Ferraz de Menezes
- José Vieira Novo
- José Marques Babo
- José M. Lopes de Carvalho
- João Tavares da Silva
Neste
época ainda não havia futebol na terra e estes jovens passavam o
seu tempo a aprender música em diversos instrumentos, quantas vezes
à luz da candeia, dado que a electricidade constituía um luxo para
quem a utilizava.
Guitarras, bandolins, violas, cavaquinhos, bombos, ferrinhos, pandeiretas e
demais instrumentos apropriados não faltavam neste típico conjunto
de Penafiel que deliciava o público com o seu extenso reportório
nas noites de S. João e S. Pedro entre outras.
Festa
ou folguedo onde actuasse a Seita dos Pelintras já se sabia que era
sinónimo de enchente.
Em
tempos que já lá vão, na Rua Alfredo Pereira um festejo a S. João,
promovido pelo comerciante Virgílio Queiroz, e tendo sido convidada
a Seita dos Pelintras para ali actuar, isso foi o bastante para as
outras cascatas da cidade ficarem ás moscas, a ponto de o
organizador de uma delas ter ido pedir à direcção da Seita para o
conjunto ir até lá, quando não as muitas prendas que tinham no
bazar acabariam por não ser leiloadas por falta de compradores.
Mas
enganem-se os que pensam que esta Seita dos Pelintras, era apenas
para consumo caseiro.
No
dia 8 de Julho de 1923, a Seita dos Pelintras deslocou-se à Vila de
Amarante (hoje cidade), tendo introduzido no seu reportório duas
novas canções as quais passo a transcrever as letras das mesma:
Saudação
a Amarante
Oh!
nobre e linda Amarante
De
tão velhas tradições
Ouve
o brado anti-sonante
Destes
ternos corações!
Ouve,
princesa do rio,
Que
de prata é todo feito,
O
coro dum rapazio
Que
por ti tem muito respeito.
Ouve,
sim, os nossos hinos
Cheios
de amor e beleza
E
com teus gestos divinos
Junta-nos
na mesma mesa
Um
laço bendito e santo
De
fraternal amizade
Apregoa
o nosso canto
Que
não tem outra vaidade
Oh!
bela e linda Amarante
Nós,
os filhos de Arrifana
Neste
dia delirante
Por
ti bradamos; Hossana!
Ás
Damas Amarantinas
Oh!
ninfas amarantinas
Donzelas,
cândidas, puras,
Que
nas águas cristalinas
Afogais
mil amarguras.
Aceitai
as saudações
Desta
alegre mocidade
Que
vos traz nos corações
Muita
e sincera amizade
Recolhei
nos vossos peitos,
Quais
filhos em doces lares,
Nossos
carinhos só feitos
Dos
vossos ternos olhares
E
após a nossa partida,
Que
de vós connosco vá,
Uma
saudade nascida
Da
nossa vinda por cá.
E
nos vossos corações,
Nunca
deixeis de pedir,
Que
Deus dê muitos galões
De
galinhas a fugir.
Que
o vosso rio, ao passá-lo,
Nos
não leve um só Pelintra,
E
que o vosso S. Gonçalo,
Vos
case em antes dos trinta.
E
assim ficamos a conhecer a Seita dos Pelintras, que por cá andou
antes de nós a alegrar as noites de farra com as suas músicas, e
talvez muitos musicólogos cá da terra desconheçam.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home