A CABINE DE SOM
A
CABINE DE SOM
Ao fundo ainda são visíveis os altifalantes junto à cabine de som |
Ao
mesmo tempo que o o Estádio Municipal de Penafiel ia ficando pronto,
era construída em cimento armado, num recanto do mesmo pela
Electrificadora Penafidelense a cabine de som.
A
Electrificadora Penafidelense, era uma casa comercial situada na Av.
Sacadura Cabral N.º 145, onde hoje se encontra a Electro Vinhas
dedicada ao ramo eléctrico e venda de electrodomésticos.
Através
dos seus altifalantes, não só transmitia música, antes ao
intervalo e no final dos jogos, como anunciava a constituição das
três equipas em campo.
O
primeiro jogo que o Futebol Clube de Penafiel realizou no seu campo,
foi no dia 21 de Outubro de 1951, contra a equipa vizinha do Atlético
Clube de Vila Meã, a contar para o Campeonato Regional da 3.ª
Divisão, série C, o qual venceu por cinco bolas a três, embora ao intervalo
o resultado fosse desfavorável aos penafidelenses por 1-2.
Antes
do início deste desafio, ao microfone da Cabine de Som foi
transmitido através dos seus altifalantes o seguinte discurso:
Desportistas
Penafidelenses!
Senhoras
e Senhores!
Há
cerca de três anos que Penafiel se deixou cair em longa e
arreliadora penumbra desportiva.
Inúmeros
erros, de entre os quais se devem salientar uma estúpida rivalidade,
e a desmedida ambição de subir de categoria, ditaram a morte do
deporto penafidelense.
Mas,
senhoras e senhores, a morte purifica e, após um interregno de três
longos anos, eis que ressuscitamos, cheios de vitalidade, e na firma
disposição de não cairmos nos mesmos erros do passado.
Porque
se o desejo de subir de categoria é legítimo, quando para a sua
obtenção não são ultrapassados os limites do razoável, a
conquista de títulos, porém não passa afinal, de mero acidente,
porquanto o desporto, quando bem compreendido, não visa a outra
coisa que não seja o desenvolvimento físico do praticante e a
simultânea formação moral que a luta digna e cavalheiresca de
certo modo proporciona.
E
a assistência, sem abafar a voz do coração, porque reduzi-la à
impotência seria quebrar a mola que acciona todos os
empreendimentos, não pode contudo, deixar de apreciar o espectáculo
desportivo sem o mínimo de luz intelectual, a fim de obstar a que se
verifiquem cenas desagradáveis, mais próprias de selvagens do que
de seres civilizados.
Se,
porventura, houver alguém que sinta forças capazes de amarfanhar as
suas desordenadas manifestações, como por exemplo, insultar
árbitros e jogadores, impedindo, com tão baixo procedimento, que o
juiz de campo possa actuar sem coação e os atletas se sintam à
vontade para jogarem o que sabem, porque, sem ambiente propício, não
há árbitros imparciais nem jogadores que produzam o seu melhor,
então é melhor ficarem em casa.
Perca-se
o mau costume de, a propósito de uma carga desleal um fora de jogo
ou qualquer outro atropelo às leis regulamentadas se gritar: Sr.
Árbitro! Um grito destes é feio, é deselegante, e denota falta de
educação.
Siga-se
com serenidade o desenrolar da partida, com a certeza de que, só
assim, se contribuirá para um melhor trabalho de juiz de campo.
Quantas
e quantas vezes é o desconhecimento das leis de jogo que provoca as
mais disparatadas afirmações.
Proceda-se,
sempre, de acordo com a boa ética desportiva, a fim de que
interdições de campo e outros castigos não venham a cair sobre o
nosso grupo, devido a “zelos” sem justificação.
Desportistas
Penafidelenses!
Como
vêem, o ressurgimento desportivo é um facto, mercê da confiança
que uma boa centena de penafidelenses depositou na Comissão
Organizadora do F. C. de Penafiel e dois esforços da nossa Câmara,
a quem a citada comissão aproveita para, publicamente, endereçar o
seu profundo reconhecimento, reconhecimento que se estende a Sua
Excelência o Sr. Major Arrochela Lobo, pois só os bons ofícios da
nossa Cãmara não teriam sido suficientes, mercê portanto, da
cooperação de todos os factores enunciados é que foi possível
chegar-se a este ponto.
Para
demonstrarmos que merecemos estas benesses, criemos desde já o
hábito de velar pela conservação deste formoso recinto, não
consentindo que ninguém salte do peão abaixo, que qualquer rapaz se
agarre aos eucaliptos, enfim, que se estrague o que tanta canseira
tem dado.
E
agora, simpáticos e valorosos desportistas de Vila Meã, que
julgamos vos sentir honrados e satisfeitos por vos ter caído em
sorte sedes os primeiros a pisar o terreno deste formoso e lindo
Parque de Jogos.
Para
vós, pois vão as nossas palavras de carinho e amizade, com o desejo
de que as relações desportivas, agora encetadas, se desenvolvam e
frutifiquem no melhor sentido.
- Viva o Desporto!
- Viva a nossa Câmara!
- Viva Sua Excelência o Major Arrochela Lobo!
- Viva Penafiel!
Hoje,
é indiscutível que o desporto progrediu muito tecnologicamente e
cientificamente, mas deixou de ser uma convivência salutar e passou
a ter um clima de violência, mais por parte dos adeptos do que pelos
jogadores, que apesar de tudo que os rodeia, ainda mantêm a chama da
ética desportiva acesa.
Como
foi referido no discurso, quem não se sabe comportar o que faria
melhor era ficar em casa, do que vir para um recinto desportivo
gritar coisas como estas: “Deixa-a morrer! Deixa-a morrer!”,
quando uma atleta se lesiona e uma outra, por sinal médica da equipa
contrária a vai socorrer, ou aquele grito canibalista do “Até os
comemos” e aquela cantilena do “Ai quem me dera que o avião da
Chapecoense fosse do Benfica”, ilustram bem o ódio que há
entranhado em certos corações, onde apenas havia de existir paixão
clubística, e não confundir adversários com inimigos, como se de
uma guerra se tratasse entre “tribos”.
É
preciso a todo o custo por termo a esta onda de violência entre
adeptos que assola o desporto nacional, pois já basta de mortes
ocorridas dentro e fora dos estádios, e doa a quem doer, a F.P.F. e
a Liga de Clubes, algo têm que fazer.
E
pronto, é este o meu pensar, que nada vale a não ser uma simples
opinião sobre a violência no desporto.
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