A OFERTA DO VITELO
A
OFERTA DO VITELO
A
festa do carneirinho, teve o seu início no ano de 1880, quando os
alunos da Escola do Sr. Henrique de Carvalho, situada na Rua Cimo de
Vila (hoje Rua Alfredo Pereira), resolveram oferecer um carneiro ao
seu professor.
Todos
sabemos que só as famílias mais endinheiradas tinham posses para
colocarem os seus filhos a estudarem no Colégio de Nossa Senhora do
Carmo em Penafiel.
Assim,
quatro anos depois, na quarta-feira, 11 de Junho de 1884, véspera do
Corpo de Deus, enquanto uns ofereciam um carneiro, os alunos do
Colégio do Carmo, não estiveram com meias medidas, e ofereceram aos
seus professores um vitelo todo enfeitado, ao digno director daquele
estabelecimento de ensino, o reverendo sr. Padre José da Silva
Botelho.
Os
alunos formaram na Rua Cimo de Vila (hoje Alfredo Pereira), em duas
extensas alas e seguiram pelas ruas: Largo da Ajuda, Rua Nova (hoje
Joaquim Cotta), Praça Municipal, Rua Formosa (hoje Av. Sacadura
Cabral), Praça da Alegria (hoje rua Conde Ferreira), Rua do Bom
Retiro, Sacramento, Direita e Rua do Paço, onde se achava instalado
o Colégio do Carmo (hoje Museu Municipal).
Durante
todo o percurso, fizeram-se acompanhar por duas bandas de musica, a
de Maureles e a de Vila Boa de Quires, tocando ambas na cerimónia da
oferta.
O
palacete onde estava instalado o Colégio do Carmo (hoje Museu),
estava elegantemente decorado pelos alunos com plantas, arbustos e
galhardetes.
Chegados
ali, o aluno Miguel Pinto de Queiroz, subiu a um estrado previamente
levantado em frente ao Colégio do Carmo e recitou a seguinte poesia:
Renovando
antiga usança
Desde
há muito esquecida
Vimos
hoje praticá-la
Com
nossa alma agradecida
Nestes
dias, nesta terra
Faz
a prática mui bela
Estudantes
oferecerem
A
seus mestres uma vitela
Nesse
tempo não havia
Em
estudantes o progresso
D'outra
cousas ali próprias
Se
ocupavam com sucesso
Mas
nós jovens também somos
Do
progresso, e o queremos
Mas
do bem de ensinos rectos
São
ideias que nós temos
De
bom grado recebei,
Senhor
padre director
Nosso
preito e homenagem
Que
rendemos com fervor.
Eia
pois oh condiscípulos!
Levantemos
jubilosos
Com
alegria entusiasmo
Nossos
vivas calorosos
E
agora, em despedida
Recebei
as saudações
Director
e professores
Destes
jovens corações.
A
esta cerimónia, assistiram os membros da comissão do Colégio
alguns dos quais pronunciaram algumas palavras exaltando a ideia
sugerida no ânimo dos alunos, que era uma prova de respeito e
gratidão para com os seus professores.
Pelo
rev. sr. José da Silva Botelho, director do Colégio do Carmo foi
pronunciado um breve discurso agradecendo aos alunos aquela prova de
afecto. No mesmo sentido falaram também os talentosos professores
srs. Padre Germano dos Santos Rodrigues e Narciso Vicente Lopes de
Souza.
À
noite deste mesmo dia, pelas 21horas, realizou-se neste
estabelecimento de ensino desta cidade, um excelente sarau literário
musical promovido por uma comissão de alunos, para comemorar o
resultado extremamente elogioso obtido nos exames de admissão aos
liceus a que foram submetidos 23 dos seus alunos.
O
sarau começou com a recitação de uma poesia pelo aluno Octávio de
Campos Monteiro.
Depois
interpoladamente foram recitadas poesias pelos seguintes alunos:
Aurélio
da Cunha Rola Pereira
Vasco
Teixeira de Araújo Queiroz
António
Adolfo Ribeiro de Aguiar
Guilherme
Xavier Leão
Alberto
de Araújo Cotta
Firmino
Ribeiro Gomes
Também
recitaram poesias os sr. António Júlio de Souza Campos e Gaspar
Loureiro Paul, de Guimarães.
O
ex.mo sr. Padre Germano dos Santos Rodrigues proferiu um brilhante e
substancioso discurso, alusivo a esta simpática festa escolar, em
que pondo em relevo o benéfico influxo que a instrução exerce
sobre as sociedades, incitou ao estudo os alunos daquele
estabelecimento científico- literário.
Nos
intervalos uma boa orquestra composta pelos professores de música do
Colégio, por alunos dos mesmos e pelo amador sr. Freitas Guimarães,
executou diversas peças musicais entre elas um hino que foi composto
e lhes foi oferecido pelo seu professor sr. José do Nascimento
Cardoso. belíssimas peças musicais.
Ao
piano estiveram as ex.mas senhoras D. Camilla Carneiro e a talentosa
menina D. Rita de Araújo Cotta.
A
este sarau assistiu tudo que havia de mais selecto e nobre na
sociedade penafidelense, tais como: a aristocracia, a autoridade
administrativa, comandante dos bombeiros, representantes da imprensa
local, etc.
Cerca
das duas horas da madrugada, terminou esta festa de instrução e
progresso, tendo o reverendíssimo Padre Germano dos Santos
Rodrigues, pronunciando um pequeno mas elegante discurso, agradecendo
a todas as senhoras e cavalheiros que se encontravam presentes a
honra de ali comparecerem, levantando entusiásticos vivas ao sr.
Administrador do Concelho, Comandante dos Bombeiros Voluntários de
Penafiel, e redactores de “O Commercio de Penafiel” e de “O
Penafidelense”, vivas que foram correspondidos por todas as pessoas
presentes.
O
sr. Dr. Telles de Menezes, redactor do jornal “O Commercio de
Penafiel”, agradeceu numa breve alocução, aquela prova de
consideração e respeito por uma tão nobre instituição – a
Imprensa.
O
sr. Villaça, redactor do Penafidelense agradeceu também.
O
sr. Simão Júlio de Almeida, em nome da corporação que tão
dignamente comanda, dirigiu palavras de louvor por ver realizada uma
festa de todo o ponto simpática, e agradeceu o viva que lhe fora
dirigido, fazendo a apologia da festa, louvando os seus promotores, o
professorado do Colégio, e os explendidos resultados com que via
coroados os seus esforços e os beneméritos cavalheiros que formam a
comissão fundadora e protectora de um estabelecimento de instrução,
que tão notável se está tornando no país e que honra sobremaneira
esta terra.
Assim
terminou no dia em que foi oferecido um vitelo aos professores do
Colégio do Carmo, este certame literário-musical, que a todos
deixou as mais gratas recordações.
A
moda do vitelo não pegou, pelo que na véspera do Corpo de Deus, a
oferta do carneirinho continua a ser a tradição.
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