01 outubro 2023

OS BAIRROS DOS POBRES



Muito se tem falado do problema que é a habitação. Apesar de figurar na Constituição o direito à mesma, o que é sabido é que nem todos os portugueses usufruem dela.


A classe média que sonhou um dia ter a sua casa, e fez empréstimos à banca, hoje apesar de muitas engenharias económicas no seu rendimento mensal, não consegue suportar as constantes subidas dos juros, estando a um passo de ficar sem casa e sem dinheiro.


Os pobres de ontem como os de hoje dormem nas ruas cobertos com papelão e tendo como tecto as estrelas do céu, enquanto esperam que apareça algum anjo na vida deles que lhes resolva a situação.



No antigamente ainda se iam construindo os bairros dos pobres que ainda hoje existem e são o lar de muita boa gente.


Neste texto vou falar de dois destes bairros, um que se inaugurou nos anos 50 e outro nos anos 60 do século passado.





O primeiro é pertença da Conferência de S. Vicente de Paulo de Penafiel, e fica situado no lugar do Cedro, sendo formado por três blocos habitacionais.


Os obreiros do início da realização do Bairro dos Pobres ou de S. Vicente de Paulo foram: O Padre Alcino Gonçalves de Azevedo (que ainda vai benzer o 1.º bloco de casas, antes de ir para a Sé do Porto), Frederico Nobre da Veiga Corte Real, Capitão José Rodrigues dos Santos, Tenente Agostinho Alves, Dr. Manuel Guimarães, D. Rita Silva Carvalho, D. Otília Mendes Leal, D. Dila Viana e Silva, D. Natércia Vasconcelos Peixoto, D. Maria Alice Moura de Carvalho, D. Aurora Pais Neto e mercê de múltiplos esforços de uns e graças ás abençoadas algibeiras de outros que as primeiras casas de pedra e cal deram à luz no Bairro do Pobres de Penafiel.




No dia 4 de Junho de 1958, enquanto os alunos das escolas primárias levavam o carneirinho aos seus professores, no lugar do Cedro na cidade de Penafiel, pelas 11 horas, eram inaugurados dois novos blocos de casas para os pobres protegidos pela Conferência de S. Vicente de Paulo desta cidade.


Ao acto, assistiram o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que benzeu as casas, o Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Dr. Francisco da Silva Mendes, Albano Ferreira de Almeida, pároco de Penafiel, e Alcino Gonçalves de Azevedo, pároco da Sé do Porto, ambos enaltecendo aquela obra do mais alto significado social e humanitário.


Bairro dos Pobres de Entre-os-Rios


O outro Bairro dos Pobres é o que nasceu em Entre-os-Rios, e foi inaugurado no domingo, dia 10 de Agosto de 1969.




Antes da missa campal junto ás casinhas do bairro, o padre da freguesia benzeu os quadros para a entronização (com a imagem do Sagrado Coração de Jesus), como sinal de que Cristo é bem vindo a este lar, de que Ele é membro da família.




O celebrante foi o reverente Padre Carlos Galamba do Gaiato, que durante a alocução lamentou ali a falta do Padre Eugénio por não poder assistir àquela festa. Escusado será dizer que os pobrezinhos moradores do bairro, assistiram à santa missa e comungaram com toda a devoção.





A fanfarra dos Bombeiros de Entre os Rios, abrilhantaram a festa com a sua guarda de honra no momento mais solene da missa.




No final da missa foi em procissão o Padre Carlos Galamba levar os quadros das imagens às casas dos pobres ficando eles radiantes de alegria.


Foguetes estoiraram nos ares, a fanfarra fez-se ouvir festivamente dando fim à festa religiosa.




Foi um dia incalculável alegria para a família Amorim que ali se encontrava, vendo os pobrezinhos da sua terra natal protegidos e abrigados nas 9 moradias do Bairro feitas a expensas suas.




Seguiu-se o almoço oferecido por esta Família Amorim, aos pobrezinhos do Bairro que se mostravam gratos, tendo tomado parte algumas pessoas das suas relações, o Padre Carlos Galamba, Dr. Carvalho Mendes. Dr. Manuel Alves e o Presidente da Junta, e no final proferiram algumas palavras o Padre Galamba e a senhora Margarida Amorim.


D. Maria Teresa e as primas Amorim ao seu lado


Talvez muitos penafidelenses não saibam mas graças à bondade e caridade desta Família Amorim, começou o sonho da construção da Sagrada Família em Penafiel, já que, D. Margarida Pinto Lopes de Amorim, D. Maria do Carmo Pinto Lopes de Amorim e D. Laurinda Pinto Lopes de Amorim, residentes na Rua de Entre-os-Rios na freguesia de Eja, adquiriram duas moradias na Rua Direita em Penafiel a Abílio de Queirós Magalhães e Meneses, no dia 10 de Dezembro de 1942, tendo-as oferecido à prima D. Maria Teresa Pereira da Silva Correia de Vasconcelos, para esta dar corpo à prestimosa iniciativa da construção da Casa da Sagrada Família em Penafiel.





Só como mera curiosidade aqui fica o Relatório das Contas da Casa da Sagrada Família do ano de 1946.

 


 

E pronto, não sei se a família Amorim tem alguma rua com o seu nome na freguesia da Eja, nem sei se tem alguma sala em sua homenagem na Casa da Sagrada Família, mas sei que os corações destes “anjos” na terra, eram um poço de virtudes e caridade.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho