AFONSO COSTA EM PENAFIEL
AFONSO
COSTA EM PENAFIEL
Já
se começam a ouvir os motores das máquinas partidárias, para
percorrer o país nesta maratona eleitoral que se aproxima.
Já
estou vacinado para não acreditar nas suas promessas eleitorais, de
termos bacalhau a pataco e o céu na Terra, para nos conquistarem o
voto.
Sempre
que há eleições, para além de tudo isso, os penafidelenses ainda
têm como “prato do dia” a IC35, que em vez de se transformar
numa reivindicação sentida por todos, tornou-se em arremesso
político partidário, este ano até com direito a uma manifestação
“espontânea”, como se a gente nascesse ontem e acreditasse
naquela encenação, com direito a cartazes e cruzes plantadas na EN
106.
Mas
nem sempre foi assim.
Tempos
houveram que cada partido tinham a sua ideologia, debatiam os seus
ideais, e a política era uma acção nobre. Infelizmente nos tempos
que correm tudo isto é a excepção, e a maioria serve-se em vez de
servir o país.
Hoje
vou falar da vinda a Penafiel de um grande estadista e chefe do
Partido Republicano Português, de seu nome Afonso Augusto da Costa,
mais conhecido por Dr. Afonso Costa.
Assim,
na quinta-feira, de 6 de Maio de 1915, Afonso Costa foi alvo de uma
ovação sincera a quando da sua chegada a Penafiel, por parte dos
seus amigos e correlegionários deste concelho, demonstrando que a
sua orientação política ia conquistando novas simpatias e a sua fé
republicana conferindo crescentes demonstrações de regozijo.
Das
dez horas em diante várias pessoas começaram a afluir ao Centro
Democrático, situado na Praça Municipal, vendo-se também, nas suas
proximidades, diversos agrupamentos. Uma banda de música estacionada
defronte do edifício, aguardando a sua vinda. Seriam pouco mais de
doze horas, quando o eminente parlamentar Dr. Afonso Costa, chegou a
esta cidade, acompanhado dos seguintes senhores:
Dr.
António Tudela, seu secretário particular, Dr. Souza Júnior,
ex-ministro da Instrução Pública, Dr. Pereira Osório, Dr. Leão
de Meireles, senador, José Lelo, antigo governador civil, Elísio de
Melo, vereador da câmara, Francisco Luiz Peixoto, membro da Junta
Geral do Distrito, Francisco António Borges, da casa bancária
Borges & Irmão, Manoel Pinto de Azevedo, Manoel Valente, Manoel
Neto de Freitas e Vasconcelos, António Costa, Dr. Alberto Cruz,
Ernesto Canavarro e António Augusto de Almeida.
Ao
aproximar-se da sede do Centro, o entusiasmo parecia tocar as raias
do delírio e o contentamento fazia insuflar, com mais força, no
espírito de todos os circunstantes, aquele ardor, aquela crença
inabalável, aquela firmeza de princípios que servem de pedestal
indestrutível ao Partido Republicano Português.
Os
vivas contínuos, as saudações constantes a Sua Excelência,
perdiam-se no meio de uma agitação febril, duma ânsia
extraordinária.
Deixando
o automóvel e, depois de haver cumprimentado os seus amigos, entrou
no Centro Democrático que estava repleto de gente e onde o Sr, Dr.
Joaquim Peixoto num breve, mas eloquente e patriótico discurso, lhe
apresentou em nome do Centro Democrático os cumprimentos mais
afetuosos e os agradecimentos mais sinceros pela sua estimada e
valorosa visita.
Depois
de nova aclamação toma a palavra o Sr. Dr. Afonso Costa. Afirma
naquela linguagem cativante e ao mesmo tempo sublime que não podia
deixar, embora precipitadamente, de abraçar os seus correligionários
de Penafiel, nesta hora tão amarga para a República.
Folgo
imenso em ver a solidariedade que os estreita, a fé que os arrebata,
a esperança que os anima.
Referindo-se,
depois, com verdadeiros rasgos demosténicos, ás próximas eleições
manifesta o propósito reconhecido, a ideia vingadora de que está
possuído o ditador Pimenta de Castro para, nessa ocasião e com
decretos anti-constitucionais, ferir o seu partido, diminuir a sua
força. Alargando-se em várias considerações relativas ao
sufrágio, acentua a necessidade de todos os republicanos, irem à
urna. Mais do que nunca é, agora, indispensável o cumprimento desse
dever. O seu discurso, de que, apenas, foi por várias vezes,
interrompido com apoiados, obtendo no final uma aclamação
estrondosa.
Hotel Avenida onde hoje funciona o Banco Millenium |
Em
seguida dirigiu-se o Sr. Dr. Afonso Costa para o Hotel Avenida, em
companhia de grande número de partidários, que lhe ofereceram um
magnífico e variado almoço a que assistiram, além das pessoas que
acompanhavam o ilustre estadista, muitas outras desta cidade e
concelho. Quando entrou na sala o capitão médico, Sr. Dr. António
Guedes Pereira, foi-lhe feita uma manifestação imponente.
Levantou,
em primeiro lugar, a sua taça de champanhe o nosso bom amigo Sr. Dr.
Joaquim Cotta, espraiando-se por largo tempo e com todo o brilho
literário, em observações categóricas com argumentos seguros
sobre a vitalidade do Partido Democrático, conseguindo mostrar,
claramente, que a vida desse partido é a vida da República, é a
alavanca poderosa, o sustentáculo prodigioso das nossas
instituições. Termina, saudando o Sr. Dr. Afonso Costa e pedindo a
todos os seus amigos que, com o seu brinde terminassem todas as
saudações, em virtude de Sua Excelência se não poder demorar.
Grandes aplausos.
O
Dr. Afonso Costa agradece as referências feitas à sua pessoa e
passa, depois, a falar sobre a guerra europeia, frisando o nosso
dever a cumprir para com a Inglaterra.
Exalta,
com buriladas frases, o patriotismo da Bélgica e as ideias liberais
da França. Condena asperamente o procedimento deste governo,
asseverando ser germanofilo e, por conseguinte, admirador dessa nação
odiada por quase toda a raça latina, a Alemanha.
Conclui
agradecendo todas as demonstrações de simpatia que acabaria de
receber.
Em
triunfo, no meio das mais vivas aclamações, despediu-se do povo de
Penafiel, seguindo para o vizinho concelho de Lousada.
Afonso Costa assina a Lei da Separação do Estado das Igrejas. |
Foi
um político muito activo e polémico, e como tal, amado por uns e
odiado por outros, sendo de realçar entre outras coisas, o esforço
empreendido por Afonso Costa pela laicização do Estado durante a
Primeira República, dando origem à aprovação da Lei da Separação
do Estado das Igrejas, aprovado por decreto em 20 de Abril de 1911.
Como resposta, a Santa Sé corta relações diplomáticas com
Portugal.
Também
representou o governo português na
Assinatura da Paz na Sala dos Espelhos, Versalhes, no dia 28 de Junho
de 1919. Afonso Costa
é um dos políticos retratados (de pé, segundo à esquerda).
Se
por uns era apoiado, por outros era odiado, e dois
penafidelenses tomaram-se de razões, não se ficando pela retórica,
mas acabando a mesma aos tiros. Aconteceu, que no dia 16 de Maio de
1915, cerca das 14 horas, o estimado republicano Sr. José Aires
Gomes, foi agredido com dois tiros de revolver por Américo Pinheiro
de Moraes, indivíduo que em Penafiel era tido e havido pelo que
vale.
O
agressor insultava os republicanos de Penafiel e provocou o agredido,
que, preparando-se para repelir os insultos recebidos, foi alvejado
pelo Moraes.
Tendo
José Aires Gomes, sido levado e assistido no hospital, verificou-se
que felizmente os ferimentos não foram de extrema gravidade, ao
mesmo tempo que o agressor Américo Moraes dava entrada na cadeia da
comarca.
Ainda
bem que não fez escola toda esta agressividade política, mas em
contra partida, está tão desacreditada, que muitos nem sequer gastam
as solas dos sapatos para depositarem o seu voto.
É
que ser enganado tantas vezes também cansa … Porra!