26 fevereiro 2019

AFONSO COSTA EM PENAFIEL

AFONSO COSTA EM PENAFIEL



Já se começam a ouvir os motores das máquinas partidárias, para percorrer o país nesta maratona eleitoral que se aproxima.

Já estou vacinado para não acreditar nas suas promessas eleitorais, de termos bacalhau a pataco e o céu na Terra, para nos conquistarem o voto.

Sempre que há eleições, para além de tudo isso, os penafidelenses ainda têm como “prato do dia” a IC35, que em vez de se transformar numa reivindicação sentida por todos, tornou-se em arremesso político partidário, este ano até com direito a uma manifestação “espontânea”, como se a gente nascesse ontem e acreditasse naquela encenação, com direito a cartazes e cruzes plantadas na EN 106.

Mas nem sempre foi assim.

Tempos houveram que cada partido tinham a sua ideologia, debatiam os seus ideais, e a política era uma acção nobre. Infelizmente nos tempos que correm tudo isto é a excepção, e a maioria serve-se em vez de servir o país.



Hoje vou falar da vinda a Penafiel de um grande estadista e chefe do Partido Republicano Português, de seu nome Afonso Augusto da Costa, mais conhecido por Dr. Afonso Costa.

Assim, na quinta-feira, de 6 de Maio de 1915, Afonso Costa foi alvo de uma ovação sincera a quando da sua chegada a Penafiel, por parte dos seus amigos e correlegionários deste concelho, demonstrando que a sua orientação política ia conquistando novas simpatias e a sua fé republicana conferindo crescentes demonstrações de regozijo.


Das dez horas em diante várias pessoas começaram a afluir ao Centro Democrático, situado na Praça Municipal, vendo-se também, nas suas proximidades, diversos agrupamentos. Uma banda de música estacionada defronte do edifício, aguardando a sua vinda. Seriam pouco mais de doze horas, quando o eminente parlamentar Dr. Afonso Costa, chegou a esta cidade, acompanhado dos seguintes senhores:

Dr. António Tudela, seu secretário particular, Dr. Souza Júnior, ex-ministro da Instrução Pública, Dr. Pereira Osório, Dr. Leão de Meireles, senador, José Lelo, antigo governador civil, Elísio de Melo, vereador da câmara, Francisco Luiz Peixoto, membro da Junta Geral do Distrito, Francisco António Borges, da casa bancária Borges & Irmão, Manoel Pinto de Azevedo, Manoel Valente, Manoel Neto de Freitas e Vasconcelos, António Costa, Dr. Alberto Cruz, Ernesto Canavarro e António Augusto de Almeida.

Ao aproximar-se da sede do Centro, o entusiasmo parecia tocar as raias do delírio e o contentamento fazia insuflar, com mais força, no espírito de todos os circunstantes, aquele ardor, aquela crença inabalável, aquela firmeza de princípios que servem de pedestal indestrutível ao Partido Republicano Português.

Os vivas contínuos, as saudações constantes a Sua Excelência, perdiam-se no meio de uma agitação febril, duma ânsia extraordinária.

Deixando o automóvel e, depois de haver cumprimentado os seus amigos, entrou no Centro Democrático que estava repleto de gente e onde o Sr, Dr. Joaquim Peixoto num breve, mas eloquente e patriótico discurso, lhe apresentou em nome do Centro Democrático os cumprimentos mais afetuosos e os agradecimentos mais sinceros pela sua estimada e valorosa visita. 

 
Depois de nova aclamação toma a palavra o Sr. Dr. Afonso Costa. Afirma naquela linguagem cativante e ao mesmo tempo sublime que não podia deixar, embora precipitadamente, de abraçar os seus correligionários de Penafiel, nesta hora tão amarga para a República.

Folgo imenso em ver a solidariedade que os estreita, a fé que os arrebata, a esperança que os anima.

Referindo-se, depois, com verdadeiros rasgos demosténicos, ás próximas eleições manifesta o propósito reconhecido, a ideia vingadora de que está possuído o ditador Pimenta de Castro para, nessa ocasião e com decretos anti-constitucionais, ferir o seu partido, diminuir a sua força. Alargando-se em várias considerações relativas ao sufrágio, acentua a necessidade de todos os republicanos, irem à urna. Mais do que nunca é, agora, indispensável o cumprimento desse dever. O seu discurso, de que, apenas, foi por várias vezes, interrompido com apoiados, obtendo no final uma aclamação estrondosa.

Hotel Avenida onde hoje funciona o Banco Millenium

Em seguida dirigiu-se o Sr. Dr. Afonso Costa para o Hotel Avenida, em companhia de grande número de partidários, que lhe ofereceram um magnífico e variado almoço a que assistiram, além das pessoas que acompanhavam o ilustre estadista, muitas outras desta cidade e concelho. Quando entrou na sala o capitão médico, Sr. Dr. António Guedes Pereira, foi-lhe feita uma manifestação imponente.

Levantou, em primeiro lugar, a sua taça de champanhe o nosso bom amigo Sr. Dr. Joaquim Cotta, espraiando-se por largo tempo e com todo o brilho literário, em observações categóricas com argumentos seguros sobre a vitalidade do Partido Democrático, conseguindo mostrar, claramente, que a vida desse partido é a vida da República, é a alavanca poderosa, o sustentáculo prodigioso das nossas instituições. Termina, saudando o Sr. Dr. Afonso Costa e pedindo a todos os seus amigos que, com o seu brinde terminassem todas as saudações, em virtude de Sua Excelência se não poder demorar. Grandes aplausos.

O Dr. Afonso Costa agradece as referências feitas à sua pessoa e passa, depois, a falar sobre a guerra europeia, frisando o nosso dever a cumprir para com a Inglaterra.

Exalta, com buriladas frases, o patriotismo da Bélgica e as ideias liberais da França. Condena asperamente o procedimento deste governo, asseverando ser germanofilo e, por conseguinte, admirador dessa nação odiada por quase toda a raça latina, a Alemanha.

Conclui agradecendo todas as demonstrações de simpatia que acabaria de receber.

Em triunfo, no meio das mais vivas aclamações, despediu-se do povo de Penafiel, seguindo para o vizinho concelho de Lousada.

Afonso Costa assina a Lei da Separação do Estado das Igrejas.

Foi um político muito activo e polémico, e como tal, amado por uns e odiado por outros, sendo de realçar entre outras coisas, o esforço empreendido por Afonso Costa pela laicização do Estado durante a Primeira República, dando origem à aprovação da Lei da Separação do Estado das Igrejas, aprovado por decreto em 20 de Abril de 1911. Como resposta, a Santa Sé corta relações diplomáticas com Portugal.


Também representou o governo português na Assinatura da Paz na Sala dos Espelhos, Versalhes, no dia 28 de Junho de 1919. Afonso Costa é um dos políticos retratados (de pé, segundo à esquerda).

Se por uns era apoiado, por outros era odiado, e dois penafidelenses tomaram-se de razões, não se ficando pela retórica, mas acabando a mesma aos tiros. Aconteceu, que no dia 16 de Maio de 1915, cerca das 14 horas, o estimado republicano Sr. José Aires Gomes, foi agredido com dois tiros de revolver por Américo Pinheiro de Moraes, indivíduo que em Penafiel era tido e havido pelo que vale.

O agressor insultava os republicanos de Penafiel e provocou o agredido, que, preparando-se para repelir os insultos recebidos, foi alvejado pelo Moraes.

Tendo José Aires Gomes, sido levado e assistido no hospital, verificou-se que felizmente os ferimentos não foram de extrema gravidade, ao mesmo tempo que o agressor Américo Moraes dava entrada na cadeia da comarca.

Ainda bem que não fez escola toda esta agressividade política, mas em contra partida, está tão desacreditada, que muitos nem sequer gastam as solas dos sapatos para depositarem o seu voto.


É que ser enganado tantas vezes também cansa … Porra!