01 fevereiro 2019

AINDA O BAILE DOS PRETOS

AINDA O BAILE DOS PRETOS

Na Rua do Paço em Penafiel


Este baile ou dança como lhe queiram chamar, foi trazido pelos portugueses que regressaram do Brasil, e trouxeram consigo resquícios da cultura brasileira, espalhando-a pelo país, fazendo deles involuntariamente, agentes culturais.

O Baile dos Pretos, que se sabe ter sido característica em Maceió, no estado de Alagoas, e em vários locais da Amazónia brasileira, nomeadamente em Manaus, é um desses exemplos.

Esta manifestação popular foi introduzida em vários pontos do país, como: Moncorvo; Carviçais; Arcozelo da Serra, na diocese da Guarda; Açores; Leomil; Cabaços no concelho de Moimenta da Beira e como não podia deixar de ser, em Penafiel, adaptando-a cada terra à sua maneira.


Os Pretos tentam impedir escalador de subir ao mastro


A manifestação etno-folclórica na Amazónia Brasileira, mais propriamente no Baixo Tapajós, região estudada por Emilie Stoll, era designada de “brincadeira dos pretos”.

Acontecia, e ainda acontece, bem cedo, por volta das 7 ou 8 horas do último dia da novena (um domingo), no processo designado de derrubada do mastro, encerrando as festividades religiosas de Nossa Senhora de Fátima.

Não foi por acaso que a data escolhida fosse 13 de Maio, dia de Nossa Senhora de Fátima, dia comemorativo da abolição da escravatura no Brasil.


Numa casa ao abrigo de olhares indiscretos, mulheres preparavam seis homens (quatro adultos e duas crianças) em seus trajes e maquilhagem de cena: vestiam-lhes uns trapos velhos e pintavam todas as partes visíveis dos seus corpos de preto. Prontos, os Pretos davam a imagem de uma família composta por três pares ou casais de faixas etárias diferentes (infância, adolescência e idade adulta). As três personagens femininas eram representadas por homens. O “pai” dos Pretos tinha duas ferramentas: um machado (para a derrubada final do mastro) e um instrumento de medida (pesos). A “mãe” exibia uma barriga grande de fim de gravidez. A “menina” carregava uma cestinha. Além desses acessórios, cada um dos Pretos estava armado de um galho encharcado de tinta preta, que se destinava à parte mais interativa do ritual: os Pretos perseguiam os espectadores tentando sujá-los. 

Ao som da música, os Pretos dirigiam-se então, em procissão, ao mastro, de maneira desajeitada (pernas bambas, arcadas, braços balançando), provocando a gargalhada dos moradores. Encenavam um terror visivelmente exagerado atirando-se ao chão como animais acuados. Atrás deles, os foliões que participavam na festa, não trajados, cantavam e tocavam. O ambiente que se pretendia, com sucesso, era o de balbúrdia e confusão.

Já perto da igreja, os Pretos tentavam acertar com o galho em quem se aproximava. A euforia eclodia no ar e os espectadores entravam no jogo carnavalesco de provocação. 
 

Entretanto, uma disputa acontecia. Um elemento do público tentava subir ao mastro, ao passo que os Pretos se posicionavam para o impedir de apanhar as frutas (em regra bananas e abacaxis). Ao conseguir apanhá-las lançava-as ao público entre muitas risadas. Enquanto isso, fora do centro das atenções, o “pai” dos Pretos embrenhava-se noutra cena. Deitado no chão, amarrava um barbante entre os dedos do pé, estendia a perna e na outra ponta do barbante, o peso pendia, esticando o barbante ao longo da sua perna. Fazia que tirava a medida.

Os espectadores pareciam muito absorvidos na distribuição das frutas do mastro mas conheciam bem a sequência do ritual, apercebendo-se que as cenas se realizavam simultaneamente. Sucedia-se depois o momento em que a “mãe” dos Pretos começava a ter as dores do parto. Deitada ao pé do mastro, encenava então o nascimento de um bebé, colocado posteriormente na cestinha da “menina”, que ficaria responsável por guardá-lo. 

 
Homens do público procurariam raptar o recém-nascido ou, noutras versões, raptar a própria “menina” com a cestinha. Nessa ocasião já as frutas tinham sido distribuídas e o rapaz tinha chegado ao topo do mastro lançando mão da garrafa de cachaça e da bandeira da santa.

Após descer derrubava-se o mastro. O juiz empunhava a bandeira e os mordomos davam golpes de machado ao mastro até o arriar. Estes cargos eram rotativos, e anualmente distribuídos nesta ocasião, no decurso do ritual. Cantava-se então, ao mesmo tempo que se varria o chão em torno do mastro. Já derrubado, o tronco era transportado pelos Pretos e juntamente pelo jovem que o escalara, até um barracão.


Em cima dele ia sentada a menina. Era então que acontecia a “dança dos Pretos”, também chamada “forró dos Pretos”. Os três casais de homens dançavam, diante dos outros moradores, balançando ao ritmo da melodia.

Toda esta teatralização do ritual, com riso, sátira, deboche, durava cerca de uma hora. A alegoria da fertilidade, a sátira burlesca da condição social e étnica dos pretos, e a encenação da relação de indiferença, cooperação e enfrentamento entre diferentes etnias, estava presente.


Já em Moncorvo a dança dos pretos era realizada no dia de Reis (ou véspera), e era composta por vários indivíduos de cara pintada de preto, e que andavam pelas ruas da vila, tocando e dançando, pedindo para o Deus Menino. Era a "dança dos pretos", que teve lugar pela última vez, em Moncorvo, no ano de 1935, conforme regista o Professor Santos Júnior, que a estudou e que, inclusivamente, a promoveu, em 1930. Por esta altura (anos 30), a dança já estava algo decadente, ou seja, não se realizava todos os anos.

É nossa convicção que originalmente devia ter sido executada mesmo por negros e que, depois, à falta destes, fossem sendo substituídos por brancos com a cara enfarruscada. Ora sabemos que, antes da independência do Brasil, houve bastantes negros que foram trazidos para Portugal, mesmo para terras tão remotas como Moncorvo, por funcionários da administração colonial, nobres ou ricos mercadores. Seria comum as casas ricas possuírem escravos ou criados africanos, que normalmente viriam por via do Brasil, tal como se mostrou num excelente documentário produzido pela RTP, com realização de Anabela de Saint-Maurice, em que se foca bem o caso de Moncorvo e da sua Dança dos Pretos. Esta dança era aqui promovida pela confraria de Senhora do Rosário, que, à semelhança do que se passava em Lisboa, Porto, Brasil ou Cabo Verde, e eventualmente em outras partes do império português, tinha por missão o enquadramento religioso dos "homens pretos".
Ainda quanto à "Dança dos Pretos" no nosso concelho, diz Santos Júnior (in
"Coreografia Popular Transmontana", obra publicada em parceria com o Padre Mourinho e editada pela Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, em 1980, págs. 18 e seguintes) que também se realizava em Carviçais, onde apurou que se tinha efectuado nos anos de 1881, 1896, 1909 e 1935. É de supor que a dança de Carviçais fosse já uma imitação da de Moncorvo, vila onde poderia radicar no séc. XVIII, época em tal dança (em geral) teria sido criada, pois como afirma Santos Júnior, a sua "coreografia enquadra-se nas danças de composição paralela ou de coluna, muito do gosto dos séculos XVII e XVIII, que proliferaram por toda a parte, principalmente nas confrarias de mesteirais..."

O facto de se realizar em Torre de Moncorvo, salienta o precoce carácter urbano da nossa vila, pois só uma estrutura económica e social diversificada (não exclusivamente rural), justificaria esta multi etnicidade, a que não é alheia a forte ligação que desde o séc. XVIII haveria com o Brasil e, certamente, com África, uma vez passado o ciclo do Oriente.

Interrogando-nos ainda sobre o porquê da realização da referida dança nesta data, julgamos poder encontrar justificação no facto de um dos reis magos ser negro - o S. Baltazar - além de os restantes serem cada qual de sua nação. Ou seja, não há data mais apropriada para salientar o ecumenismo da religião católica, em que todos os povos da Terra deveriam vir adorar o Menino-Deus nascido em Belém.

Aqui ficam algumas quadras da Dança dos Pretos de Moncorvo (recolhidas por Santos Júnior):


Boas novas moncorvenses
Dar a vós os preta (sic) vem;
Que nasceu o Redentor
que nasceu o Redentor.

Belém terra de Judá
Onde o Redentor nasceu
Sua Mãe imaculada
Que tormentos padeceu.

Eu não posso compreender
Que Jesus , tão santo e nobre,
Tivesse o seu nascimento
Num lugar assim tão pobre!





Dito isto, e para terminar que a conversa já vai longa, parece-me que se devia mudar a versalhada exibida pelo Baile dos Pretos em Penafiel, devido ao seu teor racista contido na mesma como: Trabalhai pretos cachorros e outros “mimos” que por lá são cantados, embora a sua dança seja muito bem conseguida, entrelaçando as fitas no mastro, construindo uma trança multi-colorida. 
 
Este baile é exibido em Penafiel, nas ruas da cidade no dia do Corpo de Deus.


Posto isto, e como o racismo anda aí na berlinda de novo, para rematar, só queria dizer o seguinte:

Agora que temos a Jamaica aqui tão perto, e teve que vir um africano feito qual “Vasco da Gama”, avençado pelos Betinhos da Esquina, dizer-nos que aqui havia racismo, como se isso fosse algo que já não se soubesse há muito tempo.

O que ele não sabe, é que nós sabemos, que no país dele não podemos chamar bosta à bófia, sem sofrermos danos colaterais.

Apesar de tudo, nós sabemos que eles gostam mais de viverem cá que nos países deles.

- Eles lá sabem porquê!... E nós também!