01 novembro 2018

.LICEU MUNICIPAL DE PENAFIEL

LICEU MUNICIPAL DE PENAFIEL



Em 1932, o Estado Novo, publica no Diário do Governo n.º 234/1932, de 6 de Outubro de 1932, o Decreto n.º 21:706, publicando as normas para a criação de liceus municipais, e respectivos procedentes pedido e justificação bastante por parte da câmara municipal directamente interessada.



As forças vivas da cidade de Penafiel, a começarem pelo Presidente da Câmara, Arrochela Lobo se comportaram mais como forças mortas, deixando fugir esta oportunidade, já que a mesma seria benéfica não só para o concelho de Penafiel, como para os concelhos vizinhos de Lousada e Paredes e até de outros mais distantes como Marco de Canaveses, Amarante, Felgueiras e Paços de Ferreira.




Penafiel dada a sua categoria de cidade e população escolar, bem necessidade tinha de um estabelecimento de ensino secundário desta natureza, onde as classes populares pudessem instruir-se e educar o espírito.

Infelizmente os interesses corporativos falaram mais alto, e saíram a terreiro Cipriano Barbosa e o dr. Avelino Soares, ambos professores em defesa do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, onde leccionavam. 
 



Acontece que este excelente estabelecimento de ensino, não estava ao alcance da maior parte das bolsas dos penafidelenses, e para termos a noção disso, basta ver o anúncio onde se pode ler quanto custava nos anos 30 frequentar o Colégio de Nossa Senhora do Carmo.


Dr. Avelino Soares


Avelino Soares justificava desta forma que se segue, a não abertura de um Liceu Municipal em Penafiel:



1.º – É lamentável que os articulistas da campanha “pró-liceu” (levada a cabo em todos os jornais locais, O Clarim; O Tempo; O Penafidelense e o Povo de Penafiel), ao terem de votar ao sacrifício o velho Colégio de Nossa Senhora do Carmo.



2.º – Que não viriam muitos mais alunos de fora estudar para Penafiel.



3.º – Que o liceu vem beneficiar as famílias pobres tornando mais acessível à educação é outro erro.



4.º – Com efeito ses se trata de crianças sem jeito nem vocação, para os estudos, metê-las num liceu, é arruinar-lhes o futuro, transformando a matéria-prima de um excelente artista, fácil de colocar, num semi-letrado, que às portas das repartições públicas de gravata impecável, com mangas de alpaca e porventura monóculo ao dependuro à espera indefinidamente a côdea de um emprego limpo que nunca chega.



5.º – Ao contrário se se trata de crianças pobres, mas aptas para os estudos, essas crianças, que nem tantas são, têm já, e de há muito, ensino inteiramente gratuito, pois a Câmara paga bolsas de estudo. (Inteiramente grátis uma ova, já que a Câmara apenas pagava metade do valor da propina).



6.º – Que o Colégio de Nossa Senhora do Carmo tinha sido reformado, tendo a sua direcção gasto tanto dinheiro.




E foi com este “Sentir Penafiel” de antigamente em que apenas os ricos tinham direito ao ensino, enquanto os filhos dos operários deviam continuar a sê-lo, que se perdeu esta oportunidade de Penafiel ter um Liceu Municipal no ano de 1932.




Apenas no ano lectivo de 1972 / 73, nasceu o Liceu Nacional de Penafiel, deixando de ser uma Secção Liceal do Liceu Nacional Alexandre Herculano do Porto.



Infelizmente, o Liceu Nacional de Penafiel teve vida curta, já que foi extinto através do Decreto-Lei n.º 80/78, de 27 de Abril, com efeitos a 1 de Outubro de 1978.




O que podia ter sido uma realidade em 1932, devido a certas mentalidades da época, apenas apareceu 40 anos depois, ou seja no ano de 1972, funcionando no edifício do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, actualmente adaptado a Museu Municipal de Penafiel.