O FRUTO PROIBIDO
(Conto)
Mal despontavam os primeiros dias frios de Novembro, na rua frente à nossa casa, aparecia o homem das castanhas. Trazia um carrinho e ia dando à manivela, para o lume despertar e chegar o calorzinho ao rabo do fogareiro. As castanhas, essas estalavam e tomavam aquela cor dourada e cinza que faziam o consolo dos nossos olhos, e nos aguçavam o apetite. Os fregueses e as freguesas lá iam aparecendo e levando entre mãos um cartucho feito em papel de jornal já lido a abarrotar de castanhas.
Certo dia, ao final da tarde o avô foi mercar meia dúzia de castanhas, as quais trouxe nas suas mãos papudas e roxas da má circulação até casa.
Já em casa repartiu a compra comigo, e com a avó.
- Toma lá rapaz!... Lembra-te que todo o homem que se preze deve ter duas castanhas. E ria-se, ria-se.
Aquela quentura dada pelas castanhas às mãos, provocaram-lhe uma maior fluidez de sangue na circulação, o que lhe dava uma sensação falsa de um rejuvenescimento de vinte anos.
- Ó mulher!... Hoje vou comer o fruto proibido.
- Toma mas é juízo homem.
Por fim, ambos se recolheram nos seus aposentos, donde só sairiam na manhã do dia seguinte.
Quando cheguei à cozinha para tomar o pequeno-almoço, já o avô tinha entre mãos uma malga com café a fumegar. Foi então que lhe perguntei:
- Ó avô! Sempre comeste o fruto proibido?
- Não meu netinho. Ainda não foi desta que consegui vencer, a força da gravidade.
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