DR. RODRIGO DE ABREU UM PENAFIDELENSE INJUSTAMENTE ESQUECIDO
DR. RODRIGO DE ABREU
UM PENAFIDELENSE
INJUSTAMENTE ESQUECIDO
Hoje vou falar do Dr. Rodrigo Teixeira Mendes de Abreu, um penafidelense injustamente esquecido, licenciado em Ciências Históricas Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, candidato a deputado pela oposição pelo Círculo do Porto em 1958, e principal articulador do programa da candidatura de Humberto Delgado.
Vivia na sua Quinta de Pussos em Penafiel onde comercializava o seu vinho de Puços, branco e tinto e a aguardente velha extraída no alambique da quinta.
Quando era criança e o meu pai me levava pela mão à bola ver o Penafiel jogar, mais precisamente na época de 1956/57, em que era Presidente do Clube o Dr. Rodrigo de Abreu e o F. C. de Penafiel sagrou-se campeão da II Divisão Distrital.
Na sua presidência também foram inauguradas as velhinhas bancadas em pedra no dia 9 de Junho de 1957 por Sua Excelência o Secretário de Estado da Educação Nacional Dr. Baltazar Rebelo de Sousa (pai do actual Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa).
Também é nesta época desportiva, que pela primeira vez os Rubro Negros têm no seu plantel um jogador estrangeiro, ou seja, o guarda redes espanhol Manuel Rial Caride mais conhecido por Manolo e no final dos jogos o Dr. Rodrigo de Abreu o transportava até ao seu país.
No ano seguinte 1958, o Dr. Abreu aparece envolvido na candidatura independente do General Humberto Delgado para a presidência da República.
Pertencente ao núcleo de democratas do Porto, vai no dia 4 de Janeiro de 1958, juntamente com o arquitecto Artur de Andrade encontrar-se com o General Humberto Delgado no seu gabinete da Aeronáutica Civil a fim de o convidar a ser candidato. Após o regresso ao Norte começaram a estabelecer contactos com pessoas cuja opinião era necessário conquistar. Domingo, 27 de Janeiro de 1958, numa reunião secreta em casa do Dr. Rodrigo de Abreu, Humberto Delgado é apresentado aos Candidatos Independentes.
A 19 de Abril de 1958, o processo de candidatura à Presidência da República de Humberto Delgado era entregue no Supremo Tribunal de Justiça assinado por 230 eleitores do Porto, e logo uma delegação, constituída por
Sebastião Ribeiro, Manuel Coelho dos Santos, Jaime Vilhena de Andrade, Artur Oliveira Valença, Artur Santos Silva e Rodrigo de Abreu, se deslocava a Lisboa para estabelecer com os adeptos lisboetas desta candidatura os planos da campanha eleitoral
Se nos dias de hoje há uma luta entre partidários para fazerem parte das listas em lugar elegível à procura de algum “tacho”, naqueles tempos era preciso muita coragem para dar a cara na luta pela democratização do país, contra o Salazarismo. Por isso, é que a candidatura independente do General Sem Medo, só apresenta listas para a Assembleia Nacional em cinco círculos eleitorais (Aveiro, Braga, Faro, Lisboa e Porto).
A campanha eleitoral no norte do país, começa a 14 de Maio de 1958, tendo o General Humberto Delgado vindo de Lisboa em comboio e desembarcado no Porto, na Estação de São Bento, e tem à sua espera uma multidão, calculada em mais de 100 mil pessoas para o aclamar, levando o general sem medo a proclamar a célebre frase " O meu coração ficará no Porto".
No dia seguinte 15 de Maio de 1958, que coincide com o 52º aniversário de Humberto Delgado, deslocou-se acompanhado do Dr. Rodrigo de Abreu a Paço de Sousa à Casa do Gaiato e visitado a campa do Padre Américo.
No final o cortejo com cerca de duas centena de carros seguiu em direcção à cidade de Penafiel. Quando este subia a Rua Tenente Valadim a escassos metros do cemitério municipal, uma força da Guarda Nacional Republicana proibiu a caravana automóvel de entrar na cidade passando somente os carros dos membros das comissões e o carro propriedade do Dr. Rodrigo de Abreu, onde seguia Humberto Delgado que estacionou junto à Câmara Municipal de Penafiel na Praça Municipal que estava cercada de guardas.
O resto da comitiva formou uma marcha pedestre que atravessou as Avenidas Egas Moniz, Sacadura Cabral entrando na Praça Municipal encabeçada pelo General Humberto Delgado, sendo bem visível nesta foto Rodrigo de Abreu de óculos escuros.
Como foi proibido de entrar no município, subiu para o tejadilho do seu carro e discursou. No final entoou-se o Hino Nacional e uma senhora ofereceu-lhe uma coroa de flores a qual o General foi depositá-la junto ao monumento aos mortos da Grande Guerra.
Nesse instante, fez-se silêncio, e um minuto depois irromperam as palmas da “liberdade”.
A recolha de fundos para a campanha sabe-se que Penafiel e Paredes contribuíram, conjuntamente, com o montante de 2350$00, valor angariado no dia em que o General visitou os dois concelhos, e foram entregues a Rodrigo de Abreu.
Vieram as eleições e a oposição apenas ganhou no Distrito do Porto em Vila Nova de Gaia, e em Penafiel somente na freguesia de Novelas.
Com a derrota eleitoral (fraudulenta) de Humberto Delgado, antes de ser preso pela PIDE e mandado para qualquer Tarrafal, o Dr Rodrigo de Abreu asilou-se na embaixada de Cuba de onde partiu para Havana e dali para o Brasil onde se conservou seis anos exilado.
Com a primavera Marcelista, que trouxe do exílio entre outros, o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, Mário Soares e o nosso conterrâneo Dr. Abreu que regressa a Portugal e à sua vida na Quinta de Pussos.
Rodrigo de Abreu que lutou pela liberdade neste país cinzento, fazendo ouvir a sua voz em tempos difíceis contra o fascismo, pagou caro tal ousadia.
Pelo que atrás foi descrito, penso que o Dr. Rodrigo de Abreu mereceria o seu nome nesta nova praça, lugar que ele calcorreou diariamente a caminho da sua Quinta de Pussos, durante muitos anos, mas pelos vistos, as canecas falaram mais alto, e a Praça foi baptizada com o nome de S. Martinho e inaugurada no dia 29 de Agosto de 2024, sendo Presidente da Câmara Dr. Antonino de Sousa e Primeiro- Ministro Dr. Luís Montenegro.
Tal como nas telenovelas, nem sempre as coisas terminam como nós desejamos, como é o caso deste texto que poderia terminar em festa, mas acabou com um penafidelense que lutou pela Liberdade, injustamente esquecido.
Fernando Oliveira – Furriel de Junho