01 dezembro 2025

O PÉ DESCALÇO

 O PÉ DESCALÇO




Em 1926, é aprovado o Decreto-Lei n.º 12073, que proibia a circulação de pés descalços nas vias públicas das cidades, e dava poderes aos governos civis para aplicaram as novas leis e sancionavam as transgressões com multas pesadas.

A Liga Portuguesa de Profilaxia Social, através de uma circular, de 20 de Maio de 1928, proibiu a circulação de pés descalços na cidade do Porto.




O Governador Civil do Porto, Dr. Elísio Pimenta, presidiu a uma reunião da Comissão Executiva à qual assistiram Dr. António Emílio de Magalhães, Presidente da L.P.P.S., Capitão Gaspar Rodrigues, delegado da G.N.R., e Aprigio Rocha, Adjunto do Director do Distrito Escolar.





Elísio Pimenta, anunciou a criação de brigadas motorizadas especiais que vão percorrer as estradas, e aplicar multas a todas as pessoas que por incúria e vício injustificado se apresentem sem calçado. Aprigio Rocha referiu-se à acção desenvolvida pelas autoridades escolares no sentido de fazer cumprir rigorosamente as instruções dadas para impedir que as crianças assistam ás aulas descalças.

Quando entrei em 1957, para a Escola Primária Conde Ferreira em Penafiel, muitos dos colegas iam descalços, mesmo nos dias mais frios, de invernos rigorosos. Os professores faziam vista grossa, pois sabiam da miséria que existia em muitos lares.




No recreio e nas brincadeiras também corriam descalços, saltando e jogando à bola na terra dura. Quantas vezes voltavam à sala de aula com os pés doridos, feridos e até ensanguentados, mas sempre a sorrir, porque brincar era maior que a dor.

Quando chegava o dia solene de fazer o exame da 4.ª classe, calçavam sapatos geralmente usados pela primeira vez, pois marcava uma passagem para outra etapa da vida.





O Estado Novo intensificou a perseguição, associando o hábito à pobreza e à “incivilização”. Mendigos, vendedores ambulantes e trabalhadores rurais eram alvos preferenciais, frequentemente detidos e levados a tribunal.

A Câmara Municipal de Penafiel, entretanto tinha dois funcionários que eram conhecidos pelos penafidelenses como fiscais do pé descalço.

Lembro-me de ver muitas mulheres do campo, vindas das quintas que rodeavam a cidade, quando chegavam ao túnel de Puços, calçavam à pressa os seus tamancos apenas para atravessar a cidade.





Para fintar a lei, aparecem as socas de madeira com uma tira de cabedal que alguém com mais habilidade as fazia, e desenrascava os mais pobres. Estas socas faziam um barulho ao caminhar parecido com o arrulhar das rolas, sendo por isso conhecidas por rolas.

Toda esta situação é retratada nos versos de Augusto Gil, na sua Balada da Neve que a dada altura diz:





. …. …. ….

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...








Em 1958, Aquilino Ribeiro publicou o romance “Quando os Lobos Uivam”. Considerado pelo regime salazarista ofensivo e injurioso relativamente às instituições e ao poder, levou à apreensão da edição pela PIDE e à instauração de um processo-crime ao ilustre escritor. Entre as várias acusações que lhe eram feitas salientava-se aquela em que Aquilino afirmava que Portugal era um “país de pé-descalço, o que, na opinião dos acusadores, denegria o prestígio internacional do país.


No tempo da outra senhora que pelos vistos muitos apregoam o seu regresso a triplicar, resolvia-se as situações com proibições, multas e perseguições.





Hoje, Portugal dito democrático, que foi transformado numa coutada de dois partidos, anda calçado, engravatado, e bem falante, mas para aguentar tal aparência de novo rico, e para alimentar tantos “Jobs for the boys”, tanta incompetência e tanta corrupção, vendeu e continua a vender os seus bens, mas quando acabarem os fundos europeus, não seremos um Bangladeche, mas um submarino com almirante ou sem ele, a afundar e a desaparecer em águas profundas, à espera de um novo D. Sebastião.

Mas como de costume, a culpa é sempre dos outros.

Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 novembro 2025

ZÉ DO TELHADO EM XISSA

 ZÉ DO TELHADO

EM XISSA – ANGOLA




José Teixeira da Silva nasceu a 22 de junho de 1818 no lugar de Telhado, Castelões – Penafiel. Aos 14 anos vai viver com um tio em Caíde de Rei, Lousada, vindo a casar aos 27 anos com a prima Ana Lentina de Campos, com quem teve 5 filhos.  

 




Em 9 de Dezembro de 1859 foi julgado no Tribunal Judicial de Marco de Canavezes (julgamento iniciado a 25 de abril de 1859) e condenado a degredo na África Ocidental Portuguesa (Angola) para toda a vida.

 





Ao chegar a Luanda, foi enviado para a cárcere da Fortaleza de São Miguel, de onde saiu algum tempo depois para o presídio de Ambriz.

No dia 28 de Setembro de 1963, foi-lhe comutada a pena aplicada na de 15 anos de degredo.


É desta passagem por Ambriz, que escreve esta carta à sua esposa Ana que ficou com os seus cinco filhos nos braços.


Anna


Tenho escrevido muitas cartas e ainda de nenhuma recebi resposta tua agora faço esta por mão própria só para vêr se ella te é entregue manda-me dizer o que é passado contigo para eu d'aqui mesmo vêr se te remedeio alguns males eu entrei no perdão do casamento do Rei fiquei em 15 annos contando o dia que sahi de Lisboa se Deos me conservar ainda tenho esperança de vêr essa terra mas talvez mais prometo que tu pensas se Deos me ajudar.

Anna eu o que estimo é que tenhas saúde em companhia dos meninos e meninas a quem muito me recomendo não posso ser mais extenso que o Vapor está a sahir e com isto adeos até à vista.

Deste teo marido que a Vida te deseja por muitos annos.


Ambriz, 21 de Dezembro de 1862

José da Silva Teixeira Telhado

Escreve-me para Ambriz


Carta esta endereçada a:

Anna Lentina de Campos

Freguesia de S. Pedro de Rei de Caíde

Logar da Sobreira pelo correio de Vila-manhã


Como todas as outras cartas esta também não chegou ao seu destino.


Mais tarde é transferido para a prisão de Benguela, e aí vai conhecer Bandy, guia natural de Malanje, que mais tarde lhe será muito útil devido a dominar os dialetos falados no Sul de Angola.

Cumprida a pena, percorreu grande parte das terras do centro de Angola, acabando por aceitar o convite do seu amigo para terminar com o ziguezaguear pela então colónia e estabelecer-se em Xissa, de onde Bandy era natural. e que o acompanhou nas lides de comerciante de borracha, carne, cera, marfim e peles.






Casou-se com uma angolana, Conceição, de quem teve três filhos. Zé do Telhado era conhecido entre os locais como o “kimuezo”, o homem de barbas grandes.





Faleceu em 1875, com 57 anos de idade vítima de varíola, sendo sepultado na aldeia de Xissa, município de Mucari.




Devido ao grande número de visitas à sepultura, o município mandou construir um pequeno mausoléu improvisado com algumas chapas de telhado e um pequeno muro envolvente, regularmente visitado, e cuidadosamente preservado pela população local.




Em 2017 foi autorizada a mudança do nome da escola primária e do posto médico da localidade de Xissa para o nome de José do Telhado.





Enquanto em Angola tenta-se preservar a estória, por cá os apagadores da história andam em sentido contrário, basta para tal, ver o novo arranjo que foi executado na Av. Zeferino de Oliveira que tapou por completo as ruínas da antiga capela de S. Bartolomeu. 

 



Fernando Oliveira – Furriel de Junho



01 outubro 2025

O RINGUE DE PATINAGEM

O RINGUE DE PATINAGEM




Embora em Penafiel não existisse uma equipa de Hóquei em Patins, havia muitas pessoas que sabiam patinar.

Daí a Câmara Municipal de Penafiel, presidida pelo Padre Carlos Pereira Soares, resolveu construir um ringue junto à escadaria que liga o jardim público com o Largo Conde de Torres Novas, mais conhecido pelos penafidelenses por Campo da Feira, como se pode ver neste desenho.





No dia 6 de Agosto de 1944, foi inaugurado o ringue com vedação a toda a volta pelos vereadores José Adelino Cabral e o Tenente António Carvalho Sampaio, em representação da Câmara Municipal de Penafiel.

Cerimónia simples mas comovente, onde um grupo de ginastas bem treinados a experimentarem o piso bem regado. Distinguiram-se pela elegância das figuras e os movimentos coreográficos dois rapazes, soldados do Grupo de Artilharia contra Aeronaves GACA 3. A multidão encantada, aplaudia.




Aos domingos um grupo de penafidelenses juntava-se para irem patinar no ringue e mostrarem algumas habilidades sobre os patins.

Assim, no dia 14 de Setembro de 1947, o Sporting Clube de Penafiel, realizou o que seria a primeira gincana de patins, que esteve bastante concorrida quanto mais não fosse pela novidade cá na terra.  

 


 


Na mesma estavam em disputa os seguintes prémios:

1.º Taça de Prata no valor de 300$00

2.º Taça do Sporting Clube de Penafiel avaliada em 100$00

3.º Garrafa de champanhe

4.º Garrafa de Vinho do Porto

5.º Frasco de Perfume

6.º Caixa de Sabonetes

7.º Romance

8.º Garrafa amostra de Hortelã Pimenta




A competição começou cerca das 16.30 e depois das costumadas voltas ao ringue, cada um dos concorrentes foi vencendo os obstáculos que se lhes deparavam.  

 


 

Conforme o seu comportamento na prova, a classificação foi a seguinte:


1.º - Alfredo Nunes Vieira 5m 45 seg.

2.º - Bernardino C. Soares 6m 5 seg.

3.º - Rui Nogueira Guedes 6m 25 seg.

4.º - Fernando Nogueira Guedes 6m 35 seg.

5.º - ntónio Ferreira 8m 22 seg.

6.º - Afonso Vieira Leal 10m

7.º - Armando Leal 11m 25 seg.

8.º - Francisco Almeida 11 25 seg.





Como o 7.º e o 8.º classificados obtiveram o mesmo tempo, procedeu-se ao desempate que foi ganho por Francisco Almeida com 7m 5 seg. Por tal motivo a classificação final foi alterada, passando a 7.º Francisco Almeida e a 8.º Armando Leal.




Foi tal o êxito desta gincana, que mal terminou, deu logo entrada na Câmara Municipal de Penafiel, melhor dizendo, no dia 19 de Setembro de 1947, um pedido de autorização para a realização de uma nova gincana no dia 5 de Outubro de 1947, assinado por Rui Nogueira Guedes, sendo o ringue vedado e 5% da receita, revertia a favor do Fundo Assistência Municipal.

Hoje, este ringue já não existe, porque esta modalidade de andar sobre patins, faz-se actualmente em pavilhões cobertos, construídos para o efeito, geralmente com um stick na mão.

No dia 30 de Junho de 2017 foi fundado o Hóquei Clube de Penafiel, na freguesia de Galegos, concelho de Penafiel, que compete actualmente na 3.ª Divisão Nacional de Hóquei em Patins.






Se bem me lembro, estas gincanas serviam para entreter os penafidelenses, que nesse tempo não tinham nenhum clube de futebol a disputar qualquer campeonato organizado pela Associação de Futebol do Porto, porque já tinham acabado o Sport Clube de Penafiel, a União Desportiva Penafidelense, e o Futebol Clube de Penafiel só nasceu em 1951.  

 


 


Neste vazio dos pontapés na bola, os penafidelenses divertiam-se a mostrar as suas habilidades sobre 8 rodas.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 setembro 2025

5 DE OUTUBRO DE 1910 FESTEJADO em 1959 PELO DR. RODRIGO DE ABREU

5 DE OUTUBRO DE 1910

FESTEJADO PELO

DR. RODRIGO DE ABREU

EM 1959 NO EXÍLIO



Hoje vou falar de um homem que lutou pela liberdade, num tempo em que nem todos tiveram a coragem de o fazer, e por incrível que pareça é esquecido pelos democratas que se deitaram fascistas no dia 24 de Abril de 1974 e acordaram democratas de meia tigela na manhã seguinte.

Muitos deles com direito a nome de rua em sítios que nunca conheceram nem sequer lá passaram.




Dr. Rodrigo de Abreu, envolveu-se de alma e coração na campanha do General Humberto Delgado, que só não foi eleito Presidente da República devido à fraude eleitoral.




Como tal, pagou caro esta ousadia, e para não ser preso exilou-se primeiro em Cuba e depois no Brasil.


Domingo, 5 de Outubro de 1959, o Centro Republicano de S. Paulo juntou, num jantar comício republicanos brasileiros e portugueses, para comemorar o 49º aniversário da implantação da República Portuguesa, onde a dada altura tomou a palavra o Dr. Rodrigo de Abreu com a bandeira verde rubra na mão, começou por saudar Sua Excelência o Presidente do Brasil na pessoa do seu Vice-Governador, General Porfírio da Paz, o Capitão António Pais de Barros em representação do Comandante Geral da Força Pública, o Coronel Alves de Brito, comandante dos bombeiros de S. Paulo, saúdo o decano da oposição portuguesa no Brasil, o presidente do Centro Republicano Português em S. Paulo, Comandante João Sarmento Pimentel, o grande patriota que mais de uma vez arriscou a sua vida, para defender a liberdade, para defender a democracia, para defender a Pátria e a República!


Aqui ficam alguns excertos do ser discurso:


Foto de 5 de Outubro de1959

Querem transformar a ditadura de Salazar em ditadura do Capital, porque não pensam dar aos sindicatos os princípios atraiçoados e que a Constituição garante. Os trabalhadores serão tratados como escravos, porque os não deixarão participar nas decisões da produção. O poder ilimitado continuará na posse do Capital, contra os princípios sociais das Encíclicas, e contra os princípios plebiscitados na Constituição de 1933. Existe uma combinação demoníaca maquinada por androides, pseudo - oposicionistas e por situacionistas, para imporem uma “chantage” financeira na metrópole e nos territórios ultramarinos. Desta forma, em vez do dirigir a potência industrial a favor do bem comum, o Estado é dirigido pelo poder industrial em benefício dos interesses dos seus possuidores. Não interessa à organização oculta do capital, a mudança do cesarismo para uma democracia verdadeira, dentro dos princípios cristãos. “


"Hoje, em Portugal, como no tempo da monarquia, o povo é espoliado à beça ... As minas de ouro de Penedono, os diamantes de Angola,as negociatas da SONEF, os desvios do dinheiro das Caixas de Previdência, do Fundo de Desemprego para fins diferentes, e muitos outros casos são a prova da afirmação.”





Hoje, como no tempo da monarquia, Salazar transformou em motim, as últimas eleições presidenciais, para prender, para encher as masmorras de desgraças, para ferir, para encher os hospitais, para matar, para esmagar o povo debaixo de tanques e das patas dos cavalos.”

Salazar passará à posteridade, na História de Portugal, com o cognome de Fouché de Santa Comba, porque é o principal responsável por todos os crimes de assassinato praticados pela PIDE, pelas brutalidades, pelos martírios executados na metrópole, nas Províncias Ultramarinas, nas ruas, nas residências, nas masmorras da gestapo, ás quais nem os sacerdotes escapam.




Sua Reverendíssima o Bispo do Porto (D. António Ferreira Gomes), foi afastado da sua Diocese, e o Povo, que tanto ama, desconhece o seu paradeiro. A Bíblia encerra a previsão de tudo que hoje se passa, e quantos remédios podem existir no mundo para todos os séculos. Assim diz o Génesis, das advertências de Deus a Noé: A todo o que derramar sangue humano será derramado o seu sangue. Quando os assassinos se apoderam do poder, o mundo civilizado compreende que o sangue do povo chacinado, pede o sangue dos ditadores.”


O único remédio para libertar das ditaduras os países da América Latina,é acabar o mal na origem: auxiliar o Povo Português, a reconquistar as instituições que ganhou em 5 de Outubro de 1910.

Vou terminar pedindo que todos os democratas portugueses se mantenham firmes e unidos... Para que entrem todos, individualmente, para o Movimento Nacional Independente.

Lembremo-nos que os nossos respeitos humanos, e as nossas incompreensões, servem o cesarismo, à trinta e três anos.”





Terminando, o Dr. Rodrigo de Abreu erguendo Vivas a Portugal, à República, ao General Humberto Delgado, ao Dr. Arlindo Vicente e ao Eng.º Cunha Leal, no que foi secundado por todos os presentes.


Assim foi festejado o 5 de Outubro em 1959, por políticos portugueses exilados no Brasil, no tempo em que se lutava por ideais, e ser opositor ao regime era um acto de ousadia, nada comparado ao folclore eleitoralista que por aí anda, em que se luta por tachos e tachinhos para padrinhos e afilhados, e a esta classe política que nos saiu nas várias rifas eleitorais, de uma maneira geral, embora com as devidas excepções, é adjetivada de incompetentes, malandros, aldrabões, oportunistas e corruptos.  

 

O Povo lá sabe porquê!



Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 agosto 2025

A ÍNDIA PORTUGUESA RESISTIU EM 1954

 A ÍNDIA PORTUGUESA

RESISTIU EM 1954




Embora quando se fala do início da Guerra Colonial, logo o ano de 1961 vem à memória de todos, mas para mim a mesma começa em 1954, quando a União Indiana tenta apossar-se dos territórios portugueses na Índia, ou seja dos distritos de Goa também conhecida por Roma do Oriente outrora capital do Estado Português da Índia, que se tornou um importante centro cultural e religioso no Oriente, daí a comparação com Roma, Damão e Diu. 

 




Assim, no dia 22 de Julho de 1954, enquanto as tropas da União Indiana cercavam Dadrá sendo a mesma ocupada por um grupo de assalto no dia seguinte apesar da resistência portuguesa, tendo sido morto o Subchefe da polícia Aniceto do Rosário Fernandes, mais dois guardas António Fernandes e Clemente Pereira e alguns naturais. 

Esta data para dar-se tal operação militar, não foi escolhida ao acaso, pois foi no dia 22 de Julho de 1785, que a aldeia de Dadrá passou a ser portuguesa.

 



Devido â facilidade com que tomaram a aldeia de Dadrá, tomaram de seguida Noroli na orla do território de Nagar – Aveli, só que não contavam com a pronta reacção do Tenente Falcão, com os seus guardas e o povo armado retomou essa aldeia, arvorando novamente aos quatro ventos a bandeira portuguesa, fazendo 8 prisioneiros. 

 



O inimigo recuou e as coisa ficaram por aqui devido à grande pressão internacional exercida sobre o dito pacifista Nehru que pretende incorporar na União Indiana, os territórios de Goa, Damão e Diu, o que veio a acontecer uns anos mais tarde, ou seja em 19 de Dezembro de 1961. 

 

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Nesta altura ainda não existia a televisão pelo que as notícias eram transmitidas via rádio. Todos os dias ao final da tarde, melhor dizendo pelas 18 horas lá ouvíamos os "sinos da velha Goa" que assinalavam a abertura do programa que dava notícias do que se passava na Índia Portuguesa.

Como reagiram os penafidelenses a todos estes acontecimentos?




O Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Dr. Francisco da Silva Mendes, mandou rezar uma missa por alma de todos aqueles heróis que tombaram na defesa da Índia Portuguesa na Igreja da Misericórdia, pelas 11 horas no dia 15 de Agosto de 1954, sendo seu celebrante o distinto orador o Dr. Avelino de Sousa Soares.




O templo estava repleto de fieis, ladeando o altar-mor o sr. Presidente da Câmara e vereadores do nosso município, uma representação do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves N.º3 desta cidade, deputações dos Bombeiros Voluntários de Penafiel e Entre-os-Rios, Mocidade Portuguesa e associações e organismos locais, com os seus estandartes.

A guarda de honra foi feita por um grupo de sargentos do G.A.C.A. 3, que se fazia acompanhar de um terno de clarins que tocaram a silêncio na elevação da hóstia.

Entretanto o jornal Diário Popular de Lisboa, lança uma campanha denominada “Lembranças para os combatentes na Índia”, destinada a angariar donativos, quer em dinheiro, quer em géneros ou artigos, para os defensores daquela nossa possessão ultramarina.




Em Penafiel, os donativos eram recebidos na sede da subdelegação Regional da ALA Nº 1, ou na secretaria da Comissão Municipal de Assistência, situadas no Largo da Misericórdia, desta cidade.


Aqui vai a relação dos donativos angariados pela Mocidade Portuguesa (Feminina e Masculina), em Penafiel.


Dirigentes da ALA Nº 7 da MP Feminina - 100$00

Dirigentes da ALA Nº1 da MP Masculina - 100$00

 



Garagem Egas Moniz - 20$00

Casa Fortes & C.ª - 50$00




Pensão Morais - 2 garrafas de vinho verde Moura Bastos

Pensão Aires - 20$00

Pensão Guimarães - 5$00

Casa “A Económica” de Joaquim da Rocha - 10$00

Pensão Freitas – 1 garrafa de Vinho do Porto

Casa Peixoto - 20$00

Padaria Graça - 20$00

Fernando Costa - 10$00

 



Sapataria da Moda Manuel do Carmo - 2$50

Casa Ibéria - 5$00

Manuel Moreira Guedes de Melo - 50$00

 



Chapelaria Fausto V.ª Silva Suc. - 20$00

Abílio Júlio Barbosa & C.ª Suc. - 50$00

 



Padaria Corneta - 10$00

Horácio Aires - 5$00

José Abrantes Ferreira Suc. - 20$00

A Chic de Francisco Mendes Lopes de Carvalho - 20$00

Ourivesaria Coelho d' Ouro de Amaro Coelho Jorge - 10$00

José da Silva Rocha - 5$00

Casa Gabino – 1 Garrafa de Vinho do Porto

Sapataria Corgas - 5$00

Pacheco & C.ª – 4 Tabletes de chocolate




Centro Agrícola - 5$00

Afonso Menezes - 10$00

Fernando Feijó - 5$00

João Moreira Quintas & Suc. - 20$00

Amândio Barbosa - 3$40

Farmácia Oliveira - 50$00

Alberto Tomás Ferreira - 50$00

Professor Osório - 5$00

Albano de Sousa - 5$00

Fernando Baptista - 10$00

D. Ludovina Rosa - 5$00

Farmácia Miranda - 10$00 

 



Quinta de Pussos Dr. Rodrigo de Abreu - 2 Caixas de Vinho Verde

Salão Almeida - 7$50

Augusto Ribeiro - 10$00

Livraria Reis - 10$00

A Modelar de Joaquim Fernandes - 5$00

D. Maria Alice de Carvalho - 20$00

José Augusto Lopes Pires - 20$00

Justino Ribeiro de Carvalho - 1 volume de cigarros provisórios pequenos

José Joaquim Moreira Fernandes - 10$00

Agência Beça de Artur Beça - 20$00

 



Café Sociedade de José da Rocha Liques – 1 garrafa de Brandy Royal

Manuel da Silva - 5$00

Drogaria Coelho - 2$50

 



Confeitaria Brasil - 1 garrafa de vinho aperitivo

Manuel Afonso - 20$00

 



Joaquim Ribeiro - 6 maços de cigarros Diana e dez Legionários

Centro Ciclista de Penafiel - 10$00

Casa Leal - 10$00

Paulo de Sousa - 10$00

Três Anónimos - 25$00

Abílio Pereira de Sousa Meireles - 2$50

António Soares Moreira - 1 garrafa de vinho




Imperial Café - 2 garrafas de Vinho do Porto

Pensão de Beatriz Ferreira Lopes - 20$00

D. Maria Júlia Moura de Carvalho - 10$00

Pensão Pacheco - 5$00

Papelaria Fidélitas - 1 Romance

Casa de Joaquim Pinheiro - 1 Caixa de cigarrilhas

Casa S. Martinho - 30 medalhinhas

Soc. Agr. Quinta da Aveleda - 1 caixa com 12 garrafas de vinho

Sapataria Pinto Beça - 5$00

D. Ana Monteiro de Magalhães - 7$50

José de Castro - 2$50


A Comissão angariadora destes donativos, era composta por: Natércia da Conceição Oliveira Ferreira Nunes e José Ferreira de Lima.




Das freguesias de Castelões e S. Mamede de Recezinhos, por intermédio do Padre Abel de Araújo Moreira Lopes, foi entregue a quantia de 400$00, 4 garrafas de Vinho do Porto, 2 garrafas de Laranjada, 16 maços de cigarros, 1 garrafão de 3 litros de aguardente oferta de Júlio Mesquita, Farmácia Confiança de Penafiel 10$00 e 5 maços de cigarros Paris da Casa Sementes de José Luís Pinto Bessa de Miranda, desta cidade.




Como se pode ver, o povo português sempre foi solidário com os seus combatentes, ao contrário dos (des)governos da Nação, tanto antes como depois de Abril, que os combatentes da Guerra Colonial, são votados ao esquecimento. A nível local nem é bom falar, já que numa falta de respeito pelos conterrâneos mortos, os seus nomes foram colocados numa chapa ao nível do chão.


Enquanto os vossos olhos não despertarem a vossa consciência que isto está errado, podem entoar a plenos pulmões o Hino Nacional em sentido ou com a mão no peito, proclamarem discursos inflamados de patriotismo, ou até assobiarem para o ar que faz o mesmo efeito.

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Fernando Oliveira – Furriel de Junho