01 abril 2025

25 DE ABRIL UM GOLPE MILITAR CORPORATIVO

 25 DE ABRIL

UM GOLPE MILITAR

CORPORATIVO




Como foi possível unir militares de vários pensamentos políticos (alguns até opostos), para derrubar o governo de Marcelo Caetano.




O que fez esta união foi a aprovação pelo governo de dois decretos-lei 353 e 409, de julho e agosto de 1973, para responder às necessidades da guerra colonial que criou um forte descontentamento profissional entre os oficiais que tinham tido uma formação militar de quatro anos. Estes não aceitavam poder vir a ser ultrapassados pelos novos oficiais milicianos, cuja formação seria feita apenas em dois semestres.

As motivações da criação do Movimento dos Capitães começaram por estar relacionadas com problemas de carreira e com o descontentamento crescente nas Forças Armadas pela manutenção da guerra.

Criou tal descontentamento no quadro de oficiais das Forças Armadas que começaram primeiro por enviar ao Governo abaixo assinados para a sua revogação.




Este mau estar foi crescendo, tendo dando origem ao Movimento dos Capitães, de natureza clandestina, organizado para a defesa dos seus interesses corporativos, mesmo após terem conseguido que Marcelo Caetano suspendesse os decretos. Os capitães continuaram a reunir-se para discutir o que se passava na guerra colonial.

Por isso, para o Movimento dos Capitães era evidente que a solução para a guerra colonial só podia ser política e, em dezembro de 1973, mandataram Vasco Lourenço, Vítor Alves e Otelo Saraiva de Carvalho como Comissão Coordenadora para planear um golpe militar.




O caso das manifestações entre os oficiais em Moçambique chegou ao conhecimento do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), Costa Gomes, e foi abordado por Vasco Lourenço e Otelo em reunião com António de Spínola, o vice-chefe do EMGFA, que escrevera o livro «Portugal e o futuro», publicado em Fevereiro de 1974, o que faz Marcelo Caetano pedir sua exoneração ao Presidente da República Américo Tomás, a qual não foi aceite.




Marcelo Caetano, consciente do mau estar entre as forças armadas, convocou os generais para uma sessão de apoio ao governo, a 14 de março de 1974, a que não compareceram Costa Gomes e António de Spínola, altas patentes do EMGFA (Estado Maior General das Forças Armadas). O facto de Caetano os exonerar aumentou o seu prestígio junto do Movimento dos Capitães.






A 16 de março de 1974 houve uma tentativa, falhada, de golpe militar nas Caldas da Rainha, que convenceu Caetano de que o Movimento dos Capitães era fraco mas que permitiu aos capitães analisar o que correu mal.

Daí a preocupação com a comunicação na operação «Fim-Regime» posta em marcha na noite de 24 de abril, sob a coordenação de Otelo Saraiva de Carvalho. Este decidiu usar a rádio para sincronizar os momentos de partida das tropas através das canções «E depois do Adeus» (às23:45) e «Grândola, Vila Morena» (às 00:20).




O Programa do MFA (Movimento das Forças Armadas), foi lido à Nação à 1h 25m da manhã de 26 de abril, na RTP, por Spínola à frente da Junta de Salvação Nacional (JSN), constituída por 7 elementos dos três ramos das Forças Armadas. Eram eles: António de Spínola, Francisco da Costa Gomes, Jaime Silvério Marques, do exército, Diogo Neto, Galvão de Melo da Força Aérea, e Pinheiro de Azevedo e Rosa Coutinho da Armada.




Proclamava-se a instituição das liberdades, a libertação de presos políticos, o regresso de exilados, a extinção dos organismos do Estado Novo, a realização de eleições livres, por sufrágio direto, para uma Assembleia Nacional Constituinte e o fim da guerra colonial.

Enquanto as forças armadas afectas ao Golpe Militar Corporativo, avançavam para os seus pontos estratégicos, a rádio apelava ao povo a não sair de casa.




O povo desobedeceu e saiu à rua apoiando os militares golpistas, que a vem dizer não tiveram oposição, sendo feita a rendição de Marcelo Caetano no Quartel Carmo em Lisboa, entregando o poder a António Spínola.





Entretanto Marcelo Caetano e Américo Tomás, depois de uma curta passagem pela ilha da Madeira, ficam exilados no Brasil.


Os militares que estavam nas frentes de Guerra nas colónias, ficaram entalados entre os Movimentos de Libertação e a sua rectaguarda que os abandonou e até aos dias de hoje continuam a serem mal amados pelos sucessivos governos.


Pelas portas que Abril abriu, o povo acreditou que o país era de todos e para todos. Dava vivas a todos que lhe apareciam a proclamar a democracia como se tratasse de um remédio santo para todos os males que os afligia.




No dia 26 de Abril, os militares dividiram-se e sucederam-se golpes atrás de golpes como o 28 de Setembro de 1974, 11 de Março de 1975 e o 25 de Novembro de 1975, todos como ajuste de contas com o 25 de Abril.




"Recorte de imprensa do jornal "O Século de Joanesburgo", anunciando o comunicado da Presidência da República, no qual é autorizado o regresso de Américo Tomás a Portugal, a sua reintegração nas Forças Armadas e o descongelamento das suas contas bancárias. É declarado que os partidos de esquerda criticaram fortemente esta decisão do Presidente da República, António Ramalho Eanes, indicando que "é uma afronta aos ideais do golpe militar de 25 de Abril de 1974.




Do jornal O Público de 25 de Abril de 2022, podemos ler: A atribuição da Ordem da Liberdade a António Spínola, a par dos restantes membros da Junta de Salvação Nacional, decidida pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, a partir de uma proposta de Vasco Lourenço ( Presidente da Associação 25 de Abril), tendo sido muito criticada pelo PCP e Bloco de Esquerda e personalidades da sociedade civil. Mas o PS defende a decisão e recorda que Mário Soares também já tinha condecorado o primeiro Presidente da República em democracia, “porventura com uma distinção superior, a Grã-Cruz de Torre e Espada”




Joaquim Veríssimo Serrão. vai ao Brasil e entrevista Marcelo Caetano, entrevista essa publicada no livro “Confidências no Exílio”, onde na página 208 do mesmo lê-se:

Sem o Ultramar estamos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade das nações ricas, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava em vésperas de se transformar numa pequena Suíça, a revolução foi o princípio do fim. Restam-nos o Sol, o Turismo, a pobreza crónica e as divisas da emigração, mas só enquanto durarem. As matérias-primas vamos agora adquiri - las às potências que delas se apossaram, ao preço que os lautos vendedores houverem por bem fixar. Tal é o preço por que os Portugueses terão de pagar as suas ilusões de liberdade”.






Infelizmente passados 51 anos de Abril, vemos o país a ser vendido a retalho, estando na lista de espera a TAP e o Lítio, e as profecias de Marcelo Caetano a serem concretizadas lentamente, apesar de o povo continuar a vir para a rua gritar: “25 de Abril Sempre” ou “Fascismo Nunca Mais”, numa ilusão colectiva.






É que o fascismo já cá está instalado e o 25 de Abril foi morto com 19 meses de idade, por parte daqueles que o fizeram, por conveniência própria, diga-se.

E se Abril “foi um sonho lindo que acabou”, como cantava José Mário Branco, para a história penafidelense ficaram a ele ligado o nome de dois Capitães de Abril, Coronel Mário Alfredo Brandão Rodrigues dos Santos e o Coronel Rolando de Carvalho Tomaz Ferreira, assim como o campo da bola que passou a chamar-se Estádio Municipal 25 de Abril.





Cá vamos cantando o Hino Nacional com a sua letra desajustada aos tempos que correm, já que continuamos a marchar contra os canhões, quando a guerra já evoluiu para outros materiais bélicos, a Bandeira Nacional que anda ás costas de qualquer um como se de uma toalha se tratasse, mas enquanto houver uma Selecção Portuguesa de Futebol, eu serei sempre português, porque quer queiramos quer não, só ela é capaz de nos dar uma alegria colectiva.



Fernando Oliveira – Furriel de Junho

01 março 2025

O MALPARECIDO

 

O MALPARECIDO




No próximo dia 4 de Março de 2025, faz precisamente noventa e um anos que a cidade de Penafiel esteve em festa, isto porque foi visitada por três ministros do Estado Novo.


Neste dia foram inauguradas 12 escolas primárias, 2 estradas, 62 fontanários e bebedouros e o lançamento da 1.ª pedra da ponte a construir sobre o Rio Tâmega em Abragão.


A recepção a esta comitiva ministerial foi feita na ponte de Paredes e seguiu em cortejo automóvel até aos Paços do Concelho de Penafiel. Mal os Ministros se apearam estrelejaram foguetes e o povo aí presenteou-os com uma estrondosa salva de palmas.

 

Dr. Alexandre Sousa Pinto

Ministro da Instrução Pública


Já no salão nobre da Câmara Municipal de Penafiel, deu-se início à Sessão Solene, sendo a mesa de honra presidida pelo Sr. Capitão Gomes Pereira, Ministro do Interior, tendo â sua direita o Eng.º Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Dr. Herculano Jorge Ferreira, Governador Civil do Distrito do Porto, Dr. Alfredo Magalhães, Presidente da Comissão Distrital da U.N., e à sua esquerda o Sr. Dr. Alexandre Sousa Pinto, Ministro da Instrução Pública, Brigadeiro Schiappa de Azevedo, comandante da 1.ª Região Militar, Coronel Barbeitos Pinto, Comandante Militar Penafiel, Coronel Gil Iglésias, Comandante do R.I. 6, Adriano Rodrigues reitor em exercício da Universidade do Porto, Arquitecto Baltazar de Castro, Director do Norte dos edifícios e monumentos nacionais.




O Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Dr. Arrochela Lobo, usou da palavra para saudar estes representantes do Governo. De seguida foi dada a posse à Comissão Concelhia da União Nacional, tendo como presidente o Dr. Avelino Soares.


Terminada a sessão solene, os ministros do Interior, das Obras Públicas e da Instrução, dirigiram-se a pé, para o grandioso e bonito edifício da Escola Central Feminina “António Pereira de Castro”.



As crianças das escolas primárias deste concelho, receberam os ministros com flores, e entoaram em coro, o Hino Nacional.

Em 1912, o benemérito que deu o nome à Escola legou à Câmara 10 contos de reis, com a condição de construir uma escola.

No Diário do Governo, de 12 de Abril de 1916, publicava a construção desta Escola António Pereira de Castro, tendo o Estado contribuído com 4.000 escudos, para a obra.





O Ministro da Instrução, Dr. Alexandre de Sousa Pinto, inaugurando a nova escola, descerrou um artístico painel em azulejos no qual se lia a par das disposições testamentárias do seu insigne patrono, a seguinte legenda:

 


 

"Sob o Governo da Ditadura Nacional e com o auxílio do Estado e do Município, se cumpriu vinte anos depois a última vontade do benemérito testador. Em quatro de Março de 1934, com a presença dos Ministros do Interior, Obras Públicas e Instrução, foi inaugurada solenemente esta e mais onze escolas rurais"




Agora, 91 anos depois de ter sido inaugurada, com toda a pompa e circunstância, a Escola Primária Feminina António Pereira de Castro está a receber "obras de beneficiação e reparação do edifício" tendo para já desaparecido da vista de quem por lá passa à vida, o painel de azulejos com o nome do seu benfeitor e com a fachada alterada com o tal "Sentir Penafiel" que os penafidelenses já conhecem de vários locais da cidade.

 

 



Como no final da obra, a mesma não será para o fim a que o Benfeitor António Pereira de Castro a destinou e financiou, espero que seja dado um novo nome (catita) ao edifício, e para tal, aqui deixo a minha sugestão:

 



"O Malparecido"

Agora cá fico à espera da sua...


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 fevereiro 2025

A RUA DA MISERICÓRDIA

 

A RUA DA MISERICÓRDIA




Se há ruas em Penafiel que vão diminuindo o seu comprimento para dar origem a novas ruas como é o caso da Avenida Pedro Guedes que o pedaço lhe foi desanexado deu origem à Rua O Penafidelense, outras vão em sentido contrário e aumentam o seu comprimento como é o caso da Rua da Misericórdia.




Com o derrube da Casa João da Lixa em 1957, alargando a quelha aí existente, dando origem à Rua da Misericórdia a mais pequena da urbe pois que apenas tinha nada mais nada menos, o comprimento da Igreja da Misericórdia. Actualmente a placa que assinalava o fim da rua foi retirada notando-se apenas a furação onde estava afixada.

 




Com o derrube da casa onde funcionava no rés-do-chão a Modelar que se dedicava à venda de mobílias, com a Foto Sousa no 1.º andar, foi construído um novo prédio com o tamanho da Rua da Misericórdia antes de esta se estender, unindo agora a Rua Joaquim Cotta, à Rua do Paço tendo este aumento a delimitá-lo do Largo Padre Américo uns blocos compridos de granito em forma de paralelepípedo.




Percorrendo a Rua da Misericórdia do lado esquerdo encontramos um portão de ferro de 1875. Entrando pelo mesmo, vamos dar do lado esquerdo à sacristia da Igreja da Misericórdia, na porta em frente para o interior da Igreja e do lado direito subindo a escadaria em pedra até ao topo, do lado esquerdo, encontramos o acesso ao coro, e ao meio da escadaria do lado direito antigamente dava para os aposentos onde funcionava a Comissão Municipal de Assistência e Beneficência do Concelho de Penafiel. Para além de todo o auxílio que prestava ás pessoas pobres, na altura das férias grandes escolares era lá que se inscreviam os filhos das famílias mais desfavorecidas para as colónias de férias na Foz do Douro.




Hoje aparece uma porta de madeira pintada de verde, que dá acesso à Casa Mortuária.




Do lado contrário apareceu um novo prédio que se estendia do início ao fim da rua da Misericórdia, funcionando no seu rés-do-chão a Loja Oliva que deu lugar ao talho Conquistador e este ao Talho Meireles, na outra ponta nasceu a Agência de Viagens VAP, onde hoje está instalada a Farmácia Oliveira.




Depois temos a Casa de Pasto João da Lixa onde eram servidos almoços e jantares, e se fabricava Pão de Ló, Pão Podre e Bolinhos de Gema e outros doces, chegando a ter uma Adega na sua cave. Hoje deixou toda essa actividade sendo pura e simplesmente habitação.




No prédio situado no extremo da Rua da Misericórdia e vai desaguar na Rua do Paço e que hoje se encontra fechado, nos anos cinquenta dava-lhe vida o Grémio da Lavoura, a sede da Ala N.º 1 Extra Escolar da Mocidade Portuguesa Masculina, a Sede do Futebol Clube de Penafiel, a Comissão Reguladora do Comércio do Concelho de Penafiel, cuja função era tabelar preços de venda dos produtos de 1.ª necessidade, e racionados, estabelecendo neste caso a quantidade a que cada pessoa tinha direito.




Mais tarde foi quartel da PSP, CAE e Delegação da Liga dos Combatentes.




Se bem me lembro, e a memória não me falha, aqui fica a minha descrição desta rua da Misericórdia, que até à poucos anos era a mais pequena da cidade de Penafiel, e com este crescimento, passou esta designação para as ruas que ladeiam a Biblioteca Municipal ou seja, a Barão do Calvário e a dos Combatentes da Grande Guerra.




E pronto, assim vai o mundo, desta vez com actualidades penafidelenses.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho

01 janeiro 2025

FALANDO DAS MERCEARIAS DE PENAFIEL

 FALANDO DAS MERCEARIAS

DA ZONA HISTÓRICA 

DE PENAFIEL




Eram inúmeras as mercearias que existiam na cidade de Penafiel nos anos cinquenta do século passado.


Antiga Mercearia Costa ao cimo da Rua Alfredo Pereira


Percorrendo a cidade vou enumerar algumas das mercearias existentes nesse tempo, começando pela Rua Alfredo Pereira onde tínhamos a do Sr. Costa, a do Sr. Moreira, a do Justino Ribeiro de Carvalho e a dos Babos, todas elas já desaparecidas .


Zé do Cantinho no Largo da Ajuda


Já no Lago da Ajuda aparecia a do Zé do Cantinho, e na Rua do Paço a do Martins da esquina e a do Ribeiro dos Cafés (a única que ainda hoje tem as suas portas abertas).




Continuando pela Praça Municipal, temos a mercearia Pedro, e tínhamos porque já não existem a do Meneses e a do Artur que também era agente de seguros da companhia Bonança como se pode ver no reclame na foto.


Mercearia Artur


Entrando na Av. Sacadura Cabral a do sr. Melo e o Pacheco, e já na Avenida Egas Moniz outra mercearia Pedro. (nenhuma delas existem actualmente).


Mercearia Melo actualmente virou churrasqueira


Pela Rua do Carmo tínhamos a do Gravato, a do Portugal, e no fundo da rua a do Laurindo. Fazendo esquina com esta rua e a rua Eng.º Matos aparecia o Patarata. Muitas destas eram um misto de mercearia e tasca.


Mercearia Pedro junto aos B. V. de Penafiel


Destas o mais relevante é o projecto familiar das mercearias Pedro, não só resistiram como se multiplicaram pela cidade de Penafiel, mantendo a da Praça Municipal (onde tudo começou), assim como abrindo novos estabelecimentos comerciais na Av. Sacadura Cabral, Av. José Júlio e no Largo dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, adaptando-se aos tempos que correm fazendo por vezes preços mais vantajosos para os consumidores, chegando por vezes a combater os das grandes superfícies.




Nesses tempos idos, muitas destas mercearia tinham um rapaz novo a quem chamavam marçano, que levava as compras a casa dos fregueses.

O atendimento era feito ou pelo próprio dono, ou por um caixeiro por ele contratado. Como todos se conheciam na cidade, os clientes eram chamados pelo próprio nome, assim como o proprietário da loja ou do próprio caixeiro que os atendia.


Ser caixeiro de uma mercearia, era uma profissão que requeria algum saber como manusear os géneros e agilidade de mãos já que os mesmos não vinham embalados como nos dias de hoje, mas eram manuseados pelos merceeiros.




Quem não se lembra dos cartuchos de papel acinzentado, onde se pesava o arroz, o sal, o grão, o feijão, o café, etc.


O caixeiro batia o cartuchos em cima do balcão, a fim da mercadoria assentar e colocava-o no prato da balança e com o auxílio de um corredor em chapa, deitava ou retirava mais um pouco até o fiel da balança indicar o peso pretendido.


Já os produtos com gordura, como era o caso da manteiga, banha de porco, chouriça de Elvas e outros, eram pesados e embrulhados em papel vegetal.


Abastecendo de azeite da antiga mercearia Martins


O azeite era aviado em garrafa levada de casa pelo cliente e medido e tirado de um bidão, situado por debaixo do balcão, com o recurso a uma bomba de dar à manivela.


Embrulho com bacalhau


O bacalhau era pesado e depois era cortado à nossa frente com uma faca como o freguês desejava e embrulhado em papel grosso de cor cinzenta e atado com um cordel. Estou-me a lembrar do Zé do Cantinho que vendia postas de bacalhau de molho, mas estas não eram vendidas a peso mas sim a olho consoante o tamanho da mesma.




Para a lavagem da roupa e para fazer barrelas, levava-se sabão azul e branco ou sabão amarelo para o soalho, vendidos à barra. Se não queríamos uma barra inteira, o caixeiro cortava com mestria, o peso certo de sabão. As barras de sabão geralmente eram embrulhadas em páginas de jornal.




Para a higiene pessoal compravam-se sabonetes de glicerina, ou sabão rosa que se partia em fatias, e para lavar os dentes a Pasta Medicinal Couto.




Os embalados que me lembre eram as conservas de atum e de sardinha em latas, as caixas de fósforos, o chã Namúli, assim como a farinha Amparo para as crianças em embalagens de papel. 

 


Os lares mais abastados, geralmente faziam uma lista de compras a que chamavam o rol, que era entregue na mercearia para serem aviadas e depois levadas a casa dos fregueses pelo marçano, juntamente com a conta que geralmente era paga no acto de entrega.


Livro de Fiados


Por dificuldades económicas, muitas famílias carenciadas faziam as suas compras que iam ser registadas num livro estreito e de capa negra, chamado o “Livro dos Fiados”. Esta gente era pobre mas séria, ao ponto de no mais curto espaço de tempo possível liquidavam a dívida limpando a sua folha no livro dos fiados, pois nesse tempo muitos chefes de família recebiam à quinzena.


Mercearia Pedro na Av. Sacadura Cabral



Graças a estas mercearias de proximidade, podemos comprar com conta, peso e medida, as nossas necessidades com sensatez, ao contrários dos grandes templos de consumo em que os olhos vêm e as mãos colocam no carrinho, só dando fé quando passam pela caixa registadora as loucuras de consumo que cometemos.


Até porque a idade avança e as forças começam a fraquejar, as mercearias de proximidade cada vez se tornam mais necessárias.




Faço votos para que todas as mercearias de proximidade, tenham sustentabilidade e vitalidade, especialmente as do PEDRO (fundada em 1937), espalhadas pela cidade de Penafiel.

 

A 1.ª Mercearia Pedro
 

Neste caso, que conheço bastante bem, desde o seu fundador Pedro Couto, é caso para dizer que “filhos de peixe sabem nadar”.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho