METEOROLOGIA POPULAR
Um dos cata-ventos mais bonitos na cidade de Penafiel, é o que se encontra na torre mirante da casa nº 22, sita na Avenida Sacadura Cabral.
Devido à antiga proprietária (já falecida), se chamar Dona Maria Teresa, e a grimpa do mesmo ter a forma de um canhão, ainda hoje é conhecido na urbe pelo canhão da Dona Maria Teresa. Se actualmente não passam de um elemento cultural da paisagem portuguesa, o certo é que durante séculos ajudaram o homem a entender melhor a natureza, e a prognosticar o tempo. Ainda me lembro que o povo baptizou nos primeiros tempos (antes da existência dos satélites), os boletins da rádio oficial como “Boletim Mentirológico” dado os frequentes erros dos mesmos nas previsões do tempo.
O homem inventou o cata-vento para ver a direcção dominante do vento. É de origem medieval e constituía inicialmente, além de instrumento da meteorologia, atributo da nobreza ou privilégio social. Do cata-vento faz parte a grimpa, ou seja a placa móvel que se desloca em torno de um eixo conforme a direcção do vento dominante.
De tanto ver as orientações do vento, o nosso povo criou alguns ditos.
Se ventasse do Norte era assim:
“Se o vento do Norte ventar, vai-te à fogueira sentar”. “Vento Norte rijão, chuva na mão”.
Também temido era o vento do Sul, O Suão, assim:
“Vento Suão seca a terra e não dá pão”. “Vento Suão, de Inverno sim, de Verão não”.
Se o vento soprar em determinadas direcções identificadas pela geografia, dava sinais inequívocos. Por exemplo, diziam “ vento de Arouca, seca muita, chuva pouca”, mas se o mesmo viesse do lado do Marão chuva na mão. Ou quando trovejar pró Marão, vende os bois e compra grão, quando trovejar prá Ribeira, pega nos bois e vai prá jeira.
O mais popular ainda hoje em Penafiel, é o vento que sopra do lado de Novelas. “Ouve-se o comboio sinal de chuva”.
Quando o vento vem do lado de Espanha, o povo associou vários factos da nossa história dando origem ao seguinte adágio popular: “De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos”.
Outro vento que tem fama terrível é o de Levante. Assim é costume dizer-se:
“Vento de Leste não dá nada que preste”. Ao contrário, o de Sudoeste é calmo.
Através desta sabedoria popular era feita a previsão meteorológica do tempo. Outro factor para a previsão do tempo, eram sem dúvida as nuvens. Quando o céu apresentava a cor avermelhada para o lado de Viseu, leva o capote, que eu levo o meu. Se ao Sol-posto, o Norte foi puro, (puro quer dizer limpo, sem mancha), temos bom tempo seguro. Nuvens ao nascente, chuva de repente.
Lua Nova trovejada, 30 dias é molhada.
Também existe a crença de que não há sábado sem Sol, referindo-se por vezes em versos populares como:
Não há sábado sem Sol
Nem domingo sem missa
Nem segunda sem preguiça
Que para os lados de Coimbra tem a seguinte forma:
Não há sábado sem Sol
Nem rosmaninho sem flor
Nem casada sem ciúmes
Nem solteira sem amor
Enquanto os cata-ventos resistirem ao tempo, devemos a estes dedicados instrumentos de previsão do tempo e encanto visual, um gesto de gratidão pelos serviços prestados a gerações que nos precederam.
Dita-me a minha sensibilidade, que a melhor homenagem de gratidão é protegê-los.
- Ou não serão eles, os cata-ventos, património a preservar?
Evidentemente que para muitas boas pessoas, estas “palavras leva-as o vento”, mas para elas, remato este meu texto com o provérbio que lhes encaixa na perfeição:
“A ignorância e o vento são do maior atrevimento”.