O BAILE DOS PRETOS
Como todos sabemos, de uns anos a esta parte, o pelouro da cultura da Câmara Municipal tem incentivado o reaparecimento de certos bailes que se tinham perdido no tempo, juntamente com as artes e ofícios que eles representavam.
Acontece que o Baile dos Pretos não representa nenhuma arte, mas sim o período de expansão e dominação colonialista, tendo o seu texto frases com índole racista.
Evidentemente que aqueles homens e mulheres que dele fazem parte, não só participam com gosto e alegria, como têm brio naquilo que fazem, já que o seu grau cultural é baixo e não questionam o texto que cantam.
Assim, fiquei estupefacto, quando ouvi os versos de antigamente a serem cantados, sem que os mesmos fossem adaptados a novas realidades actuais, pois como escreveu Camões, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.
Para justificar o que acabo de dizer, aqui vão duas quadras do dito baile, que são bem elucidativas, sendo a 1.ª cantada por todos os pretinhos e pretinhas e a 2.ª pela Rainha.
1ª
O Preto é rei dos matos
Imperador de macacos
Não posso levar avante
Pretinho andar de sapatos.
2.ª
Trabalhai Pretos cachorros
Trabalhai com devoção
Já que el-rei vos deixou forros
Ide-lhe beijar a mão.
O que dirão pessoas de cor, que nos visitaram nas Festas do Corpo de Deus ao ouvirem tais desaforos?
Já estou a ouvir os defensores ortodoxos das tradições que o Baile dos Pretos se deve manter como antigamente, senão deixa de ser tradicional.
Nesse caso eu pergunto:
- Será que a escravatura também é uma tradição a preservar?
Os entendidos cá da praça que respondam ...