HONRA
E DEVER
TROPAS
PARA A GUINÉ
Nos
anos 60 e 70 do século passado, do quartel de Penafiel, saíram
muitas companhias para combaterem no continente africano nas três
províncias ultramarinas: Angola, Moçambique e Guiné.
Assim
os penafidelenses foram-se habituando a este frenesim que eram as
chegadas e partidas de tropas.
Se na primeira a alegria era
espelhadas nos rostos, retratada em beijos e abraços de familiares e
amigos, já nas partidas era a tristeza que reinava e as lágrimas
escorriam e secavam nos rostos de familiares e namoradas.
Durante
os dois anos que separavam a partida da chegada, trocavam-se
aerogramas (cartas do Serviço Postal Militar, SPM), fornecidos
gratuitamente pelo Movimento Nacional Feminino, onde as saudades
amoleciam com notícias da terra e do outro lado do mar se relatavam
vivências, num tempo que parecia parado.
Se
as duas primeiras companhias para a Guerra Colonial, que saíram do
RAL 5 de Penafiel foram para Angola, as duas últimas antes de Abril
de 1974, rumaram à Guiné, não imaginando a que saiu em 1973, que
iria assistir à independência dessa colónia portuguesa.
No
dia 26 de Março de 1972, despediu-se de Penafiel a Companhia 3567,
que rumou à Guiné.
Ás
10,30 horas na Igreja do Calvário repleta de gente, assistiu-se à
missa em cujos actos religiosos se encarregou o Reverendo Capelão
Alferes Rui Alves.
À
homilia o sacerdote militar, exaltou os soldados para o cumprimento
da missão do dever sagrado para com Deus e para com a Pátria.
Após
a missa procedeu-se à Bênção do Guião da companhia que irá ser
o símbolo destes bravos soldados que na Guiné irão defender a
Pátria Lusa.
Seguidamente
foi feita a entrega do Guião à Companhia expedicionária tendo-o
recebido das mãos do Comandante do Regimento o sr. Capitão João
Pereira Tavares, comandante da CART 3567, proferindo depois o
agradecimento em nome daqueles que com ele iam partir para a Guiné.
A
estas cerimónias estiveram presentes o Comandante do RAL 5, Tenente
Coronel de Artilharia Sérgio Augusto Valverde Bacelar, o Segundo
Comandante, Major Gaspena, o sr. Major Carlos Manuel Lopes Leal,
comandante da Esquadra 12 de G. D. A. C. 1, de Paços de Ferreira,
Presidente da Câmara, Dr. Manuel Alves Moreira, Presidente da Acção
Nacional Popular, Director da Escola Industrial e Comercial de
Penafiel, Dr. Aurélio Tavares, Comandante da GNR, Tenente Veiga
Ferraz, Presidente da Secção da Liga Portuguesa dos Combatentes,
Senhoras do Movimento Nacional Feminino, Médico da Unidade Dr.
Francisco Brandão Rodrigues dos Santos, antigo Comandante do RAL 5,
Coronel Cipriano Alfredo Fontes, oficiais, sargentos e praças do RAL
5.
No
vasto recinto do Campo Conde de Torres Novas, procedeu-se à
formatura geral do Regimento, enquanto os convidados eram recebidos
pelo Comandante do RAL 5 e visitavam a Biblioteca da Unidade.
No
gabinete do Comandante foram impostos os galões a vários oficiais
promovidos ao posto imediato pela partida agora registada.
O
Regimento desfilou depois pelas ruas da cidade, e das varandas e
sacadas, de onde prendiam vistosas colchas, eram lançadas pétalas
sobre aqueles que iam partir para a Guiné, na esperança de um feliz
regresso.
Seguiu-se
uma confraternização entre oficiais, sargentos e praças, a
culminar mais um dia na história do RAL 5 em Penafiel.
No
ano seguinte, mais propriamente em 5 de Julho de 1973, despedia-se
de Penafiel a Bart 6523, também rumo à Guiné.
Em
representação do General Comandante da 1.ª Região Militar esteve
presente o Coronel de Artilharia Amândio Augusto Trancoso, antigo
Comandante do RAL 5, que presidiu a esta cerimónia de despedida, à
qual se associaram autoridades civis e religiosas da cidade de
Penafiel.
Na
parada interior do quartel, foi celebrada missa campal pelo Reverendo
Capelão-Chefe da Região Militar, Major Capitão, dando a bênção
do Guião e das Flámulas da Bateria 6523.
Após
esta cerimónia, no Campo Conde de Torres Novas, com as forças em
parada, foi prestada continência ao representante do General
Comandante da Região, e seguidamente, em tribuna levantada para o
efeito, tomaram assento as seguintes individualidades: Presidente da
Câmara Municipal de Penafiel, Dr. Manuel Alves Moreira, Presidente
da ANP, Dr. Aurélio Peixoto Pais Tavares, Comandante da GNR, Tenente
Veiga Ferraz, Reverendo Padre Albano Ferreira de Almeida, Vigário
da Vara, Director Clínico do Hospital, Dr. Joaquim da Rocha Reis,
Representante da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, Sr. Vieira de
Mesquita, Médico do RAL 5, Dr. Francisco Brandão Rodrigues dos
Santos, Coronel Faria d Abreu e Coronel Fontes, ambos na situação
de Reserva, Senhoras do Movimento Nacional Feminino, representadas
por Dona Maria Teresa de Vasconcelos.
Usaram
da palavra o Coronel Campos Gil, Comandante do RAL5, o Coronal Damas
Vicente, Comandante da Força Expedicionária e por último, o
Coronel Trancoso que entregou Guião ao comandante das Forças
expedicionárias, sendo as Flámulas entregues pelo Dr. Aurélio
Tavares, Coronel Fontes, sendo distribuídas lembranças a todos os
soldados pelas senhoras do Movimento Nacional Feminino.
Após
estas cerimónias procedeu-se ao desfile das tropas com fanfarra que
depois de prestarem continência ás autoridades presentes se
dirigiram em desfile para o centro da cidade.
A
população da cidade associou-se a mais esta despedida de tropas,
que, partem cientes de que vão cumprir o dever para com a Pátria.
Quando
regressaram á pátria, não foram recebido com honra como mereciam,
porque o MFA andava entretido com a revolução e o povo que entoou
nas rua a “Grândola Vila Morena, Terra da Fraternidade”, já
tinha virado o disco para a Gaivota que voava, e lhes dizia que
“Somos Livres”.
Em
Abril, os papagaios do costume, não vão descer à praça por causa deste mal que entrou nas nossas vidas, e debitarem
palavras da praxe que não lhes saem do coração.
Muitos
nossos conterrâneos tombaram nesta guerra e os seus nomes permanecem
no chão da nossa praça, sem honra e sem glória do dever cumprido,
dando o seu melhor à Pátria, a sua própria vida.
Triste
terra que trata assim os seus filhos, mas como disse o Padre António
Vieira, na Capela Real, no ano de 1669, no seu sermão da terceira
quarta-feira da Quaresma:
“Se
servistes a pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que
devíeis, ela o que costuma”.
Desde
esses tempos longínquos da monarquia, passando pela república com
ditadura ou em democracia, “tudo como dantes, quartel-general em
Abrantes”.
Vou
terminar, resumindo toda esta situação que me causa náuseas, com
uma única palavra:
INGRATIDÃO
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho