FALANDO DO CULTO A S. JOSÉ
FALANDO DO CULTO A S. JOSÉ
Nunca compreendi muito bem certos fenómenos populares religiosamente falando, como ser mais venerado um santo que não é o patrono do templo, mas sim outro que se encontra noutro altar dentro do mesmo.
Isto acontece por exemplo no Mosteiro de S. Miguel em Bustelo e que a grande festa é à Senhora da Saúde, assim como no Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, cuja festa maior se realiza a S. Bartolomeu com a sua feira de cebolas, melões, melancias e outras frutas que se estende pelas avenidas e parque que rodeia o Santuário.
Na igreja da Nossa Senhora da Ajuda nos anos 50 e 60, a grande festa era a S. José. Mal chegava o mês de Março, no final da tarde, de todos os lados da cidade apareciam no largo um grande número de miúdos com a finalidade de envergarem uma opa e se incorporarem na novena a S. José, que se iniciava no dia 1 até ao dia 19 de Março, dia dedicado a S. José.
Assim que aparecia o Sr. Arturinho à porta da sacristia todas as brincadeiras cessavam e todos corriam para ver se eram contemplados com alguma opa. Acontece que só seis podiam ter essa sorte, mas todos sabiam que no dia seguinte a mesma cabia a outros dando vez a todos.
No dia 19 a novena era rezada junto ao altar de S. José e no final da mesma começava a Missa de Festa (dita nesse tempo com o padre de costas para os fiéis), no altar-mor.
No final, o sr. Arturinho, distribuía um santinho com a imagem de S. José, referente ás novenas do respectivo ano que todos gostavam de levar para casa, quanto mais não seja como recordação.
Embora nem todos os países festejem o Dia do Pai nesta data, em Portugal, Espanha, França e Itália, celebram-no a 19 de Março, devido à Igreja Católica comemorar o dia de S. José, esposo de Maria, Mãe de Jesus.
Em 1935, o nosso conterrâneo de Bustelo Dom Manuel Luiz Coelho da Silva, Bispo de Coimbra, que na sua Pastoral destinada a preparar a sua Diocese à Sagrada Família, nela se encontra feita com admirável proficiência a história do culto a S. José. Ei-la:
Santa Helena |
“Santa Helena, mãe do imperador Constantino, mandou edificar em Belém,uma igreja consagrada à Mãe de Jesus,e ao lado uma capela dedicada a S. José, seu castíssimo Esposo.
Gregório Magno |
No ano 590, em que foi eleito o Pontífice S. Gregório Magno, já se celebrava uma festa a S. José com o título de Nutrício do Senhor.. O Oriente precedeu o Ocidente no culto de S. José como era natural. Este culto era em grande honra, especialmente nos mosteiros da Palestina.
Em 1153 os Carmelitas da Palestina vieram estabelecer-se na Sicília e foram estes quem mais procurou desenvolver na Europa o culto do Santo Patriarca. Para o desenvolvimento deste culto concorreram ainda outras ordens religiosas, especialmente os Franciscanos e os Dominicanos. Os Sumos Pontífices intervieram também para promover, sancionar e animar o mesmo culto.
Papa Sisto IV |
Assim é que em 1471 o Papa Sisto IV mandou colocar a festa de S. José no Breviário e no Missal Romano, e ordenou que se rezasse dele em toda a Igreja Católica.
Papa Gregório XV |
Em 1621 determinou o Papa Gregório XV que o dia de S. José fosse festa de preceito em toda a parte. Assim o determina também o Código do Direito Canónico (c. 1247). Nenhum outro santo singular tem festa de preceito.
Inocêncio XI instituiu a festa do Patrocínio de S. José para os Teresianos e Carmelitas.
Bento XIII |
Bento XIII em 19 de Dezembro 1726 mandou incluir o nome de S. José na Ladainha dos Santos e antes dos Apóstolos.
Bento XIV |
Bento XIV, em 1741 elevou o rito da festa de 19 de Março e fixou o Patrocínio de S. José no 3.º domingo depois da Páscoa. Entretanto algumas Ordens Religiosas tomam S. José como seu Padroeiro. Assim o fizeram os Carmelitas Descalços no Capítulo Geral de 1628 e os Clérigos Regulares Theatinos em 1686. Em 1665 o Imperador da Boémia tomou S. José como patrono de todo aquele Pais, o que mais tarde foi confirmado por Inocêncio XI. Em 1678 era S. José declarado Protector das Missões da China.
Quanto a Portugal especialmente, sabemos que pelo ano de 1238 vieram para aqui alguns Carmelitas trazendo consigo o Breviário Jerosolimitano pelo qual na Igreja do Santo Sepulcro se rezava a S. José, e foram eles que na nossa querida pátria introduziram a festividade deste grande Santo.
Padre António Vieira |
Diz o Padre António Vieira que, quando se começou a celebrar mais S. José, foi depois de El-Rei D. Sebastião, e à protecção daquele glorioso Patriarca atribui a nossa restauração e independência em 1640. Diz ainda que Portugal deve tomar solenemente a S. José por seu particular advogado e protector.
Papa Inocêncio XIII |
Esse culto continuou, e aos domínios de Portugal, em 1696, estendeu o Papa Inocêncio XIII a festa dos Desposórios de S. José, a pedido de El-Rei D. Pedro II.
Mas o maior progresso do culto público de S. José em toda a cristandade data do século XIX, sob o impulso dos últimos Soberanos Pontífices, a contar de Pio IX.
Nesse século XIX os grandes e repetidos ataques que a Igreja Católica recebia de todos os lados, levaram os Pontífices Romanos a convidar instantemente o povo cristão a voltar-se com grande confiança para o Chefe da Sagrada Família.
Pio IX |
Pio IX, logo no 2.º ano do seu pontificado, a 10 de Dezembro de 1847, começou por estender à Igreja Universal a festa do Patrocínio de S. José. Numa alocução pronunciada em 1854 indica S. José como a mais segura esperança da Igreja depois da S.S. Virgem.E a 8 de Dezembro de 1870 proclamou S. José Padroeiro da Igreja Católica.
Leão XIII |
Leão XIII, a 6 de Janeiro de 1884, nas preces que mandou recitar de joelhos no fim da Missa, lá colocou S. José logo em seguida ao nome da sua Esposa a S.S. Virgem. O mesmo glorioso Sumo Pontífice,na sua Encíclica de 15 de Agosto de 1889, depois de ter enumerado os títulos de glória de S. José, Esposo de Maria Santíssima, Pai de Jesus, Chefe da Sagrada Família que continha, diz o mesmo Pontífice, as primícias da Igreja nascente, conclui
pela oportunidade de invocar S. José como Padroeiro da Igreja Universal, e determina que no exercício do mês do Rosário em honra da SS. Virgem se junte em honra de S. José a nova oração que acompanhava a mesma Encíclica e que é de todos conhecida; “A vós recorremos, bem aventurado José …” recomenda ainda que se consagre mais do que nunca o mês de Março em honra de S. José, ou que, pelo menos, se faça preceder a sua festa dum triduo de orações.
Pio X |
Pio X, a 18 de Março de 1909, aprovou e indulgenciou a Ladainha em Honra de S. José, ladainha que pode recitar-se no culto público, o que não acontece com as ladainhas dos outros Santos, estas ainda que aprovadas, só podem ser recitadas no culto particular.
Bento XV |
Bento XV aprovou um Prefácio no dia 9 de Abril de 1919, próprio para todas as Missas em Honra de S. José, e no seu Motu Próprio de 25 de Julho de 1920, mandou celebrar o cinquentenário da proclamação de S. José como Padroeiro da Igreja Católica, recomendou instantaneamente a devoção ao mesmo Santo Patriarca e exortou os fiéis a honrá-lo na quarta-feira de cada semana, assim como no mês de Março que lhe é especialmente consagrado. Ainda o mesmo Sumo Pontífice mandou que nos conhecidos Louvores Deus seja bendito se juntasse logo em seguida ao nome da SS Virgem o seguinte: “Bendito S. José, seu castíssimo Esposo” (23 de Fevereiro de 1921), e estendeu a toda a Igreja a festa da Sagrada Família a 26 de Outubro de 1921.
Pio XI |
Finalmente o Santo Padre Pio XI, felizmente reinante, a 9 de Abril de 1922 mandou inserir o nome de S. José logo depois do de Maria SS. Na administração da Extrema Unção nas orações de encomendação da alma, além duma oração especial para a agonia depois outra à Santíssima Virgem. E na oração da expiração invoca-se S. José cinco vezes, sendo 3 juntamente com Jesus e Maria Santíssima (Rit Rom., f 5, cap. 2,7 e 8).
Este desenvolvimento cada vez maior do culto do Santo Patriarca justifica o seu nome profético, pois José significa crescimento.
Assim se justifica também aquela célebre profecia de Isidoro de Isolano. Este grande dominicano, escrevendo em 1522 sobre o culto de S. José, disse que havia de vir tempo em que a Santa Igreja, celebraria a memória deste glorioso santo com honras e festas novas, e que o seu nome seria penhor de inumeráveis benefícios para toda a cristandade.
Este movimento a favor do culto de S. José continuará pois anda e cada vez mais intensamente. S. José sempre depois de Maria SS.
Jesus, Maria e José devem estar sempre juntos nas nossas orações e devoções neste mundo, como juntos estão no céu.”
Infelizmente as novenas a S. José das quais cheguei a tomar parte, já não se realizam na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, embora ainda continua a haver a Missa Solene em Honra a S. José.
Afinal de contas, se rezar é falar com Deus, como diz a sabedoria popular, com mais ou menos novenas ou rezas, a vida vai-nos ensinando a tocá-la para a frente com os valores que os nossos pais nos transmitiram e nós vamos adaptando ás circunstâncias que nos vão surgindo neste mundo cada vez mais “Cão”.
Fernando Oliveira – Furriel de Junho
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