A
INAUGURAÇÃO DO BUSTO
DE
ZEFERINO DE OLIVEIRA
NO
HOSPITAL
Domingo,
9 de Julho de 1933, a Mesa da Santa Casa da Misericórdia, organizou
o Festival da Caridade, onde hospital, asilo e balneário estiveram
durante o dia e noite franqueados ao público, tendo sido muito
visitados por milhares de pessoas, que muito justamente elogiaram o
estado de asseio e ordem em que todas as dependências se
encontravam.
O
dia acordou, com os sinos das igrejas de Penafiel a repenicarem,
dando por assim dizer a alvorada pelas 8 horas.
Com
grande aglomerado de pessoas no Largo e cerca do Hospital, pelas 11
horas, realizou-se uma missa na igreja dos Capuchos, presidida pelo
padre Alcino Gonçalves de Azevedo, em acção de graças por todos
os benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel, com a
assistência das autoridades militares e civis cá da terra.
Finda
a qual, realizou-se no Salão Nobre uma sessão de homenagem à
memória do grande benemérito, Zeferino de Oliveira, a qual presidiu
o Presidente da Câmara, Capitão Arrochela Lobo, tendo a ladeá-lo
os srs. Coronel Barbeitos Pinto e Manuel Moreira Guedes e Melo.
Usou
em primeiro lugar da palavra o respectivo Provedor Sr. António José
de Freitas Guimarães, que em nome da mesa administrativa agradeceu a
comparência de todas as pessoas àquele solene acto, terminando por
evocar a memória, sempre querida do saudoso benfeitor.
Falou
depois o Sr. Dr. Avelino Soares, que proferiu uma magnífica oração,
em que exaltou a memória de Zeferino de Oliveira, aconselhando todos
aqueles que dispõem de meios de fortuna a seguir-lhe o nobre exemplo
de amor ao próximo.
Em
nome da lavoura, também se associou à homenagem prestada. o Sr.
Fernando Guedes da Silva e do clero o Reverendo Alcino Gonçalves de
Azevedo pároco desta cidade. Em nome da família de Zeferino de
Oliveira, tomou a palavra o procurador desta cidade, o Sr. Justino
Ribeiro de Carvalho, que agradeceu tão significativo tributo de
gratidão.
No
final pelo Sr. Presidente da Câmara de Penafiel, Capitão Arrochela
Lobo, foram descerrados os retratos de Zeferino de Oliveira e de seu
filho Mário de Oliveira, continuador da obra filantrópica de seu
pai. De seguida, no largo fronteiriço ao hospital foi inaugurado o
busto de Zeferino de Oliveira, com a presença de autoridades civis e
militares, assim como todas as colectividades locais se fizeram
representar com os seus estandartes na referida homenagem e muito
povo. Como curiosidade nos anos seguintes era costume no dia de
aniversário da sua morte, depositarem flores junto ao busto e missa
na Igreja da Misericórdia e no Santuário de Nossa Senhora da
Piedade e Santos Passos a Zeferino de Oliveira, coisas que com o
decorrer dos tempos ficaram em desuso. Talvez por não esquecerem o
bem que lhes foi feito por Zeferino de Oliveira, ao contrário de
muito boa gente, muitas pessoas se faziam fotografar junto ao busto.
Pelas
15 horas, deu-se início ao sorteio, a que presidiu o Sr. Dr. Joaquim
Peixoto, secretariado pelos srs. Álvaro Ribeiro Cerqueira, que
representava o sr. Administrador do concelho e António Fortunato da
Silva Babo, representante da Santa Casa.
O
Sr. Armando Matos Almeida, à medida que os números eram divulgados,
ia-os transmitindo das varandas do hospital ao povo que estacionava
em frente, por meio de um improvisado megafone.
Os
números premiados foram os seguintes:
6945
– Uma junta de touros
2949
– Uma vitela
11946
– 2 rolos de arame
9886
– 12 garrafas ponche “Rei de Siam”
9564
– 4 latas de bolachas
8761
– 1 espelho de cristal
4894
– 1 rosca de pão podre “Vitória”
5814
– 3 garrafas de Vinho do Porto
8019
– 1 guarda-chuva para senhora
9534
– 1 estatueta Pierrot
6841
– meia caixa de Vinho do Porto
8784
– 1 relógio de mesa
12058
– 1 rolo de arame
2942
– 2 chapéus para homem
9226
– 1 coberta de seda
7855
– 1 caixa de vinho “Rainha Santa”
13245
– 1 vaso de metal bronzeado
7951
– 1 almofada rendilheiras de Vila do Conde
2914
– 1 estojo com prata dourada para pasteis
6100
– 3 garrafas de vinho
11418
– 1 peça para vestido de senhora
6140
– 12 pratos de louça esmaltada
1507
– Diversos livros
6613
– 1 almofada
4829
– 2 bustos de fantasia
11517
– 1 serviço de lavatório
502
– 1 vestido de crepe da China
6253
– 1 cobertor de ramagem
10511
– 1 regueifa de pão de ló
13471
– 1 jarra de faiança
7045
– 1 caixa de vinho do porto
6266
– 12 garrafas de ponche “Rei de Siam”
5023
– 1 relógio de mesa
7215
– 1 caixa de cerveja
5740
– 4 latas de bolachas
9333
– 1 carneiro
12334
– 1 trinchante de prata dourada
3120
– 1 serviço de cristal
8104
– 2 boiões de manteiga
10350
– 6 jarras de fantasia
5248
– 4 latas de bolachas
4978
– 1 imagem de Nossa Senhora de Fátima
Ás
16 horas abertura solene de uma interessante quermesse, organizada
por um grupo de gentis damas penafidelenses e na qual a assistência
encontrou: Barracas de chá; Bares de cerveja e refrigerantes;Casas
de comidas e bebidas; barracas de caldo verde; barraca da sina etc.
Durante
este festival, tocaram a Orquestra Jazz do Sport Club de Penafiel e a
Banda de Música de Paredes.
A
noite foi animada pela Banda do Regimento de Infantaria N.º 6, pela
Banda dos Bombeiros Voluntários de Entre os Rios e por um Grupo de
Chuladas com cantares ao desafio.
À
meia noite encerraram as festas, subindo ao céu um magnífico fogo
de artifício a cargo dos pirotécnicos de Lanhelas, sr. José
Fernandes & Filhos, e Manuel da Rocha Soares júnior de
Jugueiros. Deduzidas todas as despesas, ficou líquido 30.272$70, que
entraram na tesouraria da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.
Pouco
tempo depois se percebeu que esta colocação do busto de Zeferino de
Oliveira dificultava a entrada e saída de ambulâncias que
transportavam doentes do e para o hospital.
Foi
então que foi colocado fora da cerca (no lugar do candeeiro). O seu
busto ficou com uma visibilidade muito ampla pois todas as pessoas
que desciam ou atravessavam a Avenida Araújo e Silva, assim como
quem percorria a rua dos Pelames ou a Rua com o nome do seu filho
Mário de Oliveira o viam.
Mas
eis que chegaram os iluminados e retiraram o busto de Zeferino de
Oliveira, para um canto sem encanto, sem grande visibilidade,
demonstrando uma falta de sensibilidade e até de “respeito” pelo
grande benemérito que foi Zeferino de Oliveira.
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Zeferino de Oliveira no banco de trás com a sua filha Irene em Croca.
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Melhor
seria terem-no colocado na avenida com o seu nome na sua terra natal
Croca.
Aí não só era visto pelos automobilistas que por lá
passam diariamente, como os seus patrícios que por lá ainda moram,
e os seus conterrâneos desta freguesia de Croca que o viu nascer, o recordavam com orgulho e estima, porque por estas bandas de um tal "Sentir Penafiel" estamos conversados.
Pelo bem que Zeferino de Oliveira fez a Penafiel, que vivia do outro lado do mar,
melhor dizendo no Brasil, e nunca se ter esquecido dos desprotegidos da
sorte desta vida, financiando a sopa dos pobres na Santa Casa da
Misericórdia, matando assim a fome a muitos penafidelenses e
construindo uma escola do ensino primário na sua freguesia de Croca, o seu busto merecia sem favor, estar num local com mais destaque.
Ultimamente,
até o parque que envolve o Santuário de Nossa Senhora da Piedade e
Santos Passos, que tinha o seu nome, já que foi ele que financiou em
grande parte a sua construção, passou a chamar-se Sameiro (nome
importado da cidade de Braga). Eles lá sabem porquê!
Aqui
fica o meu singelo contributo, para que os penafidelenses mais novos
saibam quem foi Zeferino de Oliveira, e o que lhe estão fazendo os
arrumadores da história, que aterraram nesta terra, segundo dizem de
paraquedas.
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho