UM JOGO CÉLEBRE
UM
JOGO CÉLEBRE
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Nos
anos 30 e 40 do século passado, em Penafiel, existiam dois clubes de
futebol, sendo um Sport Clube de Penafiel e o outro a União Desportiva
Penafidelense.
Ambos
os clubes tinham a sua orquestra, que actuavam em vários locais da
cidade, principalmente no tempo do cantar das Janeiras e dos Reis.
Orquestra Jazz Albardófila |
A
do Sport que nasceu com o nome de Orquestra Jazz Sport, com o
decorrer dos anos, vai dar lugar à Orquestra Jazz Albardófila,
enquanto a do União manteve o seu nome desde o seu nascimento até
ao seu fim, como Orquestra Jazz União.
Orquestra Jazz União |
Geralmente
as letras das canções eram referentes aos acontecimentos
desportivos, mostrando é claro a sua rivalidade, sendo a letra
colada em cima de uma música ou fado conhecido.
Como
estamos em quarentena lá fiz umas arrumações e qual não é o meu
espanto ao encontrar estes papelinhos com esta letra que retrata a
actuação do árbitro, cantada com a música da “Margarida vai à
Fonte ou Fado Nova Avenida.
O
mais engraçado é que sendo o meu pai, atleta do Sport, estes versos
são do União.
I
O
tal combate de Leiras
Entre
os grupos de primeiras
Do
Sport e União
Foi
um combate valente
Foi
uma luta imponente
Cheia
de brilho e emoção
II
Um
jogo duro e violento,
O
Sport marcou um tento
Pois
levou ao outro a palma
Porém
em combinação
Foi
superior a União
Jogou
mais e com mais alma
III
O
Carlinhos do apito
Apesar
de tanto grito
Foi
um pimpão consumado
Com
empurrões e rasteiras
Tudo
consentiu em Leiras
Sem
temer o delegado.
IV
Isto
de jogar com doze
É
melhor do que catorze
Quando
o outro anda de apito
Não
é justo nem decente
Mas,
há por aí muita gente
Que
acha airoso e bonito
V
Não
é esta a vez primeira
Que
o Sport, de tal maneira
Consegue
vencer rivais
Há
muito que a história o diz
Bateu
o Egas Moniz
Só
pelo apito e nada mais
VI
No
trinta e quatro passado
Foi
o União derrotado
Por
causa duma traição
O
Sport que tudo puxa
Puxou
para lá o “Ras” Guxa
Das
fileiras do União.
VII
Entre
as cenas mais chistosas
Dessas
tardes gloriosas
Do
jogo do pé na bola
O
que mais me deu no goto
Foi
aquela do maroto
Que
puxou pela pistola
VIII
Confesso
que até fez pena
Vê-lo,
faces de açucena
No
meio da multidão
Receando
o bom povinho
Temendo
que o capachinho
Lhe
rolasse pelo chão
IX
E
foi assim desta vez
Que
o Sport venceu por três
Depois
de muito jogar
Na
União Desportiva
Continua
sempre viva
A
vontade de lutar
X
Ninguém
ria do vizinho
Que
o seu mal vem pelo caminho
Diz
o antigo rifão
Valongo
tirou o pio
Ao
grupo que d' assobio
Derrotou
o União
XI
Na
sede do União
Há
beiça fresca, a tostão
Quem
a não poder comprar
Para
menos embaraço
Gastai
antes da do Paço
Não
se vende é só pra dar
XII
Os
verdes cheios de brio
Em
constante desafio
Com
a manha do rival
Mantêm-se
firmes no posto
Sempre
a trabalhar com gosto
Num
combate triunfal.
Devido ás cores das camisolas, os adeptos do Sport eram conhecidos pelos vermelhos, e os do União eram chamados de Verdes. O autor destes versos assina-se, "Um Verde", o que se facilmente se deduz que se trata de um apoiante da União Desportiva Penafidelense.
E pronto, se no passado, as rivalidades futeboleiras eram tocadas e cantadas para animação dos seus apoiantes que se divertiam com isso, nos dias que correm as coisas atingiram tais proporções que vão desde o insulto gratuito, a cânticos racistas e ao ajuste de contas, organizado em claques.
O
futebol, que na maioria dos clubes sobrevive à base de dinheiros
públicos, ou muda rapidamente de carril, ou a continuar assim, o fim
da linha está próximo, pois basta fechar a torneira, para o clube
encerrar portas.
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho