INTERCÂMBIO
CULTURAL
ENTRE
PENAFIEL E OVAR
Nos
anos 40, os alunos e alunas do Colégio do Carmo, além dos estudos e
como passatempo extra curricular, dedicavam-se à arte de
representar.
Propositadamente
para eles, o Sr. Armando Passos, escreveu a revista “Flocos de
Neve”, tendo o guarda roupa sido executado por Zulmira Iglésias e
os cenários e o libreto realizados por German Iglésias.
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German Iglésias
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Esta
revista foi levada à cena pela primeira vez no dia 18 de Maio de
1940, no Cine Clube em Penafiel.
Sendo
de agrado do público, várias vezes subiu a palco, deliciando sempre
a assistência, e cujas receitas dos espectáculos revertiam a favor
de instituições, sendo uma delas o Hospital da Santa Casa da
Misericórdia de Penafiel.
Fazendo
parte deste intercâmbio cultural entre Ovar e Penafiel, o Grupo de
alunos de ambos os sexos do Colégio de Nossa Senhora do Carmo,
deslocaram-se à Vila de Ovar (hoje cidade), no dia 24 de Maio de
1941, para representar no velho teatro de Ovar, a revista fantasia,
Flocos de Neve, que tanto êxito obteve em Penafiel.
Nunca
imaginaram foi a forma como iriam ser recebidos com toda a pompa e
circunstância, na vila hospitaleira de Ovar.
Aguardavam
o grupo, representantes da Legião e da Mocidade Portuguesa,
escoteiros, várias associações com as suas bandeiras e estandartes
e enorme multidão, aclamando-o com entusiasmo, enquanto as notas de
uma banda de música e o estralejar de incessantes foguetes
electrizavam mais, se é possível os manifestantes e os
recém-chegados.
Organizado
um cortejo, seguiu este sempre debaixo de uma verdadeira nuvem de
flores até à Câmara de Ovar, em cujo Salão Nobre foram
apresentados os cumprimentos de boas-vindas pelo Reverendo Padre
Torres, ilustre vice-presidente do município, que pronunciou um
brilhante discurso com alusões muito elogiosas para a cidade de
Penafiel, encaminhando-se depois o Grupo, sempre acompanhado de
enorme multidão, para o Colégio Júlio Diniz, onde lhe foi servido
um primoroso copo de água, o que deu motivo a calorosos brindes e a
novas manifestações.
Pelo
que atrás foi dito, facilmente se conclui que o Grupo de Teatro
composto pelos alunos do Colégio de Nossa Senhora do Carmo de
Penafiel, tiveram uma recepção calorosa, como aliás à noite, no
Teatro lhes prestaram a mais sensibilizante homenagem, atingindo
foros de autêntica apoteose, tal a profusão de flores e de
entusiásticas e delirantes aclamações.
E
foi assim que os ovarenses, receberam com simpatia os penafidelenses
que se deslocaram à sua terra, para representar a arte de Talma.
Para
dar continuidade a este intercâmbio Cultural, no domingo, 8 de Junho
de 1941, visita Penafiel o Orfeão de Ovar, que celebrou o seu
centenário no passado dia 16 de Janeiro de 2021.
Desde
a chegada em frente ao Jardim Público, até aos Paços do Concelho
de Penafiel, ao som das músicas e do estralejar de foguetes, o
cortejo, atravessou em triunfo as avenidas Egas Moniz e Sacadura
Cabral, até à Câmara Municipal, subindo a escadaria que os havia
de levar até ao Salão Nobre, enquanto um conjunto de moças com os seus
trajes minhotos, lhes lançavam do alto da escadaria pétalas de
flores.
De
seguida o vereador Pais Neto, deu-lhes as boas-vindas, saudando em
nome da cidade que tinha a satisfação, honra e alegria de os ver
dentro desta terra que vossa é.
José
Júlio, poeta penafidelense saúda-os com o poema:
BEMVINDOS!
Chega
hoje à nossa Terra,
Afeita
aos ventos da Serra,
A
brisa fresca do Mar...
Amigos,
sede bemvindos!
Ovarinas
de olhos lindos,
A
todos: muito saudar!
Trazeis
convosco Alegria?
Com
alegre simpatia
Vos
saudamos, ao chegar;
Mas,
com verdade, vos digo
Que
não pode o nosso abrigo
O
vosso abrigo igualar...
Num
abraço apertado,
Que
fique sempre lembrado,
Mesmo
depois da partida,
Abraço
franco, leal,
Abraço
de Portugal...
Que
lembre por toda a vida.
Abraço
que não esqueça
Que
grande até, que pareça
Nunca
mais nos apartar,
Vos
pagará o carinho
Que
estava ao fim do caminho,
Quando
nós fomos a Ovar...
Amigos,
sede bemvindos!
Ovarinas
de olhos lindos,
Bendito
seja esse olhar,
A
sorrir, no areal,
Das
praias de Portugal,
À
terra, ao Céu e ao Mar!...
Em
palavras de imerecido reconhecimento, o Padre Torres agradece a
ovação que está sendo dispensada ao Orfeão de Ovar, sendo muito
aplaudido, com vivas a Ovar e a Penafiel, manifestação que atingiu
o auge, quando, na bandeira do Orfeão de Ovar foi colocada a medalha
da cidade pendente por uma fita vermelha e branca, as cores da
heráldica de Penafiel, e depois, quando os componentes do Grupo
Cénico do Colégio do Carmo, entregou ao Orfeão uma linda corbélia
de lindíssimas flores.
E,
sob este ambiente de alegria deixaram a “Domus Municipalis”
espalhando-se pela cidade.
À
noite, no Cine Clube, decorado elegantemente, com flores e
calgaduras, totalmente repleto.
Pouco
depois das nove e meia da noite, abre o pano. Sob o fundo negro dos
trajes orfeonistas, sobressai o friso branco das gentis orfeonistas.
O
Dr. Evaristo Teixeira, ilustre advogado desta comarca, saúda os
orfeonistas.
Tal
como um livro cativa o leitor nas suas primeiras páginas, também o
Orfeão de Ovar sob a regência de Eduardo Liz, rompe com o Hino da
Cidade de Penafiel, que a assistência, comovida e reconhecida, ouve
de pé, coroando a sua impecável execução com uma vibrante e
prolongada salva de palmas.
Depois
do espectáculo, foi servido aos nossos visitantes, no salão do
Sindicato dos Empregados do Comércio de Penafiel, um ligeiro copo de
água, que serviu ainda de pretexto para se trocarem alguns brindes.
Feitas
as últimas despedidas, as camionetas levaram de volta o Orfeão à
vila de Ovar.
Embora
estes intercâmbios estejam fora de moda, fazem falta, quanto mais
não seja para muitos penafidelenses que vão alinhando o seu
diapasão de frases feitas como: “Sentir Penafiel”, “Eu amo
Penafiel” ou Penafiel a Terra Melhor do Mundo”, aprenderem o Hino
da sua terra, escrito por José Júlio, com que o Orfeão de Ovar,
brindou a nossa terra e poucos penafidelenses o sabem.
Com o hino ou sem ele a vida continua, pelo menos ficam a saber que ele
existe, que para os tempos que correm já não é mau...
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho