DAS ARMAS À CULTURA
REGIMENTO
DE INFANTARIA 6
EM
PENAFIEL
DAS
ARMAS À CULTURA
Nos
anos trinta do século passado, no quartel de Penafiel, estava
instalado o Regimento de Infantaria 6, comandado pelo Coronel Júlio
César Gil Iglésias, tendo como ajudante o Capitão José Rodrigues
dos Santos.
Acontece
que para além da aprendizagem do manobrar armas, e da ordem unida
dada aos recrutas, resolveu em boa hora introduzir uma vertente
cultural que ia desde a criação de uma banda de música, à
formação de um grupo de teatro, o que para a época devia ser uma
coisa inovadora.
A
banda de música do RI 6, dava os seus concertos no coreto do Jardim
Público aos domingos de tarde no período de Verão, para delícia
dos penafidelenses.
Como
maestro da banda tínhamos o Tenente Francisco Pereira de Sousa, e
dela faziam parte os seguintes músicos:
Sargento
Ajudante – Manuel Ferreira
Primeiros
Sargentos – José Mendes Sousa, Manuel de Carvalho, João Ribeiro
da Silva, Luciano da Silva Freitas.
Segundos
Sargentos – Mário de Jesus, José da Costa Meira, Francisco da
Costa Chicória, Raimundo Nunes, Francisco Correia de Bessa, António
Duarte de Oliveira, José de Matos, Abílio Tavares, António
Martins, Manuel da Silva Machado, Ernesto Coelho de Sousa, Acácio
Gonçalves Guerra, Acácio Augusto da Rocha.
Furriéis
– António Ferreira Quintas, Albino Ribeiro, António dos Santos,
mais 8 Primeiros Cabos, 1 Segundo Cabo e 7 Soldados.
Quanto
ao grupo de Teatro que foi baptizado de Marte, foi fundado em Janeiro
de de 1932, pelos sargentos Manuel de Deus Loura, José Simões da
Silva Júnior, António Rocha, António N. Guimarães, José Teles
de Menezes e Otélo Laranjeira, do Regimento de Infantaria 6.
Com
o decorrer do tempo, não só entraram mais actores, e como nessa
altura não havia mulheres no exército, e para algumas peças
levadas à cena por este grupo, entravam personagens femininas, o
mesmo teve que recrutar algumas meninas penafidelenses. Foram elas:
D. Conceição Loura, Zulmira Iglésias e Irene Oliveira.
Peças
representadas pelo Grupo de Teatro Marte:
1933
– Ceia dos Generais,
com letra do Tenente Coronel Belizário Pimenta e Filho
da República,
opereta, de António Cândido de Oliveira.
1934
– Entre Duas Avé
Marias, opereta de E.
Donato
1935
– O Segredo do
Fidalgo, opereta de
Sara de Melo com música do Tenente Pereira de Sousa.
O
cenógrafo deste grupo foi German Iglésias
O
guarda-roupa foi fornecido pelo figurinista Jaime Valverde do Porto.
No
dia 9 de Abril de 1933, Penafiel comemorou a batalha de La Lys, com o
seguinte programa:
16
horas – O Regimento de Infantaria 6 desfila do quartel até ao
Monumento dos Mortos da Grande Guerra, onde é colocado um ramo de
flores no seu pedestal, assim como as crianças das escolas
acompanhadas pelos seus professores também colocaram os seus ramos
de flores. Depois deste gesto, foram observados dois minutos de
silêncio, tendo de seguida, a banda do RI6 executado “A
Portuguesa”, que foi cantada pelos presentes.
À
noite, no Cine-Club, foram levadas à cena pelo Grupo Cénico Marte a
opereta em 3 actos “Os
Filhos da República”,
e a peça em 1 acto “Ceia
dos Generais”,
original do distinto oficial do RI6, Tenente Coronel Belizário
Pimenta.
Fez
a apresentação do grupo, o capitão Raul de Vasconcelos, que
proferiu um brilhante discurso sobre a Batalha de La Lys.
A
regência da orquestra, foi confiada ao primeiro sargento Álvaro de
Sousa, cuja música era da autoria do distinto maestro Pires da Cruz.
O
público ficou de tal maneira agradado que o espectáculo voltou a
subir ao palco no dia 11 de Abril.
O
produto líquido destes dois espectáculos, reverteu a favor dos
Cofres de Pensões das Viúvas, orfãos e ex-combatentes da Grande
Guerra.
Como
se pode ver, naquele tempo do antigamente, havia quem se preocupasse
com quem combateu, e com os dá-nos colaterais (como agora se diz)
que a guerra provocou, como sejam as viúvas e os órfãos.
Hoje
na democrácia, os combatentes da guerra do ultramar, são
esquecidos e desrespeitados como se pode ver na nossa "santa terrinha",
com os seus nomes gravados numa chapa colocada ao nível do chão,
onde qualquer cão pode fazer as suas necessidades.
Bem
sei, que, para quem nunca combateu, “bacalhau basta”.
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho