PROCISSÃO DO
SENHOR DOS
PASSOS
DE 1914
Como estamos no período
da quaresma, ou seja, quarenta dias que antecedem a Páscoa, vou trazer ao
blogue "Penafiel Terra Nossa", a primeira procissão do Senhor dos Passos,
realizada em Penafiel, no domingo, de 15 de Março de 1914, depois da
implantação da República em 1910.
A procissão saiu pelas 16
horas da Igreja Matriz, depois do reverendo abade desta freguesia, padre José
de Pinho ter pregado o Sermão do Pretório, relembrando os momentos cruciais da
vida de Jesus Cristo, refletindo sobre os acontecimentos que envolveram a
condenação de Nosso Senhor Jesus Cristo à morte, pregado na Cruz no monte do
Calvário em Jerusalém.
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Capela dos Passos na Rua do Sacramento
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A procissão percorreu as
Ruas do Sacramento, Bom Retiro, Calçada das Freiras hoje Rua Conde Ferreira,
Rua Formosa hoje Av. Sacadura Cabral, Praça Municipal, Rua Serpa Pinto actual
Joaquim Cotta, Largo da Ajuda, Rua Alfredo Pereira, Largo S. Bartolomeu, Ruas
Vista Alegre, Alexandre Herculano hoje Rua do Paço, Rua Direita e Largo da
Matriz hoje Largo Padre Albano Ferreira de Almeida levando a seguinte ordem:
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Foto tirada no Torrão
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A procissão, abria com o
rico estandarte da Confraria da Piedade e Santos Passos de damasco roxo tendo
em cima em grandes caracteres as iniciais S.P.Q.R. (Divisa da antiga Roma
“senatus populusque romanus”, que traduzido para português dá “senado e povo
romano”, e que a igreja católica apresenta-a no pendão com que abriam as
procissões, em que se representa os passos e a morte de Jesus Cristo), conduzido
alternadamente por irmãos, pegando às borlas os srs. Eduardo Vianna e José
Pereira Mendes Leal, presidente e vereador da câmara municipal, os reverendos
João Urbano da Rocha e António Teixeira da Silva e os Drs. Joaquim Telles de
Menezes e Joaquim José Nunes Teixeira Peixoto, que envergavam as suas togas.
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Capela dos Passos na Rua do Bom Retiro
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Seguiu-se depois a cruz
da confraria. Duas alas de irmãos e mesários da confraria com opas de seda roxa,
eram conduzidos os majestosos andores do Senhor dos Passos e Senhora das Dores,
indo às lanternas do primeiro os srs. José Abrantes Ferreira, António Abrantes
Ferreira, João Pereira de Oliveira, José Telles, Joaquim Moreira da Cunha,
Alberto Francisco de Magalhães e de protector o Reverendo António Ramalho, a
figura de Verónica com o sudário, o Grupo de Cantores dos Misereres, o
magnífico andor da Senhora das Dores, indo às lanternas os srs. José Augusto da
Silva, José Alberto Vieira, Francisco Ferreira da Cunha e António Augusto
Pereira, e de protector o Reverendo António Mendes dos Reis, entre as alas de
irmãos seguiam quinze anjinhos, ricamente vestidos, levando em bandeiras de
prata as insígnias dos martírios de Jesus Cristo.
O pálio sob o qual transportava
o Relicário do Santo Lenho, o Reverendo José Pinho, pároco desta cidade de
Penafiel, acolitado pelos Reverendos Manoel Moreira Leão e Bernardo Coelho,
servido de mestre cerimónias o reverendo Manoel Moreira Leão e o padre Firmino
Marques Tavares, da freguesia de Milhundos.
Às lanternas do pálio,
pegaram os srs. José Augusto Lopes, Balthazar Mendes da Costa, Augusto Telles
de Oliveira e João Lemos de Sá Pereira, em quanto às varas pegaram os srs.
Henrique Pires Chumbo, José da Cunha Mello, António Alves Ferreira, António de
Oliveira Pacheco, António Mendes Alves e Joaquim Moreira, indo atrás do pálio a
banda de música de Freamunde e grande número de pessoas.
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Capela dos Passos na Praça Municipal
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Serviram de guias os srs.
José Coelho de Barros, Jorge Pinto, José Marques e Joaquim de Freitas Abreu.
A mesa da Confraria de
Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos fez-se representar pelos srs. José
Maria Pinto Monteiro, Miguel Gomes Teixeira, Clemente Fortunato da Silva,
António José de Freitas Guimarães, Manoel Moreira Guedes e Mello, Alberto
Coelho dos Santos Oliveira, Victorino José Pereira da Silva, José Ferreira
Vianna e Augusto António de Almeida.
Pouco passava das 17,30h,
quando a procissão depois de percorrer todos os Passos, recolheu à Igreja
Matriz, onde o reverendo dr. António de
Castro Meirelles, um dos mais reputados oradores do país, subindo ao púlpito,
pregou o sermão do Calvário.
Como devem ter reparado,
esta procissão que costuma ser nocturna, realizou-se durante a tarde.
Sabendo nós que o
relacionamento da primeira república com a Igreja não era muito “católica”, a
Mesa da Real Confraria de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, em
comunicado agradeceu a todos que tomaram parte na procissão, e assinala que não
houve, durante o percurso, a menor nota discordante, o que registaram com muita
satisfação.
Para depois rematar com
esta alfinetada aos governantes republicanos:
Os milhares de pessoas
que pejaram as ruas da cidade descobriram-se, sem uma única excepção,
respeitosamente à passagem do religioso cortejo, o que nos veio provar, mais
uma vez, as crenças profundas do nosso povo e o mal avisado que andam os que,
sem proveito para ninguém, procuram ferir-lhas.