DOUTRINADOS PARA ENSINAR
DOUTRINADOS
PARA ENSINAR
No
meu tempo, o ensino era iniciado aos sete anos, com a entrada na
escola primária, e aí se fazia a 1.ª, 2.ª, 3.ª, 4.ª classe, e
aqueles que queriam continuar os estudos, o exame de admissão ao
liceu ou à escola técnica que se dividia em industrial e comercial.
O
início do ano escolar era no dia 6 de Outubro e terminava no ano
seguinte no mês de Junho ou Julho caso houvessem exames. Entre o
início e o final das aulas, intercalavam-se as férias do Natal e
da Páscoa, como hoje, com mais ou menos dias.
Escola Conde Ferreira dos rapazes |
Sexualmente
falando, não havia misturas, pelo que na cidade de Penafiel havia
uma escola para os rapazes e outra para meninas. Quando só existia
uma escola para ambos os sexos, haviam salas separadas.
Escola António Pereira de Castro para as meninas |
Hoje,
as escolas separadas pelo sexo terminaram, e os alunos vão para
Centros Escolares, nome pomposo que a democracia encontrou no seu
léxico moderno, para o novo estabelecimento de ensino primário.
Palmatória |
O
ensino era administrado na sua maioria, por professores severos, que
ao menor erro, o aluno ficava sujeito a palmatoadas, a reguadas, a
canadas e outros mimos que nos dias que correm seriam rotulados no
mínimo de maus tratos, ou levado ao extremo de violência escolar.
Por
isso, nesses tempos, ir à escola não era sinónimo de alegria, mas
por vezes de medo.
Como
todos sabemos, o Estado Novo, adoptou como sua a religião católica.
Assim nas sala de aulas lá aparecia na parede o crucifixo ladeado
pelo retrato do Presidente da República e do Presidente do Conselho
de Ministros.
Por
tal motivo, no final dos livros de leitura lá apareciam textos
referentes à religião cristã.
Do livro da 2.ª classe |
Acontece
que o professorado que estava preparado para o ensino das letras e
dos números, não sabia muito bem como lidar com a doutrina cristã.
Sabendo
que em Penafiel se ia realizar um curso de ensino da catequese, entre
os dias 22 e 25 de Janeiro de 1956, onde as lições eram dadas no
Recreatório Paroquial desta cidade, uma boa dezena de professores
primários da região tomou contacto com o Catecismo Nacional, que
veio ao encontro de um problema escolar.
Segundo
a razão, para o Ministério da Educação, incluir uma aula de moral
cristã por semana no ensino, é que não bastava meter na cabeça
das crianças muitos conhecimentos, se não fizer desabrochar na alma
do educando sentimentos de rectidão e bondade, ou seja: “Educar é
instruir para a vida”.
E
como a religião, não se deve ensinar como a gramática ou história,
já que é uma vida que se vive e não uma teoria que se aprende, dar
uma aula de moral, obriga o mestre a ter que descer da inteligência
ao coração da criança, levando-a a amar e viver o que lhe é
ensinado. Eis a grande dificuldade de um professor ao preparar-se
para dar uma aula de moral cristã.
Recreatório Paroquial de Penafiel |
No
final do curso com a presença do Sr. Bispo do Porto, D. António
Ferreira Gomes e o Pároco da freguesia Albano Ferreira de Almeida,
foram distribuídos catecismos acompanhados de um guia, que permite
aos professores doutrinados para ensinar, levarem mais conhecimentos
na sua bagagem, para darem as aulas de moral com muito mais interesse
e eficácia, nas suas escolas.
Pela
minha parte, o que vos posso dizer, é que essas lições nunca foram
dadas, e o ensino da religião estava ao encargo das catequistas, nos
bancos da igreja e fora da escola.
E
por mais doutrina cristã que se apregoasse nas escolas daquele
tempo, a régua e a palmatória actuavam com tanta frequência, que a
sala de aulas se tornava num verdadeiro inferno na terra, e o
professor num autêntico “diabo” à solta.
Acontece
que nos tempos de hoje, pelo que leio e me contam amigos ligados ao
ensino, os papéis deste melodrama estão invertidos.
Afinal
de contas, quando se exigia o meio termo, passou-se do 8 ao 80, num
abrir e fechar de olhos, entre a “ditadura” e a dita “democracia”.
Fernando
Oliveira – Furriel de Junho