GREVE DOS SAPATEIROS EM PENAFIEL
GREVE DOS SAPATEIROS
EM PENAFIEL
Em tempos longínquos, o sapateiro era um artesão que executava a arte de fabricar sapatos. Actualmente com a industrialização, o trabalho do sapateiro limita-se a consertos do calçado tanto de homens como de senhoras e crianças.
No dia 9 de Dezembro de 1915, na sede da Associação da Classe dos Operários Fabricantes de Calçado e Artes Correlativas em Penafiel, situada na Av. Sacadura Cabral, foram eleitos os Corpos Gerentes, para funcionar no ano de 1916.
Foram eleitos os seguintes cidadãos:
Direcção
Presidente – António Victor Couto
Secretário – Joaquim Freire da Silva Nunes
Tesoureiro – Luiz Ferreira Ribeiro
Vogais – Laurentino Pereira de Carvalho e Carlos Marques
Assembleia Geral
Presidente – Arthur Pereira de Carvalho
1.º Secretário – António Batata
2.º Secretário – Joaquim António de Bessa
Comissão Revisora de Contas
Presidente – Celestino Pestana
Vogais – Zeferino Pinto e Cândido Teixeira
A 4 de Janeiro de 1916, a Associação da Classe dos Operários Fabricantes de Calçado e Artes Correlativas de Penafiel, que reivindicava aumentos de 40% do seu ordenado, declarou-se em greve.
Entretanto os industriais foram convidados para reuniões na sede destes para tratarem do assunto, mas nem sequer se designaram a comparecer.
Nesse intervalo de tempo, foi distribuído um manifesto pela cidade da Associação de Classe dos Operários Fabricantes de Calçado e Artes Correlativas em Penafiel, onde se podia ler que:
“As obras que há três anos antes, eram pagas a 0$70, agora são pagas a 0$50.
As obras que eram pagas a 0$60, agora são pagas a 0$40.
As que eram pagas a 0$45, agora são pagas a 0$32.
Além disto nessa época davam-nos para os preparos 0$04, quando o fio nos custava 0$03,5, agora custa 0$07, os bicos de ferro que eram pagos por 0$05, agora custam 0$15 e a garuja, que custava 0$14, agora custa 0$40, e os mesmos preparos continuam a sendo pagos a 0$04 centavos!”
No dia seguinte, 5 de Janeiro, os industriais de sapataria desta cidade de Penafiel, Gregório Nogueira Soares, Joaquim de Oliveira (O Gordo), Germana Coelho Ribeiro & irmão, Albano Coelho Ribeiro e Antero Alípio da Silva, declaram através de um comunicado, que encerram temporariamente as suas oficinas, devendo os operários que ali têm ferramentas, procurá-las até ao dia 17 do corrente mês.
Devido ás fracas condições económicas dos grevistas, o Sr. Américo Pinheiro de Moraes, abriu na sua casa Singer um peditório que recolheu 27 escudos e 4 centavos, que foram distribuídos pelos chefes de família e operários mais necessitados.
Eis a lista de nomes e importâncias entregues:
Luiz de Sousa – $50
Roque da Silva – $50
Vasco de Sousa – $50
Domingos da Costa – $50
António Vieira – $50
António Victor Couto – $50
Manoel Alves – $50
Joaquim da Rocha – $50
Serafim Lopes – $50
José Pussil – $50
Sebastião Peixoto -$50
Adão Peixoto – $50
António Pussil – 1$00
Anníbal Teixeira – $50
António Rodrigues (Novellos) – $50
Germano Pinto – $50
António Pereira de Carvalho – $50
António Pinto – $50
Manoel Valle – $50
Carlos da Conceição Marques – $50
Victorino Ferreira da Silva – $50
Domingos Ferreira – $50
Germano Roque da Silva – $50
Décio Barbosa de Freitas Braga (Cara Rôta) – 1$00
Mathias da Silva – $50
Francisco Roque da Silva – $50
Joaquim de Sousa Júnior – $50
Affonso da Silva – $50
Manoel Nogueira – $50
Thomaz dos Santos – $50
Augusto Vieira – $50
Albano Acácio Moreira – $50
Diogo (Pêgo) – $50
Vasco Martins – $50
Joaquim Henriques de Almeida – $50
Manoel da Silva – $50
Francisco Pacheco de Meirelles – $50
António Batata – $50
José de Casaes – $50
José Maria Coelho – $50
António Pinto Leal – $50
Victorino Ferreira Coelho – $50
António Prior – $50
Joaquim José de Sousa Motta (Perna Gorda) – $50
António Rodrigues Benedicto – $50
Francisco Accácio Moreira – $50
Joaquim Narciso – $50
Cândido Teixeira – $50
José da Silva – $54
Affonso Lopes – $50
Joaquim Rodrigues Campello – $50
José da Rocha Mattos – $50
Totalizando 27$04
Domingo, 9 de Janeiro de 1916, cerca das 11 horas, na sede Associação da Classe dos Operários Fabricantes de Calçado e Artes Correlativas, na Av. Sacadura Cabral, foi hasteada a sua bandeira de classe, vendo-se em frente do edifício um grande número de grevistas e muito povo, tendo o grevista Celestino Pestana falado ao público da varanda, explicando as causas que deram motivo à greve, discursando de seguida o delegado da União Operária Nacional, do Porto, Manoel Joaquim de Sousa com palavras de incitamento, aconselhando que mesmo com grandes sacrifícios, se mantivessem solidários e não desistissem das vossas pretensões, porque com eles estava a simpatia de todo o povo de Penafiel.
De apoio aos grevistas e suas famílias, foi criado na sede uma cozinha solidária, com caldeirões cedidos pelo Regimento de Infantaria 32, sediado no quartel desta cidade de Penafiel. Neste dia, o almoço servido constou de bacalhau e batatas, oferecidos pelo comerciante sr. António Fortunato da Silva Babo.
Todos os dias os grevistas percorriam, em manifestações ordeiras, as ruas da cidade, soltando diferentes vivas.
Quando nada previa uma solução a curto prazo para terminar com esta greve, eis que no dia 15 de Janeiro foi convocada pela Administração do Concelho, tendo tomado parte o sr. Administrador Dr. António Teixeira da Silva Leitão, uma reunião com ambas as partes em conflito, tendo no final as mesmas chegado a um acordo, pondo fim à greve, tendo os industriais avisado os operários fabricantes de calçado, que a partir de segunda-feira, dia 17 retomarem o seu trabalho.
Assim, todos retomaram o seu posto de trabalho, excepto os que trabalhavam na casa do Sr. Gregório Nogueira Soares, que por ofício fez saber que deixava de ser fabricante e passava a ser unicamente revendedor de calçado.
Talvez, quem sabe, tenha sido esta a maior greve até hoje realizada em Penafiel.
Afinal de contas, a Liberdade também passou por aqui, em tempos que já lá vão, muito antes de Abril aqui passar… quem diria!
Fernando Oliveira – Furriel de Junho