01 janeiro 2025

FALANDO DAS MERCEARIAS DE PENAFIEL

 FALANDO DAS MERCEARIAS

DA ZONA HISTÓRICA 

DE PENAFIEL




Eram inúmeras as mercearias que existiam na cidade de Penafiel nos anos cinquenta do século passado.


Antiga Mercearia Costa ao cimo da Rua Alfredo Pereira


Percorrendo a cidade vou enumerar algumas das mercearias existentes nesse tempo, começando pela Rua Alfredo Pereira onde tínhamos a do Sr. Costa, a do Sr. Moreira, a do Justino Ribeiro de Carvalho e a dos Babos, todas elas já desaparecidas .


Zé do Cantinho no Largo da Ajuda


Já no Lago da Ajuda aparecia a do Zé do Cantinho, e na Rua do Paço a do Martins da esquina e a do Ribeiro dos Cafés (a única que ainda hoje tem as suas portas abertas).




Continuando pela Praça Municipal, temos a mercearia Pedro, e tínhamos porque já não existem a do Meneses e a do Artur que também era agente de seguros da companhia Bonança como se pode ver no reclame na foto.


Mercearia Artur


Entrando na Av. Sacadura Cabral a do sr. Melo e o Pacheco, e já na Avenida Egas Moniz outra mercearia Pedro. (nenhuma delas existem actualmente).


Mercearia Melo actualmente virou churrasqueira


Pela Rua do Carmo tínhamos a do Gravato, a do Portugal, e no fundo da rua a do Laurindo. Fazendo esquina com esta rua e a rua Eng.º Matos aparecia o Patarata. Muitas destas eram um misto de mercearia e tasca.


Mercearia Pedro junto aos B. V. de Penafiel


Destas o mais relevante é o projecto familiar das mercearias Pedro, não só resistiram como se multiplicaram pela cidade de Penafiel, mantendo a da Praça Municipal (onde tudo começou), assim como abrindo novos estabelecimentos comerciais na Av. Sacadura Cabral, Av. José Júlio e no Largo dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, adaptando-se aos tempos que correm fazendo por vezes preços mais vantajosos para os consumidores, chegando por vezes a combater os das grandes superfícies.




Nesses tempos idos, muitas destas mercearia tinham um rapaz novo a quem chamavam marçano, que levava as compras a casa dos fregueses.

O atendimento era feito ou pelo próprio dono, ou por um caixeiro por ele contratado. Como todos se conheciam na cidade, os clientes eram chamados pelo próprio nome, assim como o proprietário da loja ou do próprio caixeiro que os atendia.


Ser caixeiro de uma mercearia, era uma profissão que requeria algum saber como manusear os géneros e agilidade de mãos já que os mesmos não vinham embalados como nos dias de hoje, mas eram manuseados pelos merceeiros.




Quem não se lembra dos cartuchos de papel acinzentado, onde se pesava o arroz, o sal, o grão, o feijão, o café, etc.


O caixeiro batia o cartuchos em cima do balcão, a fim da mercadoria assentar e colocava-o no prato da balança e com o auxílio de um corredor em chapa, deitava ou retirava mais um pouco até o fiel da balança indicar o peso pretendido.


Já os produtos com gordura, como era o caso da manteiga, banha de porco, chouriça de Elvas e outros, eram pesados e embrulhados em papel vegetal.


Abastecendo de azeite da antiga mercearia Martins


O azeite era aviado em garrafa levada de casa pelo cliente e medido e tirado de um bidão, situado por debaixo do balcão, com o recurso a uma bomba de dar à manivela.


Embrulho com bacalhau


O bacalhau era pesado e depois era cortado à nossa frente com uma faca como o freguês desejava e embrulhado em papel grosso de cor cinzenta e atado com um cordel. Estou-me a lembrar do Zé do Cantinho que vendia postas de bacalhau de molho, mas estas não eram vendidas a peso mas sim a olho consoante o tamanho da mesma.




Para a lavagem da roupa e para fazer barrelas, levava-se sabão azul e branco ou sabão amarelo para o soalho, vendidos à barra. Se não queríamos uma barra inteira, o caixeiro cortava com mestria, o peso certo de sabão. As barras de sabão geralmente eram embrulhadas em páginas de jornal.




Para a higiene pessoal compravam-se sabonetes de glicerina, ou sabão rosa que se partia em fatias, e para lavar os dentes a Pasta Medicinal Couto.




Os embalados que me lembre eram as conservas de atum e de sardinha em latas, as caixas de fósforos, o chã Namúli, assim como a farinha Amparo para as crianças em embalagens de papel. 

 


Os lares mais abastados, geralmente faziam uma lista de compras a que chamavam o rol, que era entregue na mercearia para serem aviadas e depois levadas a casa dos fregueses pelo marçano, juntamente com a conta que geralmente era paga no acto de entrega.


Livro de Fiados


Por dificuldades económicas, muitas famílias carenciadas faziam as suas compras que iam ser registadas num livro estreito e de capa negra, chamado o “Livro dos Fiados”. Esta gente era pobre mas séria, ao ponto de no mais curto espaço de tempo possível liquidavam a dívida limpando a sua folha no livro dos fiados, pois nesse tempo muitos chefes de família recebiam à quinzena.


Mercearia Pedro na Av. Sacadura Cabral



Graças a estas mercearias de proximidade, podemos comprar com conta, peso e medida, as nossas necessidades com sensatez, ao contrários dos grandes templos de consumo em que os olhos vêm e as mãos colocam no carrinho, só dando fé quando passam pela caixa registadora as loucuras de consumo que cometemos.


Até porque a idade avança e as forças começam a fraquejar, as mercearias de proximidade cada vez se tornam mais necessárias.




Faço votos para que todas as mercearias de proximidade, tenham sustentabilidade e vitalidade, especialmente as do PEDRO (fundada em 1937), espalhadas pela cidade de Penafiel.

 

A 1.ª Mercearia Pedro
 

Neste caso, que conheço bastante bem, desde o seu fundador Pedro Couto, é caso para dizer que “filhos de peixe sabem nadar”.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho

20 dezembro 2024

ATÉ NO VENDEDOR É PRECISO ACERTAR

 

LOTARIA NACIONAL

COM AZAR E SORTE

DO COMPRADOR




Entre o Natal e os Reis, muita gente que geralmente não joga na lotaria, tenta a sua sorte comprando uma fracção.

Assim tínhamos a lotaria do Natal, do Ano-Novo e dos Reis.




No mês de Janeiro de 1965 o jornal diário “O Comércio do Porto”, relatava um caso que havendo um indivíduo que jogando há muitos anos em certo número que pagava à casa fornecedora muitas vezes já depois de ter andado a roda e estar este bilhete em branco, na extacção a casa negou- se a entregar o bilhete que havia sido premiado com 500 contos, alegando que por não ser levantado antes da extracção, fora vendido a outra pessoa.


O jornal local de tiragem quinzenal “O Tempo”, pega neste assunto e vai relacioná-lo com um caso idêntico mas com desfecho diferente passado nesta cidade de Penafiel.




Neste o vendedor da lotaria era o Sr. José Luís Pinto de Bessa Miranda, da Loja do Povo na Casa das Sementes, situada na Avenida Sacadura Cabral, em Penafiel, que procedeu de forma diferente atestando assim a sua já conhecida honestidade.




Esse não hesitou em entregar ao seu freguês, já depois da extracção e saber que o bilhete tinha sido premiado, a lotaria que o mesmo semanalmente lhe comprava e que ás vezes pagava após a extracção.


Nestas coisas de sorte e azar, por vezes, até no vendedor é preciso acertar.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


07 dezembro 2024

À MALTA DO PAD 9789

 À MALTA DO PAD 9789

OS CINQUENTENÁRIOS




Faz precisamente neste Natal, 50 anos que passamos juntos o 2.º e último Natal em terras africanas, mais propriamente em Nova Lisboa – Angola.


Claro que foi um Natal com um misto de amizades com todos aqueles que convivíamos no dia a dia lá longe onde o Sol castiga mais e saudades dos nossos que do outro lado do mar tinham o nosso lugar vago na mesa da Ceia de Natal.


Os que estavam de serviço, lá permaneciam no posto de vigia para assegurar a segurança dos que na caserna escreviam aerogramas aos seus entes queridos (Pais, Esposas, Madrinhas de Guerra) antes do sono os tomar.




Também soube este ano através do facebook, que dois dos nossos camaradas furriéis (Valente e Pinto), que tinham vindo de féria à metrópole casar, e que de tal maneira foi dado este nó de amor que festejaram este cinquentenário no decorrer deste ano. Para eles e família os meus parabéns.




Mas no ano que vem (2025), continuamos a festejar outro cinquentenário que é o regresso da Guerra Colonial para junto dos nossos familiares e amigos, ou como se dizia na gíria popular “passamos à peluda”.




Partimos cada um para seu lado, e fomos desenhando o nosso percurso de vida como podemos e soubemos.


Éramos todos jovens e como tal tínhamos sonhos, que fomos realizando, outros não saíram da gaveta dos sonhos porque a vida assim o ditou.

 

 


Na tela da vida, ora pintada com cores de alegria e outras de muita tristeza.


Muitas vezes ficamos de rastos mas havia sempre uma mão amiga que nos levantava do chão e nos aconchegava no cais de apoio que é a família e nos davam alento para continuar.




Alguns dos camaradas da guerra nunca mais nos cruzamos nestes caminhos que percorremos durante estes 50 anos, outros já partiram para os braços do Senhor, e outros quando nos encontramos lá desarrumamos a gaveta das lembranças do passado misturando-as com sorrisos e abraços.


Como me dizia um capelão, na tropa só há duas coisas más, a farda e o resto. Mas pelo menos trouxe esta amizade que nos une e que se não fosse a tropa nunca nos teríamos conhecido.





E pronto, como o texto já vai longo, vou terminar desejando a toda a MALTA DO PAD 9789, um Santo e Feliz Natal e um Bom Ano 2025, com muita Saúde, Paz e Amor, extensivo a todos os familiares, enquadrados nestes festejos cinquentenários, pois na nossa idade, o resto vem tudo por acréscimo.


Fogo à peça rapaziada!


Um abração do OLIVEIRA


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 dezembro 2024

DEZEMBROS DE TEMPOS PASSADOS

 DEZEMBROS

DE TEMPOS PASSADOS




Mal entrava o mês de Dezembro, comemorava-se a Restauração da Independência de Portugal, decorrida em 1 de Dezembro de 1640. Neste primeiro dia deste mês cá na terra havia um desfile da Mocidade Portuguesa com uma deposição de flores no monumento aos Mortos da Grande Guerra.




O dia 8 era dedicado à Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal. O rei D. João IV colocou a coroa na imagem de Nossa Senhora da Conceição, em 25 de Março de 1646, numa cerimónia solene em Vila Viçosa, como agradecimento por ter recuperado a independência de Portugal em relação a Espanha. Assim, Nossa Senhora da Conceição é rainha de Portugal e, por esta razão, mais nenhum rei ou rainha usaram coroa na cabeça, nem podem usar. 

 


 

Durante muitos anos este dia foi considerado em Portugal o Dia da Mãe. Na Igreja Matriz realizava-se uma missa com a colaboração e participação da Mocidade Portuguesa Feminina.






A Escola Primária, que no meu caso foi na Escola Conde de Ferreira em Penafiel, era com satisfação que víamos chegar as Férias do Natal, que se iniciavam no dia 23 de Dezembro e terminavam no dia de Reis (6 de Janeiro do ano seguinte).


Os métodos pedagógicos de ensino utilizados por muitos professores, eram baseados nas palmatoada, canadas e berros transformando a sala de aula num terror. Por isso as férias eram sempre acolhidas com muita alegria.




Nesta quadra natalícia era costume enviar postais que o meu pai comprava e eram pintados com a boca ou com os pés de artistas mutilados, a desejar um Feliz Natal e Boas-Festas a amigos e parentes que moravam longe.


Era norma cá de casa comprar um bilhete para o sorteio do “Lar do Comércio”, que aparecia em Penafiel com uma viatura novinha em folha em cima de um camião e homens com braçadeiras do Lar do Comércio no braço, vendendo rifas nesta época de Natal.





Em Penafiel, também aparecia “O Farrapeiro” que recolhia donativos, utensílios, roupas e alimentos para distribuir pelos pobres da terra.


Num canto da sala de jantar, montávamos um pequeno presépio e ornamentávamos o pinheiro de Natal.





A consoada (24 de Dezembro), impunha tal como hoje as batatas, o bacalhau, os ovos, as tronchudas, os nabos e os grelos, regados com bom azeite.





As guloseimas eram: a aletria adornada com desenhos feitos com canela, os mexidos, as rabanadas, o bolo-rei, os sonhos e os filhoses de forma (estas duas últimas doçuras eram feitas pelas minhas tias).


Na mesa da consoada era colocado a mais um prato e um talher que simbolizava a presença dos entes queridos que já partiram, e que nessa noite estavam ali presentes connosco.


Neste tempo muitos grupos de miúdos andavam de porta em porta a cantar as Boas-Festas na véspera do Natal, e no último dia do mês as Janeiras, à espera de uma recompensa em troca.




Enquanto a minha mãe arrumava a mesa, nós jogávamos o rapa e o quino a pinhões.




No dia de Natal corríamos à chaminé para ver o presente que o Menino Jesus (hoje é o Pai Natal), nos tinha deixado no sapatinho que por vezes se reduzia a chocolates e um par de meias. Natal é dia de missa, e lá íamos à igreja da Misericórdia não só para vermos o presépio, como para beijar o Menino Jesus que o Sr. Reitor dava a beijar.




Depois veio a Guerra Colonial que se estendeu desde 1961 – 1975, e o meu pai gostava de ouvir as mensagens dos soldados portugueses que combatiam em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique).




Faz este ano precisamente 50 anos, que passei o segundo e último Natal, em terras africanas “Onde o Sol castiga mais” como cantava Paco Bandeira, mais precisamente em Angola, na cidade de Nova Lisboa, num misto de saudade e camaradagem. Nesse ano o Movimento Nacional Feminino presenteou-me com um disco LP “NATAL 71”, que religiosamente guardo, onde se pode ouvir entre outros: Amália, Hermínia Silva, Florbela Queiroz, Parodiantes de Lisboa e mensagens de Eusébio, Joaquim Agostinho, etc.


O Natal nos nossos dias já não é o que era, pois basta ver que já não tenho a minha mãe e o meu pai natal. Mudou como o mundo, quanto a mim para pior, onde o ódio e a malvadez, campeiam não só nas guerras, mas em qualquer esquina de qualquer cidade, ou lugar do planeta.




Mas apesar de vir para aqui debitar lembranças do passado, que para muitos serão recordações mas para outros uma "seca dos diabos", neste Natal que se aproxima, não podia deixar de desejar a todos que por aqui passam, um Feliz Natal com muita Saúde, Paz e Amor.



Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 novembro 2024

DR. RODRIGO DE ABREU UM PENAFIDELENSE INJUSTAMENTE ESQUECIDO

 

DR. RODRIGO DE ABREU

UM PENAFIDELENSE

INJUSTAMENTE ESQUECIDO




Hoje vou falar do Dr. Rodrigo Teixeira Mendes de Abreu, um penafidelense injustamente esquecido, licenciado em Ciências Históricas Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, candidato a deputado pela oposição pelo Círculo do Porto em 1958, e principal articulador do programa da candidatura de Humberto Delgado.




Vivia na sua Quinta de Pussos em Penafiel onde comercializava o seu vinho de Puços, branco e tinto e a aguardente velha extraída no alambique da quinta.




Quando era criança e o meu pai me levava pela mão à bola ver o Penafiel jogar, mais precisamente na época de 1956/57, em que era Presidente do Clube o Dr. Rodrigo de Abreu e o F. C. de Penafiel sagrou-se campeão da II Divisão Distrital.




Na sua presidência também foram inauguradas as velhinhas bancadas em pedra no dia 9 de Junho de 1957 por Sua Excelência o Secretário de Estado da Educação Nacional Dr. Baltazar Rebelo de Sousa (pai do actual Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa).




Também é nesta época desportiva, que pela primeira vez os Rubro Negros têm no seu plantel um jogador estrangeiro, ou seja, o guarda redes espanhol Manuel Rial Caride mais conhecido por Manolo e no final dos jogos o Dr. Rodrigo de Abreu o transportava até ao seu país.




No ano seguinte 1958, o Dr. Abreu aparece envolvido na candidatura independente do General Humberto Delgado para a presidência da República.


Pertencente ao núcleo de democratas do Porto, vai no dia 4 de Janeiro de 1958, juntamente com o arquitecto Artur de Andrade encontrar-se com o General Humberto Delgado no seu gabinete da Aeronáutica Civil a fim de o convidar a ser candidato. Após o regresso ao Norte começaram a estabelecer contactos com pessoas cuja opinião era necessário conquistar. Domingo, 27 de Janeiro de 1958, numa reunião secreta em casa do Dr. Rodrigo de Abreu, Humberto Delgado é apresentado aos Candidatos Independentes.





A 19 de Abril de 1958, o processo de candidatura à Presidência da República de Humberto Delgado era entregue no Supremo Tribunal de Justiça assinado por 230 eleitores do Porto, e logo uma delegação, constituída por

Sebastião Ribeiro, Manuel Coelho dos Santos, Jaime Vilhena de Andrade, Artur Oliveira Valença, Artur Santos Silva e Rodrigo de Abreu, se deslocava a Lisboa para estabelecer com os adeptos lisboetas desta candidatura os planos da campanha eleitoral

Se nos dias de hoje há uma luta entre partidários para fazerem parte das listas em lugar elegível à procura de algum “tacho”, naqueles tempos era preciso muita coragem para dar a cara na luta pela democratização do país, contra o Salazarismo. Por isso, é que a candidatura independente do General Sem Medo, só apresenta listas para a Assembleia Nacional em cinco círculos eleitorais (Aveiro, Braga, Faro, Lisboa e Porto).




A campanha eleitoral no norte do país, começa a 14 de Maio de 1958, tendo o General Humberto Delgado vindo de Lisboa em comboio e desembarcado no Porto, na Estação de São Bento, e tem à sua espera uma multidão, calculada em mais de 100 mil pessoas para o aclamar, levando o general sem medo a proclamar a célebre frase " O meu coração ficará no Porto".




No dia seguinte 15 de Maio de 1958, que coincide com o 52º aniversário de Humberto Delgado, deslocou-se acompanhado do Dr. Rodrigo de Abreu a Paço de Sousa à Casa do Gaiato e visitado a campa do Padre Américo.




No final o cortejo com cerca de duas centena de carros seguiu em direcção à cidade de Penafiel. Quando este subia a Rua Tenente Valadim a escassos metros do cemitério municipal, uma força da Guarda Nacional Republicana proibiu a caravana automóvel de entrar na cidade passando somente os carros dos membros das comissões e o carro propriedade do Dr. Rodrigo de Abreu, onde seguia Humberto Delgado que estacionou junto à Câmara Municipal de Penafiel na Praça Municipal que estava cercada de guardas.




O resto da comitiva formou uma marcha pedestre que atravessou as Avenidas Egas Moniz, Sacadura Cabral entrando na Praça Municipal encabeçada pelo General Humberto Delgado, sendo bem visível nesta foto Rodrigo de Abreu de óculos escuros.

Como foi proibido de entrar no município, subiu para o tejadilho do seu carro e discursou. No final entoou-se o Hino Nacional e uma senhora ofereceu-lhe uma coroa de flores a qual o General foi depositá-la junto ao monumento aos mortos da Grande Guerra.




Nesse instante, fez-se silêncio, e um minuto depois irromperam as palmas da “liberdade”.




A recolha de fundos para a campanha sabe-se que Penafiel e Paredes contribuíram, conjuntamente, com o montante de 2350$00, valor angariado no dia em que o General visitou os dois concelhos, e foram entregues a Rodrigo de Abreu.


Vieram as eleições e a oposição apenas ganhou no Distrito do Porto em Vila Nova de Gaia, e em Penafiel somente na freguesia de Novelas.




Com a derrota eleitoral (fraudulenta) de Humberto Delgado, antes de ser preso pela PIDE e mandado para qualquer Tarrafal, o Dr Rodrigo de Abreu asilou-se na embaixada de Cuba de onde partiu para Havana e dali para o Brasil onde se conservou seis anos exilado.


Com a primavera Marcelista, que trouxe do exílio entre outros, o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, Mário Soares e o nosso conterrâneo Dr. Abreu que regressa a Portugal e à sua vida na Quinta de Pussos.




Rodrigo de Abreu que lutou pela liberdade neste país cinzento, fazendo ouvir a sua voz em tempos difíceis contra o fascismo, pagou caro tal ousadia.




Pelo que atrás foi descrito, penso que o Dr. Rodrigo de Abreu mereceria o seu nome nesta nova praça, lugar que ele calcorreou diariamente a caminho da sua Quinta de Pussos, durante muitos anos, mas pelos vistos, as canecas falaram mais alto, e a Praça foi baptizada com o nome de S. Martinho e inaugurada no dia 29 de Agosto de 2024, sendo Presidente da Câmara Dr. Antonino de Sousa e Primeiro- Ministro Dr. Luís Montenegro.




Tal como nas telenovelas, nem sempre as coisas terminam como nós desejamos, como é o caso deste texto que poderia terminar em festa, mas acabou com um penafidelense que lutou pela Liberdade, injustamente esquecido.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho