A PRISÃO DO GUNGUNHANA
A
PRISÃO DO GUNGUNHANA
Estávamos no ano de
1961, e frequentava a 4.ª classe, na Escola Conde Ferreira, em Penafiel, quando
nos foi dada uma aula diferente do habitual.
Deixamos os livros e o
resto do material na carteira da sala de aula, e fomos em fila para o quartel,
que fica contíguo à escola, para assistirmos ao filme “Chaimite”.
Este filme retratava as
campanhas dos portugueses em África, mais propriamente a prisão do régulo
Gungunhana, por Mouzinho de Albuquerque.
Passados muitos anos,
vim a saber que este quartel, está ligado a esta façanha, coisa que talvez o
projetista do filme não tivesse conhecimento, já que nada disse sobre o
assunto.
Realizam-se obras nos
baixos do quartel, para albergar os muares e cavalos da Brigada de Artilharia
de Montanha que foi deslocada de Viana do Castelo para Penafiel em 26 de Julho
de 1894.
Instalado nesta cidade
desde Julho de 1894, à Brigada de Artilharia de Montanha vai ser cometida a,
árdua missão de participar, em África - Moçambique, no aniquilamento dos movimentos
de rebelião liderados pelo poderoso régulo Vátua GUNGUNHANA, senhor das terras
de GAZA, que ousara revoltar-se contra o domínio de Portugal.
Para essa região de
Africa, parte em expedição a 11 de Outubro de 1894 a Bateria da Brigada da
Montanha; tendo embarcado no vapor Cazengo, chegou a Lourenço Marques em 11 de
Novembro de 1894.
Já pelo interesse que
nos despertou, já pela qualidade inexcedível do teor da mensagem de despedida
da 28.ª Brigada de Montanha na sua partida para Africa passo a transcrever a
mesma:
"Despedimo-nos
dos ilustres oficiais da 28 Bateria de Artilheria de Montanha,
predestinando-lhe, e a todos os militares, todas as possíveis felicidades; e,
deste lugar donde lhes damos as boas vindas, ao entrar para o quartel d'esta
cidade, esperamos felicita-los no seu regresso com toda a efusão da nossa alma,
pois é presságio nosso que a sua nobilíssima missão há-de finalizar com honra e
alevantado proveito para o país.
Quanto
reconhecemos honroso em receber, agora, no seu feliz regresso, cobertos pelos
louros da vitória, esses militares que tão sublimemente, enalteceram a Pátria
em remotas plagas. Ah! Como os nossos braços são estreitos para abraça-los;
pequenas as mãos para lhe lançarem flores; inexpressivas as palavras de
admiração por não traduziram, literalmente, o sentimento que nos invade.
Que
a 28 Brigada de Montanha receba ao menos por majestosa e rica, esta homenagem
singela, este tributo genuíno saldo espontaneamente da alma em turbilhões de
excelso entusiasmo! Glória e honra a essa plêiade de bravíssimos guerreiros que
a história perpetuará pela Pátria, indelevelmente, agradecida"!
Os êxitos assinaláveis
consolidados pelos militares da 28. Baterias da Brigada de Montanha apaixonavam
a opinião pública da cidade de Penafiel que seguia, atentamente, o desenrolar das
operações dos expedicionários; congratulando-se com as mensagens que, incessantemente,
advindas de Africa, narravam actos de bravura e heroicidade.
Lá longe, no distante
sertão, os soldados portugueses sob a égide de seus comandantes, embora
alquebrados fisicamente, mas robustecidos pela indomável coragem d'alma, com
denodo e arrojo, vão arrancando troféus das mãos do inimigo e brindando com
eles a Pátria - a pátria que somos todos nós.
Os penafidelenses
souberam, sempre, corresponder a tão ingente heroísmo militar, com lealdade e
admiração pelos "valentes" da Brigada de Artilharia de Montanha que
se agigantavam, de modo memorável, nas batalhas de Chaimite, Coolella e
Marrequene, em Africa.
Serão, para sempre,
dignos dos aplausos da história.
Quantas vezes, prostrados
pela fadiga por sobre um chão insalubre e desconhecido, sob um sol ardentíssimo,
quantas vezes, lá desse longínquo e inóspito continente negro, lançaram os seus
olhos de saudade para a pátria distante... Mas esses "valentes"
expedicionários, com uma abnegação sem igual, permaneciam nos seus postos sem evasão,
e ou venciam ou morriam junto do seu Comandante que é, na feliz expressão de Mouzinho
de Albuquerque - mítica e lendária figura de militar- "o lugar mais
glorioso em que pode morrer um soldado".
À guisa de quadro de
honra, galardoados pela auréola do Mérito Militar, desejamos distinguir:
- Capitão Francisco de
Sousa Pinto Cardoso Machado, Comandante da 2' Bateria da Brigada de Artilharia
da Montanha, oficial muito intrépido e ilustre a quem foi incumbida a missão de
castigar o "gentio rebelde" de Lourenço Marques, nas batalhas de
Anguane e Marraquene onde demonstrou, desassombradamente, bravura e
patriotismo.
- Tenente José Alves
Cabral Sacadura, é-lhes devido um largo quinhão das glórias alcançadas pelas
armas portuguesas em Africa, integrou a grande expedição que tão,
proficuamente, destruiu e aniquilou o poderio do GUNGUNHANA.
- Tenente Manuel
Taveira Cardoso, este notável oficial encarou a sua partida para o ultramar em
1894 com uma serenidade de ânimo invulgar, no momento de doloroso sobressalto
para o país quando os cafres capitaneados pelo GUNGUNHANA chegaram, mesmo, a
ameaçar a população pacífica de Lourenço Marques.
- Tenente Aníbal
Augusto Sanches de Sousa Miranda. Os últimos são sempre os primeiros. Este
adágio o comprovou o brioso Tenente Miranda que tendo sido dos últimos a partir
para Lourenço Marques, foi dos primeiros a conquistar flores de glória para o
seu país e galardões para si. De caracter impoluto, e de uma grande firmeza de
espírito, sempre que a força imperiosa das circunstâncias o postulavam,
revelou-se enérgico e corajoso em extremo. Coube-lhe a glória de aprisionar, ao
lado de Mouzinho de Albuquerque, o terrível GUNGUNHANA, no dia 28 de Dezembro de 1895.
Em carta expedida para
o Ministro da Marinha, o Capitão Mouzinho relata como capturara a terrifica
personagem - GUNGUNHANA - cuja história quase lendária ultrapassara já as
fronteiras do continente Africano. A bordo do vapor "Africa"
GUNGUNHANA segue sob prisão para Lisboa, pela rota do Cabo da Boa Esperança, chegando à capital no dia 13 de Março de 1896.
Cumprida que fora a sua
missão, tem lugar o regresso dos expedicionários, que chegam à metrópole, no dia 1 de Fevereiro de 1896.
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A cidade de Penafiel,
vai render-lhes homenagem e vitoriar em festa, ao som de música, foguetes e
flores no momento de solene consagração dos heróis, Penafiel orgulha-se dessa
legião de patriotas!
2 Comments:
A maioria do povo português desconhece o que foi a figura daquele que foi o " Che- Guevara"africano na época, e que revoltando-se contra o colonialismo português, acabou por ser capturado por tropas de cavalaria do quartel de Penafiel, que para lá foram destacados para esse fim. Penso que ele não foi morto, mas apenas preso até à sua morte!
Realmente Gungunhana não foi morto, mas morreu a 23 de Dezembro de 1906, em Angra do Heroismo, na Ilha Terceira nos Açores, onde se encontrava prisioneiro.
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