02 setembro 2014

JANELA DA REBOLEIRA NA QUINTA DA AVELEDA



JANELA DA REBOLEIRA
NA QUINTA DA AVELEDA



O decreto de 16 de Junho de 1910, publicado no Diário do Governo N.º 136, de 23 de Junho de 1910, declara como Monumento Nacional, a janela que pertencia a um dos prédios que foi demolido, quando se abriu no Porto a rua nova de Alfândega, e que se encontra numa ilhota de um formoso lago desta Quinta da Aveleda, Penafiel.


Segundo José Augusto Vieira, encontramos na revista “O Minho Pittoresco”, declara que foi desta janela, que na cidade do Porto se fez a aclamação oficial de D. João IV.

Agora percorrendo o “Guia Turístico” de 1942, José Júlio escreve: Em uma pequena ilha situada no lago da Mata, há uma lindíssima janela de ângulo, manuelina, que para ali foi trazida, de uma das casas da Rua da Alfândega Velha, do Porto, casas demolidas há mais de sessenta anos, e nas quais teria nascido o Infante D. Henrique.” 


Portanto até aqui já vimos duas opiniões diferentes. Uma que diz que da janela se fez a aclamação de D. João IV, e a outra a dizer que a mesma pertencia a uma casa onde teria nascido o Infante D. Henrique.

Então como é que a janela foi parar à Quinta da Aveleda? 

Será que ela pertencia a um prédio de Manuel Pedro Guedes, ou foi comprada por este?



Recorrendo-me da Revista “O Tripeiro”, podemos ler outra descrição, que nos elucida como e quando a Janela veio para Penafiel.
“ Na Aveleda ergue-se a janela no meio de um lago, enraizando num rústico pedregulho que fetos e heras povoam em abundância. A folhagem envolve-a amplamente, revestindo toda a parte não ornada e mal deixando ver o fragmento angular do tablamento.
É uma graciosa janela de ângulo, com aberturas em arco deprimido separadas por uma pequena coluna com fuste cilíndrico e capitel jónico. Nas partes confinantes com o muro apresenta pilastras ornadas de florões que a excedem em altura. Entre finos colunelos corre uma ornamentação vegetal que alcança os arcos, revestindo-os com a possível finura que o granito permite obter. Um enlaçamento espiralado, cheio de leveza, ocupa um dos peitorais.
… …
Não nos conta, é certo, este biscato arquitectónico qualquer facto notável, pois que com o Infante, por ser posterior, nenhuma relação pode existir, mas na sua arte sobeja motivo para merecer o nosso acatamento”
“Foi em 1880 que teve lugar a demolição do prédio onde se encontrava a janela. O proprietário do prédio, Sr. Tomás Sandeman, soube evitar o aniquilamento da janela, guardando as pedras que a compunham no seu palacete à Cordoaria. Depois, ao retirar para Inglaterra, aí por 1895, ofertou-a ao seu amigo Manuel Pedro Guedes, que a colocava com acerto na sua magnífica propriedade da Aveleda” .
Texto de Joaquim de Vasconcelos, publicado “O Tripeiro”, N.º 22 da 3.ª série, de 15 de Novembro de 1926.
Vejamos o que responde o Sr. Sandeman em carta dirigida ao director de “O Tripeiro”, publicada, 2,º ano, N.º 67, de 1 de Maio de 1910:
“Quando eu reedifiquei a casa acima referida (Cordoaria), pelo ano de 1880, dei ordem ao arquitecto que a reconstruiu (o falecido João de Matos, major de Infantaria 18) para que guardasse a antiga janela, a qual foi transportada para o palacete Sandeman, então minha residência na Cordoaria.
Ofereci-a ao meu amigo o falecido Sr. Manuel Pedro Guedes da Silva Fonseca Meireles de Carvalho.
Eis como a janela foi parar à Quinta da Aveleda.
Esteve depositada no pátio da casa da Cordoaria até à minha vinda para Inglaterra, durante quinze ou dezasseis anos."
Thomas Glas Sandman”


Parece-me que esta última informação sobre a vinda da janela quinhentista para a Quinta da Aveleda é a mais fiável, porque é o próprio dador da mesma a descrever como tudo aconteceu. 

Tomando como certo que a mesma foi para a casa do Sr. Sandeman em 1880, e permaneceu lá quinze ou dezasseis anos, podemos concluir, que a janela manuelina veio para a Quinta da Aveleda em 1895 ou 1896.