A CAPELA DE S. ROQUE
A
CAPELA DE S. ROQUE
Não há sítio melhor do mundo
para se construir uma capela a S. Roque do que aquele que foi escolhido em
Penafiel.
A provável data da sua
construção, aponta para o sec. XVI / XVII, embora o seu alpendre fosse já
construído no sec. XX, como se pode verificar no friso do alpendre na
inscrição, "J.F.V
1924".
Na parede lateral da capela virada para a Av. de S.
Roque, vê-se uma moldura em azulejos de forma oval, com moldura recortada,
formada por acantos, possuindo a representação de São Roque, tendo, na base,
cartela recortada com a inscrição "SÃO ROQUE - ADVOGADO - DA PESTE" e
a assinatura da fábrica "ALELUIA de AVEIRO".
O adro, pavimentado a cubos de granito, possui várias
árvores e um cruzeiro em cantaria de granito, composto por plataforma
quadrangular de três degraus, onde se ergue dado e coluna facetada, encimada
por capitel cúbico e cruz latina.
No recinto, surgem vários bancos de jardim, em
cantaria e uma sepultura, com tampa em ângulo, de Frei António da Ressurreição,
vítima da peste.
Como se vê, neste lugar tudo está voltado para o S.
Roque, desde a capela à avenida com o seu nome, o azulejo com a sua imagem a
olhar para quem por lá passa e os restos mortais de Frei António da
Ressurreição num esquecimento e por vezes até desconhecimento de muitos bons
católicos que por lá peregrinam.
Agora vou fazer um exercício de comparação (se é que
se pode comparar), de parte da vida terrena de S. Roque com a de Frei António
da Ressurreição.
São Roque - é
um santo da Igreja Católica Romana, protector contra a peste e padroeiro dos inválidos e
cirurgiões, e a sua festa celebra-se a 16 de Agosto.
Levando desde muito
cedo uma vida ascética e praticando a caridade para com os menos afortunados,
ao atingir a maioridade, por volta dos 20 anos, resolveu distribuir todos os
seus bens aos pobres, deixando uma pequena parte confiada ao tio, partindo de
seguida em peregrinação a Roma.
No decorrer da
viagem, ao chegar à cidade de Acquapendente,
próxima de Viterbo,
encontrou-a assediada pela peste (aparentemente a grande epidemia da Peste Negra de
1348).
De imediato ofereceu-se como voluntário na assistência aos doentes,
operando as primeiras curas milagrosas, usando apenas um bisturi e
o sinal da cruz. De seguida visitou Cesena e outras cidades vizinhas, Mântua, Modena, Parma, e muitas outras cidades e
aldeias. Onde surgia um foco de peste, lá estava Roque ajudando e
curando os doentes
Depois de visitar
Roma onde rezava diariamente sobre o túmulo de S. Pedro e
onde também curou vítimas da peste, na viagem de volta para Montpellier, ao
chegar a Piacenza,
foi ele próprio contagiado pela doença, o que o impediu de prosseguir a sua
obra de assistência. Para não contagiar alguém, isolou-se na floresta próxima
daquela cidade, onde, diz a lenda, teria morrido de fome se um cão não lhe
trouxesse diariamente um pão e
se da terra não tivesse nascido uma fonte de água com a qual matava a sede.
Embora sem provas que
o consubstanciem, afirma-se que Roque terá pertencido à Ordem Terceira de São Francisco.
Fr.
António da Ressurreição - Aquando da peste que se
espalhou por estas terras de Arrifana, entre 1575 a 1577, e que todos os dias
os sinos da igreja Matriz tocavam a finado por uma ou mais almas, foram as
gentes desta terra bater à porta do convento da Conceição em Matosinhos,
implorando um frade que os ajudasse.
Ofereceu-se o
franciscano que dava pelo nome de Fr. António da Ressurreição.
Todo o membro da
família que fosse tocado por esta maldita doença, para não contaminar os
outros, era entregue a este frade que o levava para junto de outros irmãos com
o mesmo mal nos terrenos na redondeza onde se situa hoje a capela de S. Roque.
Não só transportava diariamente
os géneros alimentares e esmolas que as famílias depositavam na ponte de Cepêda
do lado de Paredes e ao fundo da Rua do Carmo do lado de Penafiel, pois eram
estas as fronteiras entre os pestosos e os limpos.
Fr. António da Ressurreição,
não só tratava deles, como fazia de confessor, médico e coveiro, sendo nessa
altura, o monte em frente da capela chamado de Monte das Campas.
Quando a peste dava
sinais de abrandar, Frei António da Ressurreição foi tocado por ela, tendo
chamado um confessor, e partiu para os braços do Senhor dois dias depois,
quando o calendário marcava 25 de Fevereiro de 1577.
Para o sepultar, o povo de Arrifana, trouxe um túmulo de pedra da Igreja de S. Martinho de Moazares, para a beira da estrada antiga do Porto a Vila Real (nas traseiras da Capela de S. Roque que depois seria erguida), e mais tarde, através do Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado no Diário do Governo N.º 136, de 23 de Junho, o Túmulo de Frei António da Ressurreição passou à categoria de Monumento Nacional.
Como se pode
verificar, há muitas semelhanças nos percursos das vidas de S. Roque e Fr.
António da Ressurreição.
A este último deram-lhe
um nome de praceta na zona da Vila Gualdina na cidade de Penafiel, mas pessoalmente
parece-me um local mal escolhido, ou como diz o nosso povo, desculpem-me a
expressão “não bate a bota com a perdigota”.
Creio que seria muito
mais lógico, baptizar o monte ao lado da capela com o nome de Largo Fr. António
da Ressurreição, ou então dar o seu nome ao adro da capela de S. Roque aguçando pelo menos a curiosidade de qualquer transeunte que
por lá passe, saber de quem se trata.
É lamentável não
haver junto ao túmulo uma placa informativa deste monumento nacional, porque
Fr. António da Ressurreição foi uma dádiva do céu, aos Arrifanenses nessas
horas aflitivas.
Por tudo isto que
aqui foi dito, vou reafirmar tal como comecei este texto, ao dizer que:
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